CONSTÂNCIA
NA PRECE
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
O objetivo de Cristo ao
narrar a parábola do juiz iníquo e a viúva injustiçada foi mostrado claramente
por São Lucas, ou seja, ensinar a seus discípulos que é preciso rezar sempre
sem desanimar (Lc 18,1-8). A perseverança é de suma importância, sobretudo na
prece de súplica. Se perante um magistrado injusto uma pessoa pobre e
desamparada conseguiu aquilo que com razão pleiteava, conclui Jesus que Deus
faz justiça aos que nele confiam e continuamente a Ele clamam. A prece tenaz
deparará sempre a resposta favorável da parte do Onipotente. Este, contudo,
deseja, pedagogicamente, que se persevere na solicitação que o fiel vislumbra
como imprescindível para si ou para o próximo. Deus quer a fidelidade de um
diálogo, de uma oração iluminada por uma fé inabalável no seu poder sem limites
e na sua bondade infinita. Ele não é um senhor desalmado como o juiz da
parábola, nem um juiz indiferente, passivo, silencioso, mas quer ser tratado
como um pai amoroso. Este pai, porém, diagnostica na constância do pedido que
lhe é dirigido o que se passa lá no íntimo do suplicante. Trata-se do impetrante
que passa então a reconhecer que de si nada pode, mas firma sua dependência
ontológica daquele que é rico em comiseração. A pobreza do coração faz aflorar
a necessidade do auxílio divino e leva ao reconhecimento da capacidade divina
de atender o que se pede. Rezar assim e amar a este Deus é uma abertura
interior de si mesmo, um dom precioso para pode receber deste Deus a graça solicitada.
Não se trata, portanto, de se forçar a bondade do Ser Supremo ao qual se
demonstra, contudo, uma confiança absoluta. Há algo maravilhoso na atitude do
suplicante, pois este não lança clamores no vazio. Sua oração não é um brado
sem possibilidade de ser acolhido por quem pode e quer ajudar, atender,
consolar. O cristão, entretanto, nunca se esquece do que Jesus também ensinou,
mostrando que se deve sempre dizer ao Pai do Céu: “Seja feita a tua vontade”.
Muitas vezes o que se suplica na oração não pode ser atendido por muitas razões
que Deus sabe melhor do que o ser humano com sua visão limitada. Numa prece
humilde está, assim, implícito que o Senhor Poderoso atenderá quando for
oportuno. Ele saberá sempre dar algo muito melhor para aquele que reza ou para
as pessoas pelas quais se desejam graças especiais, dado que uma prece nunca
fica sem resposta da parte do Criador o narrar a Parábola da viúva injustiçada
Jesus, Mestre da Oração, ensina a todos os seus seguidores a procurarem sempre
a justiça e a jamais quererem se vingar de seus malfeitores. Para estes se deve
pedir o perdão divino como ocorreu com Santo Estevão, o qual ao morrer
apedrejado pedia a Deus que não castigasse seus perseguidores. Está registrado
no Livro “Atos dos Apóstolos": “Senhor, não lhes impute este pecado” (Atos
8,60). O protomártir imitava Jesus que, martirizado, no alto da Cruz suplicava:
“Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 46). Diante,
porém, das iniquidades que se cometem pelo mundo afora muitos se esquecem de
que Deus é paciente, porque é eterno, e quer dar oportunidade a todos de se
arrependerem, e possam reparar seus crimes e, assim, poderem obter a vida
eterna. Como bem se expressou São Pedro, "Ele não quer que alguns pereçam,
mas que todos cheguem à conversão”. A longanimidade divina O leva a suportar os
erros humanos, oferecendo oportunidade para que haja um arrependimento do
pecador e este se converta e viva. Adite-se que mesmo os bons quando oram e
suplicam devem estar certos de que Deus é fiel e sempre levará em conta suas
preces. Por vezes Ele prova a persistência do orante. É que Deus usa com
sabedoria sua paciência. É preciso também que o fiel se examine se está pedindo
dentro do tripé sagrado, ou seja, pedindo bona,
bene, boni. Isto significa que cada um deve suplicar sempre coisas boas,
necessárias a si e aos outros, com muita fé e confiança e sendo bons, estando
na graça divina e unidos a Deus em todos os instantes de sua existência. Nunca
se deve suplicar coisas más ~mala; duvidando
do poder de Deus de maneira má- male,
e sendo maus - mali. Os grandes
intercessores foram sempre os santos que viveram ou vivem de acordo com os
desígnios divinos Eles têm o poder da prece eivada de uma fé inabalável,
alicerçada numa vivência agradabilíssima a seu Senhor que logo os atende. Têm a
chave dos tesouros do Deus justo e fiel! A exemplo deles tenhamos coragem e a
audácia na prece e seremos atendidos como foi a viúva da Parábola de hoje, não
por um juiz iníquo, mas por um Deus que é Pai de misericórdia infinita. * Professor
no Seminário de Mariana, durante 40 anos.
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