NOSSA SENHORA DAS DORES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A devoção a Nossa Senhora das Dores deve-se, sobretudo, à pregação dos Padres Servitas e entrou na liturgia dia 15 de setembro por obra do Papa Bento XIII em 1724. Os servitas foram fundados dia 15 de agosto de 1233 em Florença na Itália pelos 7 fundadores da Ordem e têm como padroeira principal Nossa Senhora das Dores. A comemoração litúrgica põe em destaque a participação ativa de Maria nos sofrimentos redentores de Cristo. Ela nos faz, também, compreender a necessidade de unir nossos sofrimentos aos de Jesus. Maria soube, mais do que ninguém, participar da paixão de Cristo. No dia 15 de setembro nos lembramos da Profecia de Simeão, quando dor imensa se abateu então sobre Maria, terníssima mãe, porque foi uma antecipação de todas os demais sofrimentos que deveria suportar. Com efeito, foi uma projeção terrível de instantes lancinantes e cuja imprevisibilidade lhe aguçou profundamente o sofrer. Profecia que obscureceu para sempre a dita daquela que tanto amava seu divino Filho. Depois, a fuga para o Egito e bem se pode aquilatar os sobressaltos da Virgem Santa ante a antevisão de um rei Todo-Poderoso a querer assassinar aquele que era as delicias de seu coração. As incertezas de um exílio, a penosa viagem para regiões desconhecidas foram, entre outras, preocupações a pungir-lhe o espírito. Após retornar do exílio, Jesus “crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens”. É então que a Providência reservou a Maria outra dramática ocorrência, registrada no Evangelho. Todos os anos José e Maria iam a Jerusalém por ocasião da Páscoa. Ao regressarem da cidade santa, o Menino Jesus lá ficou. Era costume caminharem os homens e as mulheres em grupos separados. Foi natural que os pais não dessem falta do filho amado. Ao perceberem sua ausência, imediatamente, voltam a Jerusalém e, durante três dias, se põem a procurá-lo. Encontram-no templo entre os doutores. As palavras de Maria revelam o que fora a intensidade do pesar daquelas dolorosas horas: “Filho, porque procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição”. Foram, de fato, de esquisita acridão aqueles dias horroríficos. No Egito, apesar dos pesares, ela tinha Cristo junto a si e isto lhe mitigava um pouco as angústias. Doridos foram, porém, os instantes sem Ele e, na verdade, sem saber onde Ele estava. Mais tarde, o encontro na Rua da Amargura. A dor de Maria no encontro com Jesus foi, realmente, terrível. Embora ela a previsse, pois tivera notícia daquele fato há trinta e três anos no vaticínio de Simeão, entretanto, a visão daquela cena lhe foi muito mais trágica. Aquele foi o contemplar pela primeira vez o seu dileto Filho inteiramente transfigurado. A realidade alterosa ultrapassava então a grandeza de seus temores. Estes lhe causaram mágoa, a mágoa se lhe fez angústia, a angústia se lhe transmutou em agonia, a agonia se metamorfoseou em ânsia extrema a lhe despedaçar a alma em violentíssima amargura. A espada de Simeão, porém, deu no Calvário o seu golpe mais cruel: “Entretanto estavam de pé junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena”. Sem ponderação o que padeceu a Senhora durante as três horas de agonia de Cristo. Não foi apenas assistir um carrasco a executar uma iníqua sentença, senão presenciar os requintes da malvadez nos últimos limites da insensibilidade humana. Depois, Cristo desfalecido foi tirado da cruz. Instante lancinante! Maria que nada pudera fazer até então por seu amado filho, percebe, de fato, ao vivo que só restava a ela curtir o oceano de dor, cujas vagas lhe inundavam o ser. De perto contemplou o corpo de seu Jesus coberto de equimoses. Era uma chaga dorida, todo ele maltratado e estraçalhado. Aquele que era o mais belo dos filhos dos homens aí estava desfigurado e marcado com o ferrete da ignomínia, totalmente deformado. Que desdita para a pobre e agoniada mãe! Jesus foi sepultado e a soledade imergiria a mãe dorida num pélago ainda mais profundo. Diz São João: “Ora no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um horto e no horto um sepulcro novo em que ninguém ainda tinha sido sepultado. Por ser o dia de Parasceve dos Judeus, visto que o sepulcro estava perto, depositaram aí Jesus”. Naquela hora, ao ouvir o golpe da pedra sepulcral fechando o túmulo, o coração desfibrado de Maria foi inundado numa mágoa sem par. A saudade, com todas as suas garras pontiagudas, estraçalharam ainda mais o ânimo daquela Madona sofredora até a manhã radiosa da ressurreição de Jesus. A soledade é o tormento mais cruel para as almas aflitas e envolve em terrível padecer. Foram os pecados dos homens que fizeram tanto sofrer a Virgem, Senhora das Dores. Reparemos nossas faltas pela penitência, por uma vida santa e pela oração e rezemos sempre pela conversão dos pecadores. Eis como verdadeiramente honrar a Senhora das Dores. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
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