quarta-feira, 24 de abril de 2013

A GLORIFICAÇÃO DE JESUS E SEU PRECEITO NOVO

GLORIFICAÇÃO DE JESUS E SEU PRECEITO NOVO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As palavras de Jesus após a última ceia e o preceito do amor são de uma densidade profunda (Jo 13, 31-35). Comportam três aspectos importantíssimos: a glorificação do Filho de Deus (v. 31-32); a questão da partida de Jesus (v.33), o mandamento novo (v.34-35).  Há um liame e uma progressão entre os temas então abordados que deixam mensagens preciosas para a vida do seguidor de Cristo.   A exaltação de Jesus é o fim e o termo do momento de sua passagem de retorno ao Pai, compreendendo sua paixão, morte, ressurreição, ascensão e o envio do Espírito Santo. O preceito novo, legado a seus discípulos, é a maneira pela qual o Mestre divino assegura a continuidade de sua doutrina, a perenidade do espírito do autêntico amor que Ele sempre quis que os apóstolos mentalizassem como distintivo de quem se tornasse verdadeiramente seu sequaz. Ele partiria, mas deixaria uma herança maravilhosa.  É de notar que nesta oportunidade Jesus emprega um tom familiar que reveste seu discurso com uma tonalidade de uma ternura admirável. Ele se dirige aos Apóstolos nestes termos: “Filhinhos”. É um anúncio de despedida de um Pai amoroso que vai deixar este mundo e que proclama sua vontade derradeira que é o amor mútuo que deveria reinar entre seus epígonos e, na verdade, tendo como referencial a dileção imensa que ele sempre demonstrou e que chegaria depois ao ápice com seu sacrifício no alto da Cruz. Seu preceito de amor, colocado em prática, permitiria a todos viver seu espírito e seu modo de ser, de tal forma que através de seus discípulos ele continuaria não apenas visível no meio deles, como perante todo desenrolar da História daí por diante. Na primeira Carta de São João se pode perceber como ecoou fundo no pensamento e no estilo joanino o modo como Jesus firma sua nova lei do amor. Uma questão, porém, se põe naturalmente: Em que sentido o amor pode ser um mandamento? Muito simplesmente porque na tradição de Israel os preceitos são dados com a Aliança do Sinai. Este mandamento de Jesus é apresentado por Ele com uma marca, um distintivo, um sinal de identidade daqueles que Ele escolheu que são os seus prediletos e que Ele amou até o fim. Trata-se, portanto de uma relação, de uma aliança particular, nova, entre o Mestre e os que acatam suas idéias. Adite-se que este amor de que fala Jesus é mais do que um preceito: é um dom, transmitido pelo Pai ao Verbo Encarnado e deste a seus sequazes. Cristo estabelece uma maneira de viver a seu modo, imitando-o, Ele que é fonte do verdadeiro amor. Amor afetivo que deve ir até à imolação, ao sacrifício pessoal. O amor do próximo então pregado por Jesus não se pode confundir simplesmente com a dileção que se baseia no fato de todos os homens serem criados à imagem e semelhança de Deus. É algo mais, ou seja, é o sinal que marca seu adepto que se manifesta como pertencendo a Ele, amando o próximo de uma maneira diferente que leva até o sacrifício pessoal pelo outro. Deus aparece plenamente desta forma como Pai de um modo peculiar e todos em Cristo são irmãos. Pela fé, unidos a Jesus e a seu destino, há uma renovação da aliança entre Deus e a humanidade. Eis porque Jesus fala que seu mandamento é um mandamento novo, dado que sua fundamentação ultrapassa o que estava preceituado no Antigo Testamento no livro do Levítico (Lev 19,18). Não se trata de amar ao próximo como a si mesmo, mas como Cristo amou. È preciso ao cristão amar à maneira de Jesus, ostentando uma identidade nova de um amor que se estende a todos, não somente aos irmãos na fé, mas a todos os homens e mulheres como um desafio novo para o mundo. Tal dileção firme entre os cristãos, mas abrangendo também todo o mundo, é o reencontro de Jesus Redentor com a humanidade. Ele  se torna visível através de seus discípulos. Isto seria possível porque Jesus inclusive enviaria o Paráclito, como bem mostrou São Paulo aos Romanos: "O amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5), Aí esta o motivo porque na Carta aos Coríntios este Apóstolo teceu o hino lírico de louvor ao amor, virtude que se eleva até ao céu, bem acima de todas as outras (1 Cor 13). Sem este amor tudo o mais não passa de som inútil que se perde no vácuo.  O que se esquece sobretudo no contexto histórico deste mundo pós-moderno é que o amor preceituado por Cristo supõe a doação que leva a superar todo e qualquer problema de relacionamento. Como bem explicou São Paulo, esta dileção “não procura nunca o próprio interesse, não se irrita, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Este amor é o que é mais necessário na vida do cristão e o que há de mais maravilhoso nesta terra. É o que há de mais precioso no interior de cada um e o leva a ir além dos limites das possibilidades humanas, por ser o dom de si mesmo a Deus e aos outros sob o influxo da graça divina. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

      


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