quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O AMOR DE DEUS


O AMOR DE DEUS
                                    Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se medita demais esta sentença de Cristo: Se alguém me amaguardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele a nossa morada (Jo 23,14)”. Guardar o que Jesus ensinou supõe, porém, renúncia. Ser um em Deus inclui estar consciente de sua lei, disposto a obedecer persistentemente o decálogo. É o amor de Deus que traçou o caminho no qual ser humano O pode possuir. Para isto não se deve colocar obstáculos na observância dos dez mandamentos. É o reconhecimento humilde do poder divino e de sua sabedoria sem limites. Quem despreza um dos preceitos dados pelo Criador se julga mais sábio do que Ele. Na comunhão com o Absoluto, no qual deve estar enraizada a criatura racional, encontra-se a força para permanecer fiel a Ele, sem se deixar sugestionar pelas aliciações do espírito maligno. Atingem-se então os cumes da verdadeira espiritualidade que leva a fugir de toda possibilidade de romper a adesão da alma a seu Senhor. Reina desta forma um amor espiritual entre a alma em estado de graça e o Ser Supremo que nela habita. É o resultado faustoso da abertura para o sobrenatural. Trata-se de uma atitude voluntária, sincera, que vai quebrando num esforço persistente os entraves que possam impedir a união com a vontade divina. Para isto cumpre transpor as barreiras criadas pelo egoísmo, pois o amor próprio entrava a plena união com Deus. É na medida desta doação de si mesmo que o ser humano se enriquece num sublime paradoxo. Dá-se, contudo, um alargamento interior, mesmo porque Deus só ocupa os espaços que livremente Lhe são oferecidos. Isto ocorre em virtude da atenção e estima que se passa a ter do Ser amado. Na vida espiritual é preciso uma transferência contínua do humano para o divino numa entrega sem reservas. na qual o amor longe de acorrentar liberta, pois projeta a criatura no seu Criador. Realiza-se o que Deus falou a Santa Catarina de Sena: “Ocupa-te de mim e ocupar-me-ei de ti”. Toda esta maravilha não está reservada apenas para os grandes místicos, dado que todo aquele que, verdadeiramente  busca o Senhor da vida, depara sempre a vida divina em abundância, recebendo-a com disponibilidade total. O fiel passa a compreender que pode amar a Deus sem interesse, sem cálculo e este amor quanto mais se acentua e consuma seu domínio mais fortifica o cristão na luta contra o mal e as tentações diabólicas. Deste modo, se tudo concorre bem para o cristão. Este reduplica seu agradecimento humilde a Deus, mas, se algo de mal acontece, ele se submete silenciosamente, recusa duvidar do amor deste Deus, firmando-se num confiança inabalável nele. Nunca duvida do amor deste Deus, crê neste amor e corresponde ao mesmo em qualquer situação. Quer os bens, quer os males o fazem crescer no amor de seu Senhor, porque não ama a si mesmo, mas deseja apenas o que é conforme aos desígnios divinos. Os teólogos ensinam que “amar-nos em Deus, amar a Deus em nós, é nos ligarmos ao ilimitado e abrir inteiramente as asas da esperança”. Caminhar para frente em direção ao ilimitado. É preciso contemplar sempre a luz da verdade sob a qual se deve viver. Amar a verdade é amar a Deus, a Verdade Suprema. Aí está o princípio do verdadeiro conhecimento. Com efeito, não conhecemos senão transformando-nos interiormente naquilo que conhecemos e, então, nos transformamos intimamente naquilo que amamos. Deste modo, o amor a Deus está nessa Verdade interior que resulta da presença inefável dele na alma que, de fato, O ama. Ele ama aquele que sabe não ser nada, para que aprenda a autêntica sabedoria. A força de Deus no cristão que O ama é feita da fraqueza humana. Eis por que somente os humildes podem captar a plenitude do amor divino e nunca o perde no vão orgulho pessoal. A humildade é que dispõe o cristão para os fins sublimes de sua intimidade com Deus num amor perseverante que precisa continuamente crescer. Em síntese, como diz o Livro da Imitação de Cristo: “Não há no céu nem na terra coisa mais doce, mais forte, mais sublime, mais ampla, mais deliciosa, mais completa, nem melhor que o amor. O amor nasceu de Deus, e não pode descansar senão em Deus, elevando-se acima de todas as criaturas”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40anos.


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