SEGUIR JESUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
ordem dada por Cristo a seu seguidor foi taxativa: ”Se alguém quer ser meu
discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). A razão
de ser desta determinação é que Ele deve ser o ideal vivo, o guia de quem se
diz cristão. Esse precisa se modelar nele, caminhar com ele, apoiar-se nele,
valer-se dele em tudo. Aí está a exata compreensão da problemática cristã
sentida e vivida no dia a dia de cada um. O que Jesus ensinou supõe esteja
escrito no coração do seu discípulo, para que este não seja lhe infiel no
pensamento e no proceder. Urge todo o
cuidado para que não se busque no Filho de Deus o que agrada a si mesmo e não
corresponde plenamente ao que Ele ensinou. Portanto, para genuinamente seguir Jesus é
preciso ser levado por uma confiança absoluta nele a fim de agir sempre de
acordo com o acatamento que Ele merece. A imitação do Mestre divino implica então
uma fé profunda e uma cooperação plena com a graça que nunca falta aos de boa
vontade. Cumpre adotar todas as peculiaridades de sua vida. Deste modo, se verá
a transitoriedade das coisas deste mundo em relação às realidades espirituais e
eternas. A grandeza de Cristo e a de seu seguidor se mede aqui na terra pela
paciência e renúncias voluntárias. A imitação de Jesus, por isto mesmo, inclui
perseverança, não obstante as falhas humanas, pois é certo que Jesus nunca se
cansará de nós. De fato, seu amor é vivo e sem limites. Quando Ele proclamou: “Vinde
a mim vós que estais aflitos e sobrecarregados”. Ele não especificou volume da
carga, não limitou o tamanho do fardo. Garantiu, contudo, “Eu vos aliviarei”. O
alívio é Ele próprio, pois este lenitivo não se encontra em lugar nenhum, nem
em algum bálsamo terreno. Trata-se de uma ação total dele e dele tudo se pode
esperar. Donde feliz é aquele que a Ele se liga por uma adesão irrestrita de
todo o seu ser. Desta maneira, o cristão abriga o seu Senhor em si mesmo e tem
consciência da extensão e da profundidade desta passagem do profeta Jeremias: “Há
muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por
isso com benignidade te atraí” (Jr 31,3). Percebe deste modo o significado do
que Jesus afirmou: “Quando for levantado da terra, atrairei todos os homens a
mim” (Jo 12, 32). Ele atrai ao Calvário que é este lugar do esforço e do
sofrimento nobre. Nem todos, porém, entendem que apenas indo a Ele é que se
terá a plenitude da salvação. Vivendo, embora, o cristão num instante fugitivo e
imponderável, ele sente-se reconfortado porque está unido através de Cristo ao
Instante eterno. Nem todos também sabem ativar a vida religiosa para adquirir
uma profunda consciência de como Jesus é bom, robustecendo ininterruptamente a união
com Ele. Para isso se faz necessário afastar corajosamente interpretações vagas
sobre quem é Ele e sobre sua doutrina, para que se chegue a um conhecimento vital,
iluminador que sustenta uma existência realmente santa. Ao se ter plena
consciência do que é ser cristão, verifica-se um progressivo desenvolvimento.
Para isto nunca falta a iluminação divina que auxilia a afastar todos os
obstáculos para carregar a cruz de cada dia, seguindo os passos do Mestre
divino. Há dentro do cristão um poder de novidade que, sem nada anular, pode
mudar o sinal de tudo, transformar em mais o que era de menos, recriar em cada um
o ser espiritual e dar um valor absoluto ao que disse São Paulo: “Tudo concorre
para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8, 28). No seguimento de Jesus a vida do cristão
muda quando, da dissipação exterior, ele retorna ao que há em si de mais
profundo, ao que coincide de algum modo com o ato salvador que o coloca e
mantem no ser regenerado pela Cruz de Cristo. É este dinamismo clarividente que
leva o batizado ao bem em geral, concretamente, à felicidade de colocar seus
passos nos passos de Cristo. Toda a vida cristã deve ser uma assimilação de
tudo que está no Evangelho, o qual a nutre das verdades eternas. O correto
valor da vida não está na superfície, mas na profundidade da palavra divina,
agindo naquele que sabe seguir a Cristo que qualifica suas atividades com seu
poder divino. O cristão, assim, pode ultrapassar a si mesmo, dado que cada uma
de suas ações é uma semente que frutifica maravilhosamente multiplicando a possibilidade
de se identificar com Jesus, incessantemente O seguindo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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