UMA ESTRELA BRILHOU
PARA OS MAGOS
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Preciosas lições oferece a ida dos Magos até Belém guiados
por uma estrela para adorar o Menino Deus aí nascido (Mt 2,1-12). Com grande
disposição eles partiram do Oriente e, apesar dos percalços, não desanimaram e
em Jerusalém cuidadosamente indagam sobre o lugar onde deveria nascer o Messias
e rumam para Belém. São tomados de alegria ao encontrar aquele que procuravam.
Sua perseverança foi recompensada. Não haviam ficados acomodados, não foram
indolentes e logo se puseram na rota indicada pelo astro. Valorizaram seus
conhecimentos e se mostraram competentes astrônomos. Estava escrito no livro
dos Números: “Surgirá uma estrela de Jacó”. Esta profecia se verificou num
sentido mais sublime e completo no Messias prometido. Era um
meteoro extraordinário criado especialmente por Deus para dar às nações a
alvissareira notícia do nascimento do Salvador da humanidade. Os magos
decodificaram sabiamente o fenômeno e deixaram exemplo de disponibilidade e
persistência. Chegaram até um Menino pobre, mas que era o Rei que atrairia a si
todas as gentes, soberano imortal dos séculos futuros. O evangelista ressaltou
que “viram o Menino com Maria sua Mãe”. Mais tarde São Bernardo, num momento de
pulcra inspiração, não hesitou em proclamar “per
Mariam ad Jesum”, pois, de fato, somos conduzidos a Jesus através de sua
Mãe. Ela ensinaria sempre os cristãos a receber e a seguir seu divino Filho
pelas estradas da vida, abrindo seus corações ao sentido mais profundo da obra
redentora. Os Magos ao oferecerem àquele Menino que estava ali com sua mãe presentes
típicos de sua região mostraram com o ouro que ele era rei, com o incenso que
era Deus, com a mirra que era um homem que se sacrificaria para a salvação de todos
que nele cressem, seguindo seus ensinamentos. Uma admirável visão teológica
estava assim contida nas dádivas daqueles sábios que voltaram por outro caminho
para evitar o ímpio rei Herodes. Alertavam assim que sempre se deve fugir dos
inimigos de Cristo. Todas estas verdades alimentariam a grande fé dos
seguidores de Jesus. Esta fé chegaria à maturidade em milhares de cristãos pelo
mundo afora não obstante a resistência daqueles que, como Herodes e seus
sequazes, lutariam em vão contra o divino Redentor. São os que desconhecem os
caminhos espirituais traçados pelo Mestre divino. No mundo da criação com sua
dimensão, tanto física quanto psíquica, é preciso deixar sempre um lugar para o
mundo religioso a ser iluminado pela Palavra divina contida na Bíblia e nas
inspirações do Espírito Santo. Este até em sonho se comunicou com os Magos. É
preciso, porém, estar sempre atentos às ambiguidades suscitadas pelo espírito
das trevas. Os magos, apesar de sábios, humildemente consultaram em Jerusalém os
grãos-sacerdotes e os escribas do povo, os entendidos nas Escrituras, e depois
se ajoelharam perante uma criança inerme. Maria já havia dito no seu cântico Magnificat que Deus dispersa os soberbos
com os desígnios que eles conceberam e exalta os humildes (Lc 1,31-32). Eis aí
outro aspecto fundamental da revelação do mistério epifânico num acontecimento
tão simples, claro e maravilhoso em seus pormenores. Astrônomos notáveis,
ricos, poderosos a legarem ensinamentos teológicos ao procurarem o lugar onde
tinha nascido o Messias que lhes merecia uma visita surpreendente. Esta
resultou na manifestação, na revelação do Deus feito homem, o Salvador do mundo
anunciado pelos profetas e tão aguardado pelo povo da Bíblia. Desta visita bem
fundamentada em fatos reais resultou um notável ensinamento espiritual. Jesus
nasceu em Belém da Judéia no tempo do rei Herodes. Tal fato, que revolucionaria
a História, tinha uma significação profunda. Os Magos eram as primícias das
nações e figuravam a humanidade caminhando para Cristo. Ele que poderia depois
se proclamar a Luz do mundo (Jo 8,12; 12,46). Os Magos saem de cena, pois já
haviam reconhecido em Cristo o Redentor. Abriram as portas de um reconhecimento
universal àquele que deveria ser amado e adorado como o Senhor da glória de
acordo com o que escreveu São Paulo aos Coríntios (1 Cor 2,8). Deste modo, a Epifania
vem mostrar ao vivo o mistério de Cristo, a manifestação de Deus neste mundo, a
revelação de sua presença viva no nosso meio. Cristo, a imagem do Deus
invisível, o primogênito dos redivivos e que tem em tudo o primado. (Col
1,15.18). Ele mostrou um Deus que de fato ama os seres humanos e seres humanos
que devem apaixonadamente amar este Deus que veio à terra para a todos redimir.
Este Deus que quer ser tudo em todos. Assim a Epifania é o grande mistério do
amor divino. Por tudo isto esta solenidade deve nos levar a oferecer a Jesus o
ouro de nosso amor, o incenso contínuo de nossos louvores, a mirra dos
sacrifícios de cada dia. Desta maneira, o cristão se torna, de fato, um iluminado,
rendendo-lhe todas as homenagens como fizeram um dia aqueles sábios vindo do
Oriente. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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