UMA REDENÇÃO TOTAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A redenção operada por Jesus foi total. Ele realizou tudo quanto a justiça divina exigia. Todas as tentativas de reconciliação com a divindade, operadas após a expulsão de Adão e Eva do paraíso, sobretudo os sacrifícios do Povo eleito, não satisfariam nunca ao Deus ofendido pelo ser humano, pois se “sem sangue não há remissão de pecados” (Hb 9,22), só um sangue divino poderia agradar plenamente ao Todo-Poderoso Senhor, numa reparação cabal. Os sacrifícios oferecidos à divindade na Mesopotâmia, na Pérsia, na Grécia, em Roma, nas longínquas paragens da China e da Índia, além de apresentados a falsas deidades, ainda que fossem ofertados ao único Deus verdadeiro, Este poderia abordar os homens dizendo: “ Que necessidade tenho, ó homens, de tuas ofertas. Tudo que a terra possui a mim me pertence”. O sangue derramado por Jesus, porém, sangue divino, este, sim, foi uma perfeita satisfação à justiça de Deus, reparando inteiramente o pecado do homem.
Tudo que a caridade exigia para demonstrar o amor foi apresentado por Cristo ao Pai. De fato, tudo que a dileção mais exigente pediria, tudo quanto convinha para patentear o soberano afeto Ele realizou em proporções grandiosas, inimagináveis. Se percorremos a História Universal, se examinamos os feitos dos heróis que se sacrificaram por sua gente, por sua pátria, se verifica que nenhum deles demonstrou tanta dileção. Tudo que gemeram as flautas, soluçaram os alaúdes, soaram os címbalos de prata, foram meras figuras do imenso vulcão de amor do Salvador. As crônicas da dedicação, os gestos de imolação, as páginas do patriotismo são meras sombras comparadas com o que Cristo fez pela humanidade. Ninguém rivalizou, nem rivalizará jamais, sua prova de amor se sacrificando pela humanidade. Ninguém O suplantará. Sua dileção foi às raias do infinito. Como pôde atestar o Evangelista: “Como amasse os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 19,1).
Ele pode surgir ante os séculos e perante todo o ser humano e inquirir: “Que poderia eu fazer mais por vós, meu povo?”. Ele, realmente, regulara a salvação do homem pelos empenhos da ternura mais maravilhosa. Milagres de caridade assinalaram suas obras e dele fizeram plenamente o oceano incomensurável da bondade e da ternura. Ele se fez a figura central da humanidade. Perante Ele emurcheceram os louros e glória de um Ciro ou de um Alexandre Magno, obnubilaram-se Davi e Salomão e todos os demais personagens ilustres da História.
Ele foi, não há dúvida, a realidade ideal, inesgotada, inesgotável. A glória dos gênios e dos benfeitores estaria sempre circunscrita a um povo, a uma ciência determinada, a um feito específico. Sua influência se veria fechada nos limites estreitos de um grupo de admiradores. Cristo, porém, foi e será sempre o ponto de reparo de todas as glórias, de todos os triunfos, de todo o progresso. Ontem, hoje, amanhã e sempre o Rei imortal dos séculos, a maior figura da História em todos os tempos, porque o Salvador, o Redentor do gênero humano ao qual ofereceu uma redenção completa. Ele cumpriu em plenitude sua missão redentora!
Todos nós também temos uma missão a realizar neste mundo. Pesa mesmo sobre cada um de nós a inexorabilidade de uma sentença: “Com o suor de teu rosto comerás o pão” (Gên 3,19). A exemplo de Cristo devemos realizar nossa tarefa para podermos, um dia, comparecer diante do Pai, como o Apóstolo Paulo, afirmando ao Criador de tudo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa de justiça, que me dará o Senhor, justo Juiz, naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua gloriosa manifestação” (2 Tim 4,7). Venturosos os que, ao passarem a última página do livro de sua existência, puderem escrever na plenitude de uma afirmação verídica: “Cumpri o meu dever, fiz tudo que estava a meu alcance, o mundo ficou melhor, eu por ele passei. A cada um de nós impende uma tarefa específica na trama da vida social: aos médicos, deveres de médico; aos advogados, deveres de advogados; aos professores, deveres de professores; aos agricultores, deveres de agricultores e assim em todas as demais profissões e atividades. Cumpramos este nosso dever e a hora da nossa morte será não apenas a última página do livro de nossa vida nesta terra, um mero epílogo de uma existência histórica, mas o prólogo de uma eternidade feliz junto do Redentor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
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