RAZÃO DE SER DA EUCARISTIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os intérpretes da Sagrada Escritura e, na alheta dos mesmos, os grandes teólogos procuraram aprofundar os motivos que levaram Jesus a se tornar presente entre os homens sob as espécies de pão e de vinho. O momento deste fato grandioso se reporta, evidentemente, ao Cenáculo. Ali as palavras e os gestos do Mestre, porém, têm seu significado através de tudo que preparou Sua vinda a esta terra para a missão sublime de salvação da humanidade. Ele, de fato, era o Servo de Deus de que falou o profeta Isaías, o qual carregou sobre si o pecado de muitos (Is 3,12). Cumpre se tenha sempre em mente que tudo que se refere ao divino Redentor deve ser realmente colocado sob a influência da cruz e da ressurreição. As palavras de Cristo na ceia derradeira foram meridianamente claras: “Isto é o meu Corpo que é dado por vós” (Lc 22,19) [...] “Isto é o meu Sangue, o Sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26,28) [...] “Fazei isto em memória de mim”. (1 Cor 11,25). Naquele instante estava instituído o sacerdócio. Sua Igreja seria edificada a partir do Sacramento da Eucaristia, cuja celebração seria a renovação incruenta de Seu sacrifício lá no Gólgota. Segundo bons hermeneutas, “as palavras da instituição de Jesus durante a última Ceia constituíram o ato verdadeiro e próprio da fundação da Igreja”. O que a Igreja celebraria na Missa não seria a Última Ceia, mas o que Jesus quis significar, instituir e entregar à Igreja, a saber, a lembrança perene de seu sacrifício no Calvário. Na comunhão os seus seguidores receberiam o verdadeiro maná, estariam em íntima união com Ele, o divino Ressuscitado. Com efeito, Cristo no Cenáculo ofertou aos seus discípulos seu corpo e sangue como expressão viva de sua vitória sobre a morte. É que sua imolação e ressurreição estão em íntimo liame com a Eucaristia. Destas considerações resulta o apreço que o fiel deve ter para com a Santa Missa, mormente a fidelidade total à Missa dominical na qual entrega a Deus uma semana que findou uma semana que vai se iniciar, escuta de maneira especial a Palavra revelada e entra por meio do Sacramento no mais íntimo contato com Jesus eucarístico. Ele quis pela Eucaristia habitar de modo peculiar entre os homens. Deixou a recordação contínua de sua Paixão pela salvação da humanidade. Desejou ser o alimento dos que tivessem fé, fortalecendo a todos para os árduos combates nos caminhos da virtude e da observância integral do Decálogo. Cumpre sempre fixar os efeitos de uma boa Comunhão. Além da união com Cristo, união transformadora, a purificação do coração e de todas as ações. Não menos importante a fortaleza contra as tentações do maligno e a garantia da predestinação eterna. Disto resultam as disposições necessárias para se comungar. Em primeiro lugar, possuir a graça santificante. Nunca se pode comungar em pecado mortal. Não há justificativa alguma para um tal sacrilégio que clama aos céus. Adite-se a disposição que se deve ter em evitar os pecados veniais, os quais em si não impedem que se possa aproximar da mesa eucarística, mas devem ser combatidos. A retidão de intenção de em tudo agradar a Deus é imprescindível, aliada a uma humildade sincera, a um amor intenso, ardente. Não se pode esquecer, entretanto, que no Sacramento se recebe Jesus que será o juiz na hora da morte e no julgamento final e, assim, é de bom alvitre pedir sempre sua clemência. Ele convida a cada um a recebê-lo para lhe oferecer todas as suas graças e escutar todos os seus clamores. Oferece às almas fervorosas deleite espiritual imenso, desde que assim recebido com as devida preparação, ou seja, todas as ações praticadas em vista à Comunhão diária ou semanal. Deve por tudo isto jorrar do fundo do coração hinos de ação de graças pela honra que Jesus faz a seu fiel nos momentos sublimes da recepção da Hóstia consagrada que é seu corpo, sangue, alma e divindade. Fomentar então o culto eucarístico na própria vida é de vital importância. A Eucaristia deve ser a devoção principal de um bom cristão. Entre todas as devoções esta é a primordial, a mais agradável a Deus e mais útil a si mesmo. É preciso se ater à recomendação da Bíblia: “Gostai e vede quão carinhoso é o Senhor” (Sl 33,9). O que é o favo de mel para as abelhas, o ninho para as aves, a fonte para o animal sedento, a água para os peixes, a luz para a mariposa, o polo para a agulha magnética, cumpre seja a Eucaristia para o autêntico discípulo de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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