IMACULADA CONCEIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas
esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor do
título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições que
nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a Imaculada
Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em que a sua
alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça
santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura,
imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles
desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original. Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é
luz. Ela entrou no mundo destinada a ser
a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os esplendores da
divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito Santo. Eis porque
todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem defeitos,
inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a
a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais primorosos
trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de
Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da virtude de
Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez vibrar a
alma de Mozart e de Gounod, entoando a “Ave-Maria”; foi a beleza imaculada de
Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos
contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de
nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de
Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de reformar os
seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza imaculada de
Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua radiante pureza
e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte de nossas mães a
modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a honra, a
segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre
todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que
ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos
cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo
Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro
instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo,
em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada
da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem
igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em
seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde
reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o
astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia
dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa,
sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte,
a humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos
salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da
vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa
vida não poderia ser manchado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor
do pecado, não deveria estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por
cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda que
um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do
Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma
sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido vencer o mal em sua santa Mãe, e a
graça, que tudo purifica, teria sido impotente na Conceição de Maria. Não nos
basta, porém, recordar toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua
pureza sem mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma
numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas imorais, dos sites
pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do Maligno oferece para
perdição eterna. Observância total, absoluta do sexto e do nono mandamentos
sagrados da Lei de Deus. Por isto, o cristão está sempre a repetir: “O Maria
concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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