DAR GLÓRIA A DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Dez
leprosos foram curados por Jesus e apenas um repleto de alegria e com o coração
extravasando gratidão soube gratular a graça recebida (Lc 17,11-19). São Lucas,
na sua narrativa, descreveu o gesto do samaritano, dizendo que um deles, vendo
que se tinha curado, voltou, louvando a Deus em alta voz e lançou-se aos pés de
seu Benfeitor com a face em terra, agradecendo-lhe. Cristo não passou recibo na
ingratidão dos outros miraculados e pedagogicamente indagou “Não foram limpos
os dez? Onde estão os outros nove? Entretanto, apenas aquele que pertencia ao
povo natural da região de Samaria, inimigos dos judeus ortodoxos da época,
havia voltado para render graças. Mereceu o elogio de Jesus: “Levanta-te e vai;
a tua fé te salvou”. Na azáfama do dia a dia nem sempre todos se lembram de
agradecer a Deus seus inúmeros benefícios, os quais se multiplicam a cada
instante. É certo que a Missa dominical oferece oportunidade para manifestar o
louvor gratulatório, dado que se participa da Eucaristia que é ação de graças.
Após uma semana na qual Deus multiplicou os seus dons o cristão retorna à Casa
do Senhor para lhe agradecer. Uma das características mais importantes da religião
é a gratidão a Deus. Inúmeros versículos da Bíblia patenteiam o valor de ser
grato por tudo ao Criador. Jesus exaltou a conduta do décimo leproso curado,
mostrando o quanto isto lhe foi agradável. Durante a semana, como ensinou Santo
Inácio de Loyola, cumpre ao cristão fazer, sobretudo no fim do dia, uma
releitura de tantos dons outorgados pela bondade divina, ou seja, os traços de
Deus na vida de cada um, não obstante tantas infidelidades pessoais. Este
comportamento multiplica a generosidade do Senhor de tudo. É a chave de ouro de
que fala o Pe. Antônio Vieira, a qual abre a arca dos tesouros celestes.
Agradecer com toda simplicidade e total confiança, aliadas a uma humildade de
quem sabe que não merece tantas graças, mas que se mostra reconhecido Disto
resulta notável purificação interior porque flui da fé que reina lá no interior
do coração. A gratidão é, sem dúvida, uma das armas espirituais mais eficazes
para atrair as bênçãos de Deus. Nem se deve deixar de agradecer a este Deus a
graça de se estar livre da lepra do pecado. Infelizes aqueles que deixam esta
terrível moléstia instalar em sua vida. Felizes, porém, aqueles que, a exemplo
dos dez leprosos, procuram Jesus, o Médico divino. Este no Sacramento da
Confissão cura a doença do pecado. Para
evitar esta moléstia espiritual o cristão se vale do tripé sagrado: a
penitência, a prece e a caridade para com o próximo. Meios seguros para
combater o mal em sua raiz. Nos nossos dias a epidemia do Aedes Aegipti e suas
horrípilas consequências urgiram medidas imediatas e a moda se tornou o
repelente contra este mosquito que se tornou tristemente famoso como o mosquito
da zika, da dengue e da chikungunya. Muitas vezes as doenças transmitidas
por este vírus se tornam mortais, como à morte estavam destinados os leprosos
na época de Cristo. Dez foram audaciosos e, não obstante todos os interditos
legais, se aproximaram de Jesus. Hoje os impedimentos são as armadilhas dos
meios de comunicação social que afastam de Deus e obstaculizam alcançar a vida
alma. A lepra do pecado gangrena as ações humanas, infeccionando toda uma
existência. Apenas o poder divino pode sanar e restituir a graça santificante
que é a participação da vida da Trindade Santa. É preciso se deixar tocar pelo
amor de Cristo, porque o pecado, lepra da alma, desfigura e é a maior desgraça
que pode acontecer a quem tem fé e crê na vida eterna. A melhor maneira para
não se deixar contaminar com esta doença espiritual é a fuga corajosa das
ocasiões que levam a ofender a Deus. A Bíblia é clara: “Quem ama o perigo nele
perecerá” (Ecl 3,27). É preciso, porém, sempre se lembrar de que “um coração
contrito e humilhado Deus não despreza” (Os 51,19). Jesus nunca deixará de dizer
ao pecador arrependido: “Vai, a tua fé de te salvou”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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