PALAVRAS DE VIDA ETERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Ao
anunciar Jesus o pão da vida, prometendo a Eucaristia, muitos O abandonaram,
dizendo “É dura esta linguagem, quem pode escutá-la”. Os que ficaram fiéis,
porém, deram o motivo de sua fidelidade: “A quem iremos, Senhor? Tu tens
palavras de vida eterna. (Jo 6, 60-69). Estas palavras, realmente, mostram que
Deus é amor e garantem a lucidez e a paz. Levam a crer neste Deus que nos ama.
Elas oferecem o sustento para a vida espiritual e dão a segurança de encontrar
a salvação. Quem as coloca em prática um dia verão novos céus e nova terra.
Através de suas palavras o Senhor perscruta o mais íntimo de cada um e quem
nele crê percebe sua mão carinhosa a lhe guiar os passos nesta terra. Quem vive
na luz das mensagens divinas não conhece trevas, pois elas conduzem para o
caminho da eternidade feliz. Mostram quão maravilhosas são as obras do Criador
e impedem a adesão aos ídolos terrenos, pois fazem perceber que o cristão
autêntico tem parte na herança dos santos. Felizes se sentem então os que trabalham no santo temor de Deus, pois
as palavras divinas produzem neles a vontade e a ação, sabendo que o Pai
celeste só lhes deseja o bem. Tudo
operam sem recriminação e sem desânimo,
irrepreensíveis e puros como filhos bem-amados e sem manchas mundanas. Por tudo
isto exaltam sempre as palavras proferidas por Jesus e nelas têm todo apoio, nada lhes podendo atemorizar. Claras as declarações de Cristo: “O espírito é
que vivifica, a carne para nada serve; as palavras que eu vos disse são
espírito e vida”. Eis aí a novidade trazida a esta terra pelo Filho de Deus,
mas para aceitá-la é preciso uma fé profunda oferecida pelo Pai do céu. Supõe simplesmente crer, numa esperança inabalável num novo universo
venturoso garantido por palavras de vida eterna, levando a uma abertura ao
mistério de Deus. Muitos dos discípulos de Jesus, segundo o Evangelho de hoje,
voltaram atrás e não andavam mais com Ele. Do desejo de seguir Jesus e da
atração para uma crença profunda há um passo a mais que todos nós devemos dar,
ou seja, uma conversão contínua porque os caminhos do Senhor são exigentes. Os
doze apóstolos ficarem firmes na fidelidade a Jesus, mas os outros
discípulos disseram: “É rude tal
linguagem, quem pode escutá-la?”. Não é fácil seguir Jesus e é por isto que a
cada semana nos reunimos em torno da Eucaristia para não nos deixarmos
esmorecer diante das falsidades veiculadas pelos meios de comunicação social e
de tudo que deslustra o Evangelho. Cumpre desatravancar nosso espírito, removendo
o que pode afetar a fé, desobstruindo os caminhos para a claridade celeste. A
vida espiritual supõe luta contínua visando a correspondência à graça. Este
combate é necessário para o crescimento em todas as virtudes. O espírito do
mundo é adverso ao espírito de Cristo e todo cuidado é pouco para poder sempre dissipar
as dúvidas. Não podemos ficar fiéis a Jesus com nossas próprias forças. É
preciso pedir os auxílios da graça, dado que Ele afirmou: “Ninguém pode vir a
mim se isto não lhe é dado pelo Pai”. O problema, portanto, não é perder a fé,
mas deixar de pedir a proteção divina para que venha em ajuda à fraqueza
humana. Crer e saber, como disse São Pedro: “Nós cremos e sabemos que tu és o
Santo de Deus”. É necessário, de fato, ter a fé para compreender tudo que Deus
revelou através de Jesus. O que muitos ignoram é que o conhecimento profundo de
Deus decorre da fé. É por isto que a fé desafia a lógica humana. Entretanto, na
nossa caminhada somos livres. Muitos discípulos abandonaram a Jesus. Este sabia
quais eram os que acreditavam e os que não mais criam nele. Não foi Jesus quem abandonou
os que não mais O seguiam, mas eles mesmos é que tomaram esta infeliz decisão.
Deus nunca se impõe. Ele se propõe. Pensemos nisto. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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