A PESCA MILAGROSA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre as lições que a pesca milagrosa que se deu no lago de Tiberíades apresenta, cumpre, em primeiro lugar, salientar que Simão Pedro e seus companheiros simbolizam bem o apostolado no grêmio da Igreja (Jo 21, 1-19). Os pescadores, homens experientes naquela tarefa nada tinham conseguido. Jesus ressuscitado lhes aparece, orienta-os e uma prodigiosa pesca se deu então. As redes já não podiam ser tiradas devido à grande quantidade de peixes. Aquelas redes representavam bem a pregação do Evangelho e os peixes a universalidade dos fiéis. Entretanto, sem a graça de Cristo nada, de fato, se consegue. Houve uma obediência à ordem recebida, pois lançaram a rede para o lado direito do barco e o sucesso foi absoluto. Por vezes, não se compreende bem o plano divino da salvação e as tarefas podem parecer impossíveis. Entretanto, todas as vezes que a voz de Cristo é escutada e seguida, sua graça age maravilhosamente na vida do cristão e na trajetória da Igreja neste mundo. Isto significa que na obra da evangelização não se deve contar nunca com a capacidade pessoal, mas é preciso sempre a ajuda divina. Os limites da inteligência humana são inegáveis e muitos desanimam, pois não confiam inteiramente na proteção do Mestre poderoso. A colaboração de Jesus é, aliás, indispensável quer na vida espiritual, quer na vida profissional. O ideal de todo batizado é que a vida material seja sempre uma expressão de sua vida espiritual, porque em qualquer circunstância se está sempre a serviço dos outros e quem vê no próximo a figura de Cristo cresce sempre em todo sentido. O essencial neste episódio da pesca milagrosa não é que os apóstolos estavam a pescar para vender peixe e se alimentar. O fundamental neste caso foi que o Senhor os reencontra no cerne mesmo de sua ação, de seu trabalho. É de se notar que Jesus quer que cada um se lance à sua tarefa cotidiana, mas Ele deseja vir igualmente se associar ao trabalho de cada um. Foi quando Ele se faz reconhecer pelos apóstolos. Felizes aqueles que captam as sugestões do sábio Rabi, se deixam guiar por elas e são capazes de reconhecer o influxo da graça nas suas ações. Esta atitude de perceber o Senhor no trabalho cotidiano faz subitamente alargar a atividade de cada um a dimensões quase infinitas. Tudo porque Jesus sempre se faz reconhecer como o servidor. Com efeito, foi Ele quem ascendeu o fogo e havia tudo preparado para aquela refeição. Que belo convite fez Jesus àqueles pescadores: “Vinde almoçar”! Uma vez que há o esforço humano, a ação da graça vai sempre operar maravilhas. Quando oferecemos qualquer coisa ao Senhor, na medida em que nós o agradamos, é Ele quem se torna o doador que retribui cem por um.Toda a vida do cristão pode ser concebida como a repetição e uma extrapolação da cena da pesca milagrosa. Participando pelo batismo do múnus sacerdotal, profético e régio do Redentor, quem é batizado vai à pesca. Trabalha com a certeza de agir por Deus e para pescar almas para o céu. Os planos humanos se tornam então realizações maravilhosas das graças de Deus que operam prodígios, afervorando os bons, iluminando os tíbios, convertendo os pecadores. È Jesus agindo sempre através de seu epígono, multiplicando os seus carismas. A vida do cristão se torna deste modo um dom contínuo para glória de Deus e bem das almas. Tudo isto fruto da experiência da fidelidade de Jesus que nunca abandona os que nele confiam. Felizes os que apreendem Sua influência ainda que escondida aos olhos humanos atrás das situações dolorosas e incompreensíveis. São os que podem repetir com o apóstolo João: “É o Senhor”, Ele presente em todos os momentos da existência do cristão. Então, quando as redes da palavra, dos exemplos, até mesmo das preces, parecem vazias, quando as iniciativas evangélicas enfrentam dificuldades e suscitam decepções, Jesus surge, desde que não se desanime e se continue a lançar as redes. Os aparentes fracassos humanos fazem compreender melhor que é o Mestre, o Salvador, aquele que realmente pode fazer frutificar qualquer tipo de apostolado. É ele quem transforma os corações. O que Ele deseja é que jamais não se desanime. A pesca milagrosa, o resultado de todos os esforços dependem somente dele. Por tudo isto, a cena da pesca milagrosa traz mensagem fulgurante de esperança. Cumpre perseverar, ser humildes no trabalho da evangelização e não duvidar nunca da ajuda divina. Cristo ajuda, mas nunca como se quer e quando se quer, mas no instante oportuno que Ele melhor conhece e o resultado será grandioso como aconteceu no lago de Tiberíades. Jesus transformou pescadores que pescavam peixes em pescadores de homens. Colocou mesmo Pedro à frente do barco da Igreja e esta Igreja é o espaço no qual a terra encontra o céu, para que o Redentor possa conduzir multidões à Casa do Pai. Multiplica Ele sua ação redentora através de outros Apóstolos, ministros ordenados ou leigos, engajados num apostolado contínuo, perseverante, que se torna imensamente frutuoso. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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