O
TEMPO E A ETERNIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Do passado
devem-se tirar lições para corrigir erros cometidos e reconhecer o bem que foi
praticado, reparando as falhas e firmando os bons propósitos. O futuro precisa
ser visto com esperanças, confiança em Deus, numa disposição sincera de fazer o
melhor possível com um planejamento criterioso. O principal, porém, é saber
viver plenamente o instante presente, pois este é que está, de fato, ao alcance
de cada um em relação à eternidade. Deste modo é possível escapar ao peso do
tempo que foge, olhos fixos no interminável perpétuo após deixar este mundo no
qual irreversivelmente se ingressará. Assim sendo, comete um erro lamentável
alguém que a todo custo se prende ao mutável, esquecido da prestação de contas
que terá que fazer ao Senhor do tempo. A sabedoria está então em valorizar o
que é dado a cada um pela Providência divina em todo instante, aderindo ao bem
e nunca ao mal. Eis aí a tarefa da consciência moral dirigida nos caminhos
traçados por Deus através de seus mandamentos. Para isto nunca falta o auxílio
divino continuamente implorado, pois sem este auxílio ninguém pode se salvar,
desprendendo-se do efêmero e não caindo em aberrações éticas. Caminhar sempre
para frente em direção ao Infinito, sem se deixar fechar no que é limitado,
transitório. Não é nunca fácil ser livre, libertando-se da escravidão de si
mesmo. Endeusar as ninharias é aniquilar as grandezas que precisam ser
desejadas e vividas. O segredo do sucesso é sair de si mesmo almejando as realidades
imperecíveis, abandonando as vaidades fúteis. Ao chegar o instante da morte o
que vai trazer desgosto é o ilusório buscado pelo próprio gosto pessoal que
malbaratou o que realmente teria valor para uma recompensa perenal. Boas ações
necessitam ser praticas aqui e agora, dado que não existirão boas ações
póstumas à saída deste mundo. O mérito e o demérito marcam definitivamente para
a eternidade tudo que é feito no tempo presente, tendo cada um convivido
familiarmente com a virtude e aborrecido os vícios. É preciso ter sido luz para
poder brilhar no perdurável ao deixar esta terra. Felizes, de fato, os que
valorizam a conduta diária não deixando para amanhã o bem que podem fazer, pois
nada fica indefinido para duração eviterna depois da caminhada no tempo
concedido por Deus. Daí a importância da reflexão seja no silêncio benéfico do
contato com a natureza e suas maravilhas espalhadas por Deus na paz dos
bosques, no farfalhar das árvores, na pulcritude das flores, na beleza das noites
num firmamento estrelado. Meditação no
silêncio de um templo onde no sacrário Cristo está à disposição dos que O amam.
Dá-se desta forma a importante renovação do coração numa prece ardente
procurando fruir o inefável do contato com Deus. Não se trata, portanto, de se
desprender do tempo, mas de explorá-lo tendo em vista o eviterno, o
imperecível, o infindável. Notável por tudo isto o conselho de Santo Efrém: ”Espera
todos os dias o fim da vida nesta terra e prepara-te para a viagem sem retorno
da eternidade”. Aliás, Jesus alertou: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro,
se chegar a sofrer
dano em sua alma? Ou com que preço há de o homem resgatar a sua alma?” (Mt
16,26). É que como está na carta aos hebreus “Não temos
aqui (na terra) estadia permanente, mas demandamos a vindoura" (Hb 23,14). Donde ser necessário compreender a eloquência da eternidade. Felizes os
que ao deixar esta terra puderem repetir com São Paulo: "Combati o bom
combate, cheguei ao termo de minha carreira, guardei a fé. Desde agora me está
preparada a coroa de justiça, que o Senhor me há de dar em prêmio, naquele dia,
ele, o justo juiz, não só a mim, mas também a todos os que tiverem aguardado
com amor a sua gloriosa manifestação”. (2
Tm 4,7-8) * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário