UM PROGRAMA DE VIDA ESPIRITUAL
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os
fiéis que observam corajosamente os mandamentos da lei de Deus e da Igreja não
estão isentos das investidas de satanás. Aliás, Deus as permite para provar a
fidelidade dos que O temem e O amam. Disto resulta inclusive uma proveitosa
purificação interior. Diante das perplexidades que, por vezes, envolvem almas
piedosas há necessidade de uma conduta correta para que o inimigo não venha a
causar malefícios. Dentre estes, o desânimo seria um dos mais graves obstáculos
ao desenvolvimento espiritual. É preciso nesse caso que o cristão humildemente
se lance nas mãos divinas e se disponha a enfrentar com galhardia tais
dificuldades. O auxílio celeste não deixará de lhe vir em socorro, se ele assim
proceder. Daí a importância das
orientações recebidas no Confessionário, as quais são dadas sempre que
solicitadas ao sacerdote, o qual nunca deixa
de concitar à perseverança. Adite-se a recepção da graça medicinal
própria do Sacramento da Penitência. Cumpre então a correspondência total a
este medicamento celeste, pois nenhum poder tem o espírito maligno sobre aquele
que procura a força divina. Esta vence aquele que foi derrotado pela Cruz de
Cristo, pois de suas chagas jorram as energias que fortalecem o cristão nos
embates contra o maligno. Eis por que o discípulo do Redentor deve ficar calmo perante as tempestades
armadas pelo diabo, pois elas passam e Deus não permite nunca que alguém seja
tentado acima de suas possibilidades. A tática é nunca ceder ao demônio,
seguindo a recomendação de São Tiago: “Resisti ao diabo e ele se afastará de
vós” (Tg 4,7). O demônio pode ocasionar agitação, mas quem confia em Deus não
soçobrará jamais. Deus quer maleabilidade em acatar as inspirações do Espírito
Santo, hauridas também na Eucaristia e
nas orações cotidianas que não podem ser abandonadas. Elas são a armadura do
cristão e o tornam invencível ante o mal. Aos poucos o fiel vai se apartando
cada vez mais da malícia do mundo, mas sem se deixar sugestionar pela ação
satânica que o quer longe da familiaridade com Deus. Esta é afetada todas as
vezes que o cristão não foge corajosamente das obras e vaidades de satanás ou é
levado por ele a esmorecer na prática de uma piedade sincera. A tática do
perverso inimigo de Deus é levar, por vezes, o cristão a questionar os valores
sobre os quais se alicerça uma vida espiritual sólida, concitando ao
afastamento da dependência e da submissão a seu Senhor. É preciso que se tenha
continuamente a certeza de que nenhuma atividade humana é irrelevante para o
reino de Cristo, inclusive os momentos de possíveis desânimos na caminhada nas
veredas da santidade. O demônio é ardiloso e aí daquele que não se dispõe a
vencê-lo sem se armar contra seus rugidos que são diferentes para cada um. O importante é o cristão colocar sua fé em Deus e não numa
ideia de progresso espiritual sem as dificuldades provindas daquele que deseja
confundir os amigos de Jesus. Este dá a quem nele confia o poder para
desbaratar todos os influxos do inimigo. Este pretende impedir o cristão de ser
um autêntico seguidor do Filho de Deus. Entretanto, é na fragilidade humana que Cristo manifesta
seu poder. Ele está ininterruptamente a dizer a cada um aquilo que Ele falou a
São Paulo: “Basta-te a minha graça, pois
é justamente na fraqueza que a força da
graça mostra a sua potência” (2 Cor12,9). Nem as distrações nas orações, nem um
menor fervor ao participar das Missas, nem a multiplicação das tentações
advindas dos pecados capitais, nem as imperfeições inevitáveis a seres
contingentes são obstáculo intransponível. É quando o cristão percebe ainda
mais claramente que felicidade perfeita é só lá no céu e que neste vale de lágrimas
o combate é ininterrupto. Aceita com muita humildade sua condição de peregrino
nesta terra e continua renunciando ao
mundo como inimigo de Deus. Afasta qualquer tipo de idolatria da riqueza, das
aberrações sexuais, abominando tudo que,
ainda de longe, se configure como uma ofensa ao Criador. Tudo que conspurca a
dignidade do ser humano apresentado nos meios de comunicação social são
execrados e jamais o seguidor de Cristo se expõe às ocasiões de
pecado. Dá-se uma marcha firme rumo à Casa do Pai, superando as trevas do erro.
Deste modo, os obstáculos da restauração em Cristo são afastados, resultando
uma sublime configuração com Ele (Ef 1,4-10).
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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