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A ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Morte e ressurreição é o tema do
Evangelho do 32o domingo do tempo comum (Lc 20, 27-38). Vindo a este
mundo Jesus, que é a Ressurreição e a Vida, ao responder as questões dos
Saduceus, firmou sua doutrina sobre a ressurreição dos mortos. A vida depois da
morte está além de todas as imagens e de todas as barreiras que possamos
conceber. Não será uma nova vida, mas será a mesma vida, porém liberta de todos
os limites da existência presente, igual a dos anjos. Ressuscitaremos para uma
felicidade eterna. O certo é que a vida humana não acaba na hora da morte, mas
é transformada para um estado melhor e por toda a eternidade. Os saduceus não
acreditavam na ressurreição e por isto propuseram a Jesus uma questão para ridicularizá-la.
Eles imaginavam a ressureição com categorias meramente terrestres. Jesus
pacientemente lhes mostra que a ressurreição não será como na nossa realidade
humana, não uma espécie de vida recomeçada, uma mera reanimação dos cadáveres.
Trata-se antes de reviver para sempre uma relação pessoal com Deus que é o Deus
dos vivos e não dos mortos, “porque para Ele todos vivem”. Crer na ressurreição
é ter certeza absoluta da vitória sobre a morte. O Deus dos vivos garante aos
mortais a vida eterna. No cerne da fé
cristã há a esperança da ressurreição. Jesus que morreu, ressuscitou ao
terceiro dia imortal e impassível, Ele é a fonte de toda a vida. Os seres
humanos estão destinados a morrer, não, porém, a desaparecer no nada, mas têm a
promessa de seu Redentor que pôde afirmar: “Eu sou a
ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto,
viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. (João
11,25-26). A ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança cristã diante da
realidade universal da morte. Esta realidade do fim da vida terrestre de todos
os homens e mulheres; os fluxos do tempo têm sido o ponto de partida de
numerosas reflexões filosóficas e religiosas. Dependendo da resposta que se dá
ao sentido da morte é que se determinará o sentido da vida. Para o cristão, “um
por todos, Cristo aceitou morrer na cruz para nos livrar a todos da morte”.
Entregou de boa vontade a vida, para que pudéssemos viver eternamente”, como
está no segundo Prefácio dos mortos. Eis
porque o seu seguidor habita a casa da esperança e vive em função desta
realidade sublime. A
teologia da morte é um dos capítulos mais belos do credo cristão. É que
nascemos para morrer, mas morremos um dia para viver eternamente junto de Deus.
A resposta que Jesus deu aos saduceus sublinha a estreiteza de vista de seus
interlocutores que imaginavam após a morte uma vida à semelhança da existência
neste mundo, a vida além-túmulo como um simples prolongamento da vida
terrestre. Tal interpretação significa desconhecer as Escrituras e o poder de
Deus. Jesus cita, com efeito, a célebre passagem da sarça ardente do livro do
Êxodo: “Deus não o Deus dos mortos, mas dos vivos” o que implica que o Senhor
“não pode abandonar seu amigo à morte, nem deixá-lo ver a corrupção” como
proclama o salmo 16. A lição de Jesus deve levar o cristão a se interrogar sobre
a maneira pela qual a interpreta. Com efeito, muitos se colocam num horizonte
de concepções humanas da vida e da morte e não se deixam guiar pela verdade
total à luz do Espírito Santo. A fé na participação do batizado na ressurreição
de Cristo se funda sobre sua Palavra, confirmada pelo Pai e atestada pelo
Espírito Santo. O objeto da certeza da ressurreição pessoal de cada um está
neste Deus Todo-poderoso como escreveu São Paulo aos Coríntios (1 Cor 2,9). O
problema levantado pelos saduceus não tinha razão de ser, porque o estado da
humanidade glorificada não necessitará mais da procriação no sentido no qual se
viveu na condição terrena. Homem e mulher se amarão em Deus que lhes dará parte
no Espírito Santo na fecundidade de seu amor divino infinito. Por isto São
Paulo aconselhava aos Colossenses a tenderem “para as realidades do alto e não
para as da terra” (Col 3,1-40). Crer na ressurreição não é somente falar de
algo após a morte, mas também dar um sentido à vida neste mundo. Esta é o
caminho para a eternidade onde se terá a plenitude do amor perene de um Deus
que é amor. Os atos nesta terra devem ser uma preparação contínua para receber
este amor eterno, tudo culminando na ressurreição por ocasião do Juízo Final. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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