A OBRA MISSIONÁRIA DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O que se esquece muitas vezes é que, através dos tempos, a Igreja ao clamor daquele apelo lá no Calvário “Tenho sede” (Jo l9,28) jamais se esqueceria de sua missão sublime de levar a todas as partes a regeneração do sangue redentor. Cristo, que veio salvar a humanidade, tem sede de almas. É com sua admirável obra missionária que a Igreja sacia a imensa sede espiritual de Cristo. Ela ultrapassou o Tibre, o Nilo, atravessou o Danúbio, pervagou o Eufrates e os vastos areais da África; foi até os lagos do Canadá e atingiu os desertos da Sibéria; penetrou nas florestas do Novo Mundo, estendendo continuamente o reino de Jesus mundo todo. Ela atraiu sempre multidões para junto do Bom Pastor. Ao som daquele apelo “Tenho sede”, homens formidáveis, não duvidaram e enfrentaram mil perigos longe da pátria e da família. Afrontaram obstáculos como tormentas dos mares, dos rios impetuosos, das montanhas agrestes, dos desertos extensos e sufocantes. Tudo isto para conquistar almas para Cristo. Afã glorioso destes heróis sublimes que entenderam perfeitamente o anseio de Jesus naquele “Tenho sede”. Cantou maravilhosamente Castro Alves, na belíssima poesia intitulada “Jesuítas”, esta surpreendente atividade: “Homens de ferro! Mal na vaga fria / Colombo ou Gama um trilho descobria / Do mar nos escarcéus / Um padre atravessava os equadores / Dizendo: “Gênios!...sois os batedores / Da mantilha de Deus” / Depois as solidões surpresas viam / Estes homens inermes, que surgiam / Pela primeira vez. / E a onça recuando s’esgueirava, / Julgando o crucifixo ... alguma clava / Invencível talvez. / O martírio, o deserto, o cardo, o espinho, / A pedra, a serpe do sertão maninho, / A fome, o frio, a dor, / Os insetos, os rios, as dunas, / Chuvas, miasmas, setas, savanas, / Horror e mais horror. / Nada turbava aquelas frontes clamas / Nada curvava aquelas grandes almas / Voltadas pra amplidão... / No entanto eles só tinham na jornada / Por couraça - a sotaina esfarrapada ... / E uma cruz - por bordão. [...] Quantas vezes sobre a fogueira, / Aos estalos sombrios da madeira, / Entre o fumo e a luz ... A voz do mártir murmurava ungida: / “Irmãos! Eu vim trazer-vos - minha vida... / “Vim trazer-vos - Jesus!” / Grandes homens! Apóstolos heróicos! / Eles diziam mais do que os estóicos: / Dor, - tu és um prazer! / “Grelha, - és um leito! Brasa, - és uma gema! / “Cravo, - és um cetro! Chama, - um diadema! / “Ó morte, - és o viver!” Foi aquele “Tenho sede” que fez um Francisco Xavier surgir no Japão e, antes dele, Gregório a iluminar a Armênia; Vitorino, a Síria; Frumêncio, a Etiópia. “Tenho sede!” Patrício não duvidou e converteu a Irlanda; Agostinho, a Inglaterra; Columbano, a Escócia; Clemente, a Holanda; Bonifácio, a Alemanha; Cirilo e Metódio os povos eslavos. Como diria o mesmo Castro Alves na referida poesia: Foram eles que o verbo do Messias / Pregavam desde o vale às serranias / Do polo ao Equador ... / E o Niágara ia contar aos mares ... / E o Chimborazo arremessava aos ares / O nome do Senhor! O clamor de Jesus deve chegar até nós. No dizer do papa Leão XIII, a expansão da Igreja, embora obra divina, devida aos sopros e socorros do Espírito Santo, se processa à maneira bem humana. A sabedoria divina que ordena todas as coisas e as conduz a seu fim pelo meio que se relacione com a natureza de cada uma delas, quer a difusão da Igreja por meio dos esforços de seus filhos. Deus tudo realiza por meio dos homens de boa vontade. É esta, aliás, a grande realidade mostrada pelas Escrituras Sagradas. Não nos é dado ficarmos insensíveis ao apelo de Jesus: “Tenho sede”. Com as preces, as esmolas generosas que são auxílios valiosos às obras missionárias, com o engajamento nas diversas pastorais, estaremos respondendo ao anelo de Jesus que quer a salvação de todos.Lembremo-nos, porém, que será operando a nossa redenção pessoal que melhor estaremos compreendendo esta aspiração divina. Pela penitência e pela renúncia, pelo apostolado, pela união à Cruz estaremos respondendo a este “Tenho sede” doloroso e imperativo. Estaremos, também, salvando o mundo, pois um ato de amor repara mil blasfêmias. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
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