01 CONSTÂNCIA NA
FÉ E NAS PROVAÇÕES
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
À fragilidade
das obras humanas Jesus opõe a necessidade da constância, da firmeza nas
realidades sobrenaturais e perante as provações correspondentes a tudo que é contingente.
(Lc 21, 5-19). Com efeito, diante do
templo de Jerusalém, guarnecido com belas pedras e dons, Ele afirmou a seus
discípulos: “De tudo que estais vendo, dia virá em que não ficará pedra sobre
pedra que não seja derrubada”, ou seja, vaticinou a ruina daquela grandiosa
construção. Entretanto alertou a seus seguidores: “Pela vossa constância é que ganhareis
as vossas almas”, isto é, garantiu que a perseverança na fé e nas provações da
vida garante a salvação eterna, não perecível. Portanto, alertou para dois
fatos inevitáveis: a efemeridade de tudo que é perecível e o valor da
persistência na fé apesar das provações. De fato, é preciso ter em vista a
fragilidade dos monumentos, das instituições, dos projetos humanos os quais se
apresentam como sólidos, mas que são em si frágeis, eles hoje existem amanhã podem
desaparecer. Seus ouvintes estavam maravilhados pela beleza daquele templo,
como também através dos tempos muitos estariam iludidos com as realizações
proporcionadas pelo progresso tecnológico. Em qualquer época o ser humano é
vulnerável e a história registra inúmeros cataclismos, terrorismo internacional,
pestes, fome, guerras, tudo isto aterrorizando a humanidade. Eis porque Ele
aconselhava a construir para a eternidade onde tudo fica solidificado. A fé e a
confiança nele deverão então proporcionar o rochedo sólido que nada poderá
destruir. Eis porque na Missa, após a consagração, o celebrante diz: “Eis o
mistério da fé” e todos respondem repletos de certeza: “Nós proclamamos tua
morte, Senhor Jesus, nós celebramos tua ressurreição, vinde Senhor Jesus”. É
que a Boa Nova, mensagem do Filho de Deus, é sempre atual e cumpre recebê-la na
vida. Trata-se da certeza da presença viva do divino Redentor na existência dos
cristãos aqui, agora e por todo sempre. Algo, portanto, indestrutível. O seu
discípulo olha o futuro, mas vive intensamente o presente no qual constrói o
que é permanente e inelutável. Jesus prometeu: “Nenhum cabelo de vossa cabeça
perderá” (Lc 21,18). Sua presença é reconfortante não obstante todas as
tormentas. Num mundo mutável, nas vidas de cada um, em tudo que vai fatalmente
passando, no meio de tantas confusões religiosas, éticas, políticas o
verdadeiro cristão tem onde se apoiar que é o seu Senhor Jesus Cristo que com
ele caminha mostrando como chegar um dia à Casa do Pai. Eis porque seu
discípulo ante os preconceitos e a indiferença do atual contexto histórico não
desamina nunca e conta com outra promessa de Cristo: “Eu vos darei uma
linguagem e uma sabedoria à qual vossos adversários não poderão resistir, nem se
opor" (Lc 21,14-15). Sobretudo nas celebrações eucarísticas se encontra a
fonte da fortaleza interior, celebrando Aquele que faz renascer da água e do
Espírito Santo através de seu Corpo e Sangue que transforma a vida humana tão
frágil numa vida eterna já começada aqui na terra. Jesus vem a cada instante
para junto daquele que O invoca com unção e vigor, sem cessar, tendo uma visão
sábia do fim último de cada um e de toda a história do mundo. É deste modo que
se humaniza em ato a presença de Deus. Cada um realizando com todo entusiasmo e
espírito de fé as tarefas específicas que a Providência lhe confiou. Trata-se
da vivência plena do cotidiano, vivido sempre junto daquele que é o Senhor de
tudo. É o traduzir de maneira existencial o conselho de Jesus: “Pela vossa
perseverança, ganhareis vossas almas”. Este perseverar significa utilizar os
dias que Deus concede para que com as ações diárias se construa um edifício na
vida eterna o qual não será nunca destruído O verdadeiro cristão sabe que sua
união com Cristo o faz avançar, progredindo sempre, jamais retrocedendo. Jesus
quer que seu seguidor tenha uma visão clarificada de seu futuro além-morte. Ai
daqueles que, por serem seres pensantes, julgam poderem por si mesmos provar
sua superioridade, enfrentando os desafios que surgem. Então aquilatam
erroneamente que não têm necessidade de Deus e se tornam vítimas de seu próprio
orgulho. Deste modo, provocam a Deus contradizendo o que Cristo afirmou: “Sem
mim nada podeis fazer”. A vaidade humana, se não é vencida, acaba levando a uma
grande catástrofe pessoal por não reconhecer que longe de Deus sua
vulnerabilidade o conduz a desgraças fatais. Tentando desafiar a morte com suas
próprias forças, vai ao encontro de todas as desventuras, pois é impossível
suplantar os planos divinos. Estes oferecem a felicidade completa não neste
mundo, mas na eternidade junto dele. A audácia humana obsta a muitos a trilharem
os caminhos de Deus e isto os impede de obter a salvação eterna. Felizes os que
se apoiam, não nas ilusões humanas, mas naquele que, mesmo tendo sido pregado
numa cruz e nela morrendo, ressuscitou, vencendo todos os tormentos e abrindo
para seus seguidores uma perspectiva de eternidade feliz graças ao seu poder
divino. # Professsor no Seminário de
Mariana durante 40 anos
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