O
SER HUMANO PERANTE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho
Se
pessoas não sem fé, muitas vezes, se posicionam contra Deus O ultrajando, pior
se torna a atitude daqueles que creem, mas querem manipular o Ser Supremo das
formas mais variadas. A mais comum é a revolta contra Ele quando surgem as
provações e contrariedades inerentes à condição humana ou permitidas pela
Providência divina no intuito de purificar aquele que proclama que O ama.
Manifesta-se então uma audaciosa revolta contra o Senhor de tudo. O
endeusamento dos bens terrestres ou uma falsa espiritualidade se opõem ao
verdadeiro posicionamento da criatura perante o seu Criador. No primeiro caso,
o homem, girando tudo em torno de si, aspira a posse de riquezas, de glórias,
de prazeres mundanos, afrontando os preceitos do Decálogo. Na outra hipótese,
Deus é trazido à barra do tribunal do fiel que arrogantemente quer impor a Ele
sua própria vontade e faz da oração uma ordem atrevida Àquele que é o seu
Soberano. As promessas transformam muitas preces num negócio com o Criador.
Cristo ensinou simplesmente a pedir, a buscar, a bater humildemente na porta da
Misericórdia divina. Graças obtidas devem, contudo, ser agradecidas num louvável
hino gratulatório. O ser humano ignora ou se esquece de que o Onipotente deve
ser objeto de um total amor, precisa ser continuamente adorado e servido e nele
se deve ter a mais radical confiança. Isto por ser Ele o Ser Supremo, o único
subsistente por si mesmo, Aquele que é, existindo desde toda a eternidade. Não
se pode desconhecer que Ele é a regra, a medida e o centro de tudo e que não
existe nada sem o seu querer todo-poderoso.
Possuidor de todas as perfeições e a fonte de todos os benefícios merece
todo acatamento. Na sua infinita bondade Ele se dispõe sempre a dialogar com
suas criaturas racionais, mas é naturalmente avesso a todo tipo de empáfia,
fatuidade ou soberba. O orgulho humano bate, sacrilegamente, tantas vezes de
frente com Seu domínio absoluto como se Ele fosse um seu rival a ser descartado
ou até um escravo a receber ordens. A dependência que a própria razão exige
perante Ele condena tais atitudes. Requer-se um mínimo de bom senso para saber
conversar com Aquele que conhece o que é melhor para cada um e que tem o poder
para vir de encontro às necessidades de quem nele deposita fé sem limites. É
necessário não se deixar levar pela mesquinhez que paralisa a ação das graças,
pois Ele resiste aos arrogantes como aparece claramente em inúmeras passagens
da Bíblia. O orante deve se entregar sinceramente a Deus, repousar nos seus
braços paternos, sabedor de que sem Ele ninguém é forte, ninguém é santo. É do
contato humilde com o Todo-Poderoso que o cristão pode vencer o amor-próprio,
fruto do pecado original e, fortificado pela luz divina, triunfar das paixões.
Robustecida a vontade, já não se faz mais uso incorreto do dom da liberdade. As
infidelidades vão desparecendo e as vitórias sobre satanás se multiplicam, mas
são atribuídas unicamente aos auxílios celestes. O ser humano já não se
apropria da ação de Deus e está convencido de que com Ele fará continuamente
proezas, porque é Ele quem
calcará aos pés os seus inimigos (Sl 108.13). Estabelece-se, desta maneira, uma relação frutuosa com a Santíssima
Trindade. O cristão, que assim se situa perante o seu Senhor, crê no Espírito
Santo, Doador de tudo, adorando-O juntamente com o Pai Onipotente e o Filho
Salvador. Reconhece-se amado do Pai, guiado pelo Espírito, numa valorização a
contínua dos méritos redentores da Cruz. São Paulo assim se expressou: “O
próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de
Deus” (Rm 8,16). Assim o fiel goza a sabedoria e o gosto pela oração bem feita
em todos os momentos. Resta sempre vigilante à espera do encontro definitivo
com Deus na hora de deixar este mundo. Captando por toda parte os sinais da
presença do Ser Supremo, conhece nesta trajetória terrena a integração perfeita
entre fé e vida. Então a presença divina
se torna sem cessar princípio de vida sobrenatural e de luminosidade celeste.
Isto porque, como se lê no Livro da Sabedoria, Deus “se deixa encontrar pelos
que não o tentam, revela-se aos que nele têm fé. Os juízos tortuosos afastam de Deus e a
Onipotência, posta à prova confunde os insensatos. (Sab 1, 3-4). Em síntese, o
ser humano perante Deus necessita uma fé neste Deus pessoal e vivo que está
presente por toda parte e que admite um afortunado diálogo entre Ele e sua
criatura racional*Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.
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