O DESTINO DO RICO E DO POBRE LÁZARO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Duplo
destino, dupla lição oferece a parábola do rico glutão e do justo Lázaro (Luc
16,19-31). Jesus não pretendia apresentar uma abordagem sócio espacial do outro
mundo, mas oferecer um precioso ensinamento sobre uma questão fundamental no
que tange ao que ocorre após a morte. Um dos personagens vivia impiamente, era
egoísta, não se preocupava nem com Deus, nem com o próximo. Lázaro, porém, era
um deserdado da sociedade, doente e faminto e subsistia com as migalhas dos
poderosos e tinha um coração bom. Confiava na Providência divina, vivendo a definição
de seu nome, pois Lázaro significa “Deus é meu socorro”. Ambos deixaram este
mundo através da morte que é o limite absoluto de todos os mortais. Esta não
faz distinção nem entre os se cobrem de
vestimentas luxuosas, nem os que estão afetados por feridas e maltrapilhos. Ela
sobe ao palácio dos ricos, desce ao tugúrio dos pobres, não tem dia nem hora,
mas totaliza num instante tudo que alguém foi na sua passagem por esta terra.
Diante de todos, porém, estará sempre o Senhor de tudo, justo Juiz, o qual com
sabedoria e lucidez punirá a uns e recompensará a outros. Tudo dependerá da condição
da existência de cada um, da qualidade do seu coração. Há entre os lugares onde
se encontrará o ímpio e onde estará o justo “um grande abismo”, ou seja,
trata-se de uma situação irreversível, que ninguém poderá alterar. Aqui na terra,
sim, há sempre oportunidade de conversão e a misericórdia de Deus é sem
limites. Uma fonte inestimável de merecimentos é exatamente o temor de Deus e a
ajuda aos mais necessitados numa louvável solidariedade. Para quem tem fé a
esperança abre caminhos luminosos para a prática das mais belas virtudes. Este
é o tempo oportuno para se escutar a Palavra revelada pelo Ser Supremo, para
colocar em prática as inspirações vindas do alto, para corresponder às
exigências da Lei do Senhor. O apelo de Deus é um clamor à dileção, à
compaixão, à sinceridade, à verdade em sua plenitude. Um coração arrependido,
desolado nunca fica sem a resposta divina e, assim, o homem se dispõe a evitar
a fatalidade de uma punição eterna. Deus reina apenas no interior dos que estão
repletos de amor. Quando alguém se escraviza a suas riquezas, a suas ideias, a
seus valores humanos, a suas convicções errôneas, a seus falsos ídolos, este
Deus está longe de seu coração. O rico da parábola era incapaz de contemplar o
sofrimento de Lázaro, porque vivia atrás do tapume de seu orgulho, de sua
ilusória segurança. Não entendia o essencial da verdadeira felicidade e se
mergulhava numa supérfluo e estapafúrdio luxo e na glutoneria. As chamas que o
atormentavam eram o sinal de seu profundo remorso pelos erros que cometera e
dos quais não se arrependera. Agora por entre as labaredas nas quais estava
envolvido é que se lembrava de seus cinco irmãos os quais ele deveria ter
advertido em vida, mas já era tarde demais. Está escrito no livro de Isaías o
que disse o Senhor a respeito dos que se rebelaram contra Ele: “Seu verme não
morrerá jamais” (Is 66,24). Imagem viva da pena eterna dos condenados. É o
mesmo que se acha no livro de Judite: "O Senhor os punirá no dia do juízo,
entregando ao fogo e aos vermes suas carnes e chorarão, penando eternamente”
(Jud. 16,17). Assim sendo, esta parábola narrada por Cristo é um alerta. São
Paulo então nos adverte: “Não nos cansemos na prática do bem, pois, se agora
não desfalecermos, no tempo oportuno colheremos. Portanto, enquanto para isso
temos tempo, façamos o bem a todos, máxime aos nossos irmãos de fé” (Gl 6,
9-11). Lázaro na outra vida encontrava consolação, paz, felicidade duradoura.
Neste Ano da Misericórdia divina cumpre saber usufruir da compaixão imensa de
Deus numa correção completa de todos os
erros, pois na outra vida a sorte de
cada um é irreversível e, por isso, imutável. É preciso viver todos os
ensinamentos do Evangelho de hoje, para que, trilhando os caminhos das virtudes,
se possa atingir a ventura perene da Casa do Pai, onde Cristo está à espera de
cada um de nós. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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