UMA BELA
LIÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notáveis teólogos têm tecido comentários sobre a célebre sentença do
Filho de Deus: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt
11,29). Uma observação importante e nem sempre considerada é que Jesus não
disse que seu discípulo aprendesse a ser afável e humilde de coração de acordo
com seu exemplo, mas aprendesse que Ele é manso e humilde de coração. De fato, ninguém pode exercitar estas
virtudes no sentido em que o Mestre divino as praticou. Em primeiro lugar
porque Ele, sendo Deus, se humilhou, encarnando-se e depois porque aqui na terra suportou com rara calma as mais
horripilas injúrias, sempre docemente submisso aos desígnios eternos da
salvação da humanidade. São Paulo assim se expressou: “E achado na forma de
homem. humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”
(Fl 2,8). No auge dos sofrimentos no Calvário suplicou pelos seus algozes:
“Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Antes, não tendo
Ele sido recebido pelo povo em uma aldeia, os discípulos, Tiago e João, lhe
perguntaram se eles deviam mandar descer fogo do céu para aniquilar os
habitantes daquele lugar, mas Jesus com
a sua brandura de sempre os repreendeu dizendo: “Não sabeis vós de que espírito sois? Ora, o Filho do homem não
veio com o objetivo de destruir a vida dos seres humanos, mas sim para
salvá-los” (Lc 9, 55-56). Os sentimentos interiores de Cristo estavam muito
acima do que se passa no íntimo dos corações dos homens tantas vezes agastados e arrogantes. É contemplando as
atitudes de um tal Educador que seus
epígonos deveriam ser, dentro de seus limites, mansos e humildes porque Ele em tudo agiu suavemente e sem nenhuma sombra de
soberba. Esta recomendação de Cristo, porém, não seria entendida por todos
aqueles que agiriam intempestivamente, de uma maneira grosseira, rude e
indelicada ou de um modo prepotente e insolente. Na Carta aos Coríntios São
Paulo deixou claro que “o homem psíquico – o que fica ao nível de suas
capacidades naturais – não aceita o que é do Espírito de Deus, pois isso lhe
parece uma insensatez. Ele não é capaz de conhecer o que vem do Espírito,
porque tudo isso só pode ser julgado com a ajuda do mesmo Espírito” (1 Cor
14-15). Portanto, para seguir o conselho de Cristo há necessidade da ajuda da
graça divina. É sabedoria celestial saber combinar a mansidão longânime com a
humildade autêntica, acolhendo sem tergiversações os valores cristãos se
tornando. o discípulo de Jesus um arauto da paz. Participante da missão
profética da Igreja. o fiel precisa empregar todas as suas energias numa
convivência harmônica consigo e com o próximo e é isto justamente que o predispõe à mansidão e à humildade. Então o seguidor de
Jesus irradia a paz e comunica aos outros a alegria que brota da ordem que
reina em seu interior. Sabe aplainar para os outros o caminho da concórdia
pacífica e alimenta um amor mútuo. Batalha contra tudo que afasta da unidade e
cria um clima de serenidade. Isto favorece um ambiente no qual pode transmitir
mais eficientemente as mensagens do Evangelho, lutando com serenidade para que
se observem sempre os mandamentos exarados por Deus compendiados no Decálogo. É
que a magnanimidade conferida pela mansidão e pela humildade conquista o
respeito do próximo e abre as portas para um diálogo construtivo. A
agressividade e a altivez jamais levam os outros aos caminhos do bem e de todas
as virtudes as quais precisam ornar a vida de todo batizado. Uma belicosa
animosidade só produz desequilíbrios e se opõe à fraternidade que deve
caracterizar em tudo quem se diz cristão. É com mansidão e humildade que se
realiza um apostolado fecundo para modificar estruturas injustas e se cria um
contexto de valores numa visão espiritual correta. Do contrário não se
humanizam as relações sociais na família, na escola, na convivência cotidiana,
enfim por toda parte. A mansidão e a humildade ajudam assim o fiel a colaborar com a ação divina da graça para
construir o edifício espiritual das pessoas com quem convive, mesmo porque o
modo de ser de cada um influencia muito mais do que as palavras. Estas se
tornam construtivas apenas quando são instrumentos iluminados pela luz divina
humildemente pedida a cada passo na vida e transmitidas na mais completa serenidade na busca da
verdade. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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