segunda-feira, 29 de agosto de 2016

COMO SER SEGUIDOR DE CRISTO

01 COMO SER SEGUIDOR DE CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Jesus deixou claramente três instruções para aquele que quer, de fato, se tornar seu seguidor (Lucas 14,25-33). Primeiro colocar todos os liames afetivos, sejam quais forem, sobre o eixo da referência a Ele, que deve ser a razão última de todos os amores. Ninguém, nada neste mundo, a se sobrepor ao liame que prende seu discípulo a seu Senhor absoluto. Depois, aceitar levar a cruz pessoal de cada instante. Enfim, em terceiro lugar, um completo desapego de tudo. Se estas clausulas não são observadas não se pode afirmar que se é adepto do Filho de Deus. São elementos basilares que caracterizam essencialmente o partidário do Evangelho. Do contrário, ostenta-se o nome de cristão e nada de positivo se realiza. Com duas parábolas narradas nesta oportunidade Jesus ratifica seu pensamento e propõe uma decisão sem limitações. De uma maneira pedagógica o pensamento do Mestre divino fica transparente e exige uma reflexão profunda. Trata-se de um programa de vida para religiosos ou leigos. Todos engajados na aventura maravilhosa da fé. Radical dependência daquele que veio estabelecer na terra um discipulado que não tinha nem teria exigências tão rigorosas, exatamente porque Ele é, realmente, o único caminho, a única verdade e a única vida verdadeira. É a lógica maravilhosa da inserção nele do que resulta fatalmente o autêntico amor, a força sobrenatural para transformar os espinhos da existência em joias para a eternidade, Amar a Deus com todas as potências da alma não é algo facultativo, pois se trata da exclusiva e imprescindível necessidade da vida do cristão. Esta dileção para com o Ser Supremo leva evidentemente à observância de todos os seus preceitos e a um trabalho evangelizador que visa a expansão de seu reino e a execução de sua vontade, conforme se reza na oração que Cristo nos ensinou. A existência do seguidor de Cristo é então impregnada pela realidade divina de tal forma que Deus passa a agir integralmente em tidas as ações. É a tomada de consciência de que Ele habita na alma de quem está em estado de graça. Disto resulta que nada numa sociedade consumista e globalizante venha a afetar o liame com Ele e se dá então uma independência dos bens materiais e de todas as ilusões terrenas. É unicamente Deus que passa a dar sentido àquele que O coloca sobre todas as coisas. Tal atitude é perfeitamente viável uma vez que Ele se encontra por toda parte e basta um ato de afeto para usufruir de sua inefável presença. Isto se torna tanto mais viável quando se sabe que é o próprio Jesus anda a procura de cada um como se lê no Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,:20) Quem para e reflete, percebe que as referidas condições estabelecidas por Cristo para ser seu discípulo calham maravilhosamente com os mais recrescentes anelos do ser humano que é levado a alçar voos altaneiros além dos horizontes terrenos. É o que se deu com Santo Agostinho que assim se dirigiu a Deus: “Inquieto está no nosso coração enquanto não repousa em Ti”. Portanto, para se seguir as instruções de Jesus e se tornar seu autêntico seguidor é estar unido a Deus e sempre O escutar. O poeta Kalil Gibran deixou este conselho: “Esforçai-vos por procurar o Pai como o rio procura o mar”. Deste modo, o amor a Deus estará acima de tudo, a cruz de cada dia será carregada com total paciência e jamais o cristão será escravo das coisas materiais deste mundo. As convenções terrenas não sufocarão jamais suas aspirações espirituais. É deste modo que se entra na relação que precisa haver entre discípulo e mestre nos três caminhos objetivos traçados pelo Mestre divino, nestas três maneiras que levam a progredir no discipulado que faz de cada um o verdadeiro cristão. Jesus exige, portanto, uma ruptura fecunda e criadora se libertando cada um das categorias ou preconceitos das convenções humanas. Livre das preocupações terrenas, o cristão permite que intuição de Deus o tome inteiramente e raia assim a liberdade apesar da cruz que deve ser carregada seguindo os passos de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


terça-feira, 23 de agosto de 2016

O CAMINHO DA FÉ

O CAMINHO  DA FÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O cristão que procura  progredir no caminho da perfeição realiza a ordem de Cristo: ”Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Além, é óbvio, de observar fielmente os preceitos do Decálogo e estar continuamente na presença de seu Senhor, mostra-se atento para nunca contar consigo mesmo, com suas luzes e seu próprio julgamento. Por isto implora sem cessar o auxílio divino a fim de pensar e agir com sabedoria de acordo com os desígnios divinos. Desconfia de si mesmo, reveste-se de humildade e reza com simplicidade e total sinceridade. Evita as ilusões advindas da soberba interior e presta toda a atenção à ação do Espírito Santo que sopra onde quer e quando quer. Não impede jamais a operação divina e, por isto mesmo, não se deixa abater ante as provações permitidas pela Providência. Deste modo, se verifica o domínio soberano de Deus que almeja levar seu seguidor a uma imolação contínua da vontade humana numa adesão ininterrupta a Ele. Para não se deixar enganar e desanimar, cumpre ao cristão total abandono à graça e absoluta confiança naquele que é a fonte da luz sobrenatural. Deus passa então a governar toda a vida daquele que Lhe é fiel.  Quem assim consegue avançar na vida espiritual há de batalhar contra a presunção, o desânimo, as tentações do demônio. Não faltando, porém, generosidade, a união com Deus se robustece e os momentos de reflexão solidificam o desejo de agradá-lo em tudo, apesar dos obstáculos da fragilidade humana. A abertura para o Transcendente é a porta aberta para que não haja retrocesso, mesmo ante as naturais fraquezas de um ser humano. O anseio da auto superação coloca o cristão em condições de cooperar com o auxílio celeste rumo à conquista da maturidade cristã. Esforços contínuos conduzem a um desenvolvimento integral dentro dos planos divinos, segundo “a medida da estatura da plenitude de Cristo”.(Ef 4,13). Mediante sua inserção na vontade divina o fiel tem acesso ao desenvolvimento pleno de sua personalidade, ideal a ser perquirido com constância e firmeza interior.  É o que São Paulo falou aso Coríntios: “Por isso é que não nos deixamos abater, mas ainda que o homem exterior se vá desfazendo em nós, o nosso homem interior vai se renovado de dia para dia” (2 Cor 4, 16). Para isto, é preciso estar conectado com a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, pois está na Carta aos Hebreus “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como no lugar da exasperação, no dia da prova no deserto” (Hb 3,7). Neste empenho para atingir a maturidade espiritual o cristão vai assim dia a dia desenvolvendo  plenamente t as potencialidades da graça em todos o níveis do organismo espiritual. É o caminho da fé iluminado pela esperança e alimentado pela caridade.  O crescimento das três virtudes teologais dão vitalidade ao fiel na busca da santidade. Eis o que   São Paulo observava nos tessalonicenses: “Recordamos continuamente a vossa fé operosa, a vossa caridade paciente e a vossa esperança constante em nosso Senhor Jesus Cristo, sob o olhar de nosso Deus e Pai” (1 Ts 3). Os germes de vida nova recebidos no Batismo precisam ser desenvolvidos numa ascensão ininterrupta.  Para Roberto Zavalloni, professor  de psicopatologia religiosa em Roma, estes são os sinais da maturidade espiritual: convicção profunda que gera uma espécie de vidência da existência de Deus; a transformação e a renovação da mente e do coração; a docilidade ao Espírito Santo; a capacidade espiritual de penetrar  até o fundo no mistério de Cristo e aceitá-lo; o comprometimento  de forma radical e total com Deus e com a salvação do mundo; a estabilidade da conversão da mente e do coração; a integração da própria personalidade em Cristo;  “o compromisso com a Igreja e com o mundo, superando os estreitos limites do próprio “eu” e de entrar em relação  construtiva e criativa com os outros”. Através  da correspondência às inspirações do divino Espírito Santo o cristão, seja onde for o lugar onde Deus o colocou, pode e deve atingir a maturidade espiritual. Quando isto acontece, cresce também a espiritualidade de toda a Igreja. Trata-se da participação efetiva de cada um nas implicações do Evangelho na salvação de toda a humanidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

FAZER TUDO COM HUMILDADE

FAZER TUDO COM HUMILDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus que na última ceia com seus apóstolos lhes daria uma lição de profunda humildade, lavando-lhes os pés, antes, por ocasião de uma refeição na casa de um dos principais fariseus, fixou para todos a importância desta virtude. (Lc 14, 7-14). Através dos tempos ecoaria sua sentença lapidar: “Quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado”. Sempre atento às atitudes dos que o cercavam Ele observou que, não havendo à mesa os nomes dos convidados para aquele festim, aqueles que haviam chegado primeiro procuravam os melhores lugares mais próximos ao anfitrião. Corriam o risco, alertou Jesus, de chegar outros mais importantes e a estes caberiam estar junto do dono da casa. Donde o conselho do Mestre divino de ninguém se julgar o mais respeitável, devendo, depois, ceder seu lugar a outro. E isto seria vexatório. Cumpre, porém, ir além do ensinamento provindo de uma situação social, mas é preciso apreender neste episódio o convite que Deus faz a todos para o banquete de seu Reino. Ser um convidado para a mesa divina significa estar em intimidade com o Ser Supremo. Para Deus os mais dignos não são necessariamente os mais cultos e sábios, os mais ricos aos olhos humanos, mas aqueles que correspondem com muito amor ao convite amoroso deste Senhor Onipotente.  São aqueles e aquelas que se empenham em cumprir a cada instante a obra do Pai, levando a sério seu projeto de salvação. Corresponder a este plano de Deus é a condição basilar para se chegar um dia ao banquete das Bodas eternas. Conhecedor de tudo Ele sabe quem são os merecedores desta felicidade perene, ou seja, os mais puros e cumpridores de seus deveres. Estes, aliás, nunca se julgam credores de uma recompensa extraordinária, pois agem sempre com muita humildade, reconhecendo suas vulnerabilidades e fraquezas. Consideram as ações luminosas daqueles que, como São José, Santa Rita de Cássia, Santo Antônio e tantos outros, chegaram ao festim celestial com enormes merecimentos que os colocam bem próximos do trono do Criador de tudo. Há porem, outro aspecto a ser observado: o fariseu do Evangelho fez convites.  Deus também convida para o banquete de seu Reino. É preciso que cada cristão faça convites levando parentes e amigos a procederem de tal forma que não percam um lugar lá no céu. É necessário ser o arauto daquela felicidade que será concedida aos que corresponderem ao apelo divino para não perder o seu lugar na eternidade venturosa preparada por Deus para os que O amam e servem. Jesus deixou claro: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Lá Ele aguarda os que lhe forem fiel nesta terra e, sobretudo, aqueles que colaboraram para que esta lealdade existisse em seu derredor, afastando toda indolência no trabalho evangelizador Isto sem esperar compreensão, amizade, gratidão dos homens. Cumpre, por isto mesmo, que ao lado de imitar a generosidade do Pai que convida para o seu festim, que cada um seja humilde e se reconheça indigno do Reino celeste, ferido muitas vezes nas batalhas da vida, mas jamais duvidando do amor de Deus. Tudo, porém, realizado na mais completa humildade não se avaliando superior aos outros. Consciência de que enquanto alguém está neste mundo há precisão de conversão contínua. Nunca se deve permitir que o orgulho venha a poluir os mais recrescentes desejos de perfeição. Cada um reconhecendo os talentos que recebeu de Deus, procurando desenvolvê-los para melhor servir o próximo e ao Doador de tudo. É, porém, até um ato de humildade ter uma justa estima de si mesmo, mas aceitando a ajuda dos outros para se aprimorar espiritualmente. Todos em marcha para o festim celestial no qual ninguém entrará sozinho, pois pelo exemplo e pela palavra deve arrastar a muitos para o mesmo venturoso destino. Este espírito de humildade é a alma de todo apostolado, mesmo porque Jesus alertou: “Aquele que quer se tornar o primeiro entre vós, se torne o servidor de todos”. O humilde não quer dominar, mas irradiar a alegria, a felicidade de não ser admirado, imolando-se pelo próximo. Jesus deu o exemplo e se fez humilde e o Servidor por excelência. Evangelizar é deixar Cristo viver em si mesmo, dando credibilidade ao trabalho evangelizador. Deste modo muitos irão para o festim da Casa do Pai. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

AGRADECIMENTO AO DR. ROQUE CAMÊLLO

AGRADECIMENTO AO DR. ROQUE CAMÊLLO

Viçosa, 18 de agosto de 2016
Prezadíssimo Dr. Roque Camêllo,
Cordiais saudações!
Foi com enorme admiração e movido por singular emoção que percorri a monumental obra MARIANA – ASSIM NASCERAM AS MINAS GERAIS: UMA VISÃO PANORÃMICA DA HISTÓRIA.
Mariana, templo do devotamento à pátria, orgulho de um povo, pois “nenhuma outra cidade mineira apresenta as tradições de cultura e civismo” como esta gloriosa urbe e “mineiro não seria quem deixasse de amar a mais antiga cidade de Minas”; berço da democracia, uma vez que foi nela que se elegeu a primeira edilidade erigida na região do ouro, erguendo-se a consciência pública, relampejando o espírito nacional, merecia, de fato, uma enciclopédia como esta.
Nestas páginas o esplendor da Arte Barroca fulge por entre relatos históricos que patenteiam a grandeza daquela que foi, com toda justiça, a 6 de julho de 1945, proclamada Cidade Monumento.
 Mariana sempre guiou para os mais altos ideais elites pensantes de Minas e do Brasil e continuou através dos tempos um estímulo para uma autêntica valorização da cultura nacional.
Sítio mágico pelas suas realizações tão caras a Minas e ao Brasil, desferindo “sonora cítara de David com plectro de Epicarmo”, terra abençoada que dispõe, o que não é comum entre as cidades de envergadura através dos tempos, da disposição de meditar, de refletir, de voltar para a contemplação da natureza com seus montes, colinas, luares, é digna de uma homenagem como esta.
 Tudo isto  ressumbra neste livro magnífico.
 Apenas um ilustre filho de Mariana, como o ilustre amigo, para ressaltar de uma maneira tão fulgurante os tesouros de uma arte autenticamente criada e nascida em Minas Gerais em seus atraentes templos e demais monumentos que não se repetem, cada um guardando seus segredos centenários, ressaltados também pelas belíssimas paisagens tão bem apresentadas nestas páginas maravilhosas.
Resta-me então uma saudação: “Feliz de ti Mariana,  “alma prestantum genitrix virorum”  e que neste terceiro milênio tem um Roque Camelo para continuar a cantar  brilhantemente a tua glória”.!
Ita in fide magistri et sacerdotis.

         Gratíssimo ex corde pela honrosa oferta com uma dedicatória que fluiu  da generosidade de um grande coração
         Atenciosamente se subscreve

         Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O SER HUMANO PERANTE DEUS

O SER HUMANO PERANTE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Se pessoas não sem fé, muitas vezes, se posicionam contra Deus O ultrajando, pior se torna a atitude daqueles que creem, mas querem manipular o Ser Supremo das formas mais variadas. A mais comum é a revolta contra Ele quando surgem as provações e contrariedades inerentes à condição humana ou permitidas pela Providência divina no intuito de purificar aquele que proclama que O ama. Manifesta-se então uma audaciosa revolta contra o Senhor de tudo. O endeusamento dos bens terrestres ou uma falsa espiritualidade se opõem ao verdadeiro posicionamento da criatura perante o seu Criador. No primeiro caso, o homem, girando tudo em torno de si, aspira a posse de riquezas, de glórias, de prazeres mundanos, afrontando os preceitos do Decálogo. Na outra hipótese, Deus é trazido à barra do tribunal do fiel que arrogantemente quer impor a Ele sua própria vontade e faz da oração uma ordem atrevida Àquele que é o seu Soberano. As promessas transformam muitas preces num negócio com o Criador. Cristo ensinou simplesmente a pedir, a buscar, a bater humildemente na porta da Misericórdia divina. Graças obtidas devem, contudo, ser agradecidas num louvável hino gratulatório. O ser humano ignora ou se esquece de que o Onipotente deve ser objeto de um total amor, precisa ser continuamente adorado e servido e nele se deve ter a mais radical confiança. Isto por ser Ele o Ser Supremo, o único subsistente por si mesmo, Aquele que é, existindo desde toda a eternidade. Não se pode desconhecer que Ele é a regra, a medida e o centro de tudo e que não existe nada sem o seu querer todo-poderoso.  Possuidor de todas as perfeições e a fonte de todos os benefícios merece todo acatamento. Na sua infinita bondade Ele se dispõe sempre a dialogar com suas criaturas racionais, mas é naturalmente avesso a todo tipo de empáfia, fatuidade ou soberba. O orgulho humano bate, sacrilegamente, tantas vezes de frente com Seu domínio absoluto como se Ele fosse um seu rival a ser descartado ou até um escravo a receber ordens. A dependência que a própria razão exige perante Ele condena tais atitudes. Requer-se um mínimo de bom senso para saber conversar com Aquele que conhece o que é melhor para cada um e que tem o poder para vir de encontro às necessidades de quem nele deposita fé sem limites. É necessário não se deixar levar pela mesquinhez que paralisa a ação das graças, pois Ele resiste aos arrogantes como aparece claramente em inúmeras passagens da Bíblia. O orante deve se entregar sinceramente a Deus, repousar nos seus braços paternos, sabedor de que sem Ele ninguém é forte, ninguém é santo. É do contato humilde com o Todo-Poderoso que o cristão pode vencer o amor-próprio, fruto do pecado original e, fortificado pela luz divina, triunfar das paixões. Robustecida a vontade, já não se faz mais uso incorreto do dom da liberdade. As infidelidades vão desparecendo e as vitórias sobre satanás se multiplicam, mas são atribuídas unicamente aos auxílios celestes. O ser humano já não se apropria da ação de Deus e está convencido de que com Ele fará continuamente proezas, porque é Ele quem calcará aos pés os seus inimigos (Sl 108.13).  Estabelece-se, desta maneira,  uma relação frutuosa com a Santíssima Trindade. O cristão, que assim se situa perante o seu Senhor, crê no Espírito Santo, Doador de tudo, adorando-O juntamente com o Pai Onipotente e o Filho Salvador. Reconhece-se amado do Pai, guiado pelo Espírito, numa valorização a contínua dos méritos redentores da Cruz. São Paulo assim se expressou: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). Assim o fiel goza a sabedoria e o gosto pela oração bem feita em todos os momentos. Resta sempre vigilante à espera do encontro definitivo com Deus na hora de deixar este mundo. Captando por toda parte os sinais da presença do Ser Supremo, conhece nesta trajetória terrena a integração perfeita entre fé e vida.  Então a presença divina se torna sem cessar princípio de vida sobrenatural e de luminosidade celeste. Isto porque, como se lê no Livro da Sabedoria, Deus “se deixa encontrar pelos que não o tentam, revela-se aos que nele têm fé.  Os juízos tortuosos afastam de Deus e a Onipotência, posta à prova confunde os insensatos. (Sab 1, 3-4). Em síntese, o ser humano perante Deus necessita uma fé neste Deus pessoal e vivo que está presente por toda parte e que admite um afortunado diálogo entre Ele e sua criatura racional*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

UM PROGRAMA DE VIDA ESPIRITUALO

UM PROGRAMA DE VIDA ESPIRITUAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Os fiéis que observam corajosamente os mandamentos da lei de Deus e da Igreja não estão isentos das investidas de satanás. Aliás, Deus as permite para provar a fidelidade dos que O temem e O amam. Disto resulta inclusive uma proveitosa purificação interior. Diante das perplexidades que, por vezes, envolvem almas piedosas há necessidade de uma conduta correta para que o inimigo não venha a causar malefícios. Dentre estes, o desânimo seria um dos mais graves obstáculos ao desenvolvimento espiritual. É preciso nesse caso que o cristão humildemente se lance nas mãos divinas e se disponha a enfrentar com galhardia tais dificuldades. O auxílio celeste não deixará de lhe vir em socorro, se ele assim proceder. Daí a importância  das orientações recebidas no Confessionário, as quais são dadas sempre que solicitadas ao sacerdote, o qual nunca deixa  de concitar à perseverança. Adite-se a recepção da graça medicinal própria do Sacramento da Penitência. Cumpre então a correspondência total a este medicamento celeste, pois nenhum poder tem o espírito maligno sobre aquele que procura a força divina. Esta vence aquele que foi derrotado pela Cruz de Cristo, pois de suas chagas jorram as energias que fortalecem o cristão nos embates contra o maligno. Eis por que o discípulo do Redentor  deve ficar calmo perante as tempestades armadas pelo diabo, pois elas passam e Deus não permite nunca que alguém seja tentado acima de suas possibilidades. A tática é nunca ceder ao demônio, seguindo a recomendação de São Tiago: “Resisti ao diabo e ele se afastará de vós” (Tg 4,7). O demônio pode ocasionar agitação, mas quem confia em Deus não soçobrará jamais. Deus quer maleabilidade em acatar as inspirações do Espírito Santo, hauridas também  na Eucaristia e nas orações cotidianas que não podem ser abandonadas. Elas são a armadura do cristão e o tornam invencível ante o mal. Aos poucos o fiel vai se apartando cada vez mais da malícia do mundo, mas sem se deixar sugestionar pela ação satânica que o quer longe da familiaridade com Deus. Esta é afetada todas as vezes que o cristão não foge corajosamente das obras e vaidades de satanás ou é levado por ele a esmorecer na prática de uma piedade sincera. A tática do perverso inimigo de Deus é levar, por vezes, o cristão a questionar os valores sobre os quais se alicerça uma vida espiritual sólida, concitando ao afastamento da dependência e da submissão a seu Senhor. É preciso que se tenha continuamente a certeza de que nenhuma atividade humana é irrelevante para o reino de Cristo, inclusive os momentos de possíveis desânimos na caminhada nas veredas da santidade. O demônio é ardiloso e aí daquele que não se dispõe a vencê-lo sem se armar contra seus rugidos que são diferentes  para cada um. O importante  é o cristão colocar sua fé em Deus e não numa ideia de progresso espiritual sem as dificuldades provindas daquele que deseja confundir os amigos de Jesus. Este dá a quem nele confia o poder para desbaratar todos os influxos do inimigo. Este pretende impedir o cristão de ser um autêntico seguidor do Filho de Deus. Entretanto,  é na fragilidade humana que Cristo manifesta seu poder. Ele está ininterruptamente a dizer a cada um aquilo que Ele falou a São Paulo: “Basta-te a minha graça,  pois é justamente  na fraqueza que a força da graça mostra a sua potência” (2 Cor12,9). Nem as distrações nas orações, nem um menor fervor ao participar das Missas, nem a multiplicação das tentações advindas dos pecados capitais, nem as imperfeições inevitáveis a seres contingentes são obstáculo intransponível. É quando o cristão percebe ainda mais claramente que felicidade perfeita é só lá no céu e que neste vale de lágrimas o combate é ininterrupto. Aceita com muita humildade sua condição de peregrino nesta terra e  continua renunciando ao mundo como inimigo de Deus. Afasta qualquer tipo de idolatria da riqueza, das aberrações sexuais,  abominando tudo que, ainda de longe, se configure como uma ofensa ao Criador. Tudo que conspurca a dignidade do ser humano apresentado nos meios de comunicação social são execrados e jamais  o   seguidor de Cristo se expõe às ocasiões de pecado. Dá-se uma marcha firme rumo à Casa do Pai, superando as trevas do erro. Deste modo, os obstáculos da restauração em Cristo são afastados, resultando uma sublime configuração com Ele (Ef 1,4-10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O ÍCONE PERFEITO DA FÉ

O ICONE PERFEITO DA FÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O contraste que há entre as leituras do Apocalipse (11,9.12,1-3) e do Evangelho (Lc 1,39-56) apresentadas na Missa da solenidade da Assunção de Maria aos céus merece reflexão e tem uma instrutiva explicação. Passa-se, com efeito, de Maria de Nazaré, a humilde serva do Deus Altíssimo, à mulher revestida de sol e coroada de doze estrelas, descrita por São João. Esta transformação, porém, tem seu esclarecimento nas palavras de Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento das palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor”. O Papa Francisco assim se expressou na sua Encíclica Lumen Fidei: “A Mãe do Senhor é o ícone perfeito da fé. [...] Na Mãe de Jesus, de fato, a fé trouxe todo o seu fruto”. A razão pela qual a fé de Maria teve efeito tão extraordinário foi dada pelo mesmo Papa: “Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus foi endereçada a Maria e ela a acolheu com todo o seu ser, no seu coração” Ela, realmente, se imergiu inteiramente na mensagem que o Arcanjo Gabriel lhe trouxera da parte de Deus. O “sim” de Maria foi sem condições e sem tergiversações, sem cláusulas restritivas, segundo alguns comentaristas foi um cheque em branco passado a Deus. A plenitude da fecundidade de sua fé se liga à culminância de sua adesão à vontade divina. Por isto grande é o júbilo que se apossa de todos os fiéis ao contemplar a Virgem Fiel indo de corpo e alma para o céu, antecipando o que se dará a todos que acreditaram na palavra salvadora vinda de Deus. Trata-se de um gaudio fundamentado nesta realidade sublime: a Assunção de Maria prefigura a ressurreição futura daqueles que viveram e vivem em função de tudo que Deus revelou. Estes estão destinados ao mesmo itinerário da Rainha triunfante, cujo coração foi trespassado pela espada de dor profetizada por Simeão. Maria está então a lembrar a seus filhos que a glória passa sempre pela cruz deste exílio terreno, contanto que seja carregada com paciência, olhos voltados para a eternidade. Como bem se expressou o Frei João-Alexandre do Cordeiro, isto significa uma livre resposta de fé à proposta vantajosa do Deus de amor! Este Deus, contudo, exige uma doação integral de todo o ser a Ele como ocorreu com Maria. Apenas assim a graça divina pode realizar maravilhas na vida dos cristãos, sendo tudo em todos.Todos modelados inteiramente pelo amor de Deus como aconteceu com a Virgem Santa. Esta é a mensagem fulcral da solenidade deste dia, convidando a todos a deixar se transformar pela graça celeste sem óbices e dubiedades, sem qualquer indocilidade. Com coragem lutando pela justiça contra toda injustiça, levando ternura lá onde há incompreensão e violência, tudo dulcificando pelo afastamento do desprezo e da indiferença. Enfim, uma pugna constante contra o dragão do pecado sob todas as suas manifestações. É a batalha constante entre as forças da luz e as forças das trevas. De um lado os que temem a Deus, os humildes de coração, os famintos das realidades espirituais e de outro lado os soberbos, os adoradores das riquezas, os opressores. O destino dos bons, porém, está traçado na solenidade de hoje, ou seja, um dia, a exemplo de Maria, ir para a Casa do Pai, para a glória do céu. Ela nos precedeu e a todos aguarda na outra margem da vida. Ela é o sinal de toda nossa esperança. A felicidade que Deus um dia deu a ela, por ela e com ela, Ele quer para todos os que Lhe são fiéis como esta Mulher Bendita. Nesta solenidade de hoje a fé fica reavivada, intensificado o liame com o divino Redentor e pulsa maior forte o anelo de caminhar com destemor para a Jerusalém celeste. Como bem se expressou São Bernardo, Maria a irmã de Lázaro ofereceu a Jesus a hospitalidade sob seu teto, Maria a Mãe do Salvador, o albergou no apartamento nupcial de seu seio, podendo afirmar que “Aquele que me criou repousou no meu tabernáculo” (Ecl 24,12). Foi por isto que como Filho agradecido Jesus, logo depois que a morte visitou sua mãe a ressuscitou e a levou de corpo e alma para o céu e lá ambos estão a nossa espera. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

CRIADOS NA MISERICÓRDIA E PARA A MISEIRCÓRDIA

CRIADOS NA MISERICÓRDIA E PARA A MISERICÓRDIA
Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Vivemos o ano da Misericórdia e o lar é um campo maravilhoso para que se exerça a misericórdia, a compreensão, o perdão como valores fundamentais a serem transmitidos nas famílias. Trata-se de um dom específico dos lares cristãos e, por isto, é também uma missão de transcendental importância para toda a sociedade da qual a família deve ser um espelho por ser dela a célula mater. Os cônjuges são criados na  misericórdia e para a misericórdia, pois um deve ser para o outro auxílio, adjutório, amparo durante toda a vida. Sem Misericórdia surgem atitudes  que podem afetar a harmonia dos casais. Quando não são afastadas com sabedoria, podem comprometer gravemente a autoestima de um dos cônjuges e martirizar inutilmente a própria existência. A falta de misericórdia, de indulgência  é uma atitude negativa que só complica a família e significa  entregar-se à insegurança. Isto  provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir  autocontrolar-se  e de se ter uma visão menos deturpada de uma situação que pode e deve ser contornada. O primeiro passo para superar um sentimento doloroso real ou fruto da imaginação é relacionar este sentimento com a valorização pessoal diante de qualquer circunstância que tenha surgido e perdoar logo, pois só Deus é perfeito. No momento oportuno uma conversa tranquila pode esclarecer qualquer situação que tenha causado aborrecimento. Em segundo lugar, é  se conscientizar que o pesar, a tristeza, o desgosto, a mágoa não podem nem devem desestruturar a própria pessoa e destruir a paz famililar. Cumpre, além disto, superar a insegurança inclusive depositando total confiança no outro sob pena de prejudicar a vida de ambos. Perpetuar, através da imaginação, uma questão que  deve ser debelada é uma trilha completamente prejudicial. É preciso continuar investindo no amor mútuo,  logo desculpando radicalmente, não deixando que algum ressentimento conduza ao desespero ou ao rompimento inteiramente desaconselhável em qualquer hipótese. Sábio o ditado: “O tempo cura todas as feridas” Adite-se o recurso sobrenatural à oração que traz paz, serenidade, imperturbabilidade, além de alcançar de Deus a solução desejada para o problema que tenha surgido. Problemas surgem para serem solucionados. Entretanto, vale também o brocardo: “Ajuda-te que o céu te ajudará!” O célebre literato Paul Claudel escreveu um tocante livro, cuja epígrafe é Qui ne souffre pas? – Quem é que não sofre? Portanto, não é o sofrimento em si que causa atitudes depressivas ou agressivas. A grande questão é sublimar sempre as aflições existenciais, dando-lhes uma aplicação transcendental e delas se servindo para o próprio amadurecimento. Resoluções firmes e arraigada confiança no porvir acompanham aqueles que encaram a vida com vistas amplas sem se deixarem trancar nos aposentos escuros da disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior. Venturosos os que não se  deixarem amesquinhar pelos receios de uma ideia  que agiganta os perigos, aumentando falsos temores. O verdadeiro cristão se mostra sempre misericordioso, ativo, empreendedor, corajoso, sem pavor das naturais dificuldades do relacionamento cotidiano. Ostenta uma atitude esperançosa em face dos problemas , considerando-os passíveis de uma solução global positiva. Desta mundividência resulta uma atitude geral ativa e confiante, cultivando uma anistia proveitosa para si e para os outros.  Infeliz quem não sabe perdoar, o tímido, o pusilânime, incapaz de vencer obstáculos. Muitos fracassam exatamente porque descuidam o cultivo das habilidades que possui, contemplando sempre obstáculos intransponíveis em qualquer momento. Vivem perenemente a reboque dos seus sentimentos agressivos, sem nenhuma iniciativa vigorosa que conduza à melhoria da própria  história  e do meio em que vive. Donde a importância da educação da vontade e da mente que devem estar sempre voltadas para desculpar o outro. Ralph Waldo Emerson, filósofo americano, proclamou que “uma lei da natureza afirma-nos que a habilidade aumenta com a prática, e que quem não tem força de vontade para agir, para perdoar não pode adquirir a perícia desejada”. Felizes só os misericordiosos, os destemidos, os otimistas,  os quaisconhecem os louros da imperturbabilidade sobretudo nos lares.  Vivem o que afirmou São Paulo: “O amor tudo suporta”. Então, aqueles que ainda vão convolar núpcias, ou já vivem o sacramento do matrimônio terão sempre um lar feliz, abençoado como foi o Lar da Sagrada Família onde sempre imperou o amor, a compreensão, a bondade. Deste modo a família pode e deve ser o santuário da misericórdia, mostrando o rosto de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da caridade  misericordiosa deste Deus que é amor infinito. Isto porque a misericórdia como o amor, dever ser uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Os cônjuges foram criados na misericórdia de Deus  e para a misericórdia deste Deus que é amor! *  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 6 de agosto de 2016

O FOGO DO ESPÍRITO SANTO

O FOGO DO ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Impressionante a imagem escolhida por Jesus ao afirmar: “Eu vim lançar fogo sobre a terra” (Lc 12,49).  Notável ainda o que ele afirmou, dizendo que não veio trazer a paz, mas a divisão (Lc 12,21). Em nossos dias a televisão mostra incêndios perturbadores em diversas partes do mundo devorando paisagens, plantações, casas e ceifando inúmeras vidas. No Brasil, segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), durante o período de junho a novembro, grande parte do país é acometido por queimadas, que se estendem praticamente por todas as regiões, com maior ou menor intensidade. Nas cidades é constrangedor assistir o que acontece em muitas favelas e também em edifícios sobretudo nas grandes metrópoles. Jesus escolheu a imagem do fogo para falar de sua missão e Ele também havia presenciado pequenos incêndios na sua época na Galileia ou na Judeia. Um pequeno fogo pode se alastrar envolvendo tudo no seu ardor. Ao falar em fogo Cristo deve ter impressionado profundamente seus ouvintes que logo devem ter imaginado a rapidez com que as chamas se desenvolvem. Ora, Jesus queria exatamente mostrar que seu desejo era ver alastrada sobre a terra inteira a Boa Nova da salvação. A sugestiva imagem por Ele empregada demonstra até uma santa impaciência para que isto viesse a acontecer por força da presença do Espírito Santo que Ele enviaria de junto do Pai. Foi o que ocorreu no dia de Pentecostes quando o Espírito divino desceu sobre os Apóstolos em línguas de fogo (Atos 2,3). Antes, São João Batista já havia proclamado que Jesus batizaria com o Espírito Santo e com o fogo (Mt 3, 11), porque encheria os batizados de dons celestes e os purificaria de toda impureza. Portanto, o fogo que deveria se espalhar é o carisma da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a aquecer e iluminar o mundo através de seus seguidores.  Mais complexa, porém, de ser decodificada é a outra palavra do Mestre divino dizendo  que não viera trazer a paz, mas a divisão. Entretanto, quando se percorre a História após a vinda de Cristo se percebe a veracidade desta assertiva do Filho de Deus. Durante as perseguições aos cristãos pelo Império Romano foram perpetradas divisões pelo ódio ao Evangelho e já naquele tempo dentro das famílias houve separações porque muitos aceitavam Jesus e outros não. Em nossos dias inúmeros são os que ficam fiéis a sua verdadeira Igreja, enquanto há os que vão seguir outras religiões. Disto resultam, por vezes, conflitos dolorosos. Jesus sabia que a fé depositada nele iria trazer separações no seio das famílias e das nações. Não obstante, Ele contaria sempre com seus discípulos fiéis para disseminar a paz e o amor. Este seria seu preceito novo: “Amai-vos uns aos outros” (Jo 15,12)  e sua saudação aos Apóstolos após sua ressurreição foi esta: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14,27). A verdadeira paz, a serenidade do coração se originam da união com Deus e da união recíproca através do amor mútuo. Assim sendo, apesar das divisões, como obreiros da paz, seus epígonos  trabalhariam sempre pela reconciliação nas famílias, nos países, entre os povos. É sabedoria invocar o fogo do Espírito Santo que queima os pecados e imperfeições pessoais e ilumina em cada coração a chama do amor a Deus e ao próximo. Purifica de toda ira, de toda impaciência, de toda incompreensão, de toda a inveja, de todo racismo Donde resultar a paz interior, a imperturbabilidade. Fogo que abrasa e que deve ser irradiado por toda parte. O fogo do Espírito Santo abre para uma vida nova, para uma fraternidade formada por aqueles  que escutam a palavra de Deus e a põem em prática.  Como cristãos, somos responsáveis para que este fogo se propague. São João da Cruz escreve neste sentido que, como o fogo transforma as coisas nele mesmo, assim o amor de Deus para quem se deixa por ele abrasar. Eis aí o desejo ardente de Jesus, pois apesar das divisões que a adesão integral a Ele provoca, Ele havia também proclamado: “Felizes os artesãos da paz”, Ele que “apareceu para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1.79). Como bem se expressou o teólogo Frei Jean-Christian Lévêque, uma das maiores vitórias do discípulo de Cristo é, mesmo numa família dividida, mesmo num contexto adverso à Igreja, irradiar a paz e a compreensão, sem nunca, contudo,  aprovar o erro.

*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

VIVER EM DEUS

VIVER EM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São inúmeros os textos de notáveis mestres da espiritualidade sobre o valor da consciência que o cristão deve ter da presença de Deus. Doutrina esta bem fundamentada no discurso de São Paulo no Areópago de Atenas: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17,28). Além disto, para quem vive na graça santificante, há uma união especial com a divindade, conforme as  palavras de Cristo: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). De tudo isto resulta, sobretudo para quem tem fé, uma concepção da vida inteiramente ordenada para o Senhor de tudo. Deus está por toda parte e não é limitado por nada, habitando dentro do coração que participa de sua vida divina. Por sua transcendência Ele não se confunde com suas criaturas, as quais são finitas, contingentes, ou seja, existem, mas poderiam não existir. Ele é o Criador de tudo e tudo Ele conhece, pois dele deriva o que existe. É infinito e eterno, dado que nele a essência se confunde com a existência.  Ele mesmo afiançou a Moisés: “Eu sou aquele que sou” (Êx 3, 14). Ele é Aquele  que existe  por essência. Por tudo isto Deus deve ser a íntima ocupação do espírito humano. Um só fim, um só objeto, um só desejo a envolver todas as ações, isto é, o cumprimento exato da vontade divina. Todas as afeições necessitam então estarem concentradas nele. Todos os amores do ser racional referentes aos parentes, aos amigos, aos benfeitores passam a existir somente em Deus a quem se dedica um amor muito maior que está acima de todas as coisas.  Deste modo, o cristão se torna livre de uma multidão de cuidados, de inquietações, de preocupações. Daí a sábia orientação de Santo Agostino: “Ama e faze o que quiseres. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se falas alto, fala por amor; se corriges, corrige por amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor, dessa raiz não pode sair senão o bem”. Esta é a felicidade de quem se acha imerso na dileção de Deus no qual pensa continuamente, explícita ou implicitamente, uma vez que o cristão tem assim sempre a reta intenção de tudo fazer em função do Ser Supremo. Deste modo, os próprios interesses pessoais ficam sujeitos unicamente ao serviço de Deus e ao bem do próximo. A alma se deixa desta maneira se conduzir apenas pelos valores superiores em consequência de  sua união com o seu Senhor. Esta atitude não é privilégio dos grandes místicos e são inúmeros os fiéis que procuram cultivar este sublime ideal de viver ininterruptamente em Deus. A existência do fiel vai  se estruturando dentro de um fluir contínuo segundo o ritmo variável de acordo com as inspirações divinas. Trata-se de um amadurecimento espiritual de quem, apartado de todo pecado, luta por vencer as próprias imperfeições porque muito ama a Deus. Uma sadia austeridade faz então parte irrenunciável de tudo que pratica. A dileção espontânea ao Criador se desdobra naturalmente  no serviço amoroso prestado aos outros. O eu fechado na ambição desaparece e o fiel, ao invés de procurar sua vantagem pessoal, almeja apenas agradar a Deus, oferecendo o dom de si mesmo ao próximo. O  teólogo Tullo Goffi mostrou que “o ser criado pode crescer no amor quando se acha capacitado para aproximar-se de maior conformidade com a vida divina. Quem amadurece para o amor oblativo demonstra ter sido objeto do amor criado do Senhor”. Isto é fruto da ação divina, pois “o amor foi derramado  em nossos corações por obra do Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Cumpre, contudo, a verdadeira intimidade com Deus, explorando esta realidade  que é Ele dentro do coração de quem de fato o ama. As grandes almas vão aos poucos conhecendo um abandono total à graça a ponto de se deixarem transformar inteiramente por ela, permanecendo cingida a Deus .Ele então  vai ocupando todos  os espaços dentro de cada um. Todos os pensamentos e todas as afeições se tornam simples e terminam neste Deus, oceano de amor. Tudo se transforma em oração.  Como bem observou o Pe. Grou, quer o fiel  esteja lendo ou falando, quer ocupado no seu trabalho ou nos seus afazeres domésticos,  ele sente que é menos ele que age, mas Deus que age nele e por ele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.  


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

DAMINHO PARA A PERFEIÇÃO CRISTA

CAMINHO PARA A PERFEIÇÃO HUMANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Estimulados pela graça são inúmeros os cristãos que aspiram caminhar em busca da perfeição. Rompidos os laços com o pecado, surge o anseio de uma vida espiritual mais intensa. Entretanto. é preciso que cada um seja sincero consigo mesmo e reconheça quanta miséria há no fundo de seu coração. As consequências do pecado original exigem uma atenção contínua para que seja banida a perversidade a qual pode contaminar todas as ações. Nem sempre o batizado age segundo os interesses de Deus, mas de acordo com o que solicita o amor-próprio.  Contudo, para se atingir a autêntica santidade numa fidelidade contínua a Deus são necessárias a generosidade e uma lealdade completa. Para isto existem meios valiosos.  Cumpre pedir a Deus luzes para conhecer as intenções reais de tudo que se faz. O Criador deve estar em primeiro lugar e não os motivos egoístas que deturpam muitos esforços, malbaratando grandes méritos para a eternidade. A iluminação divina leva então o fiel a diagnosticar os motivos secretos de tudo que pratica. É preciso uma purificação dos desejos que levam à ação a qual deve visar unicamente a glória de Deus e o bem do próximo, escapando assim cada um das mais sutis ilusões geradas pelo egoísmo. Nunca deixar  de desconfiar de si mesmo para poder tudo realizar de acordo com o espírito de Deus. Eis por que a reflexão, a oração, o exercício da presença de Deus se tornam recursos valiosos para que se evitem os erros. Deste modo, se toma o Paráclito como guia e este conduz à renúncia de tudo que não se harmoniza com a vontade divina. Tudo isto se consegue no dia a dia, passo a passo, durante toda a vida. O Espírito Santo vai tornando o fiel cada vez mais dócil, enérgico e perseverante. O amor a Deus  passa a impregnar toda a atividade humana. Atinge-se aos poucos  desta forma uma espiritualidade eclesial autêntica alcançada pelo discernimento que o Espírito Santo vai comunicando aos que almejam um progresso ininterrupto na vivência de todas as virtudes. Há então um diálogo permanente com o Pai, sustentado pelo Evangelho sob a conduta do Espírito santificador. É nesta altura de sua vida que o cristão tem um poder especial para rezar pela conversão dos pecadores, sendo um sustentáculo dos trabalhos pastorais da Igreja no mundo inteiro. Olhos voltados para Cristo Crucificado, alimentados pelo Pão Eucarístico tais fiéis fazem resplandecer a verdadeira face de Deus. São as autênticas testemunhas do divino Salvador (At 1,8)..Este testemunho de vida  é o sinal mais importante de credibilidade das verdades reveladas e da presença divina como força transformadora  da existência humana. É a revelação luzidia da força do Evangelho. Apesar de suas limitações, os que procuram o progresso espiritual se tornam o homem novo de que se revestiram no dia do Batismo. Esta é uma realidade possível, mesmo porque  os cristãos são fortalecidos no Sacramento da Crisma para que os outros ao verem suas boas obras glorifiquem o Pai que está nos céus. Surge a dinâmica do amor em busca de uma comunicação da beleza da doutrina de Cristo.  Tudo isto resulta de uma leitura correta  e global de tudo que Jesus ensinou. O Filho de Deus  apresentou a perfeição como o fim que todos devem alcançar para uma transformação radical do mundo enquanto  espaço ocupado pelas forças do mal. Felizmente, a maioria dos cristãos  fazem uma opção livre de um tipo de vida em que possam exteriorizar o sábio radicalismo do Evangelho. A verdade é que a vida do cristão nesta terra deve ter uma consistência peculiar, rica em si mesma, digna de preencher por si só uma existência generosa e reta. É que todo cristão luta então para atingir a perfeição na sua forma peculiar de vida no lugar em que Deus o colocou, com suas tarefas específicas, mediante os carismas outorgados pelo Espírito Santo. Donde o valor essencialmente cristológico da vocação do cristão no mundo. Trata-se de uma vivência profunda do Sermão da Montanha ( Mt 5-7), programa fundamental  de vida cristã e parte essencial de todo  o espírito do Evangelho. Aí se encontram os conselhos da mais alta perfeição, caminho seguro para a santidade preconizada pelo divino Salvador. Deste modo, realiza-se o que São Paulo recomendou aos romanos: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente, para  discernirdes  qual é a vontade de Deus, o que é bom, aceito a Deus e perfeito” (Rom 12, 2).  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



terça-feira, 2 de agosto de 2016

UM OBJETIVO A SER ALCANÇADO

UM OBJETIVO A SER ALCANÇADO
Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Para os cristãos  que observam os mandamentos da Lei de Deus e que lutam contra as faltas veniais nem sempre  aflora  para eles uma paz total. Não conseguem  passar além de suas vãs apreensões, se suas perplexidades, de seus tormentos interiores.  Almejam a serenidade do coração, a imperturbabilidade íntima, a calma nos afazeres cotidianos, o fim das agitações e isto não é alcançado. É que há uma condição para se atingir este ideal. Trata-se do esquecimento integral de si mesmo, deixando Deus dispor de tudo como Ele bem o quiser. Cumpre entregar sinceramente a Ele sem reservas o espírito e o coração. Deus exige uma completa generosidade consagrando-lhe tudo que alguém é ou possui, reconhecendo que a Ele tudo pertence.  Isto se torna viável para a vontade  sustentada pela graça. Ocorre então uma segurança íntima que pode inclusive suportar as provações, porque Ele  não exime delas os que lhe são fiéis para que assim sejam humildes,  não se julgando isentos do combate interior. Além disto, tais provações levam a confiar unicamente no Todo-poderoso Senhor e não em si mesmo.  Adite-se que ao suportar serenamente as lutas o cristão amealha méritos para a eternidade. Quem atinge este alvo espiritual  não macula sua relação com Deus através do interesse pessoal, da vaidade e do orgulho, pois serve a Deus unicamente em Deus. Este Deus pode então exigir grandes sacrifícios, dando, contudo, ao fiel uma disponibilidade proporcional a sua doação a Ele. O que parece por vezes insuportável e até impossível para a fraqueza humana  mesmo para a  maioria dos cristãos se torna suave e factível por força das luzes divinas. Quando há uma disposição leal do coração, maravilhas acontecem para quem corresponde às graças recebidas. É o fruto de uma fidelidade inviolável às inspirações do Paráclito. Os desígnios divinos, os silêncios de Deus, suas preferências nem sempre de acordo com os planos meramente humanos.  Os  místicos  que ascenderam a uma notável perfeição souberam, apesar de todas as trevas interiores, discernir a profundeza da sabedoria eterna. Deixaram, porém, um exemplo para todos os seguidores de Cristo. Portanto a paz não significa a eliminação das contrariedades cotidianas e dos conflitos íntimos, mas aquela energia conferida pela intervenção sobrenatural alcançada pela oferta integral de si mesmo ao Criador de tudo. É preciso vivenciar  o “sim” dado ao Pai em Jesus pela iluminação do divino Espírito Santo. Saber  conciliar perfeitamente  a soberania de Deus e a própria criaturalidade.. Admirável nos grandes santos a confiança ilimitada no Ser Supremo, sem exigirem garantias prévias. Aceitação irrestrita dos intentos do Onipotente numa submissão incondicional  muito além da observância apenas do Decálogo e das leis da Igreja. É que há muitos cristãos que estabelecem prioridades na sua existência nem sempre conformes à plena adesão aos intuitos divinos. São aqueles que criam princípios apriorísticos de acordo com seu modo de ver e, assim, não caminham mais pressurosamente nas vias da santidade. Haverão de se salvar, dado que conservam a graça santificante, mas seus méritos para a eternidade ficam bastante restritos. Isto porque não souberam conaturalizar inteiramente suas preferências com as daquele que é o Caminho para a Jerusalém do alto. Muitos  não se madureceram no equilíbrio e na harmonia  e não são capazes de ver as coisas na perspectiva do amor de Deus e das realidades sublimes que há em tantas pessoas que atingem um nível superior de vida. São bons cristãos, mas poderiam ser ótimos discípulos daquele que preceituou: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” Todas as considerações sobre o objetivo maior a ser alcançado contrastam com a atitude  daqueles que se revoltam contra Deus. Nele acreditam e procuram seguir seus preceitos, mas querem enquadrar o Criador em seus moldes humanos e passam a questionar a maneira com que sue Senhor os trata. É certo que procedendo mais por ignorância do que por uma afronta direta a Ele podem até chegar a não perder a amizade divina. Quando recebem uma sábia orientação,  muitos logo se convencem de que seus juízos  estão incorretos e que imperscrutáveis são os intentos daquele que é a Sabedoria infinita.. A santidade, objetivo acessível a todos, deve ser buscada com  coragem.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.    

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

ESTAI PREPARADOS

ESTAI PREPARADOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Este alerta de Jesus nunca é demais refletido: “Estai preparados, porque a hora em que menos pensais o Filho do Homem chega” (Lc 12,40). A morte e a vinda gloriosa de Cristo na sua glória devem ser dois referenciais nunca esquecidos na vida do cristão. Este corre o risco de se deixar impregnar pelo impacto da secularização que leva a adotar os modelos de pensamento e de conduta do mundo; do horizontalismo que conduz  a um compromisso social exclusivo como única dimensão da existência cristã; da incredulidade reinante nos meios de comunicação que vai abalando os alicerces da fé. Todo cuidado é pouco porque é no tempo atual que se decide o destino eterno de cada um. O alerta de Cristo foi claro: “Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas”, ou seja, que haja uma vigilância atenta para que nos dois encontros com Ele o fiel esteja preparado, quer no momento de deixar este mundo, quer no juízo universal. Trata-se do cumprimento fiel de todos os deveres pautados pelos valores do Evangelho. No presente é que se constrói uma eternidade bem-aventurada. O cristão está sempre atento porque sabe que tem um grande futuro a sua frente. A vinda do Filho de Deus a esta terra se humilhando até a morte da Cruz para redimir a humanidade perdida, é uma prova peremptória da importância da salvação eterna que cada um deve procurar sem nenhum descuido.  Cumpre a todo batizado se revestir de Cristo, pertencendo inteiramente a Ele, mesmo porque a graça santificante, semente da glória eterna, não pode ser perdida, e, se for perdida, deve logo ser recuperada, sob pena de incorrer na perdição perene.  Porque possui Jesus dentro de seu coração o cristão, seja onde estiver, está iluminando os outros, pela sua conduta alertando-os a fim de estarem vigilantes na prática do bem nesta preparação terrena para os encontros com Deus além-mundo visível. É necessário ser sempre um cristão preparado para estes chamados inevitáveis e decisivos do Criador, o qual está à espera dos que lhe são leais para lhes dar uma recompensa perene. O Mestre divino veio a este mundo para ensinar os de boa vontade como caminhar nesta terra com o objetivo de alcançar o Reino Eterno. Não se trata de se estar alienado da realidade, pelo contrário, aquele que está vigilante em vista da realidade futura se torna um cumpridor exato de suas obrigações e constrói um mundo melhor em torno de si num serviço admirável ao próximo. O autêntico discípulo de Jesus está atento para viver de uma maneira mais intensa esta sua marcha neste mundo, como lembrou o Papa Francisco na sua Encíclica “Lumen Fidei” (n. 16).  Em qualquer situação social, seja onde a Providência o colocou o cristão verdadeiro, continuamente antenado nas realidades vindouras, semeia paz, difundindo pelas boas obras felicidade e sabe que não tem um minuto a perder rumo ao que lhe espera na outra vida sendo, de fato, fiel a Deus.  O bem-aventurado Papa Paulo VI inúmeras vezes insistiu que o batizado estivesse sempre com a lâmpada acesa precisamente para também iluminar os que estão a sua volta. Esta luz é a fé que se traduz em obras luminosas, lucífluas. Cumpre refletir seriamente nisto.  Jesus virá para inaugurar “os céus novos e a terra nova”, para por o selo de Deus sobre toda a obra que cada cumpriu com amor na sua trajetória terrena. Ninguém sabe nem o dia nem a hora em que vai deixa este mundo, nem quando se dará a parusia, isto é, sua volta gloriosa no fim dos tempos. Jesus falou várias vezes sobre a preparação para estes dois eventos como nas parábolas relatadas por São Lucas. O leit motiv das mesmas é estar vigilante.   Pouco importa o lugar que seu discípulo ocupe neste mundo O essencial é que quando Ele vier, Ele encontre seu seguidor cumprindo suas obrigações com eficiência e competência para glória de Deus e bem das almas.  Uma prudência elementar aconselha a quem tem fé e juízo a assim proceder não perdendo jamais o gosto de bem viver e o sentido de um devotamento ininterrupto ao próximo, consagrando a ele e a Deus todo seu amor. Quem assim agir degustará em plenitude a promessa feita por Jesus: Ele o porá à frente de todos os seus bens. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.