VIVER NA LÓGICA DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Através dos tempos a rota dos seguidores de Cristo deve ser traçada sempre por esta mensagem: “Dou-vos um mandamento novo [...] que assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34). Entre os antigos já se ouvira falar do amor ao próximo. Com Jesus, porém, esta dileção sofre uma metamorfose completa. Ganha, em primeiro lugar, uma dimensão universal, porque o “amai-vos uns aos outros” passou a se estender a toda e qualquer pessoa. Amor que não se achava mais circunscrito a uma comunidade, nem mesmo se enclausurava dentro de um clã. Não se configurava como uma mera filantropia, uma vez que Jesus o fundamenta numa afeição inteiramente desinteressada e que devia levar às raias do sacrifício pelo outro: “Como eu vos amei”. Aí o baricentro do magno preceito. Ele, com efeito, amou a ponto de se sacrificar inteiramente pelos homens nada tendo a receber em troca. Tratou-se de um preceito que não tem conexões com as situações conjunturais, nem foi dado para modificar apenas determinadas condições sociais, mas um mandamento que envolve todas as dimensões da atuação humana, pois Ele pregou a vivência numa comunidade que ultrapassa todas as fronteiras que é o Reino de Deus. Entretanto, na prática cotidiana nem sempre se atina com a extensão da determinação do Mestre divino e por pensamentos, palavras e obras ela é atropelada por muitos a cada instante. Por vezes, não se levam em conta os juízos temerários que interiormente ofendem a honra do próximo. Além disto, exteriormente, não se presta atenção à gravidade da contumélia, da invectiva, da injúria, do insulto que se fazem presentes em tantas circunstâncias. Adite-se a inveja, fonte de vários deslizes. Pior ainda o ódio, ou de abominação ou de inimizade, que segundo São João é um homicídio (Jo 3,15). O desdobramento desta última atitude gera a ira e a vingança. Acrescentem-se a calúnia e a detração. "A calúnia destrói a obra de Deus nas pessoas." afirmou o Papa Francisco na homilia da Missa presidida na manhã do dia 15 de abril na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, da qual participaram, entre outros, os funcionários do Serviço telefônico vaticano e do Setor internet vaticano. Além do mais, o que muitos se esquecem é que também o escândalo afronta terrivelmente o mandamento novo, ou seja, o mau exemplo. Por tudo isto, se deve então indagar: qual a causa de todos estes desvios? É que há cristãos que se esquecem de se ligar inteiramente com a novidade de Jesus e não procuram uma crescente imersão nele. Falta tantas vezes a interioridade nova que se contempla em todos os atos do Filho de Deus nesta terra. Apenas quando o agir de Jesus se torna o modo de ser de quem foi batizado é que Ele mesmo passa a atuar no seu epígono. No fundo, porém, o que falta nestes casos é uma fé profunda, dado que somente ela purifica o coração contra todas as mazelas que ferem o grande preceito do sábio Rabi da Galiléia. A fé faz evitar tudo que contamina o relacionamento com o próximo porque quem a vive intensamente se volta constantemente para o Redentor o qual não podia ser mais claro: “O que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). Daí a importância e a urgência em se aprofundar o significado abrangente do “amai-vos uns aos outros”. É que não se cuida muito do que se passa lá no interior do coração, pois dele depende o cumprimento cabal da ordem de Cristo. Cumpre se tenha um coração que leve a pensamentos caridosos, a palavras repletas de afeição e a ações pautadas por uma dileção que não visa o próprio interesse nem prejudique, em hipótese alguma, o semelhante. Tudo isto representa se colocar em estado de se mostrar capaz de ser um autêntico discípulo de Jesus. Urge, realmente, que cada um se eleve a um nível condizente com o nome que traz, pois ser cristão não é estar batizado, mas ser outro Cristo em tudo e para todos. É a busca da capacidade de imitar o Mestre divino e lhe dedicar a totalidade de tudo que se faz numa comunhão convival com Ele. A falta de caridade não deve infectar a alma, envenenando-a com ações que não condizem com o mandamento novo. Cumpre, de fato, a irrupção na esfera divina do Salvador, numa doação sem limites ao próximo. Então, sim, o amor que Jesus pregou faz de cada um “luz do mundo e sal da terra”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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