FELIZES
OS SANTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na comemoração de todos os santos
recordamos as oito bem-aventuranças que mostram como os seguidores de Cristo devem
pautar a sua vida (Mt 5, 1-12). Elas constituem o código da verdadeira felicidade.
È um caminho a ser trilhado em contraste com o espírito e a maneira de viver do
mundo com suas falsas ilusões É preciso apreciá-las sob as luzes divinas e,
sobretudo, praticá-las. Na festa de todos os santos não se trata apenas de
venerar aqueles que nos deixaram e fizeram o bem aqui na terra. Entre eles
inúmeros foram e serão canonizados e cujos exemplos magníficos os fiéis
procuram imitar. Há, porém, milhares de outros desconhecidos que encarnaram na
sua existência virtudes extraordinárias. Além disto, existe nesta terra um sem
número de batizados nos quais resplandece uma santidade eminente. São aqueles
que, imersos na espiritualidade do Deus três vezes santo lutam tenazmente
contra o pecado, vivendo intensamente a graça santificante. É uma solenidade
que lembra a comunhão maravilhosa dos santos, homens, mulheres e crianças de
todas as línguas, história e cultura, os quais cultivam o despego das coisas
materiais, são mansos e humildes de coração, têm fome e sede de justiça, são
misericordiosos, puros de coração, irradiam a paz, muitas vezes são perseguidos
pelos maus e injustos, mas têm os olhos voltados para o céu, a cidade eterna
dos bem-aventurados. Assim os que já lá se acham e aqueles que ainda estão
nesta terra são um convite a viver e a crescer na perfeição todos os dias pela
paciência, simplicidade, compaixão, perseverança na luta constante contra as
insídias diabólicas e as insinuações perversas dos meios de comunicação
social. Estes oferecem, as mais das
vezes, uma felicidade artificial e armam ciladas aos incautos. Através das
bem-aventuranças Jesus convida a todos para entrarem no mistério da verdadeira alegria,
da autêntica ventura. Entretanto, não é fácil percorrer as sendas desta riqueza
espiritual, crescendo sempre na culminância existencial como os que já chegaram
à Casa do Pai, os quais cultivaram as bem-aventuranças em todas as suas
dimensões. Contudo no atual contexto erotizado é necessário mentalizar,
sobretudo, esta bem-aventurança: “Bem-aventurados os puros, porque eles verão a
Deus”, conscientizando-se da necessidade de não se deixar persuadir pelas
mensagens deletérias que chegam a cada um, vindas da falta de modéstia, das
aberrações sexuais transmitidas pela televisão e pela imprensa em geral. Àquele
que repele os absurdos que vão frontalmente contra o sexto e o nono mandamentos
é que foi prometida a visão beatífica de Deus. É necessário nunca se esquecer
de que os olhos são as lâmpadas do corpo e que os olhares puros tornam o
cristão luminoso, imune da perversidade do pecado. Está claro no salmo 36 que é
pela luz que nós vemos a luz (Sl 36,9). O contrário também é verídico, ou seja,
é pelos olhos que o batizado se deixa tantas vezes se manchar. Trata-se, portanto,
de permitir que entre em si a luz da fé que eleva o fiel àquele nível que o
torna capaz de já usufruir da união com Deus neste mundo e, depois, digno de contemplá-lo
face a face na eternidade. Para os santos crer significa ver já
neste mundo as realidades sobrenaturais nas quais encontra a verdadeira bem-aventurança.
O olhar do batizado se purifica na medida em que ele se deixa impregnar da
esperança. Então ele vive intensamente a expectativa da vida eterna e tem o seu
coração limpo, afastando corajosamente tudo que denigra sua alma, através das
paixões deletérias. Os santos que chegaram à visão beatífica tiveram sempre um
olhar repleto de fé, esperança e amor a Deus e ao próximo, um olhar
verdadeiramente teologal. Trata-se de um processo contínuo de transformação na
luta perseverante contra o mal. Para isto é preciso que a santidade de Deus penetre
no mais profundo do ser humano. Como diz o salmista é aquele que tem o coração
puro e mãos inocentes é quem subirá à montanha do Senhor, procurando
continuamente a face de Deus. Ninguém pode ser santo se não deixar Cristo reinar
nele. Do mesmo modo que a multidão dos santos lavaram suas vestimentas no
sangue do Cordeiro, participando de suas provações, é que se pode aspirar a uma
santidade que leva à vivência das bem-bem-aventuranças, procurando cada um se
purificar e santificar pelo olhar puro em todas as circunstâncias. Então quando
o Filho de Deus aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque nós O veremos tal
como Ele é (1 Jo 3,2). Quem cultiva as bem-aventuranças pode repetir com São
Paulo: ”Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim" (Gl 2,20). O
cristão valoriza o seu batismo, cada vez que renuncia ao mal, pois, de fato,
quem adere ao pecado expulsa a Deus de seu coração. Quem vive as
bem-aventuranças, tendo sempre um olhar puro por entre as mazelas deste mundo,
possui a garantia de que, um
Dia contemplará a
Deus face a face. Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.
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