sexta-feira, 17 de agosto de 2018

|O tempo e a eternidade


                                            O TEMPO E A ETERNIDADE
                                   Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Do passado devem-se tirar lições para corrigir erros cometidos e reconhecer o bem que foi praticado, reparando as falhas e firmando os bons propósitos. O futuro precisa ser visto com esperanças, confiança em Deus, numa disposição sincera de fazer o melhor possível com um planejamento criterioso. O principal, porém, é saber viver plenamente o instante presente, pois este é que está, de fato, ao alcance de cada um em relação à eternidade. Deste modo é possível escapar ao peso do tempo que foge, olhos fixos no interminável perpétuo após deixar este mundo no qual irreversivelmente se ingressará. Assim sendo, comete um erro lamentável alguém que a todo custo se prende ao mutável, esquecido da prestação de contas que terá que fazer ao Senhor do tempo. A sabedoria está então em valorizar o que é dado a cada um pela Providência divina em todo instante, aderindo ao bem e nunca ao mal. Eis aí a tarefa da consciência moral dirigida nos caminhos traçados por Deus através de seus mandamentos. Para isto nunca falta o auxílio divino continuamente implorado, pois sem este auxílio ninguém pode se salvar, desprendendo-se do efêmero e não caindo em aberrações éticas. Caminhar sempre para frente em direção ao Infinito, sem se deixar fechar no que é limitado, transitório. Não é nunca fácil ser livre, libertando-se da escravidão de si mesmo. Endeusar as ninharias é aniquilar as grandezas que precisam ser desejadas e vividas. O segredo do sucesso é sair de si mesmo almejando as realidades imperecíveis, abandonando as vaidades fúteis. Ao chegar o instante da morte o que vai trazer desgosto é o ilusório buscado pelo próprio gosto pessoal que malbaratou o que realmente teria valor para uma recompensa perenal. Boas ações necessitam ser praticas aqui e agora, dado que não existirão boas ações póstumas à saída deste mundo. O mérito e o demérito marcam definitivamente para a eternidade tudo que é feito no tempo presente, tendo cada um convivido familiarmente com a virtude e aborrecido os vícios. É preciso ter sido luz para poder brilhar no perdurável ao deixar esta terra. Felizes, de fato, os que valorizam a conduta diária não deixando para amanhã o bem que podem fazer, pois nada fica indefinido para duração eviterna depois da caminhada no tempo concedido por Deus. Daí a importância da reflexão seja no silêncio benéfico do contato com a natureza e suas maravilhas espalhadas por Deus na paz dos bosques, no farfalhar das árvores, na pulcritude das flores, na beleza das noites num firmamento estrelado.  Meditação no silêncio de um templo onde no sacrário Cristo está à disposição dos que O amam. Dá-se desta forma a importante renovação do coração numa prece ardente procurando fruir o inefável do contato com Deus. Não se trata, portanto, de se desprender do tempo, mas de explorá-lo tendo em vista o eviterno, o imperecível, o infindável. Notável por tudo isto o conselho de Santo Efrém: ”Espera todos os dias o fim da vida nesta terra e prepara-te para a viagem sem retorno da eternidade”. Aliás, Jesus alertou: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se chegar a sofrer dano em sua alma? Ou com que preço há de o homem resgatar a sua alma?” (Mt 16,26). É que como está na carta aos hebreus “Não temos aqui (na terra) estadia permanente, mas demandamos a vindoura" (Hb 23,14). Donde ser necessário compreender a eloquência da eternidade. Felizes os que ao deixar esta terra puderem repetir com São Paulo: "Combati o bom combate, cheguei ao termo de minha carreira, guardei a fé. Desde agora me está preparada a coroa de justiça, que o Senhor me há de dar em prêmio, naquele dia, ele, o justo juiz, não só a mim, mas também a todos os que tiverem aguardado com amor a sua gloriosa manifestação”.  (2 Tm 4,7-8) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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