quinta-feira, 1 de setembro de 2016

UMA BELA LIÇÃO DE JESUS

UMA BELA LIÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Notáveis teólogos têm tecido comentários sobre a célebre sentença do Filho de Deus: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Uma observação importante e nem sempre considerada é que Jesus não disse que seu discípulo aprendesse a ser afável e humilde de coração de acordo com seu exemplo, mas aprendesse que Ele é manso e humilde de coração.  De fato, ninguém pode exercitar estas virtudes no sentido em que o Mestre divino as praticou. Em primeiro lugar porque Ele, sendo Deus, se humilhou, encarnando-se e depois porque  aqui na terra suportou com rara calma as mais horripilas injúrias, sempre docemente submisso aos desígnios eternos da salvação da humanidade. São Paulo assim se expressou: “E achado na forma de homem. humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). No auge dos sofrimentos no Calvário suplicou pelos seus algozes: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Antes, não tendo Ele sido recebido pelo povo em uma aldeia, os discípulos, Tiago e João, lhe perguntaram se eles deviam mandar descer fogo do céu para aniquilar os habitantes daquele lugar, mas Jesus  com a sua brandura de sempre os repreendeu dizendo: “Não sabeis vós de  que espírito sois? Ora, o Filho do homem não veio com o objetivo de destruir a vida dos seres humanos, mas sim para salvá-los” (Lc 9, 55-56). Os sentimentos interiores de Cristo estavam muito acima do que se passa no íntimo dos corações dos homens tantas vezes  agastados e arrogantes. É contemplando as atitudes de um tal Educador que  seus epígonos deveriam ser, dentro de seus limites, mansos e humildes porque Ele em tudo  agiu suavemente e sem nenhuma sombra de soberba. Esta recomendação de Cristo, porém, não seria entendida por todos aqueles que agiriam intempestivamente, de uma maneira grosseira, rude e indelicada ou de um modo prepotente e insolente. Na Carta aos Coríntios São Paulo deixou claro que “o homem psíquico – o que fica ao nível de suas capacidades naturais – não aceita o que é do Espírito de Deus, pois isso lhe parece uma insensatez. Ele não é capaz de conhecer o que vem do Espírito, porque tudo isso só pode ser julgado com a ajuda do mesmo Espírito” (1 Cor 14-15). Portanto, para seguir o conselho de Cristo há necessidade da ajuda da graça divina. É sabedoria celestial saber combinar a mansidão longânime com a humildade autêntica, acolhendo sem tergiversações os valores cristãos se tornando. o discípulo de Jesus um arauto da paz. Participante da missão profética da Igreja. o fiel precisa empregar todas as suas energias numa convivência harmônica consigo e com o próximo e é isto justamente que o predispõe à mansidão e à humildade. Então o seguidor de Jesus irradia a paz e comunica aos outros a alegria que brota da ordem que reina em seu interior. Sabe aplainar para os outros o caminho da concórdia pacífica e alimenta um amor mútuo. Batalha contra tudo que afasta da unidade e cria um clima de serenidade. Isto favorece um ambiente no qual pode transmitir mais eficientemente as mensagens do Evangelho, lutando com serenidade para que se observem sempre os mandamentos exarados por Deus compendiados no Decálogo. É que a magnanimidade conferida pela mansidão e pela humildade conquista o respeito do próximo e abre as portas para um diálogo construtivo. A agressividade e a altivez jamais levam os outros aos caminhos do bem e de todas as virtudes as quais precisam ornar a vida de todo batizado. Uma belicosa animosidade só produz desequilíbrios e se opõe à fraternidade que deve caracterizar em tudo quem se diz cristão. É com mansidão e humildade que se realiza um apostolado fecundo para modificar estruturas injustas e se cria um contexto de valores numa visão espiritual correta. Do contrário não se humanizam as relações sociais na família, na escola, na convivência cotidiana, enfim por toda parte. A mansidão e a humildade ajudam assim o fiel a  colaborar com a ação divina da graça para construir o edifício espiritual das pessoas com quem convive, mesmo porque o modo de ser de cada um influencia muito mais do que as palavras. Estas se tornam construtivas apenas quando são instrumentos iluminados pela luz divina humildemente pedida a cada passo na vida e transmitidas  na mais completa serenidade na busca da verdade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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