ORGULHO EXECRADO E
HUMILDADE ENALTECIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Notável pedagogo, Jesus na parábola na qual
focaliza um fariseu dominado pela soberba e um publicano a irradiar profunda
sensatez retratou com maestria duas posturas contraditórias diante de Deus.
Mostrou peremptoriamente a diferença. entre uma prece condenável e um contato
verdadeiro com o Ser Supremo. O fariseu na sua altivez se centra em si mesmo
faz a pintura de sua grandeza. Manifesta-se como um poço de virtudes. Os outros
são “rapaces, injustos, adúlteros”, ele é um herói possuidor de todos os
atributos, merecedores de aplausos. Era uma pessoa à parte, inatacável. Sua
auto justificação fluía de uma erupção de deplorável narcisismo merecedor de
repulso, pois os seu amor para consigo mesmo raiava as bordas do ridículo.
Tudo isto o fazia ignorar seus muitos defeitos, os quais, aliás, projetava nos
outros, como acontecia no seu julgamento deturpado do humilde publicano. Ele
eliminava os outros para ser o único e exclusivo objeto do amor de Deus
Firmava-se apenas em ações exteriores,
mas vazias porque contaminadas pela arrogância com que se posicionava perante
Deus o qual, conhecedor de tudo que se passa no íntimo de cada um, via o
desequilíbrio de um coração no qual só imperava o mais profundo exclusivismo do
próximo. Por isto mesmo ousava fazer uma prece que era uma apologia que
dimanava de seu psiquismo viciado. A agressividade marca a oração feita por
este publicano, inclusive diminuindo a amplidão do coração de um Deus que ama
todas as suas criaturas e que conhece o íntimo de cada um, não se deixando
enganar pela hipocrisia, pela falsa devoção, pela simulação. Ao contrário, o
publicano mantendo-se à distância, não queria nem sequer erguer os olhos ao
céu, mas batia no peito, reconhecendo-se um grande pecador. Era um sábio, pois
somente, de fato, Deus é perfeito e o ser humano é contingente e sujeito a
erros e imperfeições cometidos por sua própria culpa. Ele sabia que não tinha
direito de exigir nada de seu Senhor, mas esperava sua clemência e comiseração.
Eis porque não se julgava superior a ninguém e confiava unicamente na bondade
divina que viera suplicar. Não ostentava a mesquinhez do fariseu. No seu
interior havia a aversão ao pecado que impede o verdadeiro amor ao Doador de
todas as graças. Podia então numa atitude de verdadeira conversão solicitar que
Deus tivesse dele compaixão. Naquele momento ele trilhava o caminho da
autêntica paz, pois “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes ela dá sua
graça” (Tg 4,6). Jesus declarou abertamente: “Quem se humilha será exaltado”
(Lc 14,11) e lançou uma norma preciosa: “Aprendei de mim que sou manso e
humilde de coração”. (Mt 11,29). O publicano estava matriculado na escola deste
Mestre admirável. A humildade é o alicerce da vida do verdadeiro cristão. Este
apaga o “eu” e não se deixa dominar pelo egocentrismo. Com isto atrai o amor
misericordioso de Deus. Foi o que aconteceu com a Virgem Maria que pôde dizer:
“Ele olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48). Como o orgulhoso n é
incapaz de amar os outros, o humilde, ao contrário, cheio do amor divino é
capaz de envolver o próximo num amor sem limites. Eis porque Maria, a humilde
serva do senhor, se tornou a Senhora das
graças, tendo se tornado a corredentora da humanidade. O fariseu da parábola
não ama seu próximo, mas se limita a julgá-lo. O humilde não se sente maior que
os outros e nem os traz a seu tribunal, porque está imerso na misericórdia de
Deus e reconhece que em derredor de si há pessoas muito mais santas e virtuosas.
Além do mais, levado pela humildade,
o verdadeiro cristão reconhece que nunca pratica todo o bem que deveria fazer
e, assim, se confia à indulgência divina. A humildade é, verdadeiramente, a
porta pela qual entram todas as bênçãos do Senhor Onipotente.*
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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