quarta-feira, 17 de abril de 2013

A ESSÊNCIA DA PRECE CRISTÃ

A ESSÊNCIA DA PRECE CRISTÃ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre os muitos aspectos da prece cumpre se ressalte que quem reza deve estar consciente de que é um orante no contexto da Nova Aliança, ou seja, alguém que se acha unido a Cristo numa participação ao Seu ser, consagrado inteiramente ao Pai. Eis por que nele o cristão deve estar imerso, como que revestido dele. Seja um ato de adoração ou agradecimento, de súplica ou de reparação sempre a elevação da alma a Deus se faz por Nosso Senhor Jesus Cristo. É nele que Deus vem sempre até junto do ente racional para que este tenha condição de ir ao  Seu encontro. É mediante a inserção em Cristo que o Criador se aproxima da sua criatura para atraí-la em seguida a Ele. Então, sobretudo os grandes místicos, se percebem levados além de si mesmos, voltados para uma amplitude infinita da grandeza de Deus e de seu incomensurável amor. Trata-se inclusive de um degustar na terra um pouco da eternidade, ocasionado isto pela união com o Todo-poderoso através de Jesus Cristo. O discípulo de Jesus se sente neste caso tocado pela dileção de Deus o que o metamorfoseia ontologicamente por receber a dádiva da vida autêntica. Aí esta inclusive um valor psicológico da oração, porque o que assim reza sai de sua alienação para se envolver na luz do alto e, unido a Deus, ele volta a conhecer a plenitude de sua razão de ser e de seu destino último. No instante de uma prece fervorosa a pessoa humana apreende o desejo vivo de viver na sinceridade, fugindo da não autenticidade e passa a fazer uma correção nas rotas que percorre nesta terra. Este endireitar de pensamentos, desejos e ações é sumamente santificador e conduz à perfeição a que todo batizado deve tender. Compreende-se, desta forma, que quanto maior for a fé do orante, tanto mais ele usufrui os benefícios da sua comunicação com Deus. É a vivência da comunhão com Cristo e, por meio dele, com o Pai sob o influxo do Divino Espírito Santo. O cristão passa a compreender melhor que ele é um consagrado à divindade, alguém que realmente participa do múnus sacerdotal, profético e régio do Redentor. Como disse Bossuet, ele entende que está à frente da natureza visível para ser o adorador da Natureza invisível. As luzes que recebe do contato com Deus o leva a espalhar  por toda parte as maravilhas do estar com o Criador e a desejar  que Jesus seja sempre mais conhecido e amado. Neste momento se dá o apostolado da oração num anelo veemente da conversão dos pecadores, daqueles que não degustam as riquezas espirituais. Disto resulta a noção clara de uma missão a cumprir, porque o orante não se fecha sobre si mesmo, mas se abre para o mundo, a fim de restaurar o que há de corrupção, falsidade, agressividade, desunião nesta terra. Em virtude de tudo isto, a postura daquele que reza o envolve numa serenidade absoluta, mesmo contemplando a imensidade da urgência de um apostolado que transforme o mundo e os que nele vivem. Não prescreve a Deus aquilo que Ele deve fazer, mas se conforma inteiramente à Sua vontade, se adapta ao tempo do Ser Supremo. Reza pela mudança de vida de parentes e amigos, mas tem o devido discernimento de que a graça vai atuar quando Deus quiser e do modo como Ele quiser. Isto significa abrir um espaço para a resposta divina, uma adesão firme aos desígnios de Deus, bem na linha do que Jesus ensinou: “Seja feita a Vossa vontade”. Este orante se faz o verdadeiro interlocutor de Deus e em união com Ele opera maravilhas em seu derredor. Isto também porque saber assim rezar conduz o orante a unir sua prece a um sacrifício pessoal para o louvor de Deus e a salvação do próximo. Recebe o dom da capacidade de poder sofrer com Jesus e por Jesus para expiação dos pecados. É o que se deu com São Paulo que asseverou: “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo" (Gl 6,14). O orante sublima então todos os sofrimentos e até se imola pela redenção dos outros porque encontra sua força na prece sempre conformada aos planos de Deus. Foi o que ocorreu com Santa Teresinha do Menino Jesus que no seu livro “História de uma alma” pode afirmar: “Ah! A oração e o sacrifício… eis aí o segredo de toda a minha força, eis aí as minhas armas invencíveis; mais eficazmente que as palavras, eu o sei por experiência, tem elas o poder de conquistar os corações”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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