sábado, 31 de dezembro de 2022

 

EIS O CORDEIRO DE DEUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho de hoje temos o testemunho de João Batista referente diretamente a Jesus (Jo 1,29-34). Toda uma visão de fé quanto à pessoa de Cristo e de sua obra colocada em alguns versículos nos lábios do Precursor. Com efeito, o Evangelista apresenta Jesus sucessivamente como o Cordeiro de Deus, um personagem existindo depois de tempos imemoriais, o portador do Espírito Santo, o Eleito e o Filho de Deus. A figura do Cordeiro de Deus é ela só um resumo da história da Aliança, dado que ela evoca de uma só vez o cordeiro pascal do Êxodo, cujo sangue, projetado sobre as colunas da porta de cada casa dos hebreus, indicava a noite de sua libertação, o Servidor sofredor que descreve o profeta Isaias, conduzido ao matadouro como o cordeiro e isto por causa dos pecados de seu povo, o cordeiro vencedor que, segundo os apocalipses judeus, devia destruir o mal no mundo. Quanto a preexistência de Jesus, o Enviado de Deus, é um tema bem joanino.  Jesus dirá um dia aos fariseus: “Antes que Abraão existisse, eu sou “(Jo 8,58); e na sua oração da última tarde ao Pai, ele rezará dizendo: “Pai glorifica-me junto de ti com aquela glória que eu tinha junto de tí antes que o mundo existisse” (17,5). O que lembra a afirmação do Prólogo: “no começo era o Verbo”; desde sempre era. O Filho de Deus. Enfim, o Evangelista acentua que o Espírito desceu sobre Jesus no batismo e permaneceu sobre Ele. Jesus, por conseguinte, possuía permanentemente o Espírito Santo durante sua vida terrestre, mesmo que Ele tenha esperado sua hora, a hora de sua paixão e de sua glorificação para transmitir o Espirito aos homens vindos até Ele pela fé. O livro de Isaias anunciava já que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias, saído do trono de  Jessé e que Deus colocaria seu Espírito sobre seu servidor, o Eleito que teria toda sua complacência. Deste modo, desde o início do Evangelho, o Precursor com insistência volta nosso olhar para Jesus, o Enviado, o Filho de Deus, e nos rediz simplesmente : ” Ele, somente Ele , é Ele que o Pai santificou e enviou ao mundo (10,365), é a Ele  que é preciso servir,  se queremos construir a paz, é Ele que é preciso amar com todas as nossas forças, com todo nosso espírito, com todo o nosso coração (Dt 6,5), é Ele que Deus nos dá com o salvador, como irmão, como companheiro de caminhada, é Ele que  que tudo  toma sem nada reclamar”. Estes testemunho do Batista marcou o ponto de partida da fé em Jesus, Messias, Filho de Deus. Os cristãos sempre guardaram esta lembrança e eis porque tantos pintores, tantos artistas representaram João Batista com o dedo apontando para Jesus, como que para repetir a cada geração dos que creem o que ele dizia a seus contemporâneos: “Há entre vós alguém que não conheceis: É Ele o Cordeiro de Deus. Eis porque também nas Missas o sacerdote mostrando o Corpo de Cristo, retoma as mesmas palavras do Percursor: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”. E todos juntos, antes de comungar dizem duas vezes a uma só voz: “Cordeiro de Deus, tem piedade de nós!”. Piedade de nós, “pobres pecadores”, se mostram a uma só voz doce e muito forte. Doce porque o Filho de Deus é capaz de júbilo com seu perdão, não obstante nossa miséria, ainda que tenhamos caído fundo no pecado, na miséria, no desespero. Muito forte, porque esta piedade de Jesus tira o peado do mundo que está dentro do coração. Ele é vitória sobre o mal e não nos deixa estancar na recusa do bem próximo dela: ela nos coloca de pé, nos põe em caminho. Jesus meigo nos diz: “Vem para o Pai!”  Cordeiro de Deus” tem piedade de nós” é nossa prece de cristãos de qualquer idade. É a prece dos jovens: “Tu que salvas todos os homens, faze de mim um irmão universal”. É a prece dos esposos cristãos: “Tu que te imolaste até à morte, tu que morreste por nós dois, tomai-nos, em tua piedade, tomai nosso amor no teu amor, coloca teu amor no coração do nosso amor. É a prece confiante dos idosos: “Cordeiro de Deus, tu que tão frequentemente pendoaste minhas misérias e minhas lentidões, dá-me o tempo de me imergir de minha parte na tua misericórdia. É a prece de toda a comunidade no momento em que Cristo vem se unir a todos os irmãos, em seu único Corpo: “Cordeiro de Deus, vencedor do mal, vem habitar nossas diferenças, vem triunfar de nossas indiferenças. Tu que te entregas por nós, coloca em nós a sede da unidade”. Trata-se de uma prece universal e de todos aqueles que nela se contemplam amargurados porque testemunham o Evangelho: “Jesus, de todos os povos e de todos os homens de boa vontade, dá-nos a paz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

 02 A ESTRELA DOS MAGOS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* No Evangelho de São Mateus os dois primeiros capítulos, denominados frequentemente evangelho da Infância, constituem uma espécie de prólogo, mesclando os acontecimentos e sua interpretação teológica como bem observa. Jean-Christian Lévêque, notável hermeneuta. É preciso então partir da significação religiosa da narrativa para apreciar os detalhes em função da visão global. O texto de hoje (Mt 2, 1-12) consagrado à visita dos Magos, continua no Evangelho de São Mateus com três outros episódios: a fuga pera o Egito, o massacre dos meninos inocentes e a ida da Sagrada Família para Nazaré. Excetuando-se Jesus, o personagem central nestas passagens do Evangelho é Herodes, o cruel,  cioso de seu poder. O fio que liga as quatro cenas é   o conflito entre dos reis, a saber o velho déspota e “Jesus o Messias o rei dos Judeus, que acabara de nascer” (Mt 2,2). O Rei Herodes, bem conhecido dos historiadores, é para o evangelista Mateus o símbolo da recusa em acolher Cristo e sua mensagem e, desse modo, é todo o destino de Jesus que nos é apesentado desde o prólogo deste evangelista. Jesus acolhido pelos homens de boa vontade, será rejeitado pelos responsáveis de seu povo. Outro tema teológico está baseado na vinda dos Magos, Ele que veio trazer uma salvação universal. De fato, são pagãos que se apresentam em Jerusalém, procurando o rei dos Judeus, são eles que retomam o caminho, sempre guiados por uma estrela e vão até Belém, entram na casa e adoram o   Menino nele vendo o Salvador. A partir deste encontro com Jesus os Magos se tornam crentes, rompendo com Herodes. Deus os adverte, agora não por um astro, mas por um anjo, como Ele faz com seus eleitos. Rebrilha assim, de fato, uma teologia da salvação e os detalhes do texto recebem seu verdadeiro valor. Nossa fé cristã repousa em definitivo não sobre um fundo histórico impossível de se deduzir dos   textos atuais, mas sim sobre os testemunhos dos diversos discípulos, testemunhos dados ao mesmo Cristo através de imagens vindas da tradição de Israel. Os Magos, vindos do Oriente são sábios, persas ou babilônios, provavelmente astrônomos, que puderam, talvez, ter tido contato com o messianismo israelita no comercio de Babilônia, anda florescente na época. Através deles é o mundo da ciência que se coloca em marcha para Cristo, o Messias, é o universo dos pagãos   que se volta para a luz do Evangelhos. Nada nos diz que eles eram três, senão talvez o número dos presentes, mas é certo que eles não eram reis e assim não serão na tradição cristã, antes do Livro armênio da Infância, datado do 6ª. século. No que concerne à estrela, qualquer que seja o ponto de partida material e a observação de base, o essencial é que o texto sublinha que os sábios viram na estrela um sinal, retomando assim a tradição judia, que considerava o Astro surgido da tribo de Jacó como como um dos símbolos do Messias esperado. Já os teólogos da Idade Média, no seu sólido bom senso, tinham notado que não poderia se tratar de um corpo celeste ordinário, pois que seu brilho era intermitente e se movimento descontínuo. O traço messiânico de toda a cena é por outra sublinhado pelo texto do profeta Miquéias, que os escribas citam imediatamente junto da pessoa de Herodes: “E tu Belém de Éfrata, tão pequena entre as principais cidade de Judá, de ti sairá para mim aquele que dominará em Israel” (Mq 5,1). Prosseguindo na leitura da profecia de Miquéias se chega ao presépio e aos confins do mundo:” Ele tem suas origens desde os tempos anteriores. Desde os dias mais remotos. Por isto os entregará à mercê de outrem até o tempo em que dê a luz aquela que há de dar à luz e o resto de seus irmãos voltará com os filhos de Israel. Ele permanecerá firme e governará com a força do Senhor e com a majestade do nome de Javé seu   Deus. Viver-se-á em paz, porque então ela será grande até os extremos confins da terra. S tal será a paz “. Deste modo. Para São Mateus a chegada dos Magos a Belém, guiados pela Estela, anunciou a missão de Cristo, marcou o cumprimento das promessas da antiga aliança. Os Magos chegando não viram senão uma criança, mas o Evangelista, pela sua narrativa, clara e ao mesmo tempo sugestiva, lembrava à comunidade o que a fé deve ver aquele menino, a saber o Pastor do povo de Deus, o único guia      para a salvação e aquele que trouxe a paz ao mundo. A narrativa de São Mateus deixa igualmente entrever que o destino de Jesus seria marcado pelo drama da descrença. Herodes não pensava senão no poder e se faz perseguidor, porque só lhe interessava a construção das cidades terrena. Os escribas conheciam a fundo as Escritura, sabiam de cor o catecismo das profecias   messiânicas, mas não se mexeram. Os estrangeiros, eles sim, souberam trilhar o caminho, souberam perceber os sinais de Deus na sua vida e no fundo de sua ciência. No encontro do Menino Jesus e do ódio São Mateus discerne já o mistério de Cristo sinal de contradição. Perante o Menino e os sábios, o Evangelista vê prefigurado Cristo, Verdade de Deus. Quanto a nós, se recebemos tudo isto como uma catequese bíblica sobre os acontecimentos da Infâmia do Messias, nós podemos descobrir então o apelo de Jesus para que tenhamos uma fé adulta. Hoje ainda é necessário aceitar que a esperança venha ao mundo através da humildade do Filho de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

 LUZ QUR ILUMINA TODAS AS GENTES  Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Natal! Qual é a natureza a desta solenidade?  Festejamos o nascimento de uma criança. Este Menino que é Deus em pessoa. Um nascimento como todos os outros, mas um nascimento extraordinário, que foi assumido pela maternidade e na virgindade, A maternidade de Maria que nos festejaremos daqui a uma semana no dia primeiro de Janeiro de 2023. Maternidade divina que termina na oitava do Natal e que abrirá o ano civil, ano da graça de 2023, maternidade assumida numa virgindade, no ser mesmo de Maria a qual fora Imaculada em sua Conceição. Jesus é verdadeiramente um homem, mas cuja pessoa é divina. Não é Deus que vem em uma pessoa é a segunda Pessoa da Trindade, o Filho, o Verbo, o Único, gerado, não criado, que toma carne de Maria e neste momento sua alma humana é criada e Jesus terá esta dupla vontade, que não é de uma vontade divina na sua única Pessoa que é a Pessoa do Verbo a qual assume a natureza humana que obedece, que entra em comunhão íntima com a Pessoa do Verbo.  É o que se chama “comunicação dos idiomas”: tudo o que podia passar da divindade na humanidade e da humanidade na divindade se realiza na Pessoa do Verbo e, dizendo isto, estamos no limiar do Mistério e não seremos nunca capazes de explicar na sua totalidades quem é Jesus ou quem é a Trindade. Deus nos ultrapassa e ultrapassará sempre, mas a revelação que Deus nos oferece sobre seu ser e nosso próprio ser nos introduz realmente neste nosso   conhecimento e em nossa comunhão com Ele. A luz de Deus e a grandeza de Deus nos ultrapassa. Nós somos chamados a entrar neste Mistério de amor do qual não somos a fonte, mas os beneficiários. Devemos nele adorar a Deus, pois “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) Como diz São Paulo, “dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. (“Rm11,36), Ele é, de fato, a luz quer ilumina todas as gentes. Em Jesus Deus se faz vulnerável, e o Todo-Poderoso se torna uma pequena criança, se faz semelhante a nós, e a Ele acessível. Ele esconde sua glória, seu poder. Deus não tem necessidade de mostrar seu poder, como nós os seres fracos que temos por vezes a precisão de nos mostrar fortes, não obstante nossa fraqueza. Nós somos convidados a escutar a Palavra, o Verbo de Deus que nos é dirigida neste seu Natal. A voz do Senhor que fala ao nosso coração. Deus nos fala sem cessar. Ele fala à nossa consciência. Temos uma alma espiritual, o que caracteriza nessa pessoa.  Somos chamados a escutar, a receber o Verbo que vem até nós. Como Maria saibamos O acolher.  Portanto, receber Jesus, contemplá-lo e escutá-lo o que Ele nos quer dizer neste seu Natal. Procurar sabem o que Ele solicita de nossa vida pessoal, o que podemos melhorar em nossa existência cristã, para que sua palavra seja fecunda em nossa vida. Jesus é sempre fonte de vida, vida que é luz. O Natal nos convida a sermos luz, canais que transmitem a vida divina aos irmãos e irmãs, ajudando-os a crescer espiritualmente. Cumpre levar por toda parte Jesus que é a fonte de vida, a plenitude da vida. Ele que transfigura nossa existência. Acolhamos o Menino Deus com fé, com respeito e muito amor. Deixemo-nos transformar por esta Palavra que se fez carne e habitou entre nós e se fez o nosso Salvador. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

 

VINDE A MIM, DISSE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho nos diz que Jesus “Vendo as multidões, teve compaixão delas porque estavam fatigadas e abatidas como ovelhas sem pastor/” (Mt, 9,36-10.8). Percorrendo nosso mundo deparamos, de fato, esta triste realidade descrita pelo Filho de Deus. Os dirigentes muitas   vezes mais se preocupam com o poder e dinheiro próprio e não têm olhos para ver a miséria em seu derredor. Muitos os desesperados, torturados, esfaimados, É a eles que se dirige Jesus, Aquele que pode trazer esperanças de uma vida melhor através de seus ministros dedicados  que, com generosidade, podem dulcificar tantos  sofrimentos  por meio da luz de sua doutrina, desanuviando  as trevas do sofrimento e fazendo degustar  a alegria perdida, mas tão desejada O povo de  Israel podia melhor que nós   captar  a ideia do papel de um bom pastor e sabia exatamente a importância de sua missão na assistência a suas ovelhas. Jesus por meio de seus ministros, bons pastores, desejava e deseja sempre através dos tempos que haja bons pastores que possam direcionar os desorientados que almejam bem conceituar o sentido da vida. Eis porque Jesus escolheu os doze apóstolos que teriam seus sucessores séculos afora para virem de encontro aos sofredores, pregando a solução de seus problemas, expulsando os demônios, valorizando seus sofrimentos oferecidos em reparação dos pecados que são a fonte de tantos males. A mensagem de Jesus condoído pelos moléstias que tantos padecem é uma mensagem de paz, de amor que pode sanar as enfermidades, curar suas feridas, oferecendo a certeza de uma felicidade perene junto dele numa eternidade feliz, esperança esta que ampara sempre nas tormentas da vida. Jesus veio a este mundo como o Messias salvador e nele se pode inteiramente confiar e com Ele vencer nas procelas que surgem na existência humana neste vale de lágrimas. É a verdadeira fé que leva cada um a poder afirmar: “Jesus é o meu salvador”. Então se compreende o valor da prece confiante a sustentar o cristão nos momentos mais tenebrosos. Hoje mais do que nunca cumpre se peça a Jesus que envie operários para sua messe que possam continuar sua obra redentora. Entretanto, se é verdade que cabe aos  sucessores dos Apóstolos estarem na primeira linha de amparo aos sofredores, cabe a cada cristão, seja onde ele estiver; ser também a guarida corajosa a seus irmãos. O batizado não pode ser um mero usufruidor do amor de Jesus. Deve ajudar o Mestre divino na sua obra de consolação dos aflitos nas mais diversas circunstâncias. São Vicente de Paulo, que afirmou que “o estado de sofrimento é uma felicidade porque   ele santifica as almas”, declarou que “o amor não pode ficar ocioso, é preciso socorrer o doente e o assistir tanto quanto se pode em suas necessidades e em suas misérias, cuidando de o livrar das mesmas em tudo ou em parte”. Nunca o cristão pode se esquecer das palavras de Jesus “o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Socorrer o irmão doente é socorrer o próprio Cristo. À sombra da Cruz de Jesus ir ao encontro dos que padecem males físicos ou morais, os que sofrem violências familiares, que padecem nas ruas, os alcoolizados, os drogados. Trata-se da caridade redentora, de toda forma de generosidade e de amor para com os que sofrem e que jazem numa necessidade de amparo fraternal. Isto significa viver o espírito de Cristo, fixando nele nossa fé e a dedicação ao próximo que sofre.  Segundo o Profeta Isaias Jesus na sua Paixão se tornou “familiar do sofrimento” e assim durante seu ministério mostrou sua compaixão, reflexo da compaixão do Pai. Cristo bebeu o cálice do absoluto despojamento do amor próprio, e se fez nosso modelo. Como escreveu São Paulo aos Filipenses Ele “subsistindo na natureza de Deus, não julgou o ser igual a Deus um bem a que não devesse nunca renuciar, mas despoujou-se a si mesmo, tomndo a natureza  de servo , tornando-se  semelhante aos homens e reconhecido como homem por todo o seu exterior, humilhou-se a si memso fazendo-se obediente até a morte  e à morte de cruz (Fil  2,6). Tornou-se assim     para nós um modelo  de total abnegação. Ele dissse aos peregrinos de Emaus  que era preciso que  Ele sofresse para entrar na sua glória (Lc 24,26). É sobretudo no serviço aos sofredores que o cristão pode, de fato, imitar o Mestre divino, fazendo-se tudo para todos. Seus sofrimentos foram o fruto maduro de sua  imensa caridade e seu amor o levou até a dar sua vida por todos os homens. Ele se fez o Cordeiro que tira os pecados do mundo na sua grandiosa dileção pelos que padecem os males nessta terra. O autêntico cristão imita a Jesus e vai de encontro a todos as dores do próximo, aliviando-lhe seus padecimentos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

 

                                 AS GRANDES VERDADES DO NATAL

                                              Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O dia do Natal de Jesus relembra para todos os cristãos verdades fundamentais da fé. Uma delas é que à natureza divina da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se uniu, no dia da Anunciação, a natureza humana recebida da Virgem Maria pelo poder do Espírito Santo. Os teólogos empregam então, com propriedade, o termo união hipostática. Santo Agostinho explica este dogma de fé ao dizer que o Verbo de Deus recebeu o que não era, não perdendo o que era.  Cristo, de fato, como ensina São Leão Magno, “desceu de tal modo, sem diminuição de sua majestade ao tomar a condição de nossa humildade, que, uniu a verdadeira condição de servo àquela condição em que é igual ao Pai e ligou ambas as naturezas com o vínculo de tão íntima aliança que nem a inferior com tão grande glorificação ficou absorvida, nem a superior diminuída com a assunção que realizou”. Note-se que o vocábulo assunção é tão técnico como a expressão hipostática. Trata-se de uma união cuja iniciativa cabe à Segunda Pessoa divina e que resulta na elevação da natureza assumida, uma vez que o resultado final é algo humano-divino que se dá. Por isto andou em clamoroso erro Eûtiques, heresiarca grego, que, no século quinto, ensinava que a natureza humana de Cristo se dissolvera na natureza divina, o que, evidentemente, jogava por terra todo efeito da Encarnação de Jesus que veio para resgatar a humanidade pecadora. O Concílio de Calcedônia em 451 condenou esta heresia. O Redentor pagaria o que a nossa condição terrena tinha em dívida para com Deus. É, deste modo, que Jesus se tornou o único Mediador como convinha ao remédio necessário à raça humana, ou seja, que Ele pudesse morrer em virtude de uma das naturezas e ressuscitasse em virtude da outra. Enquanto Deus, foi o médico celestial; enquanto homem, pôde resgatar a estirpe à qual passou também a pertencer. Daí resulta imensa gratidão ao Criador que, pela muita misericórdia que nos devotou, tendo compaixão de nós, estando nós mortos por causa do pecados, nos fez reviver em Jesus para sermos nele uma nova criação de suas poderosas mãos.  Corresponder à gratuidade de Deus, renascendo para uma vida nova, eis aí a obrigação de todos que têm fé. Cumpre revestir o homem novo de que fala o Apóstolo Paulo, deixando para trás tudo que não está de acordo com o que Jesus ensinou. É o conselho de Leão Magno num de seus mais belos sermões do Natal: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade, e, já que foste feito participante da natureza divina, não queiras voltar à antiga vileza com procedimentos indignos de tamanha nobreza”. Jesus nasceu, de fato, para nos transladar para a luz do reino eterno do Ser Supremo, do qual é preciso começar a participar já nesta terra. Diante do Presépio é necessário que o batizado se lembre que, ao ser regenerado na pia batismal, se tornou o templo vivo da Trindade Santa e que, portanto, não pode cometer ações por cuja perversidade expulse de si tão grande Senhor para se submeter à escravidão ignóbil do Diabo. Importância tal tem cada um daqueles que Jesus veio remir que o preço desta redenção, a qual se iniciou em Belém, é o próprio sangue divino. Que, então, perante a manjedoura se renuncie às obras da carne de que fala São Paulo na Carta aos Gálatas (5,19). Apenas assim as alegrias do Natal serão consistentes e não uma mera comemoração externa de um fato histórico. O referido São Leão Magno frisa no seu texto a palavra HOJE: “Nasceu hoje o nosso Salvador”. A mesma eficácia salutar que, um dia, tal acontecimento trouxe em Belém, se dá para aqueles que se imergem nesta festa singular através da participação na liturgia. Este é o grande sinal de que os atos salvíficos de Cristo se realizam novamente, conferindo à alma fiel as graças vinculadas a tal evento. Hoje nasce Jesus para as almas dispostas com fé viva e ortodoxa a recebê-lo com júbilo no seu coração! Verdadeiro Deus Jesus viveu a condição humana para nos mostrar a proximidade de Deus Pai, seu amor infinito, incondicional, pessoal e personalizado para cada pessoa. A mensagem do Natal é, de fato, esta: Deus quis participar da vida dos homens com as alegrias do cotidiano, mas também aa dificuldades, o sofrimento e até mesmo a morte. A mensagem do Natal é portanto um convite a uma absoluta entrega nos desígnios divinos, pois Jesus nos leva até Deus seu Pai e nosso Pai agora neste mundo e depois por toda a eternidade.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 

56 A CAMINHADA DE SÃO JOSÉ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Professamos no Credo que Jesus “foi concebido por uma ação única do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria”. Esta afirmação nos coloca na linha direta da primeira e da segunda gerações cristãs através das narrativas de São Mateus (1, 18-24) e de São Lucas. Lucas viu os acontecimentos sobretudo sob o ponto de vista de Maria e Mateus do ponto de vista de São José, e esta convergência não é profundamente significativa, mas nos leva ao seio mesmo da tradição primitiva. É evidente que gostaríamos de mais detalhes. No Antigo Testamento Deus se serve de casais estéreis para realizar seu plano, mas seguindo os processos ordinários da natureza. Porque neste caso de José e Maria não procedeu da mesma maneira? Somente Deus o sabe, Cabe a nós aceitar o plano divino. São Mateus não penetrou fundo na psicologia de São José, mas quis esclarecer teologicamente os fatos e deles tirar uma espécie de catequese para seus leitores, os cristãos vindos do mundo judaico. Sua narrativa sublinha duas ideias principais: “Jesus vem ao mundo na linhagem de Davi”, respondendo deste modo à expectativa de seu povo, e Ele o faz por intermédio de José que O adotou como filho. No que concerne a Jesus assim  Ele é dito que veio ao mundo na grande família de Abraão, descendente do rei Davi e deste modo  se expressa: “Matã gerou  Jacó, Jacó gerou José o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado o Messias” (Mt 1,15-16)  São Paulo nos confirma isto a sua maneira: Ele nasceu da raça de Davi e desde a aurora do cristianismo, na comunidade  na qual ensinava São Mateus, reconhecia  em Jesus, nascido de Maria, o Messias , isto é, o Eleito de Deus, repleto do Espírito Santo para realizar sua missão no meio dos homens. O nome que recebeu aquele menino esperado por Maria é pleno de significado.  No Antigo Testamento o nome indica o que é e o que deve fazer um ser racional nos desígnios de Deus. É um resumo da pessoa e um programa de vida. Este Jesus que devia nascer seria “o Senhor que salva” e Ele seria aquele que libertaria seu povo de seus pecados, ou seja, a libertação de ordem moral e espiritual, e toda a libertação que, operada por Cristo, devia   promover a restauração da relação entre o homem e Deus. Libertação universal que se estenderia não somente ao povo da antiga aliança, mas a todos aqueles que pela fé se tornassem filhos de Abraão. O título Emanuel vem completar este retrato teológico do Filho de Maria. Ele vem do profeta Isaias e constitui, ele também, um programa, uma missão. Este Jesus seria “Deus conosco”, Deus presente na história dos homens que Ele veio remir, Deus caminhando com os homens para os reconciliar com Ele. Este título Emanuel Jesus o reivindicará solenemente no momento de deixar seus discípulos e depois de os ter enviado a todas as nações: “Eis que eu estarei convosco até o fim do mundo”. Entretanto, este Jesus que entra assim na missão de Messias na história do povo de Deus é por meio de São José que isto se dá. José que O adota legalmente como filho e este o outro. ponto sobre o qual São Mateus insiste. José era o homem justo. Justo no sentido bíblico, ou seja, alguém que acreditava e era coerente com sua fé, um homem disposto pela sua santidade a entrar no desígnio de Deus, seja qual fosse, um homem justo, porque totalmente “ajustado” ao querer divino. José sabia a importância que tinha a Lei para ele, e também que um fracasso perante a Lei teria terríveis consequências para Maria e o Menino; ele sabia a importância do querer de Deus. Ele decidira pela solução a mais discreta, a mais próxima do plano divino, simplesmente abandonando Maria, cuja gravidez ele inovava. Deus que estava já agindo pelo Espírito Santo na existência de Maria, interveio paralelamente na vida de José e lhe descore o essencial de seu plano. José imediatamente dá rumo certo a sua trajetória e recebe Maria como sua esposa e vai ter assim um papel importantíssimo nos desígnios divinos.  No fundo a grande força de São José foi acolher a iniciativa de Deus.  É nisto sobretudo que ele intimamente estava de acordo no que Maria vivia. Eis porque São José contesta nossas lentidões, nossas reticências e vem nos revelar que nunca devemos fazer de Deus um nosso satélite e de O colocar a nosso serviço. Diante da vontade divina cumpre jamais duvidar. Admiremos ainda a discrição de São José e a imitemos sempre. A discrição foi para São José uma forma heroica de adesão aos planos de Deus. Diante das situações aflitivas e até desesperadoras jamais reagir com agressividade e intransigência, mas saibamos sempre imitar o estilo da conduta de São José. Nada de gerar rupturas, incompreensões. Em tudo é preciso paciência, muita paciência, reanimarmos a nós mesmos e reanimar os outros, dispostos a acatar a vontade de Deus.  Ficar sereno nas tensões sejam elas quais forem. Agir sempre cristãmente, confiantes em Deus. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 

 OS ENVIADOS DE JOÃO BATISTA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O trecho do Evangelho de São Mateus focalizando o Precursor que, estando no cárcere, envia discípulos até Jesus interrogando-O sobre sua missão, de início, levanta, algumas questões (Mt 11,2-11). Assim, por exemplo: o Evangelho de Jesus é ainda capaz de falar a nossos contemporâneos, ou é preciso inventar um discurso diferente? O estilo da ação de Cristo, aquele das Bem-aventuranças, pode ainda salvar o mundo ou é necessário um outro tipo de manifestação? Estas questões podem ter surgido para João Batista ao verificar a maneira de falar de Jesus que era bem diversa do seu modo de agir. Ele conheceu então uma rude prova para sua fé, uma incerteza tal que o levou a colocar sua dúvida através de seus próprios seguidores. Em síntese a questão decisiva proposta a Jesus foi esta: “És tu Aquele que deve vir, (o Messias aguardado por Israel) ou devemos esperar um outro?” Ninguém melhor do que o Batista havia sentido as aspirações de seu tempo, o extraordinário desejo de liberdade, autenticidade, que borbulhava no povo judaico. Os tempos, naquele momento, eram duros para todos que desejavam ser fiéis. Havia os Romanos, ou seja a paz pela força. Havia também a propaganda oficial a favor dos deuses do Império. Havia outrossim o poderio das transações comerciais do ocupante e as práticas fáceis de uma civilização já decadente. João Batista iniciara sua pregação de preparação dos caminhos de Jesus, vindo do deserto longe das grandes cidades. Centenas tinham ido até ele, o asceta, o homem que lutava para purificar os costumes, aparando os vícios, cortando os erros. Eis porque seus ouvintes haviam escutado uma palavra estranha, até então não ouvida, até revolucionária clamando veementemente: “Arrependei-vos porque o Reino de Deus está próximo”. João Batista era um homem de uma só ideia: “Deus não admite o pecado”. Era isto que ele havia dito nas bordas do Jordão ao povo, aos soldados, aos funcionários. No palácio de Herodes ele foi claro: “Tu não tens direito de ter a mulher de teu irmão!” Agora ele estava na prisão. Entretanto o que lhe importava era que ele havia podido reconhecer o Messias que se esperava e falado dele aos seus ouvintes como “Aquele que iria tirar o pecado do mundo”. Ele sempre se julgou inferior a Jesus: “Ele deve crescer e eu diminuir”. Ele mesmo disse que ele era uma a voz que gritava no deserto. Agora, na prisão, ele ouvia falar das obras de Cristo, de sua pregação, de seu estilo peculiar. João jejuava, Jesus comia e bebia com todo mundo, mesmo com os pecadores. João havia predito: “Já o machado está posto à raiz das árvores e toda árvore que não der frutos será cortada e lançada ao fogo”. Jesus recusou   o estilo de um messias guerreiro e nacionalista, pregando a ternura de Deus. João gritava, Jesus em vez de agitar as massas, dedicava o tempo para reencontrar cada um e cada uma, como um ser insubstituível. Como Messias recusava toda libertação pela força e mostrava o essencial: Deus vindo ao encontro do homem. João estava na prisão confuso sobre a obra que realizara e manda seus discípulos perguntar a Jesus: “És tu aquele que deve vir ou devemos nós aguardar um outro”? Jesus responde através de fatos e por uma citação da Escritura: “Releia Isaias e verás isto: Então os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa nova. Feliz aquele que não encontra em mim uma ocasião de queda”.  Eis aí o drama da esperança que nós também vivemos hoje. Nós sabemos que, em Jesus, Deus nos deu tudo: o perdão, um caminho de vida, a esperança da glória eterna. Alguns, porém, estando agitados perguntam: “Senhor a quem iremos nós? Somente vós tendes palavras de vida eterna e mais ninguém nos pode ajudar!” Dizem também ser Ele a Cabeça do Corpo que é a Igreja, mas que o modo como esta Igreja cresce na terra muitas vezes os desconcerta. É que quereriam uma Igreja triunfante e a veem tantas vezes perseguida e envolvida nos percalços da história. Nós muitas vezes desejamos uma Igreja mais audaciosa, mas ela avança ao passo de pecadores que são os seus membros. Não se trata assim da Igreja que imaginamos. Ela é santa e pecadora, ou seja, santa na sua estrutura estabelecida por seu Fundador, mas pecadora nos seus membros, frágeis criaturas. É preciso que creiamos ser Cristo o Redentor absoluto do mundo, mesmo que sua mensagem não nos coloque no mundo em posição de força, porque a atitude do cristão no mundo deve ser a do serviço, visando o futuro de nossas comunidades e para isto é preciso atravessar o deserto de nossas incertezas. É necessário atestar com convicção que Cristo hoje ainda é a força da salvação para o mundo em marcha.  Ele abre um caminho de doçura e de perdão. Em todas as circunstâncias Ele é nossa salvação e é aquele que se manifestou aos seguidores de João Batista como o Messias que deveria vir a este mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

 

 CONVERTEI-VOS

Côn. Jose ‘Geraldo Vidigal de Carvalho*

Ao aproximarmos do Natal, Deus nos leva ao deserto para aí escutar o apelo do Precursor, um novo convite à conversão (Mt 3,1-12), Mateus começa sua narrativa da vida pública de Jesus descrevendo o ministério de João Batista: “Naqueles dias apareceu João Batista que proclama no deserto da Judéia: “Convertei-vos   que está próximo o reino dos céus”. A insistência está colocada em sua mensagem e é em seguida somente   nos versículos 7 a 13 é que São Mateus falará de seu batismo. Paradoxalmente, João escolheu para pregar no deserto junto de colinas áridas batidas por um sol intenso, local que convidava à solidão e ao recolhimento interior.  Era situado a alguns quilômetros de Jerusalém. João não se colocou nas praças das cidades ou nas grandes encruzilhadas onde as pessoas são forçadas a passar. Ele preferiu o deserto. Deste modo, todos aqueles que desejassem ouvi-lo deveriam procurar um caminho e deixar de lado qualquer comodidade. É que a linguagem de João é de austeridade e do esforço: “Convertei-vos”. Proclama ele. Tratava-se de um programa de vida espiritual. Isto porque a conversão não é somente uma mudança de mentalidade, mas, sim, de toda uma caminhada para Deus. Imagina-se que a conversão é um instante privilegiado numa existência, mas é, porém, muito mais que isto. É toda uma vida que recomeça a partir de um momento de reencontro. A conversão é um rumo a ser adotado. Um retorno, certamente, mas sobretudo um retorno que deve durar a vida toda. Não se trata de algo passageiro que conduz o ser humano a refletir sobre si mesmo ou sobre suas faltas, mas uma peregrinação de amor que leva o homem para Alguém, para aquele que chama para o Reino de Deus, ou seja, para o Deus que oferece a paz e a alegria. Se há conversão é porque “o Reino de Deus está próximo”.  O Reino de Deus, ou seja, o Reino dos céus, é o estabelecimento na terra da autoridade soberana do Ser Supremo, a realização de seu plano de salvação. Este Reino de Deus nos atrai, dirá Jesus (Mt 12,28), porque é lá que se encontra o Messias, que se tornou próximo de nós para sempre. É o encontro com o Enviado de Deus, pessoalmente, em casa, na fraternidade, na comunidade, é a grande empreitada de uma vida, é o momento que não se pode perder, é o caminho que não se deve abandonar. Depois de haver resumido a mensagem do Batista, São Mateus para um instante sobre sua personalidade fora de série e o seu papel na história da salvação. O alimento de João Batista eram gafanhotos e mel silvestre numa sobriedade admirável. Quanto a vestimenta era -uma túnica de pelos de camelo e um cinto em volta dos rins, lembrando Elias (Rãs 1,8) e sua simplicidade, por seu modo de vestir pois sua intenção era colocar toda sua vida no rastro do grande profeta de Javé. O Evangelista Mateus aliás inseriu   explicitamente o Batista na linha dos grandes profetas: “Este João   é aquele do qual falou o Profeta Isaias: “No deserto uma voz clama: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas (Si 40,3) Como o Profeta que anuncia o retorno dos deportados   no século 6º. antes de Cristo, João inaugurava os tempos novos. Deus por Jesus vai livrar seu povo de toda escravidão. Depois São Mateus retorna à mensagem do Batista e, especialmente, à sua severidade para com os   Fariseus e os Saduceus: “! Raça de víboras”, e de novo diz “Vós não produzis senão obras de morte”. É certo que eles chegam em grande número, mas João não desejava que recebessem o batismo por esnobismo. Ele era claro:” Produzi um fruto que exprime vossa conversão”. Deus, com efeito não se contentará com simples sentimentos nem com práticas puramente exteriores: Ele quer atos concretos, que envolvam o homem todo inteiro. A fé mesma deve se purificar de toda a procura de comodidade. “Não digais a vós mesmos: Temos Abraão por pai!”. Segundo a doutrina judia corrente, Israel usufruía os méritos de Abraão, mas, para o Batista, contar sobre estes méritos seria simplesmente ainda se apoiar sobre um privilégio religioso, A conversão seria incompleta. Os verdadeiro filhos de Abraão são todos aqueles, Israelitas ou não, que imitam sua fé e seu engajamento total no projeto de Deus. Através dos Fariseus e dos Saduceus, é nós que somos tomados a parte pelo Precursor. Porque nós também somos   ameaçados pela rotina e nossos retornos ao Senhor ficam frequentemente algo passageiro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 


IMACULADA CONCEIÇÃO

  Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas
esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em
redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas
as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher
singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado
original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao
corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza
primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como
outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram
a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original.  Para a
Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz.  Ela entrou no mundo
destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com
todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo
poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é
a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem
imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e
procurando reproduzir lhe os traços nos mais primorosos trabalhos
humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de
Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da
virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de
Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a
“Ave-Maria”; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos
artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na
harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas
igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de
Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de
reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a
beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens
cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi
quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce
majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade
da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres.
Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela
estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os
séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de
dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada
Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma
graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de
Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do
pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual,
lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que
em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da
tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios
solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim
Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra
iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha original. Jesus é
realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é
tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do
Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida
de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio
dessa vida não poderia ser manchado. A Virgem santa, que apresenta ao
mundo o vencedor do pecado, não deveria estar um instante sequer sob a
lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se
sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça.
A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que
Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em
sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido
vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria
sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar
toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem
mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma
numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas imorais,
dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do
Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do
sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o
cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original,
rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.

sábado, 12 de novembro de 2022

 ESTAI PREPARADOS

Côn.. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho de hoje no início do Advento oferece séria advertência de Jesus: “Estai preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do Homem”. Cristo falava de sua outra vinda: Ele vem agora e Ele virá ainda. O importante para todos hoje é saber como O reconhecer e como educar nossa percepção para acolher sua vinda de ontem, de hoje e de amanhã. A advertência de Jesus nos alerta para uma salvação prometida para toda a terra, não apenas como o que aconteceu para Noé. Isto porque o nome de Jesus é “o Filho do homem”, um título que designa, sobretudo no livro de Daniel, um homem realizado sob o olhar de Deus. Este Filho do homem é enviado por Deus para vir estabelecer a justiça e para revelar a salvação de toda a humanidade. É o que havia anunciado o profeta Isaias, O que torna viva nossa esperança pela promessa do Senhor: “Ele será juiz entre as nações e o árbitro de ao dilúvio. Há uma semelhança entre a vinda do Filho do homem e    o que aconteceu a Noé: Noé recolheu na sua arca uma amostra de todos os viventes. No Evangelho de numerosos povos. No Evangelho de hoje esta missão do Filho do homem é comparada à ação de Deus com relação hoje viventes – homens e animais – é um pequeno resto inaugurando uma criação nova.  Jesus nos convida então a compreender que a obra do Filho do homem é comparável àquela de Noé, Ele é como o ramo de oliveira, Ele é o nosso arco íris no céu, que reúne a humanidade na justiça. Deste modo a vinda do Filho do homem orienta nosso coração para uma salvação destinada à criação inteira. Esta boa nova recebida hoje anuncia, para além de todas as provas que podem nos acontecer, se dá num mundo renovada pela vinda contínua do Filho do homem. Entretanto, esta Boa Nova nos convida a nos dispor a acolher com autenticidade a salvação oferecida.’ Isto significa que cumpre estar atentos em todas as circunstância, não por temor, mas porque a salvação está aí, ela já chegou. Jesus nos convida a viver intensamente esta realidade da salvação oferecida a todos. Nada de se deixar distrair ou alarmar por entre atitudes superficiais ou uma resignação passiva, quando, na verdade, a lembrança da vinda do Filho do Homem deve nos levar a viver na alegria, nos ajudando a guardas a esperança em todas as circunstâncias. É um convite a vigiar ativamente, Trata-se de vigiar, isto é, a viver com o cuidado dos outros, na prática de todas as virtudes, Esta vigilância é, com efeito, velar pelo bem estar cada um na medida do possível. É o vivar procurando ser para o outro uma arca na qual se pode encontrar, amizade, paz e conforto. Porque hoje também terríveis ameaças pesam sobre a humanidade. Catástrofes naturais, lutas entre nações, fome e muitos são os refugiados longe de suas pátrias. Cumpre estar vigilantes ante tudo isto e não ficarmos indiferentes com o que se passa mundo afora. Nossa força interior é a esperança da salvação que Deus nos oferece e é   também d nossa contribuição inventiva para construir arcas de salvação. Esperar é um verbo ativo e não uma forma passiva de resignação diante dos males. Esperar não é estar adormecido, mas pelo contrário, estar atentos para ir lá onde podemos ser úteis, ajudando sempre o próximo. Tudo isto porque o Senhor vem!! Como falou o Papa Francisco, a Igreja pode ser no meio dos sofrimentos um “hospital de campanha”, um oásis de reconforto, de compreensão, da fraternidade e de compaixão. Cada vez que uma pessoa encontra perto dela uma arca de salvação, é o Filho do homem que aí chegou. É deste modo que a salvação de Deus toma sentido desde agora no meio de nós. Cumpre sempre se interrogar: “Que é preciso fazer para ser salvo”? Crer em Deus, em sua palavra, e viver de seus ensinamentos na Bíblia, porque uma fé sem as obras é morta. Por tudo que estamos refletindo, Jesus nos interroga sobre a realidade de nossa fé, e nos convida, desde agora, a nos preparar para o reencontro com Ele, isto é, a viver em nosso coração desde hoje como se este fosse o último dia. Isto não quer dizer, nada prever para o futuro, ou tudo abandonar, mas estar preparados para aparecer diante dele, quando for da vontade divina. Estar preparados é a grande mensagem do Evangelho de hoje. Vigiar, não estar sonhando, mas estar atentos. Vigiar é desejar, esperar, caminhando para o encontro com o Filho do homem. Vigiar é estar cônscio de que estamos numa peregrinação lutando sempre contra uma certa sonolência da fé. É sair de uma vida espiritual tornada como que anestesiada na qual estamos mais ou menos cansados de rezar, de procurar um Deus que nos parece longe O verdadeiro desejo do encontro com o Filho do homem faz então atravessar a noite das provas deste exílio terreno. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

 

CRISTO REI DO UNIVERSO

Côn. José Geraldo  Vidigal de Carvalho*

 No tempo de Jesus, quando se levava um homem ao suplício, em todo o percurso até o lugar da execução, o condenado levava  um letreiro  com letras bem visíveis  dizendo o motivo do castigo. Eis o que se pode ler, fixado sobre a cruz de Cristo “Rei dos Judeus”. Ora nesta mesma época a região denominada Palestina não estava sem rei. Eram aliás dois: Herodes  Antipas na Galileia e  na Transjordânia,   e Felipe  em Golan. Apenas a Judéia com Jerusalém era controlada diretamente pelo procurador romano. Se os juízes de Jesus,  em particular o romano, o haviam podido  reter contra Ele esta anotação  política  “ele  quis se fazer rei” é que espontaneamente  durante a vida pública de Jesus muitos,  sobretudo entre o povo  haviam reconhecido nele o Messias aguardado por Isael e, na verdade,  um Messias Rei . Esperava-se que Jesus tomaria em mãos os destinos políticos do paíz, ele que havia alimentado  uma multidão, multiplicando os pães num local deserto. Esperava-se que afastaria  o jugo do ocupante e daria novamente a independência  a seu povo. Jesus não acreditava nestas manifestações, nem no que seria colocado  sobre a cruz.  Messias, filho de Davi, ele o era de fato, Messias o  enviado de Deus, mas não queria que o assimilassem aos reis terrestres. Eis porque no decorrer de seu processo Ele respondera a Pilatos: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). A cena da crucifixão nos permite mesurar também a esperança que Jesus havia suscitado; e o desapontamento   da multidão diante de um Messias crucificado. São Lucas nos descreve   grupos  de homens perto da cruz: os chefes judeus que ironizavam:   os soldados romanos que zombavam;  o povo que O olhava; Maria, mãe do crucificado, João evangelista e outros fiéis. Jesus na cruz  era bem, com diz São Paulo,  “um escândalo  para os judeus  e uma loucura para os pagãos” (1 Cor 1,23). Dois malfeitores estavam  crucificados com Jesus  sendo que um fazia coro com  os zombadores .  As contestações  traziam referência ao verbo salvar, em ligação com o nome Messias, (Cristo) ou rei: “ Ele salvou os outros, que salve a si mesmo, se é o Cristo, o Eleito”; “ se és  o rei dos judeus, salve-te a ti mesmo” “ Não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Sem o saber estes homens que desafiavam Jesus  nos orientam para o essencial do mistério  de seus sofrimentos  e de sua morte. Jesus não quer se salvar da cruz, porque ele queria nos salvar pela cruz, pelo amor que Ele tem a seu Pai sobre a cruz. Porque é o amor que traz a salvação e não o sofrimento por  si  mesmo. Nós temos lá diante de Jesus sofredor uma luz que esclarece nosso próprio destino e o destino de todos aqueles que nós amamos. Jesus não nos salva da cruz, de nossa cruz, mas Ele nos salva pela sua cruz, pelo amor  que Ele nos provou ter sobre  a cruz e Ele nos oferece a oportunidade  de nossa parte  fazer de nossa cruz uma prova de amor. Ele mesmo afirmou: “Aquele que quer me seguir, tome sua cruz e me siga”. Qual é nossa cruz? É o real de nossa existência, o cotidiano de nossas vidas, todas as grandes provas das tribulações, tudo que devemos suportar  para ficar fiéis a Deus e servir Jesus nos irmãos, enfim tudo que nós assumimos por amor, para melhor reproduzir a imagem di do Filho de Deus. Ele a nos dizer : “Toma tua cruz de teu combate  para demonstrar uma autenticidade cristã, a cruz  de teu esforço de caridade, a cruz das preocupações com o apostolado, tudo isto por amor. É deste modo que nossa vida deve ser imolada a Cristo, Rei do universo e vivida  em função do soberano enviado pelo Pai. Nossa vida já não nos pertence, mas àquele que por nós morreu e ressuscitou como primeiro  entre os mortos. Este é o destino pascal  inscrito já no nosso batismo, fundamento de todos os filhos de Deus, leigos ou consagrados¸ crianças, jovens ou adultos. É no cotidiano  que se adere à vontade do Pai e se dá um encontro maravilhoso com a cruz deste Rei singular, É no dia a dia que  se diz a Deus que nós O amamos.. Trata-se de uma dileção e uma alegria cristãs. É em nossa vida de todos os dias que Cristo Rei, o Messias quer ser nosso soberano, porque  Ele  quer ser rei antes de tudo dos corações livres e sinceros. Sua realeza não é deste mundo,  ela não se apoia em estruturas  políticas, ela não se  impõe pela força nem pela subserviência das consciências. A realeza de Jesus  é o brilho universal de sua  palavra, é a iluminação de cada coração  dos que creem, é o incêndio  da caridade até os confins da terra, a  começar pelo incêndio de nosso coração, onde tudo deve receber o fogo da imolação para glória de Deus e salvação do mundo * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos .

 

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 

O FIM DOS TEMPOS

Côn. José Gerald Vidigal de Carvalho*

Um capítulo de São Lucas nos leva a meditar o que Jesus fala sobre o futuro (Luc 21,5-19). Ele descreve um futuro longínquo, sua volta no fim dos tempos e todo um conjunto de acontecimentos misteriosos, cuja data fica oculta no segredo do Pai Quando Ele evoca o cenário do fim, Jesus o faz sempre numa linguagem tradicional dos apocalipses e num grande quadro cósmico que engloba o céu e a terra, o sol, a lua e as estrelas. Jesus tem também em vista fatos mais próximos como a ruina do Templo, o julgamento de Jerusalém e retoma as ameaças dos profetas contra a cidade infiel. Enfim, Jesus faz alusão às provas de sua comunidade, às perseguições que sofrerão os discípulos através dos tempo da Igreja. É de se notar que as três perspectivas são estreitamente imbrincadas e, por vezes, indissociáveis, semelhantes a fotografias que se projetam, a saber, diante da última destruição do Templo se perfilam os sinais do fim do mundo, tendo como pano de fundo o julgamento de Jerusalém quando se proclama a vinda do Filho do Homem para julgar os vivos e os mortos. Tudo isto impossível de calcular e inútil querer prever. Entretanto, duas certezas aparecem claramente: a primeira é que a história do mundo entrou com a vinda de Jesus na sua fase definitiva, mesmo que esta fase deva durar por centenas e milhares de séculos, e a segunda certeza é que as declarações de Jesus, urgentes para hoje, restarão válidas até o fim dos tempos e por, isto, é preciso aguardar, vigiar, estar atentos. Com relação ao Templo que estava guarnecido com belas pedras e dons, Jesus afirmou: “De tudo o que estais vendo, dia virá em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada”. Daí a questão posta pelos discípulos sobre isto: “Quando, pois serão essas coisas, Mestre, e qual o sinal do seu próximo acontecimento”? Jesus respondeu, não mostrando um sinal preciso, mas dando um sinal de valor permanente em todo e qualquer tempo de provação: “Tomai cuidado para não serdes desencaminhados”. Depois São Lucas, quase sem transição abre até o fundo a perspectiva tomando uma palavra de Jesus no que concerne o fim dos tempos, isto é, haverá fatos terrificantes. O futuro, porém, pertence a Deus, o único que conhece tudo que acontecerá nos últimos tempos. Quanto a nós temos o tempo atual para O servir e O amar, praticando o bem e evitando o mal. Temos o espaço de nosso coração para acolher a palavra de Jesus e o espaço do mundo para receber com sabedoria suas mensagens de conversão e de paz. Cumpre trabalhar na construção do templo que é coração de cada um. É preciso ter a coragem da fé para não se curvar diante das exigências do mundo e suas ilusões, mas, ao contrário urge testemunhar fielmente, o amor de Deus, a palavra de Cristo.  Aquele que se entregar à prece estará aberto ao Espírito Santo que lhe dirá o que deve ser feito.  O verdadeiro seguidor de Cristo não se curva às exigências do mundo, mas pratica em plenitude a caridade, amando verdadeiramente a Deus e ao próximo e nada, assim, tem a temer. É preciso irradiar total harmonia, dando um autêntico testemunho do Evangelho firmar corajosamente o princípio de que o amanhã a Deus pertence. É pela perseverança que cada um obterá sua santificação rumo à eternidade. O seguidor de Cristo, porém, será sempre um sinal de contradição perante as incongruências de um mundo que se aparta das verdades eternas. O Reino dos céus estará reservado para os que lutam contra os inimigos da alma e enfrentam uma bela batalha de ininterrupta fraternidade. O cristão sabe que não há rosas sem espinhos e o caminho que leva ao céu supõe muita disposição para poder praticar as virtudes Isto supõe fortaleza interior afim de enfrentar as dificuldades e vencer as contradições naturais à caminhada por este mundo. Então, sim, o porvir será sempre encarado com tranquilidade sem preocupações estéreis. A perseverança no bem é, deste modo, fundamental, mesmo porque Jesus afirmou: “É pela vossa perseverança que obtereis a vida” (Lc 21,19). Com a força do amor, abraçado à cruz de Jesus, aceitando sempre a vontade divina que o cristão marcha sereno rumo à eternidade junto de seu Deus. A pobre vontade humana restará sempre firme, imerso cada um na certeza de um final feliz. Assim sendo, a perspectiva do fim dos tempos longe de levar a uma resignação condenável, conduz à paciência de se edificar com fé a própria vida sem atitudes estoicas e apreensões fúteis no que tange a consumação dos tempos. A paciência na qual deve viver o cristão o sustem longe de qualquer apreensão atinente ao fim do mundo, dado que quem ama Jesus tem a garantia da vida eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

 

AS DUAS PRIMEIRAS BEM-AVENTURANÇAS     

Côn.; José Geraldo Vidigal de Carvalho*

As bem-aventuranças mostram que Jesus não veio a este mundo para julgar, mas para nos indicar o caminho que conduz a Deus. (Mt 3, 1-12). Não se pode limitar a vida cristã ao mero cumprimento de algumas regras estritas, a fim de evitar o castigo eterno. Jesus veio para ostentar o amor, para que cada um possa curtir e partilhar esta dileção com os irmãos e irmãs.  O verdadeiro cristão deve estar cônscio de que ele tem dentro de seu coração o segredo da felicidade que o mundo ignora. Eis porque é preciso que ele viva de acordo com as Bem-aventuranças pelas quais obterá a verdadeira felicidade. Reflitamos hoje sobre as duas primeiras bem-aventuranças. Bem-aventurados os pobres de espírito porque o reino dos céus é para eles. Jesus não disse, bem-aventurados os que vivem na miséria, as mães cujos filhos morrem de fome, mas disse:” Bem-aventurados os que têm um coração de pobre”. Isso porque, na época em que Ele pregava, a palavra pobre tinha já uma longa história. Nos textos mais antigos o pobre era uma pessoa vergada, oprimida, incapaz de resistir e de levantar a cabeça, alguém que devia sempre ceder aos poderosos. O acento era colocado não sobre a indigência em si, mas sobre a humilhação do pobre. A palavra tomara uma coloração religiosa e os opressores apareciam como orgulhosos e ímpios e o pobre feito figura do homem submisso que colocava sua confiança em Deus e aguardava dele o socorro. Assim a primeira beatitude de Jesus não se dirige precisamente aos mendigos, aos indigentes, mas a todos os que têm um coração bastante pobre para se acharem pequeninos diante de Deus, mãos abertas para receber dele a força e a esperança. Jesus não diz “vós que precisais de tudo, ficai na miséria”! Ele não prega um fatalismo mais ou menos resignado. Ele diz “Guardai um coração de pobre diante dos irmãos e diante de Deus”. Este Deus ignora as classes sociais porque em todo homem ele vê um filho que tem necessidade de ser amado e de ser perdoado, de ser salvo. Os homens julgam pelos sinais exteriores, sinais por vezes enganosos de riqueza ou de pobreza. Deus olha o coração, porque é possível ser rico com um coração de pobre e pobre com um coração de rico. É que exatamente o pobreza material, não a miséria, predispõe para pobreza do coração.  É igualmente verdade dizer que Deus tem uma ternura especial para aqueles que precisam de tudo, tudo como uma mãe guarda os tesouros de paciência e de compreensão para cada um de seus filhos sobretudo os mais frágeis. No coração de Deus não há exclusão de ninguém. Ele ama cada um tal como ele é, Ele não estabelece categorias.  Somos nós que dividimos, que excluímos os outros. Num mundo no qual as relações sociais são frequentemente deturpadas, a tentação pode nos levar a fechar mais ou menos a porta do Reino aos que são diferentes de nós e colocamos então barreiras lá onde Cristo passou para as destruir. Acontece mesmo que a irritação paralisa no coração do cristão seu desejo evangélico de justiça e de liberdade e, por isto, uma segunda bem-aventurança vem precisar a dos pobres de coração: “Bem—aventurados os mansos porque eles possuirão a terra”. Jesus não diz “Felizes os incapazes, os frustrados, felizes os que têm medo de viver e que trepidam diante das verdadeiras responsabilidades, mas felizes os mansos, os pacíficos, os que não aspiram o poder, os que aceitam lutar sem ira, os que sabem não abusar de suas forças, os que deixam sempre aos outros um espaço livre e   os meios de se superarem. É a mansidão mesma de Cristo que podia dizer: “Tomai o meu jugo e colocai-vos na minha escola porque eu sou manso e humilde de coração”. Saibamos, pois, que o Evangelho é sumamente exigente. Ele não oferece uma poesia fácil e infantil, mas um realismo cristão.  O realismo do batizado, adultos e conformado pelo Espírito, realismo que está na base da verdade interior, do acolhimento filial daquilo que Deus faz em função da sua misericórdia imensa pelo mundo. Trata-se então -de uma grande, muito grande virtude. Ela só, é capaz de aproximar as distâncias que a natureza e as leis põem entre os homens; pois aos superiores ela inspira doçura e caridade, respeito e obediência aos inferiores. Apenas ela pode abrandar as inevitáveis injustiças da vida e da sociedade, destruir nos fortes o instinto da tirania, e o instinto da revolta dos fracos e tudo isto na mais admirável fraternidade. Sejamos sempre rigorosos em examinar a nossa consciência para acolher toda graça de uma total mansidão e seremos, de fato, felizes. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

 

O PUBLICANO CONVERTIDO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A Zaqueu, que por mera curiosidade espreitava Jesus no alto de um sicômoro, é por Ele convertido, Cristo indo inclusive onde ele morava e lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa. (Lc 19,1-10). Isto é, aliás, o que Ele quer poder dizer cada tarde nas casas dos que o temem e amam e Lhe oferecem os trabalhos diários. A salvação que chegou à casa de Zaqueu aconteceu porque, seja como for, ele estava à procura do Senhor: “Ele procurava ver quem era Jesus”. Por entre os afazeres de chefe dos coletores de impostos, fatigado do desprezo dos outros, desgostoso de tantos anos perdidos em fraudar a justiça, ele não tinha uma pretensão senão uma ideia, uma visão, um nome na sua mente: Jesus. Diante de Jesus ele poderia se explicar, com Jesus ele poderia recomeçar sua vida. A miséria humana, muito frequentemente, é ter dito adeus aos recomeços, ou entregando-se à mediocridade, ou deixando de lado sérios compromissos. Um outro segredo de Zaqueu foi saber reconhecer seus limites e de agir em consequência. Com sua pequena estatura ele teria podido se perder na multidão e não veria o célebre galileu. Mas não, a esperança viva o fez inventivo. Não levou em conta nem mesmo uma atitude ridícula de subir em uma árvore e sua astúcia acabou sendo recompensada. Transformar nossas debilidades num desejo de um encontro saudável, oferece forças impensáveis. É preciso subir em um sicômoro, ser pequenino aos olhos dos outros e não se deixar paralisar ante tais esforços a serem feitos e não se deixar sem ação ante as dificuldades. Zaqueu ignorou as fragilidades de seu coração e vai lá até onde Jesus passaria. Ele não deixou passar a hora de Deus. No cimo da árvore ele aguarda, ele espera. Ele não previa o que iria acontecer. Eis que Jesus se aproxima e o olha e diz: “Zaqueu desce depressa é preciso que hoje eu fique na tua casa”! Não é preciso grandes coisas para que Jesus venha até nós. Basta que Ele, quando   nós o aguardamos, veja o nosso olhar   e vislumbre um pequeno ato de fé, de sinceridade. Isto ainda que o passado seja pesado, o presente doloroso, e o futuro incerto. E depois? Tudo mais virá da grande bondade divina. O que importa, dia a dia, e Zaqueu naquele dia o percebeu, é O acolher com alegria e sinceridade Não pode ser triste coração que recebe Cristo a quem se deve oferecer toda a nossa vontade de conversão, todas as misérias do nosso coração, todo anseio de acertar os passos com Deus. Jesus vem a nós procurar o que pode parecer perdido, nossas misérias que para Ele nunca estão ocultas. Ele quer, porém que vamos a Ele com absoluta confiança e abramos diante dele nossas mãos arrependidas e Ele as encherá do júbilo de uma total remissão.  Ele indo à casa de Zaqueu não foi para o honrar um homem rico, mas para transformar o seu coração, para que ele se convertesse, para o salvar, mudando de vida.   Ele vem ao encontro dos pecadores para os converter.   Como ocorreu com Zaqueu, ele quer ser acolhido com júbilo, sendo recebido o seu amor Jesus deseja prontidão. Ele então disse s Zaqueu: “Zaqueu desce depressa “E “Ele desceu rapidamente”. Deus não tolera tergiversações, dubiedades, demoras inúteis. Ele estava no seu interior desejoso exatamente de algo pessoal da parte de Jesus. Zaqueu reconheceu no seu interior a grandiosidade da graça recebida.  Disse então:” Vê, Senhor, dou aos pobres metade de meus bens e, se defraudei alguém, em qualquer coisa, vou restituir o quádruplo”. Ele passava a praticar a beneficência. Jesus, por sua vez, voltando-se para ele disse: “Hoje salvação veio a esta casa por ser também filho de Abraão. O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.  Este evangelho quer nos ensinar que todos os homens e mulheres são objeto da misericórdia de Deus. Conforme Jesus disse, no céu haverá alegria entre os anjos por causa de um pecador que venha a se arrepender. Porém, para alcançar a misericórdia é preciso que nós tenhamos um mínimo de conhecimento daquele que nos pode oferecê-la e amá-lo COM toda nossa alma. Zaqueu encontrou-se com o próprio autor do perdão, porque teve a oportunidade de realizar um verdadeiro processo de conversão. Analisou os próprios erros do passado, prometeu se corrigir e ajudar principalmente aqueles aos quais, de alguma forma, havia prejudicado. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

 

Qual é o carisma do JSC?

Responde o Diretor Espiritual, Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

O carisma do JSC é santificação de seus membro, que através de equipes bem estruturadas

Há mais de quarenta e um anos vem formando apóstolos de outros jovens e fornecendo ao ESC continuação deste ideal  seus líderes e também profissionais competentes nas mais variadas profissões. Prestar colaboração eficientemente e humildemente com o Pároco, Pe. Paulo Dione Quintão, sempre sintonizado com os objetivos paroquiais. Marca ainda o JSC a perseverança em seus ideais e o cuidado para que grupos estranhos e fugazes não roubem seus melhores membros, Daí a ufaneia de muitos jovens: Sou membro do JSC| Cumpre rezar sempre para que este Grupo floresça cada vez mais para glória de Deus e bem das almas. A promoção das Jornadas de Conscientização cristã é um ponto alto das atividades deste Grupo de líderes cristãos e admirável a liderança com que os encarregados destas Jornadas exercem seu papel, inclusive trazendo os sacerdotes convidados para as Confissões e eventualmente para alguma Palestra. Muitas vezes o diabo tentou desestruturar o JSC, mas com a graça de Deus a ordem acabou reinando, quando espíritos malignos quiseram dominar os companheiros de ideal. O Diretor Espiritual e um Grupo esclarecido de jovens do JSC atuaram vigorosamente venceram graças a Deus. Avante JSC, pois o bem a de triunfar sempre!

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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

 

HUMILDADE NA ORAÇÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Dois homens rezam ao mesmo Senhor, no mesmo templo, mas há uma diferença no conhecimento real do verdadeiro Deus, mostrando assim notável desigualdade na prece, no que diz respeito à autenticidade da mesma. (Luc 18,9-14). Para o fariseu a prece não havia senão um ponto de referência, a saber, o seu eu.  Satisfeito e seguro de si mesmo, se julgava o único intacto, puro.  Isto por ser ele o artesão de sua própria perfeição. Os outros para ele são escravos do dinheiro, conhecem as aventuras com a mulher dos outros, se entregam a empreendimentos injustos. Mancomunados com o sistema fiscal do opressor, o trabalho assim lhes macula as mãos. Ele, contudo, homem à parte, se conserva inatacável. Para ele a santidade consiste em ter uma imagem gratificante de si mesmo, cumprindo rotas que ele mesmo traçou. Ele é o único digno do amor de Deus e o único a merecer sua estima e, assim, devia excluir os outros. A dúvida não há lugar para ele, pois colocou Deus a seu serviço, tudo isto fruto de sua soberba. Eis porque toda sua segurança repousa sobre suas obras e ele se blasona de estar rigorosamente em dia com as normas legais, com o dízimo, e se sente tranquilo por usar de tudo mais como bom, segundo ele então julgar.  Além disto, seus julgamentos o asseguram em si mesmo e o confirmam na sua impressão de equilíbrio e superação própria.  Assim sendo toda a segurança de sua consciência repousa em suas obras. Seus jejuns regulares lhe asseguram na impressão de equilíbrio e de convicção de sua inteireza interior. O pior ainda é que tudo isto o leva a assim orar:” Eu te dou graças ó Senhor de ser o único a teus olhos, te dou graças por me terdes escolhido para ser um homem privilegiado à parte. Eu te agradeço, Senhor, por não ser como os outros homens; te agrade com pelas graças de luz que me dás sobre mim mesmo e sobre os outros”. Não contente por introduzir na sua prece todos seus desprezos, todas as suas agressividades, tão contente de desprezar os outros para se colocar em primeiro lugar diante de Deus, ele vai imaginar que Deus o tinha escolhido, excluindo os outros, como se o coração de Deus fosse tão pequenino para amar tais dimensões. Quanto ao publicano, não tinha vindo ao Templo para encontrar um Deus que testemunha suas conquistas espirituais, mas, sim, um confidente de sua miséria, e, por isto, se coloca à distância¸ como alguém que não teria direito ao amor de Deus, e deste modo ele viera porque sabia que o amor não é uma questão de direito. Ele não ousava levantar os olhos com receio de reencontrar um olhar que ele não poderia suportar, o olhar de Deus, cheio de amor, mas d um amor imerecido por ele. Ele não se compara com os outros, dado que uma primeira comparação já o tornaria humilde, aquela correlação de sua vida falsa e mesquinha, com aquilo que fulgiria da santidade divina. Ele tinha o senso do pecado que não consiste em se imaginar criminoso, nem se curvar ante misérias mais ou menos artificiais, mas, sim, de reconhecer humildemente com uma espécie de evidência   como a falsidade se instala facilmente na vida humana, levando a perder o sentido do Reino de Deus a quem tão pouco sabemos amar. Desde modo, pode fazer uma prece verdadeira aquele que atravessa a barreira do orgulho e exprime a verdadeira conversão, o autêntico retorno a Deus: “Meu Deus tem piedade de mim pecador!”. Os anos passam, as ilusões desaparecem, o tempo foge, e só a prece do humilde pode nos abrir o caminho da paz, porque ele nos situa diante de Deus, como criatura, cônscio de sua responsabilidade de pecador, mas também na certeza da vitória de Cristo e na esperança de tudo aquilo que Ele prepara para quem não é soberbo. De fato, “Quem se humilha, será exaltado” ou   seja, é Ele que restaura no seu amor e eleva tudo junto dele, sobre a mesma cruz e na mesma glória, os que por ele souberam ser humildes, mansos e serviçais; Deus quer que saibamos pedir sempre perdão de nossas culpas. Jamais as atitudes arrogantes do fariseu, mas o reconhecimento humilde da fragilidade humana como ostentou o publicano. Somente Deus é santo, perfeito.  Errar é humano, perseverar orgulhosamente no erro é condenável. Sejamos humildes como o publicano e nunca soberbos como o fariseu. Rezar sempre: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”, e veremos que a humildade é o alicerce da verdadeira grandeza do ser humano. A humildade prospera nos corações que bem conhecem sua própria miséria e indigência, persuadidos intimamente de que todo bem procede de Deus. Estejamos certos de que onde há orgulho, aí haverá também ignomínia; mas, onde há humildade, haverá sabedoria. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

 

  PERSEVERANÇA NA ORAÇÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*  

Neste domingo Jesus propõe uma parábola para mostrar a seus discípulos que é preciso orar com perseverança (Lc 18,1-8) Ele quer acentuar a importância da prece, especialmente o valor da prece de súplica. Se a viúva sabe importunar o juiz iníquo a ponto de o fazer ceder e assim obter o que se pretendia, quanto mais a prece   de intercessão do cristão encontrará no coração de Deus, Pai misericordioso, um acolhimento justo e favorável. Jesus garante que a prece persistente encontrará sempre a resposta favorável. Esta constância é o fator essencial para aquele que se entrega a uma prece proveitosa. Poder-se-ia até dizer que não é difícil começar a rezar, mas a dificuldade surge quando é preciso insistir no pedido feito à divindade. Para superar esta dificuldade o Mestre divino fornece de uma maneira discreta a condição essencial. Com efeito, a figura que é dada para ilustrar a perseverança na prece é a de uma viúva. Na sociedade antiga as viúvas faziam parte das pessoas as mais vulneráveis socialmente, dado que elas não gozavam da proteção masculina. Esta viúva insistia junto ao juiz com suas reclamações até que ela viesse a obter o que esperava. Ela teria todas as razões para desanimar. Sua causa parecia bem perdida de início, porque tivera a infelicidade de cair nas mãos de um juiz que não respeitava nem Deus, nem ninguém. Ela, contudo, ficava firme no seu intento. Se ela importuna o juiz é pelo fato de que a solução de sua questão lhe era imprescindível. Tanto perseverou que acabou sendo atendida, sendo-lhe feita justiça. Se assim agiu um juiz iníquo, “Deus não faria justiça a seus eleitos que a Ele clama noite e dia?” A primeira condição para participar do Reino de Deus é reconhecer nossa necessidade, como fez a viúva da parábola, a qual expressava bem sua pobreza. A prece, na verdade nasce da fraqueza pessoal. A pobreza do coração leva à perseverança, pois tal orante não se apoia nas suas capacidades ou pretensos direitos humanos ou espirituais. A perseverança nascerá do reconhecimento da própria dependência para com Deus, Pai misericordioso, ao qual pedimos a graça solicitada. A pobreza do coração nos leva a reconhecer nossas falhas e nossas necessidades. A viúva sabia que o juiz, mesmo iníquo, era o único que podia ministrar justiça. Do mesmo modo, nós devemos reconhecer que nós dependemos fundamentalmente de Deus em toda a nossa vida, Ele é o nosso princípio e fim. Rezar como amar é uma abertura de si e um dom de si para ajudar a si mesmo e ao o próximo. O que depende de nós é a abertura de nosso coração e dom de nós mesmos, nunca, porém, forçando o outro a acatar tudo isto. Assim sendo, a atitude de quem reza é estar atento e velar perseverantemente sem busca de qualquer exaltação pessoal. O principal é estar atento à necessidade própria e do próximo e isto leva à perseverança, seguindo o conselho de São Paulo: “Sede assíduos na oração” (Rm 12,12), Trata-se de se voltar para Deus e ter sempre o coração e as mãos abertos. Rezar, como amar, é um dom e uma experiência de relações mútuas. Quem pensa que saber rezar mostra que não dá na sua prece mais do que recebe do Espírito Santo. Há necessidade de uma total abertura do coração para estar completamente disponível ao dom que lhe vem do Todo Poderoso Senhor, reconhecendo a maneira pela qual este Deus nos atende. Pode ocorrer que o que nós pedimos não se realize por motivos que desconhecemos. Eis por que o orante penetra fundo nos dizeres de Jesus que nos ensinou a assim nos dirigir ao Pai:” Seja feita a vossa vontade”. Isto quer dizer que se conforma em tudo ao que o Pai quer nos dar e como o quer nos conceder.  Sabe, porém, que o Senhor deseja o bem de todos. Assim, reza e deixa tudo nas mãos de Deus. Em síntese, o que importa é ter fielmente uma prece confiante no Amor de Deus que pode e quer o bem de cada um de nós. O importante é saber viver intensamente a fé com relação à palavra divina a tudo que ensina o magistério da Igreja numa completa coerência, numa total confiança. Deus é o Pai de todos nós e a prece é a voz da fé, de nossa crença nele, de nossa esperança e nosso amor. Rezar e entregar tudo nas mãos do Onipotente Senhor, pois, com efeito “Deus não fará justiça a seus eleitos que clamam a Ele dia e noite”? (Lc 18,7). Com razão dizia Tertuliano que “a prece perseverante vence o próprio Deus”, Este Deus quer que sejamos exigentes na oração e, portanto nada de hesitações. Devemos sempre nos lembrar que nós nos dirigimos a quem nos ama e quer nos dar o que pedimos, mas que se faça isto com amor, humildade e perseverança. Deus sabe que isto é um bem para quem reza e reconhece sua total dependência dele.  “Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos..