CRIADOS NA MISERICÓRDIA E PARA A
MISERICÓRDIA
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Vivemos
o ano da Misericórdia e o lar é um campo maravilhoso para que se exerça a
misericórdia, a compreensão, o perdão como valores fundamentais a serem transmitidos nas famílias. Trata-se
de um dom específico dos lares cristãos e, por isto, é também uma missão de
transcendental importância para toda a sociedade da qual a família deve ser um
espelho por ser dela a célula mater. Os cônjuges são criados na misericórdia e para a misericórdia, pois um
deve ser para o outro auxílio, adjutório, amparo durante toda a vida. Sem Misericórdia
surgem atitudes que podem afetar a
harmonia dos casais. Quando não são afastadas com sabedoria, podem comprometer
gravemente a autoestima de um dos cônjuges e martirizar inutilmente a própria
existência. A falta de misericórdia, de indulgência é uma atitude negativa que só complica a
família e significa entregar-se à
insegurança. Isto provoca muita
vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela
impulsividade ou pela incapacidade de conseguir autocontrolar-se e de se ter uma visão menos deturpada de uma
situação que pode e deve ser contornada. O primeiro passo para superar um
sentimento doloroso real ou fruto da imaginação é relacionar este sentimento
com a valorização pessoal diante de qualquer circunstância que tenha surgido e
perdoar logo, pois só Deus é perfeito. No momento oportuno uma conversa
tranquila pode esclarecer qualquer situação que tenha causado aborrecimento. Em
segundo lugar, é se conscientizar que o
pesar, a tristeza, o desgosto, a mágoa não podem nem devem desestruturar a
própria pessoa e destruir a paz famililar. Cumpre, além disto, superar a
insegurança inclusive depositando total confiança no outro sob pena de
prejudicar a vida de ambos. Perpetuar, através da imaginação, uma questão que deve ser debelada é uma trilha completamente prejudicial.
É preciso continuar investindo no amor mútuo, logo desculpando radicalmente, não deixando
que algum ressentimento conduza ao desespero ou ao rompimento inteiramente
desaconselhável em qualquer hipótese. Sábio o ditado: “O tempo cura todas as
feridas” Adite-se o recurso sobrenatural à oração que traz paz, serenidade,
imperturbabilidade, além de alcançar de Deus a solução desejada para o problema
que tenha surgido. Problemas surgem para serem solucionados. Entretanto, vale
também o brocardo: “Ajuda-te que o céu te ajudará!” O célebre literato Paul
Claudel escreveu um tocante livro, cuja epígrafe é Qui ne souffre pas? –
Quem é que não sofre? Portanto, não é o sofrimento em si que causa atitudes
depressivas ou agressivas. A grande questão é sublimar sempre as aflições
existenciais, dando-lhes uma aplicação transcendental e delas se servindo para
o próprio amadurecimento. Resoluções firmes e arraigada confiança no porvir
acompanham aqueles que encaram a vida com vistas amplas sem se deixarem trancar
nos aposentos escuros da disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar
tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior. Venturosos os que não se deixarem amesquinhar pelos receios de uma ideia que agiganta os perigos, aumentando falsos
temores. O verdadeiro cristão se mostra sempre misericordioso, ativo,
empreendedor, corajoso, sem pavor das naturais dificuldades do relacionamento
cotidiano. Ostenta uma atitude esperançosa em face dos problemas ,
considerando-os passíveis de uma solução global positiva. Desta mundividência
resulta uma atitude geral ativa e confiante, cultivando uma anistia proveitosa
para si e para os outros. Infeliz quem
não sabe perdoar, o tímido, o pusilânime, incapaz de vencer obstáculos. Muitos
fracassam exatamente porque descuidam o cultivo das habilidades que possui,
contemplando sempre obstáculos intransponíveis em qualquer momento. Vivem
perenemente a reboque dos seus sentimentos agressivos, sem nenhuma iniciativa
vigorosa que conduza à melhoria da própria
história e do meio em que vive.
Donde a importância da educação da vontade e da mente que devem estar sempre voltadas
para desculpar o outro. Ralph Waldo Emerson, filósofo americano, proclamou que
“uma lei da natureza afirma-nos que a habilidade aumenta com a prática, e que
quem não tem força de vontade para agir, para perdoar não pode adquirir a perícia
desejada”. Felizes só os misericordiosos, os destemidos, os otimistas, os quaisconhecem os louros da
imperturbabilidade sobretudo nos lares. Vivem o que afirmou São Paulo: “O amor tudo
suporta”. Então, aqueles que ainda vão convolar núpcias, ou já vivem o
sacramento do matrimônio terão sempre um lar feliz, abençoado como foi o Lar da
Sagrada Família onde sempre imperou o amor, a compreensão, a bondade. Deste
modo a família pode e deve ser o santuário da misericórdia, mostrando o rosto
de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da
caridade misericordiosa deste Deus que é
amor infinito. Isto porque a misericórdia como o amor, dever ser uma ação viva,
contínua, dinâmica e concreta. Os cônjuges foram criados na misericórdia de
Deus e para a misericórdia deste Deus
que é amor! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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