A CONDIÇÃO ESSENCIAL DA PRECE
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Para mostrar a seus seguidores que é preciso
orar sempre sem desfalecer, Jesus didaticamente propôs uma parábola salientando
especialmente a importância da perseverança na oração de súplica (Lc 18,1-8). A
insistência da viúva desejosa de obter justiça da parte do juiz iníquo obteve
resposta satisfatória graças a sua persistência. Muito mais a prece de
intercessão de quem tem fé encontrará sempre no coração de Deus uma acolhida
justa e favorável. A persistência alcança o que se solicita ao Todo-poderoso
Senhor. É a condição basilar para obter os favores celestiais, porque Deus
muitas vezes experimenta a constância daquele que reza, pedindo ajuda em suas
necessidades. O reconhecimento de que o ser humano é dependente de seu Criador,
que se revelou, porém, como Pai amoroso, leva à consciência da necessidade da
graça divina para si e para o próximo. Donde a importância da simplicidade de
coração, que revela uma profunda humildade existencial. Esta leva a uma abertura fundamental para
receber os benefícios divinos, numa solicitação constante. Tal foi a ordem de
Jesus: “Pedi
e recebereis para que a vossa alegria seja completa” (João 16,24b).
A súplica insistente dirigida a Deus nunca fica sem resposta se ela, de fato,
se fundamenta numa necessidade real que contribuirá para a própria salvação
eterna e para a glória de Deus. Tantas vezes se esquece de que o tempo de
Deus não é o tempo do ser humano e, portanto, ele atenderá quando na sua
onisciência infinita julgar ser o momento oportuno. O certo é que os clamores
dirigidos ao céu não são lançados no vazio, mas são recebidos amorosamente por
um Deus sumamente misericordioso, justo, bem diferente do juiz injusto da parábola.
O fundamento da oração do cristão é a promessa de Cristo e a presença
iluminadora do Espírito Santo que orienta o que pedir e como pedir sem
desanimar nunca. É preciso, porém, aguardar o fruto espiritual das súplicas
dirigidas a Deus. Eis por que o fiel acata a maneira pela qual será atendido no
tempo oportuno. Isto é uma demonstração de total confiança no seu Senhor. Ao
rezar, implicitamente, o orante está a dizer a Deus que quer o que Ele
determina na sua sabedoria infinita e se dispõe a servi-lo com um coração
sincero e reto. O caminho da oração é um caminho interior que cada um deve
percorrer mesmo porque Deus conhece o íntimo do suplicante e o alcance daquilo
que ele Lhe solicita. Para isto é necessário a abertura humilde e radical de
todo o ser daquele que ora e que se entrega confiante nas mãos do Ser Infinito.
O modo de agir de Deus difere radicalmente da maneira de proceder do juiz
perverso e corrupto que atendeu para se livrar da importunação da viúva. Seu
ponto de referência não era a justiça que deveria ministrar. Entretanto,
infelizmente, é o mesmo que acontece nos tribunais humanos nos quais interesses
escusos muitas vezes prevalecem. Jesus nos leva então a compreender que, se um
juiz malvado fez justiça devido à insistência da pobre viúva, muito mais fácil
é conseguir do Pai celeste todas as coisas boas de que temos necessidade, Basta
lhe pedir com um mínimo de humildade e perseverança. Nada de hesitações, de
desconfiança no poder e na bondade do Pai celeste. O essencial é ter amor e humildade
no momento da oração. A consciência da dependência de Deus deve fundamentar a
prece do autêntico cristão. Deus quer que insistamos nos pedidos a Ele feitos
porque também isto aumenta a nossa fé e nossa esperança. O orante deve ter
certeza de que nada lhe é simplesmente devido e assim não se deve nunca cair no
orgulho, exigindo de Deus o que Lhe é solicitado. Então todos os ingredientes
de uma prece agradável a Deus têm seu fundamento numa crença inabalável pela
qual se crê que um dia Jesus voltará e deverá para fazer resplandecer a justiça
sobre aqueles que acreditaram e, assim, perseveraram numa prece ardente. É
preciso, de fato, atenção à indagação de Jesus “O filho do homem à sua vinda,
achará acaso fé sobe a terra”? Esta espera de sua vinda para o juízo final
fortalece a fé e os pedidos constantes da proteção divina. Fé que alcança
continuamente os favores celestes, frutos da oração persistente. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário