quarta-feira, 28 de junho de 2017

BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS POR CAUSA DA JUSTIÇA

BEM-VENTURADOS OS PERSEGUIDOS POR CAUSA DA JUSTIÇA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Deste modo Jesus proclama a oitava Bem-aventurança: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque o reino dos céus é para eles”. Nesta beatitude estão incluídos todos os que praticam qualquer virtude e por causa ela são objeto de perseguição. São os que fazem o bem e vivem intensamente a lei de Deus. Estes são uma proclamação profética do Reino eterno de Deus e sua vida é uma contradição viva a todas as ilusões mundanas. Disto resulta uma luta interior e exterior. Batalha interior diante de tudo que as aliciações satânicas falsamente prometem e perante as quais é preciso perseverança invencível. Lutas exteriores dado que a fidelidade a Cristo é combatida de mil formas, estando, por exemplo, em nossos dias a serviço do mal os meios de comunicação social com tantas mensagens deletérias visando desmoralizar o Evangelho. Jesus, porém, alertou: “Surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos E, por se ter multiplicado a iniquidade esfriar-se-á a caridade de muitos. Mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt 24,11-14). A conformidade com a vontade de Deus torna o cristão um justo, aquele que almeja o Reino dos Céus por causa do qual são perseguidos. Portanto, esta justiça a que se refere Jesus nesta bem-aventurança não  é nem a justiça escatológica que consistirá no triunfo definitivo do bem e dos bons oprimidos, nem a justiça transcendente de Deus que se manifestará no juízo final com o castigo dos perversos e a glorificação dos probos. Trata da observância constante dos mandamentos da lei divina, da perfeição moral cristã que leva a conformar-se com a vontade profunda de Deus. Na trajetória dos justos, porém, estão armadas todas as ciladas dos insensatos, resultado da tirania dos embustes diabólicos. Felizes, contudo, os que não se deixam enredar por tudo isto por causa da justiça do Reino de Deus. A vida dos justos está nas mãos de seu Senhor e eles não sucumbem perante os ataques dos maus. O justo tudo suporta porque sua existência se firma nos valores essenciais que emanam do Criador ao qual dão uma adesão inabalável, sustentados pela graça de seu Senhor. O que procura a justiça de Deus se torna assim um mártir, ou seja, aquele que testemunha e mostra que a felicidade só se encontra no cumprimento dos preceitos dados pelo Ser Supremo. Este testemunho deve durar até a morte e isto exige determinação, coragem sem tréguas. Trata-se de uma tomada de posição consciente baseada na fé, no sentido profundo da vida cristã. Isto leva ao confronto com a mentalidade mundana que busca prazeres transitórios e menoscaba a doutrina pregada pelo Filho de Deus. Extraordinária precisa ser a determinação do seguidor de Cristo.  É uma direção na vida contrária aos ditames das paixões e desordens morais daqueles que não creem na vida eterna. Claras as palavras de Jesus: “Se o mundo vos odeia, ficai sabendo que, primeiro do que a vós, odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que é seu, mas, porque não sois do mundo, ao contrário, eu vos separei do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia (,,,) Se perseguiram a mim, também a vós hão de perseguir” (Jo 15,18-20).. A Timóteo, que enfrentava perseguições, afirmou São Paulo: “Todos aqueles que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tim 3,12). A perseguição às vezes é sutil, disfarçada, hipócrita, como também  pode ser até violenta e são muitos os que sofrem por ostentar o nome de cristão ou por adotar um comportamento exemplar, execrando as injustiças ou práticas éticas condenáveis. Viver uma vida justa é insuportável aos injustos. Os justos são essencialmente diferentes daqueles que vivem segundo suas aberrações éticas. Há nos justos algo que condena o erro, a desordem. O cristão autêntico é aquele que repete com  São Paulo: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20) e porque o mundo vê nele Jesus, o mundo e seus sequazes o perseguem. O mesmo Apóstolo advertiu: “As tendências da carne são inimigas de Deus (Lc 6,26). O justo ostenta as disposições do Espírito e, por isto exercem em tudo a justiça e os injustos o têm como inimigo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 27 de junho de 2017

BEM-AVENTURADOS OS PACÍFICOS

BEM-AVENTURADOS OS PACÍFICOS, PORQUE SERÃO FILHOS DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A sétima bem-aventurança é um convite vibrante para a construção da paz, não obstante os conflitos interiores e exteriores do ser humano nesta terra. Trata-se de uma obra de conciliação e de concórdia. É preciso construir a paz consigo mesmo e com os outros para poder estar em paz com Deus. Não é uma paz estática, mas dinâmica, uma vez que a vida do homem nesta terra é uma luta” (Jó 17,1 in Vulgata). Cristo, aliás, asseverou: “Não vim trazer paz, mas a guerra” (Mt 10,34). Se assim é, como ser artífice da paz?  Num mundo dividido entre o bem e o mal a batalha ininterrupta é contra o mal para que reine sempre o bem dentro de cada um, irradiando esse bem para o próximo e caminhando persistentemente no amor do Deus da Paz. Trata-se de um movimento contínuo e não de um mero repouso existencial. A verdadeira paz não leva à imobilidade, mas conduz o seguidor de Cristo a estar a desfazer sempre os nós da perversidade, da discórdia, da divisão.  Ser pacífico é, deste modo, agir, edificando uma relação consciente que conduz à unidade interior e exterior. Eis porque se deve pedir sempre a Deus: “Unifica meu coração para temer o teu nome”  (Sl 86,11, pois num coração dividido não reina a paz. Esta, porém, reinando no íntimo do fiel se expande na união com os irmãos. Lembra Davi: “Oh! como é belo, como é prazenteiro o convívio de muitos irmãos juntos (Sl 133,1). Então o cristão pode se imergir na serenidade divina. Dá-se o que preconizou São Paulo: “E a paz de Deus que supera todo o conceito, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus”. O cristão se torna deste modo um portador vivo da quietude ativa. Esta beatitude traz consigo um vasto ensinamento na luta contra a inquietação, a altercação e o afastamento de Deus. O caminho inverso ocorre porque o cristão passa a reconhecer Deus no outro numa admirável reconciliação a qual toma conta de todo o seu ser, tranquilo no amor ao próximo e ao Criador de tudo. Isto acontece porque o cristão faz parte de um povo no qual o Espírito divino é mais poderoso do que a guerra e em Cristo cada um se torna uma vinha que traz consigo  o fruto delicioso da paz pelo qual todos se mostram irmãos. Os pacíficos, contudo, trilham um caminho de sacrifício total, dado que não é fácil estar em paz consigo mesmo, com o próximo e com o Criador, pois o orgulho é um obstáculo que deve ser removido. Somente assim se anatematiza o agitamento pessoal e se passa a conviver com sabedoria com o próximo e com o Senhor Onipotente. Deste modo, se conhece a verdadeira paz em ação persistente, sem as oscilações nefastas que pode levar o cristão a se martirizar e a ofender os outros e a Deus. Afastados os óbices,  o destino do pacífico é usufruir a imperturbabilidade, entoando um poema de amor, um hino de vida para quem se acha em seu derredor e percebendo ao vivo as maravilhas de Deus por toda parte. Tal é o destino do artista da paz, ou seja, lançar onde estiver uma mensagem luminosa de  serenidades, erguendo a obra da verdadeira dileção. Para cultivar a  paz consigo mesmo é necessário reservar momentos de silêncio interior, colocando em ordem os pensamentos e desejos, longe do bulício exterior. No relacionamento com o próximo é preciso estar consciente de que a paz se constrói a cada dia no diálogo, com o coração aberto, com os ouvidos prontos a escutar, saindo da emotividade mal ajustada, evitando tudo que possa ferir o outro. Se este é quem nos ofende, deixar para dar explicações quando for oportuno, perdoando imediatamente qualquer ofensa. Então se poderá dizer a Deus: “Perdoai nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Cumpre repetir sempre: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso. Além disto, nunca  querer enquadrar os outros nos próprios moldes mentais, por vezes, tão estreitos.  “Shalom Aleichem", foi uma saudação frequentemente utilizada por Jesus e que significa "a paz esteja convosco". Este deve ser também o desejo continuado de seu seguidor, inebriado na paz de Seu coração amabilíssimo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 24 de junho de 2017

BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS

BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A intenção de Jesus ao proclamar bem-aventurados os misericordiosos é fazer com que seus seguidores cresçam sempre mais na clemência num esforço consciente. É evidente que apenas pela graça divina este empenho leva, de fato, a um crescimento interior profícuo. Há necessidade de um contínuo combate ao egoísmo deletério. Deve-se, contudo, partir da compreensão de si mesmo, dado que não pode o cristão se entregar a um estado de aflição íntima diante de suas falhas humanas. Reconhecidas estas fraquezas e delas se penitenciando, inicia-se a caminhada para fora de si mesmo rumo à preocupação com o próximo, merecedor de compaixão, Neste caso uma atitude sensível diante da conduta dos outros ajuda, e muito, inclusive o sistema neurofisiológico que fundamenta nossa existência biológica. Deste modo, um discípulo de Jesus bem estruturado pode usufruir dos benefícios espirituais da misericórdia. É uma desgraça se entregar à morte afetiva. O sentimento de compaixão conduz às regiões da sensibilidade e, partindo das emoções, abre espaço para a expansão dos atos da caridade. Eis porque, cada um precisa ser, no sentido mais profundo, cuidadoso o seu respeito. Aqui vale o conselho socrático: “Conhece-te a ti mesmo”. Então, se entenderá melhor a determinação de Cristo: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso”. Verifica-se um triângulo salutar, ou seja, o ser humano misericordioso consigo mesmo imita o Pai que está nos céus e multiplica ações misericordiosas para com o próximo. Não ocorre um processo linear, mas circular de efeitos admiráveis.  Longe de se fazer vítima de suas misérias, o cristão não se martiriza perante seus erros, mas entra numa rota de revisão de vida olhos fixos no oceano infinito de bondade que é o Senhor do universo. Passa naturalmente então a olhar os outros com comiseração. Surgem, desta maneira, as obras de misericórdia temporais e espirituais.  As obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir os enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. As espirituais são: dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os aflitos, sofrer com paciência as fraquezas do próximo, rogar a Deus pelos vivos e defuntos. Quaatorze extraordinários degraus na ascensão rumo à perfeição cristã. Quem as pratica se vê guindado a uma transformação maravilhosa de si mesmo e dos outros com quem convive. A solidariedade se torna, em consequência uma fraternidade responsável. Mais do que um mero perdão cria-se um vínculo profundo que salva e redime. Brilha a compaixão ativa, eficiente, prática. Dentro desta consideração cintila a veracidade dos dizeres de Jesus: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. O resultado é imediato. Tudo se dá a nível da cordialidade consigo mesmo, à luz da bondade infinita do Criador, envolvendo os semelhantes nas ondas da serenidade. Nem sempre se capta esta realidade, porque não se atina com a etimologia da palavra misericórdia que é composta pelos termos miseratio e cordis, derivado de cor que significa coração. Entende-se então porque  São Paulo pedagogicamente aconselhou aos Romanos a serem mutuamente carinhosos, “adiantando-vos  uns aos outros na estima recíproca” (Rm 12,1).  É  que a chave da misericórdia  é o trabalho que faz crescer em si a inteligência do amor mútuo, conduzindo o cristão a uma relação com o outro situado sempre mais ao nível de sua necessidade  real. Resulta, de fato, uma solidariedade fraternal da qual fluem ações que tornam o mundo melhor.  São Crisóstomo pôde então afirmar que “a misericórdia é um penhor de salvação, ornato da fé, a propiciação dos pecadores. É ela que experimenta os justos, robustece os santos e ostenta os amigos de Deus”. São Leão magno foi taxativoTão elevada é a virtude da misericórdia, que sem ela as demais não tem utilidade. Porquanto, ainda que alguém seja fiel, casto, sóbrio e adornado de outras maiores e mais insignes qualidades, se não é misericordioso, não merece misericórdia”. Cumpre sermoa, realmente, arautos conscientes do Reino do Deus misericordioso. *  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO

BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO, PORQUE VERÃO A DEUS.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Hoje mais do que nunca devem meditadas as palavras de Jesus: ”Bem-aventurados os limpos se coração, porque verão a Deus”. Esta bem-aventurança lança então uma mensagem vivificadora, iluminando quem a recebe e coloca em prática. Num contexto erotizado no qual os meios de comunicação contribuem para a impureza da mente, envolvendo o ser humano nas mais perniciosas cenas, induzindo ao desprezo do sexto e nono mandamentos, o alerta de Cristo é um freio diante de tanta impudicícia. Quem quiser a intimidade divina neste mundo e a visão beatífica na eternidade precisa conservar-se puro, evitando tudo que pode manchar sua alma. O coração impuro é um coração que se acha longe do Ser, três vezes Santo, dado que não se resguarda das ondas do mal. É um coração hesitante, facilmente presa das insídias diabólicas. Está completamente dividido, porque as solicitações da carne se tornam insaciáveis, incontroláveis. Quem, porém, está unido a Deus conhece a felicidade de uma visão espiritual unificada que beatifica e oferece a unidade da consciência que repousa em paz no seu Senhor. Isto resulta do sim dado ao Criador, imergindo o ser humano na luminosidade celestial. Esta sublime adesão reveste o cristão de um total equilíbrio psicossomático e aí também se acha o segredo de uma existência realmente feliz. Todos os atos se tornam reflexos da santidade infinita do Ser Supremo, porque a Ele se dá uma entrega completa, vivificante.  A sinceridade interior leva ao crescimento na perfeição, impedindo a desgraça do aprisionamento na sensualidade desenfreada, lubricidade que degrada e rebaixa a dignidade humana. A volúpia impede o canto da alegria da consciência em paz com Deus, o cântico do sim dado Àquele que é autor dos mandamentos que são o roteiro da verdadeira ventura. Portanto, para ver a Deus é necessário dar um basta à dualidade, oferecendo a Ele todos os pensamentos, todos os desejos. O modo como cada um contempla a Deus através da conduta ilibada é a maneira pela qual Ele também observa prazerosamente quem lhe é fiel. Não se deve colocar o impulso pessoal carnal acima da vontade de Deus. Ele deseja se realizar em todo aquele que realmente O ama. Ele propõe uma aliança com sua criatura racional e esta aliança só é possível  se o cristão unifica e purifica seus pensamentos e volições. Esta é a única maneira de estar unido a Deus constantemente, e permitir o agir divino sem óbices. Esta bem-aventurança é assim uma inspiração que vem do céu para tocar o coração humano tornando-o maleável às inspirações  que lhe chegam do alto. O discípulo de Jesus se torna aguerrido perante as insinuações diabólicas, mas sabe também que na pugna espiritual vence quem foge das ocasiões perigosas.  Fugir delas é evitar a dualidade mental e as indecisões que levam a quedas lamentáveis. Então, mais do que nunca, o cristão percebe que, de fato, a carne é fraca e pode conduzir a erros fatais. O Reino de Deus neste mundo não está ao abrigo das tentações que precisam ser vencidas para se chegar ao Reino eterno. Ao entrar na dinâmica desta bem-aventurança o cristão constrói a sua história que se torna uma marcha vitoriosa sobre as paixões desregradas. Se o seguidor de Cristo vacila, não há motivo para desespero, porque “errar é humano, mas perseverar no erro é que é diabólico”. Penitenciando-se  quem se trasvia recupera a pureza interior e repete com fé a invocação: “Sangue de Cristo, purificai-me”! /São Luis Gonzaga jamais perdeu a graça santificante, mas continuamente se mortificava. Eis porque se reza na oração de sua festividade: “Deus, fonte dos dons celestes, reunistes no jovem Luís Gonzaga a prática da penitência e admirável pureza de vida. Concedei-nos imitá-lo na penitência, se não o seguimos na inocência. Ser puro de coração deve ser o ideal do autêntico cristão, pois a pureza interior é a  beatitude  da coerência de uma vida encarnada nos atos que  enobrecem e dignificam quem foi batizado. Rebrilha na limpidez dos afetos, dos olhares, das atitudes. Abre as portas do céu, pois só ao limpoa de coração é que verão a Deus.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



terça-feira, 20 de junho de 2017

UMA LIÇÃO DE SOLIDARIEDADE

UMA LIÇÃO DE SOLIDARIEDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora, de Campos dos Goitacazes, laçou o livro  “O pato e o macaco” da autoria  Lucas Machado Bernardes Vidigal,  o qual com apenas 7 anos já se mostrou  profundamente criativo, fazendo antever uma brilhante carreira literária pela frente.  As ilustrações por ele feitas são sumamente sugestivas, valorizando o interessante texto. O final da história é um happy end:  “O pato João e o macaco Ferreira se tornaram  grandes amigos”. Parabéns ao autor e à orientadora pedagógica Cláudia Figueiredo.  Ulteriores informações através do e-mail euamo@estantemagica.com.br* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos 

BE,-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA

BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na quarta bem-aventurança Jesus declara: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.  O cerne desta mensagem é ensinar como passar de uma justiça dos homens, que é a justa retribuição dos atos, à justiça de Deus que é a conformidade com sua Lei. Os que aderem aos mandamentos promulgados pelo Ser Supremo são felizes e satisfeitos nas suas aspirações mais profundas. É a extraordinária economia divina que oferece em consequência desta adesão incondicional aos preceitos traçados pelo Criador tudo que cada um necessita tudo que mitiga sua fome e sede espirituais. Então cada um, na medida de sua capacidade, integra o que lhe é possível receber. É algo que ultrapassa a mera fantasia interior que é momentânea e inconsistente. O seguidor de Cristo se sente envolto no mais total equilíbrio psicossomático. Tão grande é esta beatitude que quem a possui deseja que todos participem da mesma através da vivência completa dos desígnios de Deus. Esta realidade, já vivida nesta terra, se consumirá na eternidade, na posse definitiva no Reino celeste onde resplandece a plenitude da justiça. O cristão está sempre atento para não se desviar da rota que leva até o céu, porque almeja continuamente estar saciado desta justiça que será sua herança para sempre. Isto supõe uma luta persistente para não se deixar enredar pelas ilusões terrenas, buscando simplesmente a recompensa de suas ações segundo os critérios humanos representados no dinheiro, no elogio, nos aplausos. Estes bens são transitórios e tornam o ser humano possuído por uma fome e uma sede insaciáveis. Quanto mais se tem, mais se quer possuir.  A consciência, contudo, de uma ordem e de um amor infinitos leva à realização plena dos mais recrescentes anelos do ser humano, mediante a união perfeita com a vontade divina. Eis aí o segredo de uma existência que deparou a verdadeira causa do perfeito existir numa consumação existencial beatífica que só é possível no cumprimento exato da Lei. No Reino celeste se dará a recompensa definitiva, dado que não se correrá o risco de se desviar de tal sublime projeto de vida. Nesta trajetória terrena, para quem tem fé, o alimento e a água vêm a ser o pão e água da vida eterna. Desta maneira o cristão cultua o Pai em espírito e em verdade e marcha ininterruptamente para a glória sem fim. É a caminhada dos famintos e sedentos da autêntica justiça. Na justificação do dever cumprido, das dívidas pagas a Deus pelas falhas humanas rebrilha em qualquer circunstância a remissão das faltas. Isto porque a caminhada da justiça é a marcha da cura espiritual que redime os desvios devidos à fraqueza humana e as redime. Disto resulta a glorificação a Deus, como aconteceu com o paralitico que foi curado por Jesus, com o cego que principiou a ver ou o surdo que passou a ouvir. Estas moléstias corporais eram bem o símbolo das enfermidades morais que impedem caminhar para a Casa do Pai. Nada se compara com o cântico jubiloso de um coração curado e novamente na rota da luminosa justiça divina. Repete ao Criador o que está no salmo 118: “Abro a boca e aspiro largamente, pois estou ávido de vossos preceitos. [... ] Conforme  a vossa lei, firmai meus passos, para que não domine em mim a iniquidade”. Aí está o motivo pelo qual se deve passar sempre deste mundo visível para o invisível que é onde se encontra o Absoluto, o Ser Infinito. Cumpre, portanto, dissipar sonhos irreais, fantasmas fundados no medo, valorizando o existir aqui e agora numa imersão sincera no amor daquele que é o oceano imenso de toda felicidade. Desta maneira, a própria morte ganha um significado especial. Após a entrada no Reino não mais se desejará coisa alguma e cada um será saciado em plenitude e não terá mais sede alguma, pois estará imerso na visão beatífica de Deus.  Dar-se-á o que está no Livro do Apocalipse: “ E ouvi uma forte voz que procedia do trono e declarava: “Eis que o Tabernáculo de Deus agora está entre os homens, com os quais Ele habitará" Eles serão o seu povo e o próprio Deus viverá com eles, e será o seu Deus.  Ele lhes enxugará dos olhos toda a lágrima; não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porquanto a antiga ordem está encerrada!” Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

BEM-AVENTURADOS OS MANSOS

BEM-AVENTURADOS OS MANSOS, PORQUE POSSUIRÁO A TERRA
                                 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A terceira beatitude oferece a chave da mansidão (Mt 5,5). Esta se situa entre o discernimento daquele que sofre uma ação agressiva do próximo e a amabilidade que se deve ter mesmo em situações conflitantes. Não se confunde com a fraqueza, mas leva a diagnosticar o que se passa com o outro, para, no momento, oportuno dar-lhe explicações por vezes necessárias, evitando exacerbações condenáveis. O caminho é a humildade, tanto que se deve rezar sempre: “Jesus manso e humilde de coração, fazer o meu coração semelhante ao vosso!”.  É preciso, além disto, o reconhecimento de que somente Deus é perfeito e o ser humano pode, tantas vezes, errar. Isto oferece oportunidade para a clemência, pois capta o limite do outro, cujas frustrações se manifestam em atitudes bruscas ou perturbadoras. Cumpre saber escutar e não se exasperar, estando continuamente atento às carências do próximo. A  mansidão oferece oportunidade para a construção de um ambiente mais confortável que facilita a marcha para o Reino de Deus. Trata-se de experiências transformadoras, mas que exigem toda calma da parte de quem se sente agredido pela impertinência alheia. A retificação desta conduta consiste num sentir e não na revolta para poder perceber até onde e quando poderá tranquilizar quem é fastidioso, agressivo e inoportuno. O escopo do cristão deve ser imitar a Cristo em tudo para formar em si mesmo o Filho de Deus, tendo atitudes que Ele mesmo praticou com os outros em sua passagem por este mundo. Deste modo, se pode tornar os outros felizes. Eis porque a tolerância precisa ser sempre um distintivo do cristão. É o que falta ao mundo de hoje eivado de violência por toda parte. Não apenas nas relações internacionais marcadas por guerras, por discussões que ocasionam tantas mortes, mas ainda nos lares, pela impaciência com os idosos ou inválidos, pela agressividade verbal e não verbal, pela pressão psicológica através de ações que molestam o próximo. É necessário sempre seguir as orientações que se encontram na Bíblia como no salmo 37: “Os pacientes possuirão a terra e gozarão as delícias de uma paz perfeita” (Sl 37,11). Trata-se de uma ventura estável, uma bênção celeste. Cumpre, sobretudo, formar Jesus dentro do próprio coração. No capítulo 12 de seu Evangelho São Mateus traça o retrato do “Servidor de Deus” que não querela nunca, não procura altercações, não clama, não apaga uma mecha fumegante até fazer triunfar a justiça (Mt 12, 15-21). Esta justiça significa que a doçura de Jesus não é covardia, mas fortaleza, firmeza, que levam a não agredir o próximo ofensor e produzem a serenidade diante das irritações alheias. Exemplo magnífico deixou Jesus perante as impertinências de seus opositores e durante todos os episódios de sua Paixão No Horto das Oliveiras não admitira nenhuma brutalidade e curou mediamente a Malco que teve a orelha direita cortada por Simão Pedro, a quem  Ele deu esta ordem: “Mete a espada na bainha” (Jo 18, 10-11). Cristo foi um arauto da não-violência, ensinando a conter os instintos da agressividade, a ter o autocontrole. Na carta a Tito, São Paulo entre os deveres dos cristãos recorda: “Não sejam amantes das contendas, mas remissivos, mostrando a todos os homens a maior mansidão” (Tt 3,2). Aos Coríntios ele havia proclamado que “a caridade não se irrita” (1 Cor 13,5). Doçura e tolerância deve ser, de fato, o lema do verdadeiro seguidor de Jesus. Tiago e João que não tinham sido recebidos num povoado, indagaram a Cristo se deveriam ordenar que descesse fogo do céu para consumir seus moradores. Foram logo repreendidos pelo Mestre da mansidão que lhes disse: “Vós não sabeis de que espírito sois animados, porque o Filho do homem não veio para perder as almas dos homens, mas para os salvar” (Lc 9,53-55). A mansidão leva sempre a um grande respeito para com o próximo, sobretudo, nos momentos os quais ele esteja envolvido em profunda irritação. É o que se lê na Primeira Carta de São Pedro que ensina a tratar os outros “com maneiras suaves e respeitosas” (1 Pd 3,16). É desta maneira que o cristão se reveste da mansidão do Mestre divino, vestimenta obtida por seus méritos infinitos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

sábado, 17 de junho de 2017

A DEVOÇÃO A SANTA BRÍGIDA

A DEVOÇÃO A SANTA BRÍGIDA*
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Entre a veneração aos grandes santos se destaque a devoção a Santa Brígida, da Suécia, nascida em 1302.
Mãe de oito filhos, fundadora de uma Ordem religiosa, na viuvez. Santa Brígida foi também uma mística favorecida por revelações e, mais tarde, escritora para transmitir sua mensagem.
A piedade de Santa Brígida caracterizou-se por grande amor à paixão do Senhor, à Eucaristia, a Maria Santíssima e ao Coração de Jesus.
Grande a estima dos fiéis pelas chamadas “Quinze Orações de Santa Brígida”.
Essas orações foram tiradas de um livro impresso em Tolosa em 1740 e publicado pelo Padre Adriano Parvilliers, da Companhia de Jesus, missionário apostólico da Terra Santa, com aprovação, permissão e recomendação de propagá-las. 
 O Papa Pio IX teve ensejo de examinar essas orações e as aprovou em 30 de maio de 1862, reconhecendo-as como autênticas e de grande proveito para o bem das almas.
O Papa Inocêncio X confirmou o que dissera seu predecessor. Não se deve fazer promessa para fazer tais orações, mas pode o católico rezá-las de acordo com sua piedade pessoal. O importante é a participação nas Missas dominicais, as preces pela manhã, à noite e, sempre que possível, durante o dia.
O cristão vive na presença de Deus a quem consagra todas as suas ações, como fazia Santa Brígida.
De grande proveito é a recitação diária do terço, mas não há obrigação de rezá-lo. Á norma é não multiplicar as orações, pois é melhor rezar menos, mas bem, com atenção e fervor.
Adite-se a meditação da Palavra de Deus contida na Bíblia.
 A oração é a fonte de todas as bênçãos para a humanidade e tão importante para o homem como a chuva é necessária às sementeiras, a água ao peixe e o sol à natureza.
 A oração é o manancial da grandeza e da força do homem. Além disto, é um dever de justiça, de amor e de gratidão para com Deus. Quem a Ele se dirige na prece já está reconhecendo que Ele é o Todo-Poderoso Senhor de quem se depende em tudo. A ação de graças pelos benefícios recebidos são um tributo de agradecimento que muito agrada ao Ser Supremo Junto dele poderosa é a intercessão dos santos aos quais se deve recorrer com confiança
.O que não deve ocorrer é deixar de rezar e rezar sempre e procurar cumprir com exatidão os deveres de cada dia, dando bom exemplo em tudo e em toda parte.
É assim que o devoto de Santa Brígida, de fato, a honrará. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


NÃO TENHAIS MEDO

NÃO TENHAIS MEDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Para encorajar seus discípulos Jesus deixou uma mensagem consoladora: “Não tenhais medo” (Mt 10,26-33). Aqueles que O haveriam de testemunhar vivendo sua doutrina e proclamando sua divindade passariam por muitas provações exteriores e interiores, mas deveriam ter confiança para assim serem vitoriosos. Para aqueles, porém, que O confessassem perante os homens Ele seria o grande intercessor diante do Pai que está nos céus. Seus autênticos seguidores teriam a força e a confiança de uma fé que luta contra os que querem matar o corpo e a alma, os inimigos mortais. Combate contra tudo que pode mandar para a perdição na geena, lugar de um castigo eterno. Trata-se, portanto, não de temores passageiros, mas do medo que pode tomar conta do cristão quando tem que proclamar sua fé e seu engajamento em Cristo e em tudo que Ele ensinou. Ele deixou o exemplo, dado que foi perseguido e condenado à morte, mas ressuscitou imortal e impassível e com Ele e por Ele seu seguidor também triunfa do mal. O que encoraja o cristão e o imuniza contra o medo é o próprio Mestre divino. Ele deixou uma garantia, pois “não há nada encoberto que não se deva tornar conhecido, nem oculto que não se venha a saber”. De fato Deus acompanha o testemunho de seus filhos e filhas e quer para eles uma recompensa eterna, pois no dia do juízo final todas as boas ações virão a lume para glória dos que foram, realmente, fiéis. Àqueles que se tornaram um reflexo entre os homens da bondade divina será patenteado um reino de felicidade perene. Nem a violência dos poderosos, nem as doutrinas de falsos profetas os impediram de penetrar os segredos de Deus. Nele encontraram a fonte da verdadeira vida e pela Sua luz depararam luminosidade inefável. É que Deus envolve em graças aqueles que O servem e que Lhe oferecem sua vida em sacrifício santo numa adoração verdadeira. Colocaram em prática o que exortou São Paulo, ou seja, não tomaram como modelo o mundo presente, mas se transformaram e fizeram sempre a vontade de Deus. Procuraram tudo que é bom, que Lhe agradava e que era perfeito (Rm 12,1-2). Portanto, aqueles que são portadores de tudo que Deus revelou, nada têm a temer nem da opressão física, nem da solidão, nem das transformações culturais. Com a graça divina o seguidor de Cristo é invencível. O cristão possui, isto sim, o temor de Deus, não dos homens. O temor de Deus, no sentido bíblico, é o respeito e a afeição profunda ao Criador de tudo. É a reverência à sua majestade infinita e uma espontaneidade filial para obedecê-lo. É a delicadeza humana em resposta à amabilidade de seu Senhor. Ele se ocupa de cada um de seus filhos e conta até todos os cabelos de sua cabeça, como afirma Jesus no Evangelho. O amor reverencial a Deus bane o temor dos que querem matar o corpo e a alma e podem lançar nas trevas eternas. Não obstante suas limitações e suas fraquezas os que temem a Deus se declaram por Ele diante dos homens em qualquer circunstância. O combate é contínuo alerta Jesus, mas enraizado nele o cristão não desvanece jamais. O testemunho, porém, que o discípulo de Cristo oferece ao mundo não é nem agressivo, nem constrangedor, mas não cede a nenhuma tentação de impaciência. Lança, porém, por toda parte uma mensagem de doçura, envolta na mesma misericórdia que flui do Coração amabilíssimo do Filho de Deus. Quem nele confia nada tem a temer das forças do mal, perante as quais não se inquieta. É preciso proclamar corajosamente as maravilhas de Deus sem recear a hostilidade de tudo que conspira contra a salvação eterna do cristão. Nada o deve paralisar na conquista da felicidade perene junto de Deus. Cumpre não duvidar da potência da Palavra deste Deus, apesar das invectivas de seus inimigos. Esta Palavra permanece e permanecerá sempre viva, atual, salvadora para os que não se deixam levar pelos embustes da perversidade. Quem guarda a fé exorciza os fantasmas do medo perante as calamidades causadas pelos profetas do erro e seus sequazes. A verdade que vem de Deus liberta e salva.  Com razão, porém, Jesus está a dizer a seu seguidor: para se acautelar contra o Adversário de sua alma, o Tentador, o Inimigo do Bem que conduz à perdição eterna. Nenhuma tentação, contudo, levará de vencida quem é fiel a seu Senhor, que não permitirá que quem deseja lhe pertencer seja tentado acima de suas forças. Assim sendo, nada de medo, pois o seguidor de Cristo mora na casa da confiança e da esperança e foge, isto sim, de todas as ocasiões que podem conduzir à geena. Então cada um pode afastar todo temor e exclamar com São Paulo: “Se Deus é por nós, quem estará contra nós?" (Rm 8,31). Louvores, portanto, a este Deus que garante a vitória de todos que o temem e amam. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




quinta-feira, 15 de junho de 2017

A IGREJA CATÓLICA NO MUNDO

A IGREJA CATÓLICA NO MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 Os fiéis que pertencem à Igreja Católica professam os mesmos dogmas, que são a garantia da unidade de fé e obedecem ao Papa.  
         Este, como sucessor de Pedro, tem, por instituição divina, poder supremo, pleno, imediato e universal na cura das almas.  Procura o bem comum da Igreja universal e o bem de cada uma das Igrejas particulares, tendo o primado do poder ordinário sobre todas as Igrejas. É preciso se tenha claro, porém, no que diz respeito às Igrejas Orientais Católicas  que  elas são Igrejas “sui generis”, isto é, são autônomas para legislar de modo independente  a respeito de seu rito e da sua disciplina, mas não no que diz respeito às verdades dogmáticas e  todas  estas Igrejas obedecem o Soberano Pontífice, atualmente o Papa Francisco.
 Este trecho do Decreto sobre as Igrejas Orientais Católicas, do Concílio Ecumênico Vaticano II,  é sumamente elucidativo: “A Igreja santa e católica, Corpo Místico de Cristo, consta de fiéis que se unem organicamente pela mesma fé, pelos mesmos sacramentos e pelo mesmo regime no Espírito Santo, coligando-se em vários grupos unidos pela hierarquia, constituem as Igrejas particulares ou os Ritos. Entre elas vigora admirável comunhão, de tal forma que a variedade na Igreja, longe de prejudicar-lhe a unidade, antes a manifesta. A intenção da Igreja católica é que permaneçam salvas e íntegras as tradições de cada Igreja particular ou Rito, bem como quer, igualmente, adaptar seu modo de vida às várias necessidades dos tempos e lugares”.
 O Concílio preconiza a preservação do patrimônio espiritual das Igrejas Orientais. Fala da importância  dos Patriarcas Orientais, da disciplina dos Sacramentos, do culto divino. Salienta que “As Igrejas Orientais que vivem em comunhão com a Sé Apostólica de Roma, compete a peculiar obrigação de favorecer, segundo os princípios do Decreto “Sobre o Ecumenismo” deste S. Sínodo , a unidade de todos os cristãos, principalmente os orientais, pela oração sobretudo e pelo exemplo de vida, pela fidelidade religiosa para com as antigas tradições orientais, por um melhor conhecimento mútuo,  pela colaboração e estima fraterna das coisas e das almas”. 
É preciso, portanto, orar  sempre pela unidade de todos os batizados em torno da Cátedra de Pedro na mais absoluta fidelidade ao Papa, chefe da Igreja católica em todo o mundo.
Deve também ficar sempre claro o que são Igrejas Católicas Autônomas, pois nem sempre os sites que falam sobre o assunto esclarecem princípios fundamentais sobre este tema.
Não há autonomia alguma no que tange aos dogmas e ao poder universal do Papa.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

domingo, 11 de junho de 2017

A MESSE E O APOSTOLADO

A MESSE E O APOSTOLADO
Côn.. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Diz o evangelista São Mateus que Jesus “ao ver as multidões, condoeu-se delas, porque andavam maltratadas e abatidas, como ovelhas sem pastor”. O Mestre divino logo diagnosticou o problema: “A messe é grande, mas os trabalhadores poucos”. Ofereceu uma solução que deve tocar todos os seus seguidores: “Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9,35-38). Em primeiro lugar é de se notar que não se pode atribuir o termo trabalhador apenas aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas e aos missionários. Isto porque todo cristão precisa tomar conhecimento da tristeza de Cristo diante da imensidão da seara. É certo que a diversidade dos ministérios oferece formas diferentes para o trabalho apostólico, mas todos os discípulos de Jesus são chamados a trabalhar na evangelização de acordo com os carismas que Deus lhes concedeu. A força do apostolado e o seu sucesso é unicamente a força de Deus. O fiel não visa nunca sua própria honra, mas sim a glória divina e o bem das almas. É evidente que na sua generosidade infinita o Senhor da messe nunca deixa de recompensar aqueles que se mostram operários zelosos para que reine o bem neste mundo. O próprio Jesus afirmou: “Regozijai-vos porque vossos nomes estão inscritos no céu” (Lc 10,20). É de se notar, porém, que Jesus fala em colheita abundante, não num campo imenso que deve ser cultivado. Isto porque a semente já foi lançada, o trigo já germinou e amadureceu, cumpre agora a ceifa. Esta necessita de mais trabalhadores. A humanidade contem em si um potencial enorme em vista ao Reino de Deus. Como dizia Santo Agostinho, “Muitos são do Reino, sem ser da Igreja”. Aí está o papel do operário de Cristo qual seja pelo seu exemplo de vida, pela palavra oportuna, pelas atividades pastorais, trazer os que andam longe de Deus para a prática integral dos mandamentos e das virtudes pregadas no Evangelho. Não menos importante o suporte de tudo isto que é o apostolado através da oração, de uma prece confiante que converte e salva pecadores e arrasta os que não usufruem dos bens espirituais da Igreja Católica para receberem as graças dos sacramentos e demais recursos espirituais oferecidos por esta Igreja. O papa São João Paulo II na “Exortação Apostólica, Christifideles Laici, de 1988, sobre a vocação e a missão dos Leigos na Igreja e no mundo, deixou clara a importância do apostolado de todos os discípulos de Cristo. Este trecho deste documento é sumamente ilustrativo: “No apostolado individual existem grandes riquezas que precisam ser descobertas em ordem a uma intensificação do dinamismo missionário de cada fiel leigo. Com essa forma de apostolado, a irradiação do Evangelho pode tornar-se mais capilar, chegando a tantos lugares e ambientes quanto os que estão ligados à vida quotidiana e concreta dos leigos”. Além deste apostolado individual, na medida do possível, felizmente, alguns se engajam nas diversas pastorais de acordo com o tempo que dispõem e nas atividades que mais se coadunam com seu perfil caracterológico. Tal acontece porque é preciso atender ao clamor de Cristo, dizendo que há poucos trabalhadores para sua messe. O trabalho apostólico é, por vezes, difícil e existe esforço e muita confiança em Deus, mas traz benefícios pessoais e para toda a comunidade. Além disto, no citado documento o Papa observa a urgência atual de uma nova evangelização referente ao problema missionário nas regiões que necessitam de pastores desvelados. São milhões de pessoas que não com conhecem ainda a Cristo. Donde o apelo feito pelo Papa para que as famílias cristãs percebam a responsabilidade de favorecer a maturação de vocações especificamente missionárias, sacerdotais, religiosas ou leigas. Vale então mais do que nunca o apelo de Cristo: “Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe”. Portanto, há muitos meios para a cooperação na obra de santificação do mundo. Não se pode ser cristão em tempo parcial. O fundamento de tudo isto é o ensinamento recordado pelo Concílio Vaticano II, mostrando que todo batizado participa do múnus sacerdotal, régio e profético de Cristo. Em síntese, todos os batizados são chamados a trabalhar na seara do Senhor na certeza de que nada é mais belo que ser um apóstolo de Jesus. * Professor no seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS PORQUE SERÃO CONSOLADOS

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS, PORQUE SERÃO CONSOLADOS
Com. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Por entre as vicissitudes da vida há momentos de indizíveis tristezas. As mesmas lutas que recomeçam cada dia. A maldade que campeia pelo mundo. A morte, as catástrofes e tantas pessoas amadas que se vão, tudo isto causa pesar. Adite-se a exclusão, a solidão e quando nada externo já não perturba, no mais profundo do ser humano, que turbilhões, que fontes de aflição! É possível, porém, crescer espiritualmente nestes instantes de amargura. Fulgurante a promessa de Cristo de que há a possibilidade da consolação, o que é um arrimo a mais para o cristão. Aquele que conforta é o Divino Espírito Santo. As palavras de Jesus foram claras: “É preciso que eu parta para que venha o Consolador”. É necessario, contudo, que haja uma aflição consciente para que se possa transformar a provação numa oportunidade de crescimento na santidade pessoal. Desenvolvimento é então um processo feito de perdas dolorosas, mas que ensejam atitudes positivas.   As lágrimas de si não têm valor algum, não passam de amarga água, se um afeto que as chora não as valoriza. É necessário que Deus esteja sempre em nosso pensamento para que as lágrimas que sulcam as faces, façam brotar dos espinhos da vida uma rosa celestial. Passa-se deste modo de uma situação conhecida como dolorosa, para outra desconhecida, mas firmada na fé pela presença do Paráclito. Ele oferece a inteligência que faz ultrapassar a angústia, fazendo entrar numa realidade que se dará na eternidade. É o ir além da amargura para o bálsamo do Reino de Deus. É plantar no tempo, para colher na Casa do Pai. Não ocorre uma atitude estoica perante a aflição, mas uma supervalorização através do oferecimento da mesma em reparação das faltas cometidas ou aplicando-a para o bem do próximo e da Igreja. Isto ainda que no meio de solicitações, muitas vezes até ilusórias, vindas do mundo exterior, dos sofrimentos corporais, das emoções do coração, dos pensamentos desordenados que criam miragens. É que, como asseverou São Paulo, “a esperança não decepciona”. É aí que entra a ação do Consolador, firmando esta virtude teologal. Com efeito, a existência do cristão não pode ser vista como peças isoladas, destacadas, mas precisa ser contemplada no seu conjunto. O mesmo Apóstolo asseverou: “O justo vive da fé”. Portanto, ele não desespera nunca dado que os percalços estão inseridos num plano superior além-morte. O discípulo de Cristo não se desliga das realidades perenes, escravizando-se àquilo que é passageiro, ainda que possa perdurar certo tempo um estado de agonia. O Paráclito, o Mestre interior que Jesus enviou de junto do Pai desperta no íntimo de quem vive a Ele unido a convicção de que tudo é providencial na sua vida até mesmo as aflições. A consolação que advém do Alto faz deixar de lado a reação meramente humana para fazer entrar desde já no Reino da conversão sempre renovada. Como se trata de uma conversão constante é natural que os desgostos se sucedam. Com citado Apóstolo Paulo o cristão repete: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. É desta maneira que nunca se perde vista o verdadeiro sentido de uma existência dentro dos parâmetros do Evangelho que esclarecem sempre os desígnios de Deus. A crença na vida eterna não é nunca alienante, porque o cristão sabe que ele pertence ao Infinito e que na outra margem da existência terrena Alguém está a sua espera. Deste modo, o Reino de Deus passa a envolver todos os pensamentos, todas as emoções lançando o cristão numa luminosidade que consola, redime e salva. O Paráclito transforma, fazendo do homem terreno um ser totalmente voltado para o Reino Eterno, dando-lhe desta maneira suporte para bem se comportar diante das angústias nesse vale de lágrimas. Afasta o medo, a dubiedade, clareando o futuro.  O cristão compreende então que entre o que é do mundo e o que é de Deus, entre a inteligência e a perfeição há um meio de aperfeiçoamento interior graças à presença do Advogado que Jesus do céu enviou aos que O amam e fielmente O seguem. Dá-se então a aliança perfeita entre o visível e o invisível, mesmo porque Jesus é o Pontífice que estabeleceu esta ponte que faz com que o seu discípulo possa atravessar o mar das tribulações, rumando triunfante para junto dele apesar das mais variadas aflições. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.             


quinta-feira, 8 de junho de 2017

BEM-AVENTURADOS OS POBES EM ESPÍRITO

BEM-AVENTURADOS OS POBRES EM ESPÍRITO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Ao declarar que “são felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus”, Jesus proclamava o valor da independência dos bens materiais (Mt,5,3). Por entre o descalabro que reina em tantos países ocasionados pela corrupção, é de bom alvitre refletir sobre esta Bem-aventurança. Sábio pedagogo, Jesus ensina a seus seguidores o emprego correto dos bens materiais que são adquiridos através de um trabalho honesto. .Sua sentença é lapidar: “Não podeis servir a Deus e as riquezas”. O verdadeiro cristão não é proprietário de nada, mas deve ser um sábio gerente de tudo que recebe do seu Senhor. Todos darão contas ao Ser Supremo de tudo que dele ganharam, ou seja, o modo como empregaram as dádivas divinas neste mundo. De plano, todo desperdício é condenável e, sobretudo, o uso do dinheiro advindo da iniquidade e aplicado para o mal. Entretanto, com a mesma diabólica astúcia com que os perversos, os maus políticos, se utilizam de suas posses, para obter favores, os bons patriotas devem se valer do próprio dinheiro para alcançar uma recompensa eterna. Isto, evidentemente, se dá quando nenhuma quantia á malbaratada, mas empregada para as necessidades próprias e dos que dele dependem e para a ajuda oportuna aos mais necessitados. Deus não pode aprovar nenhuma atitude desonesta, mas gratifica toda e qualquer ação justa, reta, eticamente correta. O dinheiro, fruto de um trabalho consciencioso, deve, portanto, aproximar o cristão de Deus. É célebre o ditado: “Quem dá aos pobres empresta a Deus”. Esmola, contudo, bem direcionada para as obras sociais das Paróquias, para as atividades dos vicentinos e outras associações de caridade. Deste modo, o bom emprego do que se possui se torna um instrumento de partilha e fomenta a fraternidade. Assim sendo, o dinheiro não é mau em si mesmo e pode até abrir a porta para muitas ações boas e louváveis.  É, porém, fonte de muitas tentações a serem vencidas, mesmo porque ninguém deve ser dele um escravo. Torna-se então dinheiro da iniquidade, da injustiça, da opressão, da fraude, do dolo.  A segurança que as riquezas oferecem é ilusória, mas perene deve ser a confiança em Deus que nunca deixa faltar nada aos que O temem e servem. Deus sempre está ao lado dos honestos, dos que praticam a justiça. Servir, portanto, tranquilamente apenas a Deus, combatendo o amor-próprio.  a astúcia, o poder pelo poder. Foi a ambição que levou Judas Iscariotes à mais vil traição da História. O alerta de Cristo, sobre as riquezas vale para qualquer contexto socioeconômico, sobretudo para o atual, situação marcada pelo consumismo, pela corrupção edênica, pelo endeusamento da fortuna adquirida por meios lesivos ao próximo e a toda uma nação. . Se as autoridades, os poderosos deste mundo não dão exemplo, pessoalmente o cristão não se deixa contaminar pela onda de perversidade, aprovando os desvios prejudiciais ao patrimônio público que a todos pertence e as falcatruas que se multiplicam nos mais  diversos setores da sociedade. No cerne de todos estes males está o egoísmo que não só impede um oportuno auxílio aos mais necessitados, como fomenta a ganância, fazendo que muitos se esqueçam de que deste mundo nada material se leva para a eternidade, Os automatismos do ego conduzem às maiores aberrações Com efeito, o egotismo cria uma mendicidade perversa porque faz o ser humano sempre ligado a objetos terrenos. Estes, endeusados, conduzam ao desejo imoderado de aumentar sempre mais o que se possui, Não controlada esta cobiça, os meios mais nefandos são empregados prejudicando os outros e o bem comum. O pobre em Deus é aquele que percebe que o verdadeiro tesouro  não pode estar naquilo que é efêmero e que precisa ser apenas um instrumento para uma vivência digna do ser humano. Então, satisfeito com o que possui, fruto de um labor honrado, perseverante, o cristão passa a detectar o sintoma que prolifera ontem, hoje, amanhã e sempre dentro da sociedade que é a presença dos pobres destituídos, muitas vezes, do mínimo necessário para a sobrevivência. Então, na medida de suas possibilidades o seguidor de Cristo procura minimizar tais sofrimentos. Nunca o bom cristão deve ser egoísta, mas precisa ser generoso e compssssivo.. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O SIGNIFICADO AS BEM-AVENTURANÇAS

SIGNIFICADO DAS BEM-AVENTURANÇAS ( Mt 5, 1-12)
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

As Bem-aventuranças são um magnífico cântico de esperança. Lançam mensagens que permitem o cristão a se reconciliar consigo mesmo. No cerne das oito beatitudes se deparam ensinamentos preciosos para colocar o Reino de Deus no mundo, promovendo a transformação do mesmo. Difundem um apelo à responsabilidade e oferecem um programa de vida para o seguidor de Cristo. A extraordinária força das Bem-aventuranças vem de sua admirável concisão e isto facilita com que cada um seja dela um arauto. De todo o Sermão da Montanha elas são a quintessência, um belíssimo exordio e podem ser arroladas entre as grandes doutrinas espirituais da humanidade. São palavras de vida que conduzem a penetrar fundo em todo o ensinamento do Filho de Deus. Ele, que fora concebido do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, é o Anunciador eterno da Verdade, o Verbo de vida, o Consagrado a Deus, o Emanuel, o Deus conosco, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que se fez homem, o Mestre divino. Como ensinou São Gregório Magno “pelo poder da divindade, possuía, o que nos ministrou pela inteireza. de sua humanidade”.  As Bem-aventuranças por Ele proclamadas abrem então os corações e faz neles brilhar o esplendor da eternidade . Elas nos subtraem da fascinação do mundo, fato a ser comunicado aos outros, onde quer que se esteja, aqui e agora. É que Jesus é, de fato, a compaixão personificada a norma de vida e o perdão cordial que esplendem nas Beatitudes. Por isto mesmo, esta é a utopia das Bem-aventuranças, o deslumbramento vivido da pobreza de espírito, da aflição sobrenaturalizada, da fome e sede de justiça, da misericórdia sem limites, da pureza do corpo e da alma, da paz consigo, com o próximo e com Deus, da perseguição sofrida em prol do Reino de Deus. Eis por que na essência das Beatitudes se encontram os princípios para uma evangelização eficiente. É preciso, contudo, ter sempre em mente as inspirações afloradas e que devem ser recebidas com atenção, maleabilidade e disponibilidade. Então o levedo oferecido pelo Espírito Santo que mana destas Beatitudes produzirá maravilhas para si e para os outros. Ondas benéficas que sobrenaturalizam, deificam. Surge deste modo uma mentalidade tocada por um fogo vivo que ilumina, aquece, redime e salva. Esta é maneira mais fecunda para se entrar em relação com o próximo e melhorar o ambiente no qual se vive. Dá-se uma empatia inexaurível com os outros e não se corre o risco de temer uma existência comunitária. A razão de ser, a análise, as modalidades  do mistério do encontro  se aprofundam dia a dia, tornando a fraternidade uma realidade fulgurante e benfazeja. Desaparecem os preconceitos fúteis, as meras opiniões, os julgamentos fortuitos.. Desta maneira se vê menos a palha no olho do próximo, porque já se tirou a trava do próprio olho. Isto significa trilhar o caminho de um coração semelhante ao de Cristo, concretizando suas sublimes lições.   É o descer da montanha para endireitar as veredas tortuosas que levam tantos à perdição. É a transmissão daquilo que cada um é e pratica, o que se torna possível porque o próprio ser se metamorfoseou no próprio agir, tanto é verdade que o bem é de si difusivo. Integrado este bem em si mesmo ele transborda e se verifica o que disse Elisabeth Leseur “não sabemos o bem que fazemos, quando fazemos o bem”. São os frutos opimos da vivência plena das Bem-aventuranças. O cristão se torna então o fermento  contagioso do Reino de Deus. Tudo se torna bênçãos celestes para si e para os outros. Aquele que tem sua mente clarificada pelas Beatitudes cantará sempre a glória de Deus.. Impregnar-se das Bem-aventuranças é se tornar um poeta da eternidade, porque os que têm um coração puro podem contemplar as maravilhas que o Criador espalhou na natureza e, tendo um espírito de pobre, se sobrepõem às coisas materiais e às aflições terrenas.. Irradiam mansidão, misericórdia, paz. Embora tendo sempre mais fome e sede de justiça, podem até ser perseguidos, mas se alegram e exultam, olhos fixos na recompensa  lá no céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 3 de junho de 2017

A TRINDADE SANTA E O CRISTÃO

A TRINDADE SANTA E O CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No colóquio com Nicodemos Jesus introduz o seu seguidor no coração mesmo da Santíssima Trindade ao dizer: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16-18). Desde toda eternidade o Pai se conhece. Este conhecimento é eterno, substancial, igual a sua origem, é a segunda pessoa, o Filho. O Pai e o Filho eternamente se amam. Este amor intemporal é o Espírito Santo, Terceira Pessoa, que procede do Pai e do Filho. O Amor de Deus, porém, é dom sem limites e daí a criação do mundo e tudo que nele existe e a vinda do Filho a esta terra. Crer nele é ter a vida eterna.  Deus é em si mesmo inclusão de amor que se extravasa de toda a eternidade para a felicidade dos seres criados. Ele os chama à existência e a entrar livremente em uma relação de confiança e de reciprocidade com Ele. O Espírito de Amor faz o liame não somente entre o Pai e o Filho, mas ainda o liame entre todos os que têm fé e o Deus da aliança.  A vida de Deus é abertura ao outro e dom sem limites oferecido deste modo aos que nele creem através de Jesus Cristo, que é a imagem, a face do Deus invisível, o Verbo eterno que habitou entre os homens. Assim sendo, o Espírito Santo leva os fiéis a viver a vida mesma de Deus que é partilha e doação.  Eis porque o mistério da Santíssima Trindade conduz ao amor fraterno, induzindo a entrar na dinâmica de vida que é em si mesma o ser do Deus Uno e Trino. Dá-se então a imersão na beatitude eterna, repartida a cada um de acordo com seu crescimento espiritual. O Pai ama prodigiosamente a todos que foram criados a sua imagem e semelhança e os ama pessoalmente. O ser racional não é fruto do acaso, mas é alguém conhecido e amado pelo Criador. Com amor eterno Ele amou a cada um e isto de tal modo que enviou o seu Filho único para a salvação da humanidade que O havia ultrajado. Cristo veio como o caminho para uma eternidade feliz no seio deste Deus que é Amor. Daí a necessidade da identificação com o divino Redentor. Compreende-se então o que aconteceu com São Paulo que pôde afirmar: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). Cumpre se assemelhar com Aquele que leva até à Divina Família Trinitária Sua missão neste mundo foi revelar a solidariedade do amor do Pai em favor daqueles que Ele veio restaurar na liberdade do Amor. É preciso então anunciar o mistério da Trindade como princípio dinamizante no qual consiste toda história de Deus com relação a cada um. Este Deus, contudo, não ameaça nunca a liberdade humana, mesmo porque se o amor a Ele não fosse um ato livre, não teria um valor que se estenderá por toda a eternidade. Entretanto, a energia deste amor livre a Deus está cheio de sentido, porque flui do Espírito Santo acolhido por aquele que tem fé. Aí está a razão pela qual a aceitação ou a recusa do Amor trinitário tem uma repercussão eterna. Aquele, porém, que crê no Filho de Deus possui a sua disposição todos os meios necessários para amar o seu Senhor sobre todas as coisas. Entre estes recursos sobrenaturais se saliente a Eucaristia que é o próprio Cristo, companheiro de jornada rumo à beatitude eterna. Jesus sempre ao lado da penúria humana, que leva a tantas precariedades e até,. às vezes, à traição do imenso amor de Deus. Aquele, contudo, que crê em Cristo jamais perecerá, pois se arrependerá sempre de seus erros. Ao mistério trinitário o fiel é chamado a dar seu ato de fé pela qual se obtém a salvação. Eis porque crer é se apoiar em Cristo na sua relação com o Pai e com o Espírito Santo e estar assim em comunhão com as Três Pessoas divinas. Entrar na filiação do Filho e na imersão do Amor é o aperfeiçoamento máximo do cristão. Esta realidade é já vivida neste mundo por todos aqueles que possuem a graça santificante, pois, as palavras de Jesus foram claríssimas: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). A solenidade da Santíssima Trindade é então um convite a cada um para abrir o seu coração a esta realidade que a todos ilumina nos sofrimentos e nos júbilos, nas sombras e luzes, numa caminhada rumo ao dia em que verá este Deus Uno e Trino face a face. Destino sublime que a todos deve envolver na mais completa alegria! Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


quinta-feira, 1 de junho de 2017

Glorioso Santo Antônio de Pádua, notável Luz da Santa Igreja

Glorioso Santo Antônio de Pádua, notável Luz da Santa Igreja.
            Côn; José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Em sua milenar história a Igreja tem ostentado uma multidão de homens e mulheres que entenderam e puseram em prática a ordem de Jesus “Sede perfeitos, como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Entre eles está o ínclito Santo Antônio. Fernando foi o nome que ele recebeu no dia de seu batismo em Lisboa, cidade que o viu nascer em 1195 dentro de uma família nobre e rica. Filho de Martinho de Bulhões e Maria Teresa de Taveira, pais de comprovada virtude, que puderam e souberam transmitir ao filho um exemplo magnífico de vida cristã. Bem cedo fulgiram as qualidades de Fernando, que primava pela piedade e correção de atitudes. Sua primeira escola foi a comunidade dos cônegos da catedral de Lisboa. Completados os quinze anos quis entrar para a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Em Lisboa, a visita de parentes e amigos o distraiam de seu grande objetivo que era uma profunda união com Deus e a entrega total a seus estudos a bem do apostolado que tinha em mira. Isto motivou o pedido de Fernando para ser transferido para a cidade de Coimbra, onde prosseguiu sua trajetória de eclesiástico exemplar. Certa vez ele presenciou a partida de cinco franciscanos para as missões na África e surgiu no seu coração o desejo de se tornar discípulo de São Francisco. Um fato o fez tomar esta resolução: aqueles missionários que tinham ido para a África haviam sido martirizados pelo Evangelho e Frei Fernando assistiu o féretro daqueles heróis em Portugal. Fez-se franciscano e, em 1220, quando tomou o nome de Antônio com o qual entraria na História como um dos santos mais populares de todos os tempos. Logo se colocou à disposição de seus superiores para as Missões na África, visando a conversão dos mouros. Tais não eram os planos de Deus, pois, lá chegando, uma enfermidade o obrigou a regressar à Europa, indo não para Portugal, mas para a Itália, pois uma tempestade desviou a embarcação para as costas da Sicília. Desembarcou em Messina e, de lá, foi para Assis, onde estava São Francisco. No Capítulo Geral da Ordem passou despercebido. Entretanto, como houve logo depois uma ordenação sacerdotal em Forli, faltando o pregador, ele foi escolhido para falar à comunidade dos frades. Sucesso absoluto! Todos ficaram encantados com a unção daquele jovem pregador e com o conteúdo de sua doutrina. Concluíram que ali estava um talento escondido e que deveria ser aproveitado a bem da Evangelização. Grande era, de fato, sua ciência e sabedoria. São Francisco mesmo o encarregou de ensinar teologia aos frades. Antônio lecionou em Bolonha, Montpellier, Tolosa e Pádua. Sábio, seus sermões arrastavam multidões que enchiam as igrejas para escutar a Palavra de Deus tão bem transmitida. Toda a sua doutrina foi um incansável anúncio do Evangelho. A pregação era o seu modo de acender a fé nas almas. Ouvintes de todas as classes sociais e crenças escutavam sua palavra que tocava os corações mais empedernidos. Ele combatia com denodo as heresias. Gostava de pregar sobretudo para os pobres e admirável sua caridade para com os mais humildes. Era um enamorado da Santa Pobreza. Transmitiu o conteúdo da fé e fez acolher os valores do Evangelho de acordo com a cultura popular de seu tempo. Sua fama se espalhou e as graças que as pessoas alcançavam com suas bênçãos fizeram com que entrasse para a História como o santo dos milagres mais extraordinários. Faleceu com trinta e seis anos. Ainda hoje causa espanto a desproporção entre o reduzido tempo de  sua vida e a grandiosa obra apostólica por ele realizada. Foi enterrado em Pádua, cidade que lhe emprestaria o nome e lhe ergueria uma Basílica magnífica lá está numa redoma sua língua que não se corrompeu. Tornou-se o santo que abençoa aqueles que querem um bom casamento, pois atuara na vida de uma jovem que, seguindo suas instruções, convolou núpcias felizes.  Daí ser o santo casamenteiro. Hoje, mais do que nunca, se faz mister a invocação de Santo Antônio para que os jovens saibam escolher bem o companheiro de jornada e para que os esposos vivam  fiéis a seus compromissos matrimoniais. Todos saibamos imitar os exemplos de Santo Antônio. Ele foi um evangelizador pela palavra e pelo testemunho de vida. * Professsor no Seminário de Mariana durante 40 anos.