A NECESSÁRIA PERSEVERANÇA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Tal a advertência de Jesus: “É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação” (Lc 21,19). Para que se coloque em prática este conselho do Mestre divino é preciso a fortaleza, um dos sete dons do Espírito Santo que aperfeiçoa esta virtude, a qual modera e conforta o ânimo para sobrepujar e acometer os grandes perigos que impedem a própria santificação e salvação eterna. Segundo Santo Tomás de Aquino o papel desta virtude é duplo: sustinere et aggredi – sustentar e acometer. Trata-se de sofrer as grandes penalidades que no serviço de Deus podem oferecer-se e investir com prudência contra os perigos da vida pela mesma causa. Para isto, outras virtudes se ajuntam à fortaleza: a confiança na graça, a grandeza interior, a paciência e a perseverança, farolizadas pela esperança, alicerçadas numa fé profunda. A fortaleza sustenta nas dificuldades ordinárias, levando a tudo realizar para a glória de Deus e bem das almas. Desprende a alma dos temores das enfermidades, dos medos, das fobias, das preocupações inerentes à fragilidade da condição humana. Faz enfrentar com ânimo tudo que é preciso para o progresso na perfeição e para a realização constante da vontade de Deus nos mínimos detalhes de cada hora para o agrado permanente do Ser Supremo. Robustece na luta sem tréguas contra as forças do mal, dado que São Pedro deixou para todos os cristãos este aviso: “Meus irmãos estai atentos porque o demônio como um leão a rugir anda em derredor de vós, prestes a vos devorar” (1 Pd 5,8). Impede qualquer desânimo diante das próprias faltas e defeitos, levando a caminhar sempre para frente sem nunca esmorecer na caminhada da santidade. Conserva a calma, a tranqüilidade, a serenidade por entre as lutas e dificuldades cotidianas. Por tudo isto, brilha a excelência da virtude da fortaleza. Em todos os santos ela esplendeu de maneira visível, eles a repetirem com São Paulo: “Se Deus é por nós quem será contra nós”? [...] Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia...? Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores graças àquele que nos amou” (Rm 8, 31-38). É a virtude da fortaleza que dá a verdadeira liberdade e o domínio sobre si mesmo e o controle das situações mais adversas. Sua necessidade se torna assim patente para resistir às invectivas do Maligno e eis por que São Paulo dizia aos Coríntios: ”Trabalhai varonilmente e sede fortes (1 Cor 16,13). Os meios para se obter um ânimo alentado e valente são os mesmos empregados por aqueles que se fizeram modelos de todos os batizados e que por sua constância chegaram ao céu, centenas de bem-aventurados aos quais prestamos o culto de dulia, numa veneração repleta de admiração. Antes de tudo e sobretudo confiaram na graça de Deus e puderam repetir com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fil 4,13). Jamais desviaram os olhares de Jesus sofredor e puderam proclamar com o mesmo Apóstolo: “Eu só quero conhecer a Cristo e Cristo crucificado” (Cor 2,2). Ao contemplar a vida dos que atingiram uma notável perfeição como Santa Rita de Cássia, Santo Antônio, São Bento e tantos outros, é bom refletir o que disse Santo Agostinho: “O que estes e estas fizeram, porque não o farei eu?” e também o que prometeu Deus no Apocalipse: “Sê fiel até a morte e eu te darei a coroa da vida (Ap 2, 10). Quando se lembra as grandes lutas de notáveis personagens da História, consagrados como heróis nacionais, a análise paulina é valiosa: “Eles, certamente, para alcançar uma coroa perecível, mas nós porém uma coroa imortal” (1 Cor 9,25). Para se praticar a virtude da fortaleza a cautela é, outrossim, de suma valia, porque precaver-se de tudo que poderia conspirar contra a perseverança é atitude louvável por Deus. É necessário ainda suportar sem medo os pequenos males de cada dia, pois Jesus lembrou: “Quem é fiel no pouco, também o será no muito” (Lc 16,10). O salmo 46 mostra a todo batizado que o Senhor está com ele e nada há que se temer: “Deus é nosso refúgio e nossa força nas tribulações nosso socorro sempre pronto, por isto nada tememos ainda que estremeça a terra e os montes se precipitem no sei do mar. Bramem embora e agitem-se as suas vagas,conosco está o Senhor dos exércitos, nosso baluarte é o Deus de Jacó” (Sl 46, 2-5). O cristão, entretanto, se lembra sempre que na sua trajetória terrena ele não procura colher flores, mas frutos para a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
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