segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

UMA ESTRELA BRILHOU PARA OS MAGOS

 UMA ESTRELA BRILHOU PARA OS MAGOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Preciosas lições oferece a ida dos Magos até Belém guiados por uma estrela para adorar o Menino Deus aí nascido (Mt 2,1-12). Com grande disposição eles partiram do Oriente e, apesar dos percalços, não desanimaram e em Jerusalém cuidadosamente indagam sobre o lugar onde deveria nascer o Messias e rumam para Belém. São tomados de alegria ao encontrar aquele que procuravam. Sua perseverança foi recompensada. Não haviam ficados acomodados, não foram indolentes e logo se puseram na rota indicada pelo astro. Valorizaram seus conhecimentos e se mostraram competentes astrônomos. Estava escrito no livro dos Números: “Surgirá uma estrela de Jacó”. Esta profecia se verificou num sentido mais sublime e completo no Messias prometido.   Era um meteoro extraordinário criado especialmente por Deus para dar às nações a alvissareira notícia do nascimento do Salvador da humanidade. Os magos decodificaram sabiamente o fenômeno e deixaram exemplo de disponibilidade e persistência. Chegaram até um Menino pobre, mas que era o Rei que atrairia a si todas as gentes, soberano imortal dos séculos futuros. O evangelista ressaltou que “viram o Menino com Maria sua Mãe”. Mais tarde São Bernardo, num momento de pulcra inspiração, não hesitou em proclamar “per Mariam ad Jesum”, pois, de fato, somos conduzidos a Jesus através de sua Mãe. Ela ensinaria sempre os cristãos a receber e a seguir seu divino Filho pelas estradas da vida, abrindo seus corações ao sentido mais profundo da obra redentora. Os Magos ao oferecerem àquele Menino que estava ali com sua mãe presentes típicos de sua região mostraram com o ouro que ele era rei, com o incenso que era Deus, com a mirra que era um homem que se sacrificaria para a salvação de todos que nele cressem, seguindo seus ensinamentos. Uma admirável visão teológica estava assim contida nas dádivas daqueles sábios que voltaram por outro caminho para evitar o ímpio rei Herodes. Alertavam assim que sempre se deve fugir dos inimigos de Cristo. Todas estas verdades alimentariam a grande fé dos seguidores de Jesus. Esta fé chegaria à maturidade em milhares de cristãos pelo mundo afora não obstante a resistência daqueles que, como Herodes e seus sequazes, lutariam em vão contra o divino Redentor. São os que desconhecem os caminhos espirituais traçados pelo Mestre divino. No mundo da criação com sua dimensão, tanto física quanto psíquica, é preciso deixar sempre um lugar para o mundo religioso a ser iluminado pela Palavra divina contida na Bíblia e nas inspirações do Espírito Santo. Este até em sonho se comunicou com os Magos. É preciso, porém, estar sempre atentos às ambiguidades suscitadas pelo espírito das trevas. Os magos, apesar de sábios, humildemente consultaram em Jerusalém os grãos-sacerdotes e os escribas do povo, os entendidos nas Escrituras, e depois se ajoelharam perante uma criança inerme. Maria já havia dito no seu cântico  Magnificat que Deus dispersa os soberbos com os desígnios que eles conceberam e exalta os humildes (Lc 1,31-32). Eis aí outro aspecto fundamental da revelação do mistério epifânico num acontecimento tão simples, claro e maravilhoso em seus pormenores. Astrônomos notáveis, ricos, poderosos a legarem ensinamentos teológicos ao procurarem o lugar onde tinha nascido o Messias que lhes merecia uma visita surpreendente. Esta resultou na manifestação, na revelação do Deus feito homem, o Salvador do mundo anunciado pelos profetas e tão aguardado pelo povo da Bíblia. Desta visita bem fundamentada em fatos reais resultou um notável ensinamento espiritual. Jesus nasceu em Belém da Judéia no tempo do rei Herodes. Tal fato, que revolucionaria a História, tinha uma significação profunda. Os Magos eram as primícias das nações e figuravam a humanidade caminhando para Cristo. Ele que poderia depois se proclamar a Luz do mundo (Jo 8,12; 12,46). Os Magos saem de cena, pois já haviam reconhecido em Cristo o Redentor. Abriram as portas de um reconhecimento universal àquele que deveria ser amado e adorado como o Senhor da glória de acordo com o que escreveu São Paulo aos Coríntios (1 Cor 2,8). Deste modo, a Epifania vem mostrar ao vivo o mistério de Cristo, a manifestação de Deus neste mundo, a revelação de sua presença viva no nosso meio. Cristo, a imagem do Deus invisível, o primogênito dos redivivos e que tem em tudo o primado. (Col 1,15.18). Ele mostrou um Deus que de fato ama os seres humanos e seres humanos que devem apaixonadamente amar este Deus que veio à terra para a todos redimir. Este Deus que quer ser tudo em todos. Assim a Epifania é o grande mistério do amor divino. Por tudo isto esta solenidade deve nos levar a oferecer a Jesus o ouro de nosso amor, o incenso contínuo de nossos louvores, a mirra dos sacrifícios de cada dia. Desta maneira, o cristão se torna, de fato, um iluminado, rendendo-lhe todas as homenagens como fizeram um dia aqueles sábios vindo do Oriente. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS


O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Este é o maravilhoso acontecimento que a cristandade em festa jubilosamente comemora. Nasceu entre nós o próprio Filho de Deus. O nascimento do Senhor Jesus proporciona o jubilo de todo natalício por se tratar de uma nova vida que surge. Em se tratando do natal do Redentor da humanidade este gaudio é ainda mais intenso e expressivo, porque veio a esta terra o Príncipe da Paz, o Deus-Forte, o Unigênito do Pai, a Luz verdadeira que ilumina toda a trajetória humana. Ele abriu as portas da eternidade feliz para todos que O acatarem e seguirem. Trata-se de uma novidade inaugurada na história, mas novidade definitiva, dado que aquela criança nascida em Belém é a verdade absoluta e a salvação perene. O próprio Jesus explicou a razão de ser de sua vinda entre os homens “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Isto seria a prova definitiva do imenso amor que o Deus Todo-poderoso devota a suas criaturas. Como, porém, o nascimento provoca encontros beatificantes, embora nascendo na pobreza de uma manjedoura, em torno do Menino Deus estavam exultantes não apenas seus pais José e Maria, mas também anjos do céu a proclamarem a glória divina, pastores jubilosos da redondeza e, depois, até Magos vindos do Oriente. É que sua luz atravessaria as fronteiras religiosas e sociais e, através dos séculos todos deveriam se pronunciar acatando-o, se transformando, ou desprezando-o e se imergindo definitivamente nas trevas do erro. Com efeito, felizes seriam os que o recebessem, pois Ele veio quebrar todas as falsas imagens de Deus. Quem tivesse a felicidade de acolhê-lo não diria nunca que Deus não o ama que Deus está ausente de sua vida por ser Ele um Ser longínquo. Razão teve Santa Terezinha de Lisieux ao escrever: “Eu não posso temer um Deus que se fez por mim tão pequenino, Eu o amo porque Ele não é senão amor e misericórdia”. A ternura divina é a chave do mistério do Natal. Sua mensagem é um convite para que cada um se deixe tocar pela graça de Deus. O Menino Jesus estende sua mão a todos de boa vontade para que todos experimentem que sua misericórdia é infinita. A vida do cristão deve ser um contínuo renascimento para receber a vida de Deus oferecida por Jesus. Ele é a imagem do Deus invisível, como proclamou São Paulo aos colossenses (Col 1,15). Aliás, Jesus mesmo dirá: “Quem me viu, viu o Pai” (...) Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Eis porque Ele pôde também declarar: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. (Jo 12.46). Trata-se de uma luz que deve atingir o mais profundo do ser humano, podendo então se dizer do verdadeiro cristão que ele é lucífero, portador da luz que é o próprio Deus. Donde fulgir no Natal uma profunda paz, aquela que jorra de Deus e não está sujeita ao frágil equilíbrio das forças humanas. De fato, foi na noite de Belém que a luz da esperança e da vida se levantou sobre a terra. Um Salvador nasceu para todos os homens. Seu esplendor brilha nas trevas e as trevas não o ofuscaram, porque a luz de Cristo passa através da história, não obstante a negação daqueles que o contradizem com suas más ações. Ela continuará sempre vivificando todos aqueles que lhe abrem o coração. Aos que recusam a Deus com suas inconsequências, feridos pelo materialismo ou imersos na depravação dos vícios, o Ser Todo-poderoso estará sempre apresentando o Verbo, a Palavra que dá sentido a tudo e que a todos pode salvar. Para acolher este seu amor é preciso escutar sua voz e se despojar dos erros e ser humilde. O nascimento de Jesus revela o oposto dos critérios terrenos. Por isto é preciso ano a ano penetrar no mistério do Natal e aprofundar as mensagens que fluem de um presépio, mensagem de um amor de Deus que quer a felicidade daqueles que têm a ventura de viver intensamente o significado da encarnação do Verbo divino que habitou entre nós. Ele vem a cada um de nós para uma obra revigorada de misericórdia, de cura e de perdão. Trata-se de um convite para uma renovação de cada um, seja qual for o estágio espiritual no qual se encontre. Natal nos convida, como outrora a José e Maria, aos pastores e aos magos, a nos engajar em uma aventura espiritual ainda mais profícua, a  um encontro especial com o Filho de Deus que se fez carne e habitou entre nós. * Professor no Seminário de. Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

JESUS, O EMANUEL


JESUS, O EMANUEL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e o Nascimento virginal de Maria, focalizados por São Mateus, mostram a missão de São José nos admiráveis planos de Deus (Mt 1,18-24).  A vinda do Redentor da humanidade a este mundo se enraíza na história de Israel. O menino que nasceria de Maria é obra do Espírito Santo e pertenceria à linhagem de Davi através de José, homem justo, bondoso e humilde. Sua esposa estava grávida e, por não conhecer ainda o projeto redentor de Deus, ele pensou, para lhe salvar a honra, em se desvincular secretamente dela. Foi preciso então que um anjo lhe explicasse o papel do Espírito Santo naquela maternidade. São José confia então em Deus e lhe obedece, aceitando aquela missão paternal perante a lei. O grande objetivo de São Mateus foi salientar a filiação divina de Jesus, o Emanuel, Deus conosco. Aí está a perspectiva teológica ressaltada pelo Evangelista. É o próprio Deus quem revela ser Jesus o Cristo, o Salvador da humanidade, cuja identidade fica assim bem retratada. São José deixou o exemplo de como se comportar perante fatos tão maravilhosos, ou seja, como proceder na aceitação pela fé da iniciativa de Deus. Este naquele acontecimento visava a redenção de todos os homens. É importante, portanto, que o cristão esteja sem cessar preparado para acolher com fé e humildade o roteiro de salvação estabelecido por Deus. Jesus é este Deus conosco e isto para que os fiéis enfrentem todas as dificuldades inerentes a este exílio terreno no que toca à família, à sociedade, à própria Igreja, às diversas comunidades. A proximidade do Natal deve, deste modo, lançar raios de esperança para superar todos os momentos difíceis, imergindo o seguidor de Cristo no amor divino. Momentos de turbulência interior passou São José até o esclarecimento celeste, mas ele depois aderiu inteiramente aos desígnios celestes. É através de seus seguidores que Jesus quer se mostrar a este mundo tão materializado e no qual se multiplicam ataques à verdadeira Igreja de Cristo e um desprezo assustador dos dez mandamentos. Multiplicam-se exemplos degradantes de falsos ídolos criados pelos meios de comunicação social e todo o cuidado é pouco. Necessário, portanto, um ajustamento total à vontade de Deus e eis aí a grande mensagem que flui da atitude de São José. A ele o anjo lhe diz: “Não tenhas medo”. O mesmo é dito a todos que desejam perseverar, pois a verdade há sempre de permanece, não obstante os erros que se multiplicam por toda parte, numa traição ou negação do autêntico Evangelho trazido a este mundo pelo Emanuel. Como São José, o autêntico seguidor de Cristo tem sua inteligência atenta à iniciativa de Deus. Por isto deve estar repleto das luzes do Espírito Santo para realizar sua missão no meio dos homens, levando por toda parte a mensagem redentora do Emanuel, mostrando que, de fato, Ele é o Deus conosco. Este Deus liberta na ordem moral e espiritual pela união profunda entre o ser humano e seu Senhor. Uma libertação universal que precisa atingir todos os que têm a ventura de ter fé. Deste modo, o título de Emanuel vem completar o retrato teológico do Filho de Deus, é um programa e um ministério de apostolado para fazê-lo sempre mais conhecido e amado. É que este Jesus, Deus conosco, se faz presente na história dos homens através de seus discípulos. Ser fiel no sentido bíblico da palavra é ser coerente com sua fé, um cristão que pela sua santidade de vida realiza os desígnios de Deus. São José foi denominado um homem justo, porque totalmente ajustado ao querer divino e, por isto, não só exerceu uma função tão importante como Pai legal do Messias, como se tornou um exemplo de fidelidade a Deus. O mérito de São José foi acolher a iniciativa salvadora deste Deus e através dos tempos ele contesta as lentidões, as reticências de tantos cristãos que acabam impedindo a ação divina que deve se expandir por toda parte. Cumpre não fazer de Deus o nosso satélite, colocando-O a nosso serviço. São José mostrou que não há temor quando é Deus que age na vida de seu servidor. Venturosos os que adotam a atitude de São José. É do interior que flui a maleabilidade para seguir as inspirações divinas. Para isto é dentro de cada um de nós que devem borbulhar os eflúvios de todas as virtudes, gerando uma vida responsável e solidária. Apenas assim Jesus, o Salvador, será para nós o Emanuel, o Deus que estará sempre conosco. A preparação para o Natal já é um sinal de um desejo ardente da salvação daquele que, vindo ao encontro de nossas fraquezas, não nos abandonará jamais, Tudo isto porque o Natal deverá significar para nós um Encontro com uma Pessoa e não com uma ideia que se diluirá com o passar dos dias. O Natal vem nos recordar que a presença de Jesus é a expressão real de seu interesse por suas criaturas.  Deixemo-nos possuir por este inefável amor e seremos felizes! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

JESUS O MESSIAS



JESUS O MESSIAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Do cárcere, no qual se encontrava aprisionado pelo ímpio tetrarca Herodes Antipas, João Batista enviou uma delegação de seus discípulos para indagarem oficialmente a Jesus se Ele era o Messias (Mt 11,2-11). Não que ele duvidasse disto, mas para oferecer a Cristo uma oportunidade de confirmar esta verdade. A resposta de Jesus, aludindo à profecia de Isaias que falava dos prodígios que o Messias operaria, encerrou- se com uma declaração definitiva: “E bem-aventurado o que não encontrar em mim ocasião de tropeço”. Estas palavras de Jesus constituem um alerta para seus seguidores através dos tempos, inclusive para cada um de nós que vivemos neste século 21, próximos do Natal de 2019. Devem servir para robustecer a fé naquele que é verdadeiramente o Messias, o Filho de Deus encarnado, no qual se deve depositar toda esperança, não obstante as dificuldades que sua Igreja continua enfrentando. Tantos falsos profetas que surgem, multiplicando-se por toda parte as mais variadas seitas, sendo que os meios de comunicação social deixam a impressão de que a Igreja Católica em muitos lugares está a perder seu espaço, dado o estardalhaço com que as forças do mal ocupam o noticiário de cada dia. Não se deve, porém, querer uma Igreja Católica triunfante, livre de todas as incoerências propaladas pelo espírito do mal. Entretanto, é justamente por isto que, mais do que nunca, através de uma evangelização constante os verdadeiros seguidores de Cristo devem sair das falsas certezas lançadas pelo espírito do mal para lutar pelo triunfo da verdade. Como no tempo de João Batista a palavra de Jesus é recebida e vivida por inúmeros que baseiam sua vida na plenitude da revelação, certos de que, não obstante tantos problemas, está viva a Igreja “una, santa, católica e apostólica”. Nesta Igreja está a força da salvação e prodígios são operados pela unidade e realismo de uma ação católica persistente. É preciso crer firmemente que Cristo é o salvador absoluto do mundo e seus verdadeiros discípulos devem agir, onde quer que estejam, incentivando comunidades fervorosas e fiéis. É por isto que felizmente, em inúmeros lugares, cristãos que se desgararamm da verdadeira Igreja retornam em busca da plenitude dos meios de salvação oferecidos pelos sacramentos e pelos demais recursos espirituais como a presença poderosa de Maria, sempre invocada com grande confiança. São cristãos que se sentem irmãos em redor da mesma Eucaristia. Por isto mesmo cumpre aos verdadeiros fiéis com o aproximar do Natal aprofundar sua responsabilidade para que o mundo seja melhor. Isto se dá pelo aaprimoramento do relacionamento com aquele que é o Messias prometido. Trata-se de uma descida no interior de si mesmo para afastar todo resquício de vaidade, de egoísmo, de falta de amor. Quanto mais o discípulo de Jesus se aperfeiçoa espiritualmente, tanto mais o bem se irradia mundo todo. É deste modo que se pode modificar a dureza do coração daqueles que querem um Messias segundo seus próprios interesses. No elogio que Jesus fez de João Batista está um roteiro a fim de que cada um se examine para melhorar sempre mais sua conduta e  realizar  o desejo de Cristo: “Brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam vossas boas obras e glorifiguem o Pai que está no céus” (Mt  5,16 ). Cristo apresenta o Precursor como um homem de caráter enérgico e corajoso, de existência austera e penitente. Para que o Natal não seja apenas uma data festiva, Jesus está a interpelar cada um de seus seguidores. Ele quer que quebremos as resistências para sair de qualquer mediocridade ou torpor espiritual. Então, sim, o Natal terá um profundo sentido, transmitindo todo o seu valor espiritual que vai além de meras comemorações exteriores. Jesus encontrará corações que se prepararam para acolhê-lo, dispostos a viver ainda mais intensamente seu Evangelho. Cumpre remar contra a corrente do mal que avassala uma sociedade mais voltada para bens materiais e prazeres mundanos do que para os ensinamentos que o Filho de Deus veio trazer a esta terra. Estes oferecem uma existência melhor do que aquela que o mundo reserva aos incautos que se deixam levar por falsas promessas.  Para quem capta a autêntica mensagem do Natal fulge então uma esperança  diversa da que uma sociedade materializada  falsamente garante. Muitos se esquecem  que o Filho de Deus se encarnou e nasceu entre nós para ensinar um modo de vida que ultrapassa os limites terrenos, transformando os corações. A aproximação do Natal deve levar o cristão a uma profunda reflexão. É preciso verificar qual o Messias que se espera: Aquele criado pelos meios de comunicação social ou Aquele que oferece a verdadeira felicidade. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

IMACULADA CONCEIÇÃO


IMACULADA CONCEIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original.  Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz.  Ela entrou no mundo destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais primorosos trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a “Ave-Maria”; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa vida não poderia ser manchado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor do pecado, não deveria estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria  podido vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas imorais, dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.









segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ADVENTO, TEMPO DE VIGILÂNCIA E DISPONIBILIDADE


ADVENTO, TEMPO DE VIGILÂNCIA E DISPONIBILIDADE.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O tempo do Advento envolve os cristãos na expectativa da vinda do Senhor e exige total disponibilidade para dignamente recebê-lo. Daí o alerta do Evangelho: “Estai preparados, porque a hora em que não pensais virá o Filho do homem” (Mt 24,37-44). Ele vem e chegará com novas graças e isto supõe estar vigilantes e inteiramente disponíveis para aguardá-lo. O Senhor vem para encorajar, pacificar, orientar e vivificar a expectativa pela sua chegada. Ele ostenta seu poder e chega para a todos salvar. Sublime é o seu nome e será preciso servi-lo na justiça e na santidade sempre lembrado de sua presença santíssima. Então Ele será para todos luz de vida, de felicidade e de paz. Eis por que é importante refletir sobre ao mistério da chegada de Jesus que de maneira especial vem para purificar e santificar. A teologia da expectativa do nascimento do Salvador e de seu retorno no fim dos tempos apresenta pistas para uma espiritualidade do Advento. Crer é desejar sempre mais ardentemente a vinda do Senhor, é perseverar com o coração desperto e atento. Acreditar é se deixar transformar sob o influxo das realidades natalinas e da consumação da história, apesar das fragilidades humanas e as impaciências que elas fazem surgir. Daí muitas vezes o desânimo, o afrouxamento espiritual. Eis porque São Paulo incita a sair cada um de sua sonolência, fugindo da rotina no trato com Deus, de uma acédia, de uma indolência que precisam ser vencidas. A expectativa suscitada pelo Advento bem vivida leva a uma fuga do ativismo e de preces vazias, bem como do desânimo e da falta de um grande fervor. Deste modo, o Advento conduz a um aprofundamento interior, levando o fiel a se desconectar do uso exagerado do celular, da televisão, para centralizá-lo mais na figura do divino Salvador. É este um tempo precioso oferecido pela misericórdia divina para a própria transformação e amadurecimento religioso, permitindo que Deus possa transformar o coração daquele que piedosamente O aguarda. Eis porque cumpre penetrar fundo na espiritualidade do Advento, caminhando no fulgor do Senhor ansiosamente esperado, pois a salvação está próxima como alertou São Paulo (Rm 13,11). Deste modo, quer a vinda de Cristo no seu Natal, quer no fim dos tempos não fica envolta numa vã esperança na qual muitos, por vezes, enquadram o significado destas realidades. O que Deus deseja é a conversão de cada um que nele crê, o que atrairá todas as bênçãos natalinas e a visão beatificante da parusia final, da sua vinda por ocasião do juízo universal. Cumpre, pois, abrir o coração e a inteligência para entrar na verdadeira dinâmica proposta para bem viver este tempo precioso. Todos, sejam quais forem suas atividades, são chamados a uma revisão de vida. Trata-se de um apelo para que se consagre ainda mais toda energia afim de que no Reino de Deus todos possam encontrar o que o mundo não pode dar. Deste modo, cada um se torna um discípulo missionário de Cristo, fazendo de seu Natal o momento precioso para fazer, de acordo com o carisma de cada um, Jesus ainda mais conhecido e amado, Ele que um dia voltará para julgar os vivos e os mortos. Cumpre que o seguidor de Jesus seja inteiramente transformado pelo seu mistério, estando Ele no cerne da vida de cada um. Assim, ano a ano, se dá um crescimento progressivo no encontro com Deus numa vida de qualidade que somente o Filho de Deus encarnado pode oferecer. Uma existência na qual se sai de si mesmo para caminhar à luz de valores espirituais profundos, levando outros ao amor, ao perdão, ao acolhimento mútuo, ao dinamismo de uma evangelização profícua. Então, realmente, Deus estará passando de maneira especial na vida de cada um. A presença de Cristo se torna assim uma força e todas as dificuldades são superadas e o cristão se sente fortalecido diante das surpresas que a vida reserva dentro dos planos da providência divina. Tudo interpretado como um sinal, como uma oportunidade para caminhar para frente até o Presépio e, após uma trajetória luminosa nesta terra, poder, um dia, estar tranquilo na vinda final de Jesus que voltará para julgar os vivos e os mortos. Fixemos então o sábio conselho de São Paulo: “Revesti-vos do Senhor nosso Jesus Cristo”. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

CRISTO, REI DO UNIVERSO


CRISTO, REI DO UNIVERSO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O Evangelho do último domingo do ano litúrgico leva-nos a olhar a cruz de Cristo e a repetir a prece do Bom Ladrão: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”. Então escutaremos a mesma resposta deste Senhor poderoso afiançando-nos que um dia estaremos com Ele no Paraíso (Lc 23,35-43). Trata-se de uma súplica na qual devem estar incluídos todos os que sofrem neste mundo e vivem sem esperança e sem amor. Cumpre rezar pelas vítimas da violência, pelas famílias nas quais não reina a paz, pelos doentes de nossas comunidades. É preciso, de fato, que todos os fiéis sejam mensageiros da grande misericórdia de um Rei poderoso que se sacrificou para todos os seus seguidores no alto de uma Cruz. Elaborada na irrisão, a inscrição colocada acima do Crucificado e escrita em grego, latim e hebraico trazia o motivo daquele suplício: “Este é o rei dos judeus”. Proclamava então a grande verdade, ou seja, ali, de fato, estava um soberano. A realeza de Jesus, porém, não incluía apenas os judeus, mas toda a humanidade como bem explicou São Paulo na Carta aos Filipenses, dizendo que Jesus “se humilhou, fazendo-se obediente até à morte e à morte de cruz. E por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que, no nome de Jesus todo o joelho se dobre nos céus, na terra, e abaixo da terra e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai” (Fil 2,8-11). O mau ladrão, Gestas, proclamou também uma verdade, ao assim se dirigir a Cristo “Não és tu o Messias?”. Errou, porém, ao acrescentar: “Salva-te a ti mesmo e a nós!”. Com efeito, ele não compreendeu o mistério dos sofrimentos que levariam à morte aquele Rei, o Messias. É que Jesus não queria se salvar da cruz, porque ele veio salvar pela cruz, pelo amor que tinha ao Pai e a todos os homens pelos quais Ele padecia. Ele era um rei cujo amor era a força de uma salvação universal e esta era o motivo de seu sofrimento. Este rei que morre pregado numa cruz lança uma luz que ilumina o destino venturoso dos que nele creem e que fazem de seus sofrimentos pessoais uma prova de amor a Ele. Jesus, porém, deixou claro: “Aquele que quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). Cada um de seus seguidores deve, portanto, carregar a cruz de cada dia, no cotidiano da existência que exige esforço e coragem para enfrentar os problemas grandes e pequenos, as incongruências inevitáveis a seres humanos contingentes. Apenas assim o cristão se mostra fiel a este Soberano que por todos se sacrificou. Trata-se de tomar a cruz de um combate contínuo pela autenticidade, o esforço de caridade para com o próximo, o devotamento à evangelização e tudo isto com muito amor no coração e total perseverança na caminhada neste mundo. É deste modo que a existência de um cristão é entregue a Cristo, Rei do Universo. Este é o destino pascal inscrito no dia do batismo e a ser vivido lá onde Deus colocou cada um, ou seja, no lar, na escola, nos lugares de diversões sadias, enfim nas diversas etapas da vida e nas mais variadas circunstâncias. É no cotidiano de nossa vida que Cristo, o Messias, o Rei do Universo quer ser soberano. A realeza de Cristo Rei se manifesta no fulgor de seus ensinamentos vividos pelos seus súditos leais. Estes iluminam o mundo com o ardor de seu amor. É deste modo que se acolhe a vontade do Pai e que se valoriza a Cruz de Jesus. A todo instante se deve manifestar a gratidão a este Rei sem cuja proteção nada de bom se pode realizar para glória divina e salvação própria e de todas as almas. O Rei crucificado é o Salvador do mundo, purificando seus súditos de toda mancha de qualquer pecado, arrancando-os das trevas dos erros, fortificando-os nos embates contra o espírito do mal. Esta cruz do Soberano crucificado é a fonte de todas as bênçãos e de todas as graças. Como alertou o papa São Leão Magno é por ela que “os cristãos logram passar da fraqueza para o vigor, da ignomínia para a honra, da morte para a vida”. É que este Rei prometeu: “Vou preparar-vos um lugar, mas voltarei de novo para tomar-vos e levar-vos comigo; para que, onde eu estiver, vós também estejais!”(Jo 141-3). Sejamos fiéis a Cristo, Rei do universo e, com toda certeza, estaremos um dia com Ele por toda a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Constância na fé e nas provações


01 CONSTÂNCIA NA FÉ E NAS PROVAÇÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
À fragilidade das obras humanas Jesus opõe a necessidade da constância, da firmeza nas realidades sobrenaturais e perante as provações correspondentes a tudo que é contingente. (Lc 21, 5-19).  Com efeito, diante do templo de Jerusalém, guarnecido com belas pedras e dons, Ele afirmou a seus discípulos: “De tudo que estais vendo, dia virá em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada”, ou seja, vaticinou a ruina daquela grandiosa construção. Entretanto alertou a seus seguidores: “Pela vossa constância é que ganhareis as vossas almas”, isto é, garantiu que a perseverança na fé e nas provações da vida garante a salvação eterna, não perecível. Portanto, alertou para dois fatos inevitáveis: a efemeridade de tudo que é perecível e o valor da persistência na fé apesar das provações. De fato, é preciso ter em vista a fragilidade dos monumentos, das instituições, dos projetos humanos os quais se apresentam como sólidos, mas que são em si frágeis, eles hoje existem amanhã podem desaparecer. Seus ouvintes estavam maravilhados pela beleza daquele templo, como também através dos tempos muitos estariam iludidos com as realizações proporcionadas pelo progresso tecnológico. Em qualquer época o ser humano é vulnerável e a história registra inúmeros cataclismos, terrorismo internacional, pestes, fome, guerras, tudo isto aterrorizando a humanidade. Eis porque Ele aconselhava a construir para a eternidade onde tudo fica solidificado. A fé e a confiança nele deverão então proporcionar o rochedo sólido que nada poderá destruir. Eis porque na Missa, após a consagração, o celebrante diz: “Eis o mistério da fé” e todos respondem repletos de certeza: “Nós proclamamos tua morte, Senhor Jesus, nós celebramos tua ressurreição, vinde Senhor Jesus”. É que a Boa Nova, mensagem do Filho de Deus, é sempre atual e cumpre recebê-la na vida. Trata-se da certeza da presença viva do divino Redentor na existência dos cristãos aqui, agora e por todo sempre. Algo, portanto, indestrutível. O seu discípulo olha o futuro, mas vive intensamente o presente no qual constrói o que é permanente e inelutável. Jesus prometeu: “Nenhum cabelo de vossa cabeça perderá” (Lc 21,18). Sua presença é reconfortante não obstante todas as tormentas. Num mundo mutável, nas vidas de cada um, em tudo que vai fatalmente passando, no meio de tantas confusões religiosas, éticas, políticas o verdadeiro cristão tem onde se apoiar que é o seu Senhor Jesus Cristo que com ele caminha mostrando como chegar um dia à Casa do Pai. Eis porque seu discípulo ante os preconceitos e a indiferença do atual contexto histórico não desamina nunca e conta com outra promessa de Cristo: “Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria à qual vossos adversários não poderão resistir, nem se opor" (Lc 21,14-15). Sobretudo nas celebrações eucarísticas se encontra a fonte da fortaleza interior, celebrando Aquele que faz renascer da água e do Espírito Santo através de seu Corpo e Sangue que transforma a vida humana tão frágil numa vida eterna já começada aqui na terra. Jesus vem a cada instante para junto daquele que O invoca com unção e vigor, sem cessar, tendo uma visão sábia do fim último de cada um e de toda a história do mundo. É deste modo que se humaniza em ato a presença de Deus. Cada um realizando com todo entusiasmo e espírito de fé as tarefas específicas que a Providência lhe confiou. Trata-se da vivência plena do cotidiano, vivido sempre junto daquele que é o Senhor de tudo. É o traduzir de maneira existencial o conselho de Jesus: “Pela vossa perseverança, ganhareis vossas almas”. Este perseverar significa utilizar os dias que Deus concede para que com as ações diárias se construa um edifício na vida eterna o qual não será nunca destruído O verdadeiro cristão sabe que sua união com Cristo o faz avançar, progredindo sempre, jamais retrocedendo. Jesus quer que seu seguidor tenha uma visão clarificada de seu futuro além-morte. Ai daqueles que, por serem seres pensantes, julgam poderem por si mesmos provar sua superioridade, enfrentando os desafios que surgem. Então aquilatam erroneamente que não têm necessidade de Deus e se tornam vítimas de seu próprio orgulho. Deste modo, provocam a Deus contradizendo o que Cristo afirmou: “Sem mim nada podeis fazer”. A vaidade humana, se não é vencida, acaba levando a uma grande catástrofe pessoal por não reconhecer que longe de Deus sua vulnerabilidade o conduz a desgraças fatais. Tentando desafiar a morte com suas próprias forças, vai ao encontro de todas as desventuras, pois é impossível suplantar os planos divinos. Estes oferecem a felicidade completa não neste mundo, mas na eternidade junto dele.  A audácia humana obsta a muitos a trilharem os caminhos de Deus e isto os impede de obter a salvação eterna. Felizes os que se apoiam, não nas ilusões humanas, mas naquele que, mesmo tendo sido pregado numa cruz e nela morrendo, ressuscitou, vencendo todos os tormentos e abrindo para seus seguidores uma perspectiva de eternidade feliz graças ao seu poder divino. # Professsor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS


01 A ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Morte e ressurreição é o tema do Evangelho do 32o domingo do tempo comum (Lc 20, 27-38). Vindo a este mundo Jesus, que é a Ressurreição e a Vida, ao responder as questões dos Saduceus, firmou sua doutrina sobre a ressurreição dos mortos. A vida depois da morte está além de todas as imagens e de todas as barreiras que possamos conceber. Não será uma nova vida, mas será a mesma vida, porém liberta de todos os limites da existência presente, igual a dos anjos. Ressuscitaremos para uma felicidade eterna. O certo é que a vida humana não acaba na hora da morte, mas é transformada para um estado melhor e por toda a eternidade. Os saduceus não acreditavam na ressurreição e por isto propuseram a Jesus uma questão para ridicularizá-la. Eles imaginavam a ressureição com categorias meramente terrestres. Jesus pacientemente lhes mostra que a ressurreição não será como na nossa realidade humana, não uma espécie de vida recomeçada, uma mera reanimação dos cadáveres. Trata-se antes de reviver para sempre uma relação pessoal com Deus que é o Deus dos vivos e não dos mortos, “porque para Ele todos vivem”. Crer na ressurreição é ter certeza absoluta da vitória sobre a morte. O Deus dos vivos garante aos mortais a vida eterna.  No cerne da fé cristã há a esperança da ressurreição. Jesus que morreu, ressuscitou ao terceiro dia imortal e impassível, Ele é a fonte de toda a vida. Os seres humanos estão destinados a morrer, não, porém, a desaparecer no nada, mas têm a promessa de seu Redentor que pôde afirmar: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mimainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. (João 11,25-26). A ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança cristã diante da realidade universal da morte. Esta realidade do fim da vida terrestre de todos os homens e mulheres; os fluxos do tempo têm sido o ponto de partida de numerosas reflexões filosóficas e religiosas. Dependendo da resposta que se dá ao sentido da morte é que se determinará o sentido da vida. Para o cristão, “um por todos, Cristo aceitou morrer na cruz para nos livrar a todos da morte”. Entregou de boa vontade a vida, para que pudéssemos viver eternamente”, como está no segundo Prefácio dos mortos.  Eis porque o seu seguidor habita a casa da esperança e vive em função desta realidade sublime. A teologia da morte é um dos capítulos mais belos do credo cristão. É que nascemos para morrer, mas morremos um dia para viver eternamente junto de Deus. A resposta que Jesus deu aos saduceus sublinha a estreiteza de vista de seus interlocutores que imaginavam após a morte uma vida à semelhança da existência neste mundo, a vida além-túmulo como um simples prolongamento da vida terrestre. Tal interpretação significa desconhecer as Escrituras e o poder de Deus. Jesus cita, com efeito, a célebre passagem da sarça ardente do livro do Êxodo: “Deus não o Deus dos mortos, mas dos vivos” o que implica que o Senhor “não pode abandonar seu amigo à morte, nem deixá-lo ver a corrupção” como proclama o salmo 16. A lição de Jesus deve levar o cristão a se interrogar sobre a maneira pela qual a interpreta. Com efeito, muitos se colocam num horizonte de concepções humanas da vida e da morte e não se deixam guiar pela verdade total à luz do Espírito Santo. A fé na participação do batizado na ressurreição de Cristo se funda sobre sua Palavra, confirmada pelo Pai e atestada pelo Espírito Santo. O objeto da certeza da ressurreição pessoal de cada um está neste Deus Todo-poderoso como escreveu São Paulo aos Coríntios (1 Cor 2,9). O problema levantado pelos saduceus não tinha razão de ser, porque o estado da humanidade glorificada não necessitará mais da procriação no sentido no qual se viveu na condição terrena. Homem e mulher se amarão em Deus que lhes dará parte no Espírito Santo na fecundidade de seu amor divino infinito. Por isto São Paulo aconselhava aos Colossenses a tenderem “para as realidades do alto e não para as da terra” (Col 3,1-40). Crer na ressurreição não é somente falar de algo após a morte, mas também dar um sentido à vida neste mundo. Esta é o caminho para a eternidade onde se terá a plenitude do amor perene de um Deus que é amor. Os atos nesta terra devem ser uma preparação contínua para receber este amor eterno, tudo culminando na ressurreição por ocasião do Juízo Final. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Teologia da vida religiosa


TEOLOGIA DA VIDA RELIGIOSA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Igreja é teocêntrica, ou seja, ela se caracteriza por ser humana e ao mesmo tempo divina, visível, mas portadora de dons invisíveis, ativa  na ação e constante na contemplação
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As congregações de vida ativa se dedicam à ajuda à Igreja e ao próximo nos campos do apostolado, da saúde, do ensino, das missões estrangeiras, dos migrantes, dos pobres. Por exemplo,  a Congregação dos Lazaristas fundada por São Vicente de Paulo, o qual é co-fundador das Filhas de Caridade.
Há o predomínio da vida ativa sobre a vida contemplativa.
Nas congregações de vida contemplativa há a preponderância da oração sobre a ação, da vida meditativa sobre a vida apostólica.
Daí os mais notáveis místicos e místicas da Igreja como São João da Cruz, Santa Gertrudes.
Os mosteiros de vida contemplativa se destinam aos religiosos ou religiosas que no silêncio escutam a Palavra de Deus, fazem uma verdadeira experiência do amor divino, e centram o coração no essencial que é o Ser Supremo.
Reproduzem a relação íntima que Jesus teve com o Pai, atualizam a vida de Maria que, como está na Bíblia, “tudo guardeava e meditava no seu coração”. Há uma renúncia total aos bens materiais, recusando tudo que impeça a união com Deus.
Trata-se de uma comunhão profunda  com este Deus  a qual vai se tornar realidade plena na vida futura. A visita de Jesus à casa de Marta e Maria oferece elementos para se refletir sobre a contemplação e a ação (Lc 10, 38-42).
Marta representa as pessoas que sabem ser eficientes, que fazem tarefas úteis. Maria é bem a figura dos contemplativos que sabem ter tempo para escutar Jesus, recebendo as luzes da palavra divina.
Muitos são mais inclinados para os bens materiais imediatos, outros para as riquezas espirituais mais valiosas com relação à vida eterna.
Por toda parte há ativos e contemplativos, mas o certo é conciliar a ação com a contemplação.
O mesmo Jesus que elogiou a atitude de Maria que O escutava atentamente, várias vezes louvou a caridade ativa, quando, por exemplo, Ele afirmou: “Nem todo que me diz – Senhor, Senhor entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt, 7,21).
Logo, ao enaltecer Maria, Ele não estava menoscabando a refeição preparada por Marta.
 É, aliás, de se notar que Jesus repreende Marta não porque ela agia, mas porque estava agitada. * Professsor no Seminário de Mariana durante 40 anos


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

FELIZES OS SANTOS


FELIZES OS SANTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na comemoração de todos os santos recordamos as oito bem-aventuranças que mostram como os seguidores de Cristo devem pautar a sua vida (Mt 5, 1-12). Elas constituem o código da verdadeira felicidade. È um caminho a ser trilhado em contraste com o espírito e a maneira de viver do mundo com suas falsas ilusões É preciso apreciá-las sob as luzes divinas e, sobretudo, praticá-las. Na festa de todos os santos não se trata apenas de venerar aqueles que nos deixaram e fizeram o bem aqui na terra. Entre eles inúmeros foram e serão canonizados e cujos exemplos magníficos os fiéis procuram imitar. Há, porém, milhares de outros desconhecidos que encarnaram na sua existência virtudes extraordinárias. Além disto, existe nesta terra um sem número de batizados nos quais resplandece uma santidade eminente. São aqueles que, imersos na espiritualidade do Deus três vezes santo lutam tenazmente contra o pecado, vivendo intensamente a graça santificante. É uma solenidade que lembra a comunhão maravilhosa dos santos, homens, mulheres e crianças de todas as línguas, história e cultura, os quais cultivam o despego das coisas materiais, são mansos e humildes de coração, têm fome e sede de justiça, são misericordiosos, puros de coração, irradiam a paz, muitas vezes são perseguidos pelos maus e injustos, mas têm os olhos voltados para o céu, a cidade eterna dos bem-aventurados. Assim os que já lá se acham e aqueles que ainda estão nesta terra são um convite a viver e a crescer na perfeição todos os dias pela paciência, simplicidade, compaixão, perseverança na luta constante contra as insídias diabólicas e as insinuações perversas dos meios de comunicação social.  Estes oferecem, as mais das vezes, uma felicidade artificial e armam ciladas aos incautos. Através das bem-aventuranças Jesus convida a todos para entrarem no mistério da verdadeira alegria, da autêntica ventura. Entretanto, não é fácil percorrer as sendas desta riqueza espiritual, crescendo sempre na culminância existencial como os que já chegaram à Casa do Pai, os quais cultivaram as bem-aventuranças em todas as suas dimensões. Contudo no atual contexto erotizado é necessário mentalizar, sobretudo, esta bem-aventurança: “Bem-aventurados os puros, porque eles verão a Deus”, conscientizando-se da necessidade de não se deixar persuadir pelas mensagens deletérias que chegam a cada um, vindas da falta de modéstia, das aberrações sexuais transmitidas pela televisão e pela imprensa em geral. Àquele que repele os absurdos que vão frontalmente contra o sexto e o nono mandamentos é que foi prometida a visão beatífica de Deus. É necessário nunca se esquecer de que os olhos são as lâmpadas do corpo e que os olhares puros tornam o cristão luminoso, imune da perversidade do pecado. Está claro no salmo 36 que é pela luz que nós vemos a luz (Sl 36,9). O contrário também é verídico, ou seja, é pelos olhos que o batizado se deixa tantas vezes se manchar. Trata-se, portanto, de permitir que entre em si a luz da fé que eleva o fiel àquele nível que o torna capaz de já usufruir da união com Deus neste mundo e, depois, digno de contemplá-lo face a face na eternidade. Para os santos crer significa ver já neste mundo as realidades sobrenaturais nas quais encontra a verdadeira bem-aventurança. O olhar do batizado se purifica na medida em que ele se deixa impregnar da esperança. Então ele vive intensamente a expectativa da vida eterna e tem o seu coração limpo, afastando corajosamente tudo que denigra sua alma, através das paixões deletérias. Os santos que chegaram à visão beatífica tiveram sempre um olhar repleto de fé, esperança e amor a Deus e ao próximo, um olhar verdadeiramente teologal. Trata-se de um processo contínuo de transformação na luta perseverante contra o mal. Para isto é preciso que a santidade de Deus penetre no mais profundo do ser humano. Como diz o salmista é aquele que tem o coração puro e mãos inocentes é quem subirá à montanha do Senhor, procurando continuamente a face de Deus. Ninguém pode ser santo se não deixar Cristo reinar nele. Do mesmo modo que a multidão dos santos lavaram suas vestimentas no sangue do Cordeiro, participando de suas provações, é que se pode aspirar a uma santidade que leva à vivência das bem-bem-aventuranças, procurando cada um se purificar e santificar pelo olhar puro em todas as circunstâncias. Então quando o Filho de Deus aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque nós O veremos tal como Ele é (1 Jo 3,2). Quem cultiva as bem-aventuranças pode repetir com São Paulo: ”Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim" (Gl 2,20). O cristão valoriza o seu batismo, cada vez que renuncia ao mal, pois, de fato, quem adere ao pecado expulsa a Deus de seu coração. Quem vive as bem-aventuranças, tendo sempre um olhar puro por entre as mazelas deste mundo, possui a garantia de que, um
Dia contemplará a Deus face a face. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

EGOCENTRISMO CONDENADO E HUMILDADE EXALTADA


01 EGOCENTRISMO CONDENADO E HUMILDADE EXALTADA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com a parábola do fariseu e do publicano Jesus mostrou como diante de Deus é abominável o egocentrismo e louvável a humildade (Lc 18, 9-14). Naquele tempo se podia identificar o fariseu pela prática de uma piedade ostensiva, um formalismo hipócrita, aquele que acreditava encarnar em si a perfeição moral e cujos julgamentos sobre o comportamento dos outros eram severos. O fariseu era obcecado por virtudes que julgava possuir em alto grau. O publicano, coletor de impostos, era tristemente associado aos pecadores (Mt 9,11). Jesus, porém, entrava em contato com eles, aceitava inclusive tomar com eles refeição (Mt 9,9-13). Chamou Mateus, um deles, para ser um dos doze apóstolos. Atitudes surpreendentes para os fariseus, cujo ritual de purificação merecia o repúdio de Cristo que dirá claramente que não era pelo exterior que alguém se purifica, mas pelo seu interior. Jesus apresenta um publicano como exemplo. O Deus do publicano era um Deus clemente que perdoa. Em cada um de nos hiberna um fariseu ou um publicano, mas a lição dada por Jesus é clara: “Quem se eleva será humilhado; quem se humilha será exaltado”. Na prece do fariseu pairava um desprezo com todas as suas agressividades, julgando que eram os escolhidos de Deus, sendo os outros excluídos do amor divino. Para eles o coração de Deus era assaz pequenino para amar até pecadores arrependidos. Enquanto o fariseu se gloria de sua religiosidade meramente exterior, o publicano fazia de Deus o confidente de sua miséria. Não ousava levantar os olhos porque sabia que Deus era o oceano de amor, mas amor que ele não merecia. Reconhecia a necessidade do perdão que o imergiria na compaixão sem limites do Criador. Não se julgava melhor do que os outros. Não se comparava com ninguém, mas sondava a si mesmo para poder reencontrar a bondade do Ser que é a benignidade infinita, três vezes santo. Diante de Deus ter senso do pecado não consiste em manifestar uma atitude de um arrependimento artificial, mas reconhecer humildemente as próprias falhas sem deixar que a falsidade esteja instalada no íntimo de si mesmo, impedindo um arrependimento sincero dos erros porventura cometidos, verificando até onde se deixou de praticar os mandamentos divinos e, sobretudo, de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta atitude leva à verdadeira conversão, afastando todo resquício de orgulho, fazendo cada um autêntico perante o Ser que tudo conhece. Então fica aberto o caminho da paz, situando-se o cristão diante de seu Senhor como criatura limitada, responsável pelas suas faltas que sinceramente aborrece e delas pede a anistia divina. Quem assim age contempla sempre maravilhas em torno de si. A humildade é a verdade sobre si mesmo e sobre Deus e daí a grandeza do publicano que se reconhecia como um pecador que implorava a comiseração divina. Esta deve ser a postura da criatura perante o Criador. Esta verdade deve se refletir nas relações de cada um com Ele. Se a humildade é a verdade então ela faz com que o ser humano reconheça a transcendência absoluta de Deus, manifestada na benevolência incomensurável de Cristo, o Redentor Esta é a realidade suprema e decisiva, a qual impede que haja vanglória das ações, julgando, como acontecia com o fariseu, que o mérito é fruto devido ao esforço pessoal. Sem a graça divina ninguém é justo, ninguém é santo e, assim sendo, não há porque se exaltar. Além disto, a humildade exige caridade a qual faltava também ao fariseu que se julgava melhor do que o publicano. Portanto, nada de se comparar com os outros, porque o julgamento é sempre de Deus que conhece as boas e más intenções de cada um e qual é o grau de amor que flui do íntimo do coração de quem Lhe quer ser fiel. A humildade é o fundamento da prece e esta é a elevação da alma a Deus. Do alto de seu orgulho o fariseu só enxergava em si virtudes, das quais faltava exatamente o alicerce essencial. Dos lábios do publicano fluía uma oração humilde e contrita. Aquele que se humilha é quem será exaltado por Aquele que tudo conhece e penetra fundo no coração do orante. Eis porque o humilde não exige nunca os favores de Deus, mas procura antes de tudo estar com a consciência limpa perante o Ser Supremo, doador de tudo. Como dizia Santo Agostinho, nós somos os mendigos de Deus e de si, por si mesmo, ninguém é virtuoso. Diz o Livro dos Provérbios: Onde há humildade aí há sabedoria” (Prov. 11). É que Espírito Santo sempre busca o coração humilde.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A CONDIÇÃO ESSENCIAL DA PRECE


A CONDIÇÃO ESSENCIAL DA PRECE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Para mostrar a seus seguidores que é preciso orar sempre sem desfalecer, Jesus didaticamente propôs uma parábola salientando especialmente a importância da perseverança na oração de súplica (Lc 18,1-8). A insistência da viúva desejosa de obter justiça da parte do juiz iníquo obteve resposta satisfatória graças a sua persistência. Muito mais a prece de intercessão de quem tem fé encontrará sempre no coração de Deus uma acolhida justa e favorável. A persistência alcança o que se solicita ao Todo-poderoso Senhor. É a condição basilar para obter os favores celestiais, porque Deus muitas vezes experimenta a constância daquele que reza, pedindo ajuda em suas necessidades. O reconhecimento de que o ser humano é dependente de seu Criador, que se revelou, porém, como Pai amoroso, leva à consciência da necessidade da graça divina para si e para o próximo. Donde a importância da simplicidade de coração, que revela uma profunda humildade existencial.  Esta leva a uma abertura fundamental para receber os benefícios divinos, numa solicitação constante. Tal foi a ordem de Jesus: Pedi e recebereis para que a vossa alegria seja completa” (João 16,24b). A súplica insistente dirigida a Deus nunca fica sem resposta se ela, de fato, se fundamenta numa necessidade real que contribuirá para a própria salvação eterna e para a glória de Deus. Tantas vezes se esquece de que o tempo de Deus não é o tempo do ser humano e, portanto, ele atenderá quando na sua onisciência infinita julgar ser o momento oportuno. O certo é que os clamores dirigidos ao céu não são lançados no vazio, mas são recebidos amorosamente por um Deus sumamente misericordioso, justo, bem diferente do juiz injusto da parábola. O fundamento da oração do cristão é a promessa de Cristo e a presença iluminadora do Espírito Santo que orienta o que pedir e como pedir sem desanimar nunca. É preciso, porém, aguardar o fruto espiritual das súplicas dirigidas a Deus. Eis por que o fiel acata a maneira pela qual será atendido no tempo oportuno. Isto é uma demonstração de total confiança no seu Senhor. Ao rezar, implicitamente, o orante está a dizer a Deus que quer o que Ele determina na sua sabedoria infinita e se dispõe a servi-lo com um coração sincero e reto. O caminho da oração é um caminho interior que cada um deve percorrer mesmo porque Deus conhece o íntimo do suplicante e o alcance daquilo que ele Lhe solicita. Para isto é necessário a abertura humilde e radical de todo o ser daquele que ora e que se entrega confiante nas mãos do Ser Infinito. O modo de agir de Deus difere radicalmente da maneira de proceder do juiz perverso e corrupto que atendeu para se livrar da importunação da viúva. Seu ponto de referência não era a justiça que deveria ministrar. Entretanto, infelizmente, é o mesmo que acontece nos tribunais humanos nos quais interesses escusos muitas vezes prevalecem. Jesus nos leva então a compreender que, se um juiz malvado fez justiça devido à insistência da pobre viúva, muito mais fácil é conseguir do Pai celeste todas as coisas boas de que temos necessidade, Basta lhe pedir com um mínimo de humildade e perseverança. Nada de hesitações, de desconfiança no poder e na bondade do Pai celeste. O essencial é ter amor e humildade no momento da oração. A consciência da dependência de Deus deve fundamentar a prece do autêntico cristão. Deus quer que insistamos nos pedidos a Ele feitos porque também isto aumenta a nossa fé e nossa esperança. O orante deve ter certeza de que nada lhe é simplesmente devido e assim não se deve nunca cair no orgulho, exigindo de Deus o que Lhe é solicitado. Então todos os ingredientes de uma prece agradável a Deus têm seu fundamento numa crença inabalável pela qual se crê que um dia Jesus voltará e deverá para fazer resplandecer a justiça sobre aqueles que acreditaram e, assim, perseveraram numa prece ardente. É preciso, de fato, atenção à indagação de Jesus “O filho do homem à sua vinda, achará acaso fé sobe a terra”?  Esta espera de sua vinda para o juízo final fortalece a fé e os pedidos constantes da proteção divina. Fé que alcança continuamente os favores celestes, frutos da oração persistente. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.






segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Sua fé o salvou,sua gratidão o dignificou


SUA FÉ O SALVOU E SUA GRATIDÃO O DIGNIFICOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
No tempo de Cristo, na Palestina, a situação do leproso era pior do que em nossos dias. Estava condenado a viver à margem da sociedade. A Bíblia registra a legislação do Levítico: “O enfermo atacado de lepra trajará vestes rasgadas, andará de cabeça descoberta [...] e ele gritará: “Impuro"!" Impuro!”[...] Durante todo o tempo que durar a moléstia será considerado impuro como o é de fato e viverá isolado na sua cabana fora do acampamento" (Lev 13,45). Eis, porém, que na entrada de uma povoação saíram ao encontro de Jesus dez homens leprosos a clamarem: “Jesus Mestre, tem piedade de nós” (Lc 17,11-19). Rejeitados pelos homens, apelam para o divino Taumaturgo. Jesus sempre exigiu de seus miraculados uma fé profunda. Ordenou simplesmente que eles fossem se apresentar aos sacerdotes. Eles fizeram um ato de fé, obedeceram e pelo caminho ficaram curados. Entretanto, apenas um retornou para agradecer ao seu Benfeitor. Este, sim, ficara inteiramente curado no corpo e no espírito, pois se colocou em condições de escutar Jesus a lhe afiançar: “Levanta-te e parte, a tua fé te salvou”. Ele havia obtido a plenitude da salvação, a vida segundo a fé que permite verdadeiramente e livremente usufruir o bem estar do corpo e da alma, dando a Deus uma resposta de amor, manifestando um reconhecimento que enobrece e abre as portas para novos benefícios divinos. Estava imunizado de toda e qualquer lepra espiritual. Assim é o coração bondoso de Deus que nunca rejeita nem se desgosta perante as misérias humanas, mas sabe recompensar os gestos de gratidão, sinal de que se recebeu com fé o favor do céu. Aí está a razão pela qual nunca se deve imaginar que há uma distância intransponível entre o fiel que acredita e Jesus. Este está ainda mais próximo daqueles que sofrem, que sentem o peso da solidão e se acham longe de todo socorro humano. No caso dos dez leprosos Jesus passou por cima de todas as repugnâncias advindas da horripila enfermidade e com doçura infinita, aos remetê-los aos sacerdotes, já os havia curado. Era preciso apenas constar oficialmente que estavam livres da lepra, pois a cura fora súbita e completa para os dez ao mesmo tempo. O chocante neste episódio foi, de fato, que apenas o samaritano, o mais pobre e desprezível aos olhos dos judeus, foi grato, acrescentando ao ato de fé uma admirável manifestação de agradecimento, prostrando-se aos pés de Jesus. Estava cheio de alegria e esta transbordou num gesto sublime. Cumpre reter a lição deste agraciado, porque Deus está presente na vida de cada um de seus seguidores. Quantas graças são recebidas, por entre a agitação do cotidiano, no fim de um dia, no término de uma semana. É preciso a exemplo do samaritano, o qual veio dizer a Jesus o quanto estava agradecido pela cura maravilhosa, que saibamos continuamente agradecer a Deus. A gratidão é a chave de ouro que abre os tesouros divinos. Quem faz sempre a releitura de tudo que lhe vai acontecendo durante o dia há de perceber a presença dadivosa do Ser Supremo “no qual nos movemos, existimos e somos” (Atos 17,28). Ele é, realmente, rico em misericórdia. Muitas vezes o cristão se limita a um exame de consciência moralizador e se esquece de captar a multidão de benefícios que lhe advém de seu Senhor. A fé exige uma visão mais ampla de tudo que vai acontecendo a quem vive e implora continuamente a proteção celeste. Deus vai a cada passo deixando marcas na vida de quem nele crê, que O ama e nele confia. A leitura dos acontecimentos que se dão em derredor do seguidor de Cristo aumenta a fé e a gratidão, mas é necessário apreender todos os sinais indicadores da bondade do Pai amoroso. Então se multiplicam os hinos de ação de graças, de arrependimento pelas ingratidões e de preces ardentes pela contínua ajuda divina. O ideal, portanto, é ser como o leproso agradecido e não como os nove, também agraciados, mas dos quais se queixou Jesus, dado que não se mostraram reconhecidos. Donde a importância do conselho de São Paulo na sua carta a Timóteo, recomendando que é preciso sempre se lembrar de Jesus Cristo ressuscitado entre os mortos, pois Ele é, de fato, nossa salvação, nossa glória. Portanto a Ele se devem hinos gratulatórios, pois Ele é o Mediador de todos os favores que continuamente recebemos.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

FÉ CONFIANTE E SERVIÇO HUMILDE


01 FÉ CONFIANTE E SERVIÇO HUMILDE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Fé confiante e serviço humilde são duas preciosas lições ministradas por Cristo aos seus discípulos como mostrou São Lucas (Lc 17,5-10). São duas virtudes que devem sempre distinguir seus seguidores. Trata-se em primeiro lugar de uma fé pela qual o cristão vive numa relação pessoal com Deus. Não uma fé mágica ou interesseira, mas que supõe uma adesão total à vontade divina. Sob este aspecto, notável a solicitação que haviam feito os apóstolos: “Aumenta a nossa fé”. Com efeito, quem se esforça por dilatar sua crença no seu Senhor entra na sua intimidade. Vê aberto um maravilhoso horizonte, um mundo no qual tudo é possível. Isto muito além do que se possa imaginar, pois o fiel se sente então mergulhado na mais absoluta confiança no Ser Todo-Poderoso. Fé, portanto, esclarecida, iluminadora com notáveis reflexos na conduta cotidiana de quem a possui. Penetra-se, desde modo, no mistério sublime do amor de Deus, não obstante as limitações humanas e suas fraquezas naturais a seres contingentes, limitados. A fé confiante não pode se separar do amor que vivifica a existência de quem a tem. De fato, o amor é a medida de fé. Tudo é então possível ao autêntico cristão, dado que nada é impossível a quem verdadeiramente ama o seu Criador. No plano espiritual o progresso é extraordinário e o fiel passa a contemplar coisas incomparáveis em seu derredor, como aconteceu e continua acontecendo com as pessoas nas quais esplende virtude tão eminente. Porque crê na Palavra revelada por Deus contida na Bíblia procura colocá-la em aplicação em todos os seus atos, comportando-se de acordo com as diretrizes divinas. Donde a obediência total aos mandamentos. Além disto, não duvida nunca das promessas de Deus para esta trajetória terrena e para a eternidade. Deste modo, o cristão se deixa envolver numa experiência espiritual maravilhosa. Passa a perceber por toda parte a presença ativa de Deus, presença que o transforma e leva a sempre se conformar com os desígnios divinos. É uma vida toda estruturada naquilo em que se acredita, tudo ganhando a dimensão profundamente existencial da fé. Isto resultando do dom e do abandono nas mãos da providência divina, permitindo que Deus ocupe todo o coração, toda a vida daquele que nele confiadamente crê. Se assim é, cumpre, de fato, repetir continuamente a solicitação dos apóstolos: “Senhor, aumenta-nos a fé”.  Esta virtude levará fatalmente a um serviço humilde conforme o que preceituou Jesus: “Vós também, uma vez feito o que se vos ordenou, dizei: “Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”. Ele deu o exemplo, pois foi o servidor perfeito, realizando em plenitude a obra redentora da humanidade. Ele pôde então afirmar que viera a este mundo não para ser servido, mas para servir (Mt 20,28). Assim deve agir cada um nas tarefas de seus deveres cotidianos, nas suas obrigações como membros da Igreja. Em tudo, porém, somos dependentes de Deus e é neste sentido que o Mestre divino usou o termo “servos inúteis”, pois sem o auxílio divino nada de bom se pode realizar, ou seja, fazendo bem, o bem que deve ser feito. Nunca se fixa demais o que Jesus asseverou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Eis porque se deve pedir sempre sua proteção para efetivar com êxito todas as obrigações do dia a dia, sobretudo as mais complexas e difíceis. Aí está o motivo pelo qual os grandes santos faziam sempre de uma maneira extraordinária as tarefas ordinárias de cada hora. É que a prece, centrando a atenção no poder divino, leva à sublime realidade enunciada por São Paulo: “É Deus que opera em vós o querer e o agir segundo seus benévolos desígnios. Fazei tudo sem murmurações [...] deveis resplandecer como luzeiros no mundo" (Fil 2,13.15). É, realmente, o Senhor que faz do cristão servo humilde no exercício de seus deveres de acordo com sua graça, seus dons e carismas a serviço do próximo e do Evangelho. Pela fé nele todos somos irmãos uns a serviço dos outros. Todo o tempo do verdadeiro seguidor de Cristo pertence a Ele e, por isto, através das menores ações se irradia seu reino de amor, mesmo nos momentos de descanso, uma vez que este repouso é para revitalizar as forças, visando o trabalho dentro do projeto que Deus traçou para cada um. Tudo então que resulta deste trabalho é bom, gratificante, útil, santificador. As fadigas do corpo abrandam as angústias do espírito, levando a um perfeito equilíbrio psicossomático. Quando a natural fadiga das atividades é também assim oferecida para glória de Deus enorme o mérito para a vida eterna. Esta intenção de honrar a Deus em todas as obras precisa sempre fazer parte do discipulado cristão. Tal a nobre vocação do discípulo de Cristo que se utiliza dos dons divinos a bem próprio, da comunidade na qual vive a começar da própria família. Tudo assim coopera para a maior glória de Deus, porque todas as ações ficam envoltas numa fé confiante. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O RICO MAU E O POBRE LÁZARO


02 O RICO MAU E O POBRE LÀZARO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na célebre parábola do rico mau e do pobre Lázaro narrada por Jesus, Lázaro lembra o amor e a predileção divina pelos indigentes, sobretudo os carentes de amor. O rico não havia compreendido a razão de ser de sua vida e de sua missão (Lc 16,19-21). O endinheirado, cego pelos bens terrenos, colocou toda sua esperança nos bens materiais deste mundo. Ignorava que Deus esperava muito mais dele. Do pobre Lázaro Deus teve piedade por ocasião de sua morte e o recebeu “no seio de Abraão”. No contexto desta parábola o cristão é incitado a imitar Lázaro e não o abastado glutão. É assim que se podem receber os dons magníficos do Senhor Onipotente. Trata-se de reconhecer que tudo de bom que alguém possui vem do Espírito Santo, visando o serviço divino e do próximo, levando-o à união com Deus. O rico só pensava em si mesmo e nos gozos terrenos.  Até depois de sua morte pedia que Lázaro lhe enviasse gotas de água para lhe refrescar a língua ressecada. Seu egocentrismo não o abandonava nunca. As atitudes do homem mau desta parábola recordam a todos que temos somente uma vida neste mundo e uma chance para conquistar a existência eterna feliz. Aqui na terra o seguidor de Cristo deve ser um canal, um intermediário das graças redentoras. Grande responsabilidade ser instrumento de Jesus para a salvação dos parentes e amigos sem perder nenhuma oportunidade, mesmo porque a morte estabelece um limite absoluto. É o instante no qual tudo ganha o seu verdadeiro valor. Isto deve ser um referencial na vida de cada um, pois ao morrer se totalizam todas as fidelidades ou infidelidades de uma existência. O rico da parábola estava cego ao longo de sua trajetória terrena. Não pensava em Deus e muito menos se apiedou Lázaro, coberto de chagas e que desejava matar a fome com as migalhas que lhe caiam de sua mesa. Ao morrerem, porém, tudo muda. Ambos estariam diante do Criador e Juiz infinitamente lúcido e coerente. Ele conhecia a qualidade de vida e o coração de cada um. Agora um grande abismo separava o bom e o mau. Antes, o rico ímpio teria podido ter socorrido o miserável pobre Lázaro.  Lá no outro mundo já não poderia nada realizar, mesmo reconhecendo seus erros, dado que o tempo da conversão passara.  Nem mesmo seus irmãos haveriam de se converter, porque ante a palavra de Deus através de Moisés e dos profetas não se entregariam à prática da penitência e da caridade. Ainda que viesse até eles algum dos falecidos eles não dariam crédito e não mudariam de conduta, não sairiam de sua mediocridade. Toda a atenção é pouca, uma vez que somente o Evangelho pode dar sentido à vida do cristão, envolvendo-o numa fúlgida esperança. Apenas assim a vida não fica bloqueada numa fatalidade gerada por uma riqueza mal empregada, ignorando o destino dos mais necessitados. Na eternidade, contudo, anjos levando Lázaro para o reino de Deus e o rico lançado no fogo eterno do inferno. Um esbanjou seus bens numa falsa felicidade, o outro se viu coberto de desgraça. A situação após a morte modificou-se, pois este último recebeu consolação e o outro justa paga por seus desatinos, um castigo eterno. A trajetória nesta terra supõe a aventura da fé sincera, vivida imensamente em todas as suas consequências, sobretudo no que diz respeito ao próximo. É a luta contra o egoísmo, a ambição, o desinteresse pelos outros. Ao narrar esta parábola Jesus concita a seus seguidores a tomar uma posição corajosa na prática das virtudes por Ele ensinadas. Então o cristão não se vê preso ao instante que passa, sai de seu egoísmo e procura tratar cristãmente seu semelhante. Esta parábola, portanto, é um sério lembrete do Mestre divino que adverte sobre a possibilidade de se perder a ventura eterna por causa do desprezo para com os outros. Nesta parábola o rico vai para a condenação sem fim porque sua vida foi passada no excesso da glutoneria e dos bens ilusórios sem prestar atenção aos que passavam necessidade. Jesus ensina a importância de agir em função da marcha rumo à Casa do Pai e não para a punição sem fim. A transcendência do mandamento de Cristo de amar o próximo tem toda sua importância à luz dos fins últimos de cada um, qual seja, a morte, o julgamento, o céu ou o inferno. Uma vida superficial pode levar a encontrar escusas levando a uma indiferença fatal para com os que estão em seu derredor. Muitos procuram razões para justificar sua passividade diante das desgraças alheias, descurando a prática das boas obras, vivendo a caridade fraterna. Pessoas idosas, doentes, abandonadas tantas vezes à espera de atenções e cuidados. Cumpre a opção entre amar a Deus e o próximo ou amar a si mesmo, ignorando os sofrimentos alheios. O caminho que conduz ao céu é pavimentado com atos de caridade. O que faltava ao rico da parábola era exatamente a dileção ao sofredor. O cristão, contudo, sabe que, quando ele se interessa pelo outro, está escolhendo o próprio Deus. Então fica aberta a porta da felicidade Quem tem o coração cheio de amor a Deus e as mãos ocupadas no serviço do próximo, decifrou a grandeza da vida. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.