O AMOR FRATERNO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho
O
verdadeiro cristão combate continuamente o individualismo, consagrando ao
semelhante o melhor de si mesmo à luz do preceito de Cristo: “O que fizestes a
um dos menores destes meus irmãos a mim o fizestes” (Mt 25,40), Portanto, se
tudo aquilo que se faz ao próximo é feito a Jesus tem em si um valor eterno. É
preciso consequentemente toda a atenção uns com os outros no amor, na doação
contínua, sendo solícitos em tudo. Donde a necessidade de um diálogo fraterno
que leva à superação dos conflitos no trato diário em casa, nos lugares de
trabalho e de diversão, enfim na comunidade na qual se vive. Acolhida,
respeito, ajudas devem assinalar a conduta do seguidor do Filho de Deus. Tudo
isto inclui estreitar sempre mais os laços espirituais com nossos semelhantes,
consagrando-lhe o melhor de nossos pensamentos, de nossas vontades e de nossos
amores. O próximo que é preciso amar é um próximo humano em sua personalidade
única, impossível de confundir-se com outra ou com Deus, embora a amemos em
Deus e na comunhão de todas as outras pessoas com Deus. Trata-se de uma
solidariedade universal da qual resulta um intercâmbio de dons. Isto porque a
personalidade dos outros é uma riqueza incomparável também a nosso serviço. Trás
para nós crescimento, estímulo e retificação de procedimento, desde que se tenham
olhos para ver as virtudes alheias e não os seus defeitos. Todo julgamento
temerário deve ser afastado, mesmo porque somente Deus é o juiz de tudo, como
lembra o salmista (Sl 49,6). Os bens espirituais são partilhados através do
conselho oportuno, do bom exemplo, da oração. Deste modo, somos assim devedores
uns dos outros. O autêntico discípulo de Cristo sabe, igualmente, que toda
discussão é vã e feliz é aquele que sabe adivinhar a riqueza do coração do
próximo, irradiando a verdade com tato e diplomacia, contagiando o outro com
uma atitude coerente. Compreender o próximo é entrar na noite de seu coração
para levar-lhe o dia das luzes divinas. Nunca se deve esquecer que a verdade
religiosa aparecerá sempre mais ou menos na medida daquele que a anuncia. Levar
ao próximo palavras vividas e revividas, do contrário seriam palavras ocas,
improdutivas, inoportunas. O papel do imitador de Cristo não é expor a verdade,
mas de colocar o outro em face da verdade, na qual ele mesmo vive. Desta
maneira, a verdade será contemplada e acatada. É o poder indiscutível da
autenticidade de quem fala e deseja o bem do outro. É o glorioso apostolado da
santidade de vida, fundamentado este apostolado num mensageiro que encarna o
que fala. De tudo isto resulta a necessidade de uma profunda humildade que leva
ao combate da vaidade pessoal e à vã gloria que são estéreis e impotentes. É que “o amor é circunspeto, humilde e reto; não é frouxo,
nem leviano, nem vaidoso; é temperado, casto, firme, quieto e precatado na
guarda de todos os sentidos”, como ensina o Livro “Imitação de Cristo” (Liv V,
c..5). Então a comunicação com o próximo é de um valor inestimável, porque se
trata de comunicar Jesus com um estilo eletrizante. Assim sendo, a relação com
os outros não se realiza através de laços verbais inconsistentes, mas de ações
produtivas, beneficentes e ativas. Disto resulta a paz fortalecida pela
caridade. Não adianta amar a paz se não há um combate persistente às paixões contrárias
ao amor ao próximo. Eis por que São Paulo mostrou que a caridade é paciente, é
benigna; a caridade não é ciumenta, não é orgulhosa, não é indecorosa; não é
interesseira, não se irrita, não guarda rancor; não folga com a injustiça, mas
alegra-se com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre“ (I
Cor 13,4-8). Esta é a paz que vem de Deus e da qual o caridoso é o mensageiro
na sua vida cotidiana. É uma paz que se alimenta no amor do Pai e do Filho no
Espírito Santo. O cristão é chamado a ser o portador desta paz, que segundo
Santo Agostinho, é “a tranquilidade da ordem”, sendo dela o artífice através de
uma irradiante fraternidade. Entre todas as afeições, entre todos os movimentos
de coração, entre todas as virtudes o amor fraterno deve então presidir e
reinar porque todos somos filhos de Deus e “Deus é amor”, como bem se expressou
São João (1 Jo 4,8). A caridade fraterna deve reger e temperar todas as ações
do cristão. Com efeito, Deus, tendo criado o homem a sua imagem e semelhança, quer
que nele tudo seja ordenado pelo amor e para o amor. Eis por que aos gálatas
São Paulo ensinou que “toda a lei compendia-se nesta simples palavra: ”Amarás
ao teu próximo como a ti mesmo” (Gál 13-14).*
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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