EIS O CORDEIRO DE DEUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No Evangelho de hoje
temos o testemunho de João Batista referente diretamente a Jesus (Jo 1,29-34).
Toda uma visão de fé quanto à pessoa de Cristo e de sua obra colocada em alguns
versículos nos lábios do Precursor. Com efeito, o Evangelista apresenta Jesus
sucessivamente como o Cordeiro de Deus, um personagem existindo depois de
tempos imemoriais, o portador do Espírito Santo, o Eleito e o Filho de Deus. A
figura do Cordeiro de Deus é ela só um resumo da história da Aliança, dado que
ela evoca de uma só vez o cordeiro pascal do Êxodo, cujo sangue, projetado
sobre as colunas da porta de cada casa dos hebreus, indicava a noite de sua
libertação, o Servidor sofredor que descreve o profeta Isaias, conduzido ao
matadouro como o cordeiro e isto por causa dos pecados de seu povo, o cordeiro
vencedor que, segundo os apocalipses judeus, devia destruir o mal no mundo. Quanto
a preexistência de Jesus, o Enviado de Deus, é um tema bem joanino. Jesus dirá um dia aos fariseus: “Antes que
Abraão existisse, eu sou “(Jo 8,58); e na sua oração da última tarde ao Pai,
ele rezará dizendo: “Pai glorifica-me junto de ti com aquela glória que eu
tinha junto de tí antes que o mundo existisse” (17,5). O que lembra a afirmação
do Prólogo: “no começo era o Verbo”; desde sempre era. O Filho de Deus. Enfim,
o Evangelista acentua que o Espírito desceu sobre Jesus no batismo e permaneceu
sobre Ele. Jesus, por conseguinte, possuía permanentemente o Espírito Santo
durante sua vida terrestre, mesmo que Ele tenha esperado sua hora, a hora de
sua paixão e de sua glorificação para transmitir o Espirito aos homens vindos
até Ele pela fé. O livro de Isaias anunciava já que o Espírito do Senhor repousaria
sobre o Messias, saído do trono de Jessé
e que Deus colocaria seu Espírito sobre seu servidor, o Eleito que teria toda
sua complacência. Deste modo, desde o início do Evangelho, o Precursor com
insistência volta nosso olhar para Jesus, o Enviado, o Filho de Deus, e nos
rediz simplesmente : ” Ele, somente Ele , é Ele que o Pai santificou e enviou
ao mundo (10,365), é a Ele que é preciso
servir, se queremos construir a paz, é
Ele que é preciso amar com todas as nossas forças, com todo nosso espírito, com
todo o nosso coração (Dt 6,5), é Ele que Deus nos dá com o salvador, como
irmão, como companheiro de caminhada, é Ele que
que tudo toma sem nada reclamar”.
Estes testemunho do Batista marcou o ponto de partida da fé em Jesus, Messias,
Filho de Deus. Os cristãos sempre guardaram esta lembrança e eis porque tantos pintores,
tantos artistas representaram João Batista com o dedo apontando para Jesus,
como que para repetir a cada geração dos que creem o que ele dizia a seus
contemporâneos: “Há entre vós alguém que não conheceis: É Ele o Cordeiro de
Deus. Eis porque também nas Missas o sacerdote mostrando o Corpo de Cristo, retoma
as mesmas palavras do Percursor: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo!”. E todos juntos, antes de comungar dizem duas vezes a uma só voz:
“Cordeiro de Deus, tem piedade de nós!”. Piedade de nós, “pobres pecadores”, se
mostram a uma só voz doce e muito forte. Doce porque o Filho de Deus é capaz de
júbilo com seu perdão, não obstante nossa miséria, ainda que tenhamos caído fundo
no pecado, na miséria, no desespero. Muito forte, porque esta piedade de Jesus tira
o peado do mundo que está dentro do coração. Ele é vitória sobre o mal e não
nos deixa estancar na recusa do bem próximo dela: ela nos coloca de pé, nos põe
em caminho. Jesus meigo nos diz: “Vem para o Pai!” Cordeiro de Deus” tem piedade de nós” é nossa
prece de cristãos de qualquer idade. É a prece dos jovens: “Tu que salvas todos
os homens, faze de mim um irmão universal”. É a prece dos esposos cristãos: “Tu
que te imolaste até à morte, tu que morreste por nós dois, tomai-nos, em tua
piedade, tomai nosso amor no teu amor, coloca teu amor no coração do nosso amor.
É a prece confiante dos idosos: “Cordeiro de Deus, tu que tão frequentemente pendoaste
minhas misérias e minhas lentidões, dá-me o tempo de me imergir de minha parte
na tua misericórdia. É a prece de toda a comunidade no momento em que Cristo vem
se unir a todos os irmãos, em seu único Corpo: “Cordeiro de Deus, vencedor do mal,
vem habitar nossas diferenças, vem triunfar de nossas indiferenças. Tu que te entregas
por nós, coloca em nós a sede da unidade”. Trata-se de uma prece universal e de
todos aqueles que nela se contemplam amargurados porque testemunham o Evangelho:
“Jesus, de todos os povos e de todos os homens de boa vontade, dá-nos a paz. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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