segunda-feira, 29 de abril de 2013

QUE TODOSSEJAM UM

QUE TODOS SEJAM UM
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A grande prece de Jesus dirigida ao Pai contém diretrizes preciosas para seus seguidores e se destaquem os versículos vinte a vinte e seis. (Jo 17,20-26). Cristo roga pela unidade dos que nele crêem. Esta unidade não é uma palavra sem sentido. Com efeito, é pela revelação da unidade entre Jesus e seu Pai que se realiza, através dos séculos, sua glorificação e isto só se efetua no amor que une seus discípulos. Estes, onde quer que estejam, devem permanecer com Ele e, portanto, todos conectados entre si e com Aquele que é a Cabeça do Corpo Místico. Aí o fundamento cristológico desta união. Este liame se dá pela fé no divino Redentor que do céu enviou o Espírito que associa tudo no amor de Deus, por ser a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a fonte de toda afeição. Esta dileção se fundamenta na fé, porque crer é perceber que o Ser Supremo, invisível, se deu a conhecer em Cristo, o grande revelador do Criador de tudo. Assim a unidade é, de fato, a revelação do Pai, como toda a vida terrestre de Jesus a manifestou. A unidade de Deus, a unidade em Deus é o ponto de referência da coesão de todos os que crêem: “Que todos sejam um, do mesmo modo, ó Pai, que tu estás em mim e eu em ti”. Eis porque esta unidade divina é bem mais do que um simples modelo, dado que ela se exprime de maneira real precisamente nos fiéis, tornando-se, assim, perceptível no mundo inteiro. Foi o que disseram admirados os pagãos, referindo-se aos primeiros cristãos: “Vejam como eles se amam”! É que a comunidade cristã formava “um só coração e uma só alma” (Atos 4,32). Isto porque o mandamento novo estabelecido por Cristo, o amor fraterno, é fruto opimo do amor divino e opera maravilhas.  O preceito dado por Jesus a seus seguidores convida, pois, cada um a um conhecimento mútuo que é o sinal visível da caridade que as Pessoas divinas exprimem entre si. Foi o que explicou magnificamente Santo Agostinho: “Conhecer para melhor amar”. Na mentalidade bíblica conhecimento não se trata de um ato de inteligência, mas de um entrelaçamento recíproco que prende as pessoas umas às outras numa vivência cordial. Ver Jesus e O conhecer e nele ver o Pai é viver em comunhão com Ele e com os irmãos. A união fraterna é condição indispensável para a intimidade com Deus, entrando cada um na corrente de amor que liga Jesus ao Pai na unidade do Espírito Santo. O que se esquece muitas vezes é que este ideal só é atingido na medida em que o fiel se deixa transformar pelo amor do Coração do Mestre divino. Ele que se imolou pela humanidade, até o extremo da oferta de sua vida por todos, se tornou um modelo e, desta maneira, pôde afirmar: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros” (Jo 13,35). A prática desta norma não consiste em meras palavras, mas precisa ser um impulso concreto que leve cada um a se tornar as testemunhas em atos de um amor comum. Eis porque é no engajamento desinteressado da afeição mútua que esplende no mundo o amor eterno de Deus. Esta atitude é tanto mais importante quando se verificam numerosas fraturas e divisões no seio da sociedade, as quais podem inclusive contaminar as comunidades cristãs. Deus não quer estas divergências. Diversidades oriundas da pluralidade são admissíveis, mas não as discordâncias, os desacordos, as dissensões. Estas, infelizmente, levam a tantas desuniões nos lares e podem resultar nos efeitos maléficos dos divórcios que separam os cônjuges entre si, os filhos de seus pais, lançadas inclusive por terra as promessas matrimoniais feitas solenemente diante do Altar. As discrepâncias que impedem o anelo de Cristo expresso neste seu desejo: “Que todos sejam um, do mesmo modo, ó Pai, que tu estás em mim e eu em ti” passam a imperar tantas vezes nas escolas, nos ambientes de trabalho e até nas diversas pastorais. O cimento da coesão, porém, é o esforço constante de se escutar o outro, de perdoar sempre, de se sacrificar pelo próximo, de falar o que é certo, mas no momento propício e com aquela serenidade que brota do amor. Há, porém, ainda uma atitude basilar a ser adotada para que reine a fraternidade que é a fuga pertinaz do desacordo interior que pode reinar no íntimo de cada um. O salmista pedia a Deus: “Unifica, Senhor, o meu coração para que eu vos tema” (Sl 85,11). Quando a dispersão se instala dentro de cada um, o ser humano se torna agressivo e nele domina o desamor. As manifestações de um egoísmo intransigente se transformam numa barreira à fraternização. Onde não há, em todos os sentidos, o amor preconizado por Cristo, o cristão se faz escravo de suas paixões e se torna vítima de seus caprichos. Este desequilíbrio interno leva ao afastamento  da dileção para com os outros. O amor fora da unidade interior é uma mentira, porque a relação do cristão com Jesus fica distorcida e construída em terreno movediço.  Portanto, a união preconizada por Cristo comporta uma enorme gama de atitudes positivas que levem, de fato, à realização de seu desejo da perfeita união de todos com Deus e com o próximo, exigindo uma reflexão profunda sobre todos estes aspectos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O segredo da vida do seguidor de Cristo é ter o coração aberto e maleável às mensagens divinas. Estas chegam a todos aqueles que se dispõem a escutá-las e seguí-las.  Delas resultam as delícias que provêm do fundo da consciência de quem cumpre sempre o seu dever. Iluminam a mente e, apesar das cruzes naturais a este exílio terreno, o cristão vai se aprimorando interiormente. Passa, desta forma, a construir com sucesso o seu futuro em vista à realização dos planos de Deus para cada um.
Muitas vezes, entretanto, se esquece que sobremodo agrada ao Ser Supremo a gratidão por toda graça recebida.  O reconhecimento dos favores celestes multiplica os dons do Onipotente o qual “eleva os humildes”, como bem se expressou a Virgem Maria no seu Cântico de Ação de graças (Lc 1,52).  Eis por que Davi proclamou: “Bendizei, ó minha alma, o Senhor, não esqueças de nenhum de seus benefícios" (Sl 103,1).
            Além disto, é preciso se ater ao que preceituou Jesus: “Pedi e vos será dado" (Lc 2,9). Os mestres espirituais, por este motivo, aconselham a repetir sempre uma prece como esta: “Inspirai-me, Senhor, em todas as minhas decisões e fazei que eu acate sem negligência vossas comunicações”.
            Iluminado, o cristão se torna apto para as grandes pelejas da vida.
            Uma outra condição se faz, contudo, necessária para que as luzes do céu não se apaguem, ou seja, a docilidade contínua em obedecer aos recados do Espírito Santo. Tal submissão é fundamentada numa resolução firme de jamais descurar a moção recebida, mesmo em se tratando das mais pequeninas obras.
            Tudo isto, porém, envolto cada um na imperturbabilidade, mesmo porque o perfeccionismo, a tendência obsessivamente exagerada para atingir a perfeição na realização do que Deus quer, não vem dele. Ele é o Deus da paz, da tranqüilidade, da serenidade. Embora se deva sempre estar antenado às inspirações do céu não se pode deixar levar pela ansiedade. È necessário, inclusive, estar ciente de que há sempre a possibilidade das falhas humanas. Estas devem ser evitadas, mas está no salmo: “Se observades, Senhor, as nossas faltas, quem poderá subsistir”? (Sl 1129,3). As culpas graves devem ser abominadas e devem logo ser absolvidas pelo Sacramento da Confissão para que se possa recuperar, quanto antes, a graça santificante.
            Mister se faz em tudo muita fé e confiança na graça, conectadas estas virtudes à luta corajosa contra toda e qualquer incúria.
            O principal é a disposição à renúncia à própria vontade na imitação de Cristo que assim se dirigia ao Pai: “Não a minha vontade, mas a tua vontade” (Mt 14,36).
            Na eventualidade de qualquer provação ou quando a tarefa diária exige maior esforço, o cristão se acha preparado e transforma os espinhos da vida em pérolas para a coroa da eternidade. Disto resulta uma admirável paciência.
            Não é fácil atingir este equilíbrio, mas a contemplação da grandeza de Deus leva a executar tudo para seu louvor e reparação dos erros cometidos.
             Quanto mais o seguidor de Cristo persevera na oração e não desanima, mais age nele o Espírito Santo e coisas maravilhosas acontecem em sua volta.
            Como Deus perscruta o íntimo do coração, convém a todo instante verificar a sinceridade para com Ele, nunca tentando justificar o injustificável, por exemplo, se desculpando por não fugir das ocasiões de pecado, por não ser moderado no comer e no beber. É o hábito de se estar alerta contra todas as investidas do maligno. Com efeito, uma sábia vigilância impede impulsos desordenados.
            Felizes os que cooperam com a ação do Espírito Santo, pois se tornam “luz do mundo e sal da terra”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A GLORIFICAÇÃO DE JESUS E SEU PRECEITO NOVO

GLORIFICAÇÃO DE JESUS E SEU PRECEITO NOVO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As palavras de Jesus após a última ceia e o preceito do amor são de uma densidade profunda (Jo 13, 31-35). Comportam três aspectos importantíssimos: a glorificação do Filho de Deus (v. 31-32); a questão da partida de Jesus (v.33), o mandamento novo (v.34-35).  Há um liame e uma progressão entre os temas então abordados que deixam mensagens preciosas para a vida do seguidor de Cristo.   A exaltação de Jesus é o fim e o termo do momento de sua passagem de retorno ao Pai, compreendendo sua paixão, morte, ressurreição, ascensão e o envio do Espírito Santo. O preceito novo, legado a seus discípulos, é a maneira pela qual o Mestre divino assegura a continuidade de sua doutrina, a perenidade do espírito do autêntico amor que Ele sempre quis que os apóstolos mentalizassem como distintivo de quem se tornasse verdadeiramente seu sequaz. Ele partiria, mas deixaria uma herança maravilhosa.  É de notar que nesta oportunidade Jesus emprega um tom familiar que reveste seu discurso com uma tonalidade de uma ternura admirável. Ele se dirige aos Apóstolos nestes termos: “Filhinhos”. É um anúncio de despedida de um Pai amoroso que vai deixar este mundo e que proclama sua vontade derradeira que é o amor mútuo que deveria reinar entre seus epígonos e, na verdade, tendo como referencial a dileção imensa que ele sempre demonstrou e que chegaria depois ao ápice com seu sacrifício no alto da Cruz. Seu preceito de amor, colocado em prática, permitiria a todos viver seu espírito e seu modo de ser, de tal forma que através de seus discípulos ele continuaria não apenas visível no meio deles, como perante todo desenrolar da História daí por diante. Na primeira Carta de São João se pode perceber como ecoou fundo no pensamento e no estilo joanino o modo como Jesus firma sua nova lei do amor. Uma questão, porém, se põe naturalmente: Em que sentido o amor pode ser um mandamento? Muito simplesmente porque na tradição de Israel os preceitos são dados com a Aliança do Sinai. Este mandamento de Jesus é apresentado por Ele com uma marca, um distintivo, um sinal de identidade daqueles que Ele escolheu que são os seus prediletos e que Ele amou até o fim. Trata-se, portanto de uma relação, de uma aliança particular, nova, entre o Mestre e os que acatam suas idéias. Adite-se que este amor de que fala Jesus é mais do que um preceito: é um dom, transmitido pelo Pai ao Verbo Encarnado e deste a seus sequazes. Cristo estabelece uma maneira de viver a seu modo, imitando-o, Ele que é fonte do verdadeiro amor. Amor afetivo que deve ir até à imolação, ao sacrifício pessoal. O amor do próximo então pregado por Jesus não se pode confundir simplesmente com a dileção que se baseia no fato de todos os homens serem criados à imagem e semelhança de Deus. É algo mais, ou seja, é o sinal que marca seu adepto que se manifesta como pertencendo a Ele, amando o próximo de uma maneira diferente que leva até o sacrifício pessoal pelo outro. Deus aparece plenamente desta forma como Pai de um modo peculiar e todos em Cristo são irmãos. Pela fé, unidos a Jesus e a seu destino, há uma renovação da aliança entre Deus e a humanidade. Eis porque Jesus fala que seu mandamento é um mandamento novo, dado que sua fundamentação ultrapassa o que estava preceituado no Antigo Testamento no livro do Levítico (Lev 19,18). Não se trata de amar ao próximo como a si mesmo, mas como Cristo amou. È preciso ao cristão amar à maneira de Jesus, ostentando uma identidade nova de um amor que se estende a todos, não somente aos irmãos na fé, mas a todos os homens e mulheres como um desafio novo para o mundo. Tal dileção firme entre os cristãos, mas abrangendo também todo o mundo, é o reencontro de Jesus Redentor com a humanidade. Ele  se torna visível através de seus discípulos. Isto seria possível porque Jesus inclusive enviaria o Paráclito, como bem mostrou São Paulo aos Romanos: "O amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5), Aí esta o motivo porque na Carta aos Coríntios este Apóstolo teceu o hino lírico de louvor ao amor, virtude que se eleva até ao céu, bem acima de todas as outras (1 Cor 13). Sem este amor tudo o mais não passa de som inútil que se perde no vácuo.  O que se esquece sobretudo no contexto histórico deste mundo pós-moderno é que o amor preceituado por Cristo supõe a doação que leva a superar todo e qualquer problema de relacionamento. Como bem explicou São Paulo, esta dileção “não procura nunca o próprio interesse, não se irrita, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Este amor é o que é mais necessário na vida do cristão e o que há de mais maravilhoso nesta terra. É o que há de mais precioso no interior de cada um e o leva a ir além dos limites das possibilidades humanas, por ser o dom de si mesmo a Deus e aos outros sob o influxo da graça divina. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

      


RETA FINAL DO ANO DA FÉ

A RETA FINAL DO ANO DA FÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No mês de novembro, por ocasião da Festa de Cristo Rei cada católico se apresentará diante deste Soberano e lhe prestará contas de como viveu o Ano da Fé proclamado por Bento XVI. Ainda restam sete meses e, nada melhor, do que uma revisão dos objetivos traçados pelo Papa Emérito para esta caminhada, os quais têm sido urgidos por seu sucessor. Ainda há tempo para revitalizar os compromissos atinentes ao aprofundamento na vivência desta virtude teologal. Isto embasado na certeza daquilo que disse São João: “Esta é a vitória que vence o mundo: a vossa fé”! (Jo 5, 4). Trata-se de um ano de graças especiais por força do empenho para uma mais total conversão a Deus, reforçando a crença em tudo que Ele revelou. Cumpre, de fato, atravessar a porta da fé numa caminhada que ilumine plenamente a vida do cristão. Para isto em todo decorrer deste Ano da Fé é preciso readquirir o gosto pela Palavra de Deus através do dom da Ciência. Um crescimento no amor à Eucaristia que é o Mistério da Fé. É de se notar que o início do Ano da Fé dia 11 de outubro de 2012 foi a data do cinqüentenário da abertura do Vaticano II e aí já surge o primeiro questionamento, ou seja, será que os documentos preciosíssimos deste Concílio têm sido estudados e aprofundados? A herança deixada pelos Padres Conciliares precisa sempre ser explorada, pois resulta uma grande força para a renovação sempre urgente da Igreja. Adite-se que na referida data se completaram vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo Beato Papa João Paulo II. É necessária a redescoberta e o estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm neste Catecismo a sua síntese sistemática e orgânica. Eis aí um valioso instrumento de apóio da fé para se viver nos moldes mais eficazes e apropriados no serviço evangelizador de levar a fé por toda parte, irradiando-a com eficiência e perseverança. Além disto, o Ano da Fé é propício para a intensificação do testemunho da caridade fraterna. A fé sem a caridade não frutifica e a caridade sem a fé, no dizer do Papa Francisco, leva à formação não de uma comunidade verdadeiramente cristã, mas a uma simples “ONG” piedosa. Neste Ano da Fé cumpre tornar cada vez mais firme a relação com o divino Redentor, dado que Ele é a única tábua de salvação e a razão de ser da fraternidade. Todas estas reflexões conduzem a uma renovação do compromisso missionário, gerando uma conscientização do que representa a autêntica adesão ao Evangelho. Haverá então, sim, uma fé professada com confiança e esperança. Isto, contudo, só acontecerá quando cada cristão assumir a responsabilidade social daquilo que ele acredita. Nunca, como em nossos dias, há precisão do testemunho de vida. Eis aí o fundamento da nova evangelização que levará a se descobrir de novo a alegria de crer e o entusiasmo da comunicação da fé, obrigação elementar de quem ama a Jesus Cristo. Tudo isto, porém, não acontecerá sem o auxílio daquela que foi feliz, porque acreditou (Lc 1,45). Maria é realmente a pedagoga da fé, modelo de fidelidade. Nada melhor também do que a mentalização dos textos bíblicos atinentes à fé. Jesus foi claro “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16,15). A muitos miraculados ele disse: “A tua fé te salvou” (Mt 9,22; Mc 5,34). Fez até uma assertiva sublime: “Em verdade vos digo que se tiverdes fé [...] e disserdes a este monte: passa daqui para acolá, há ele de passar” (Mt 17,20). É preciso sempre repetir a prece que lhe fizeram: “Senhor, aumentai-nos a fé” (Mt 17,5). A São Pedro Cristo afirmou: “Eu roguei por ti para que não desfaleça a tua fé” (Mt, 22,32). Lemos no Evangelho de São João:“Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem, pelo contrário, descrê do Filho não verá a vida, porém, pesa sobre ele a ira de Deus” (Jo 3,36). Este Evangelista acrescenta: “A obra de Deus está em que tenhais fé naquele que Ele enviou (Jo 6,29). Donde o conselho de São Paulo: “Sede vigilantes e estai firmes na fé” (1Cor 16,13), guardando o mistério da fé numa consciência pura (1 Tm 3,9). Importante esta advertência do Apóstolo: “Por cima de tudo, embraçai o escudo da fé, com que possais extinguir os projéteis ígneos do maligno” ( 1Tm 6,16). Em síntese, a fé consiste segundo São Paulo “na firme confiança daquilo que se espera, na convicção daquilo que não se vê” (Hb 11,1). Sem esta virtude é impossível agradar a Deus (Hb 11,6). Estas reflexões culminam, porém, no que disse São Tiago: “ A fé sem as obras é morta em si mesma” (Tg 2,17). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

RAZÃO DE SER DA EUCARISTIA

RAZÃO DE SER DA EUCARISTIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os intérpretes da Sagrada Escritura e, na alheta dos mesmos, os grandes teólogos procuraram aprofundar os motivos que levaram Jesus a se tornar presente entre os homens sob as espécies de pão e de vinho. O momento deste fato grandioso se reporta, evidentemente, ao Cenáculo. Ali as palavras e os gestos do Mestre, porém, têm seu significado através de tudo que preparou Sua vinda a esta terra para a missão sublime de salvação da humanidade. Ele, de fato, era o Servo de Deus de que falou o profeta Isaías, o qual carregou sobre si o pecado de muitos (Is 3,12). Cumpre se tenha sempre em mente que tudo que se refere ao divino Redentor deve ser realmente colocado sob a influência da cruz e da ressurreição. As palavras de Cristo na ceia derradeira foram meridianamente claras: “Isto é o meu Corpo que é dado por vós” (Lc 22,19) [...] “Isto é o meu Sangue, o Sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26,28) [...]  “Fazei isto em memória de mim”. (1 Cor 11,25). Naquele instante estava instituído o sacerdócio. Sua Igreja seria edificada a partir do Sacramento da Eucaristia, cuja celebração seria a renovação incruenta de Seu sacrifício lá no Gólgota. Segundo bons hermeneutas, “as palavras da instituição de Jesus durante a última Ceia constituíram o ato verdadeiro e próprio da fundação da Igreja”. O que a Igreja celebraria na Missa não seria a Última Ceia, mas o que Jesus quis significar, instituir e entregar à Igreja, a saber, a lembrança perene de seu sacrifício no Calvário.  Na comunhão os seus seguidores receberiam o verdadeiro maná, estariam em íntima união com Ele, o divino Ressuscitado. Com efeito, Cristo no Cenáculo ofertou aos seus discípulos seu corpo e sangue como expressão viva de sua vitória sobre a morte. É que sua imolação e ressurreição estão em íntimo liame com a Eucaristia. Destas considerações resulta o apreço que o fiel deve ter para com a Santa Missa, mormente a fidelidade total à Missa dominical na qual entrega a Deus uma semana que findou uma semana que vai se iniciar, escuta de maneira especial a Palavra revelada e entra por meio do Sacramento no mais íntimo contato com Jesus eucarístico. Ele quis pela Eucaristia habitar de modo peculiar entre os homens. Deixou a recordação contínua de sua Paixão pela salvação da humanidade. Desejou ser o alimento dos que tivessem fé, fortalecendo a todos para os árduos combates nos caminhos da virtude e da observância integral do Decálogo. Cumpre sempre fixar os efeitos de uma boa Comunhão. Além da união com Cristo, união transformadora, a purificação do coração e de todas as ações. Não menos importante a fortaleza contra as tentações do maligno e a garantia da predestinação eterna. Disto resultam as disposições necessárias para se comungar. Em primeiro lugar, possuir a graça santificante. Nunca se pode comungar em pecado mortal. Não há justificativa alguma para um tal sacrilégio que clama aos céus. Adite-se a disposição que se deve ter em evitar os pecados veniais, os quais em si não impedem que se possa aproximar da mesa eucarística, mas devem ser combatidos. A retidão de intenção de em tudo agradar a Deus é imprescindível, aliada a uma humildade sincera, a um amor intenso, ardente. Não se pode esquecer, entretanto, que no Sacramento se recebe Jesus que será o juiz na hora da morte e no julgamento final e, assim, é de bom alvitre pedir sempre sua clemência. Ele convida a cada um a recebê-lo para lhe oferecer todas as suas graças e escutar todos os seus clamores. Oferece às almas fervorosas deleite espiritual imenso, desde que assim recebido com as devida preparação, ou seja, todas as ações praticadas em vista à Comunhão diária ou semanal. Deve por tudo isto jorrar do fundo do coração hinos de ação de graças pela honra que Jesus faz a seu fiel nos momentos sublimes da recepção da Hóstia consagrada que é seu corpo, sangue, alma e divindade. Fomentar então o culto eucarístico na própria vida é de vital importância. A Eucaristia deve ser a devoção principal de um bom cristão. Entre todas as devoções esta é a primordial, a mais agradável a Deus e mais útil a si mesmo. É preciso se ater à recomendação da Bíblia: “Gostai e vede quão carinhoso é o Senhor” (Sl 33,9). O que é o favo de mel para as abelhas, o ninho para as aves, a fonte para o animal sedento, a água para os peixes, a luz para a mariposa, o polo para a agulha magnética, cumpre seja a Eucaristia para o autêntico discípulo de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

PASTORAL DA JUVENTUDE

PASTORAL DA JUVENTUDE
Os Jovens Seguidores de Cristo (JSC), da Paróquia de Santa Rita de Cássia, promoveram com grande êxito a sexagésima primeira Jornada de Conscientização Cristã. Do dia 19 a 21 de Abril cerca de setenta Cursistas se entregaram à Oração e a reflexões profundas atinentes a seu aprimoramento espiritual. Ex-integrantes do JSC abordaram temas de notável interesse juvenil como “o Jovem e a Vida”; “Você no mundo”; “Fé e Oração”; o “Espírito Santo na vida do cristão”; “Relacionamento entre Pais e Filhos”; “Namoro e Sexualidade"; “Igreja e Ação”; “Jesus Cristo”. O Diretor Espiritual, Côn. José Geraldo, falou sobre a importância dos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia e, na Missa de Encerramento, encareceu a necessidade do empenho de todos a fim de atraírem as ovelhas desgarradas para junto do Bom Pastor Ressalte-se, ainda, a cooperação do Pe. Sérgio José da Silva, recentemente ordenado sacerdote, no atendimento das Confissões. O JSC promove todos os sábados a Missa da Juventude no Salão Paroquial, seguida de proveitosa reunião, sendo que o ASC (Adolescentes Seguidores de Cristo) vai preparando os futuros líderes do JSC. As orações por todos estes jovens idealistas muito os ajudarão.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A ESSÊNCIA DA PRECE CRISTÃ

A ESSÊNCIA DA PRECE CRISTÃ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre os muitos aspectos da prece cumpre se ressalte que quem reza deve estar consciente de que é um orante no contexto da Nova Aliança, ou seja, alguém que se acha unido a Cristo numa participação ao Seu ser, consagrado inteiramente ao Pai. Eis por que nele o cristão deve estar imerso, como que revestido dele. Seja um ato de adoração ou agradecimento, de súplica ou de reparação sempre a elevação da alma a Deus se faz por Nosso Senhor Jesus Cristo. É nele que Deus vem sempre até junto do ente racional para que este tenha condição de ir ao  Seu encontro. É mediante a inserção em Cristo que o Criador se aproxima da sua criatura para atraí-la em seguida a Ele. Então, sobretudo os grandes místicos, se percebem levados além de si mesmos, voltados para uma amplitude infinita da grandeza de Deus e de seu incomensurável amor. Trata-se inclusive de um degustar na terra um pouco da eternidade, ocasionado isto pela união com o Todo-poderoso através de Jesus Cristo. O discípulo de Jesus se sente neste caso tocado pela dileção de Deus o que o metamorfoseia ontologicamente por receber a dádiva da vida autêntica. Aí esta inclusive um valor psicológico da oração, porque o que assim reza sai de sua alienação para se envolver na luz do alto e, unido a Deus, ele volta a conhecer a plenitude de sua razão de ser e de seu destino último. No instante de uma prece fervorosa a pessoa humana apreende o desejo vivo de viver na sinceridade, fugindo da não autenticidade e passa a fazer uma correção nas rotas que percorre nesta terra. Este endireitar de pensamentos, desejos e ações é sumamente santificador e conduz à perfeição a que todo batizado deve tender. Compreende-se, desta forma, que quanto maior for a fé do orante, tanto mais ele usufrui os benefícios da sua comunicação com Deus. É a vivência da comunhão com Cristo e, por meio dele, com o Pai sob o influxo do Divino Espírito Santo. O cristão passa a compreender melhor que ele é um consagrado à divindade, alguém que realmente participa do múnus sacerdotal, profético e régio do Redentor. Como disse Bossuet, ele entende que está à frente da natureza visível para ser o adorador da Natureza invisível. As luzes que recebe do contato com Deus o leva a espalhar  por toda parte as maravilhas do estar com o Criador e a desejar  que Jesus seja sempre mais conhecido e amado. Neste momento se dá o apostolado da oração num anelo veemente da conversão dos pecadores, daqueles que não degustam as riquezas espirituais. Disto resulta a noção clara de uma missão a cumprir, porque o orante não se fecha sobre si mesmo, mas se abre para o mundo, a fim de restaurar o que há de corrupção, falsidade, agressividade, desunião nesta terra. Em virtude de tudo isto, a postura daquele que reza o envolve numa serenidade absoluta, mesmo contemplando a imensidade da urgência de um apostolado que transforme o mundo e os que nele vivem. Não prescreve a Deus aquilo que Ele deve fazer, mas se conforma inteiramente à Sua vontade, se adapta ao tempo do Ser Supremo. Reza pela mudança de vida de parentes e amigos, mas tem o devido discernimento de que a graça vai atuar quando Deus quiser e do modo como Ele quiser. Isto significa abrir um espaço para a resposta divina, uma adesão firme aos desígnios de Deus, bem na linha do que Jesus ensinou: “Seja feita a Vossa vontade”. Este orante se faz o verdadeiro interlocutor de Deus e em união com Ele opera maravilhas em seu derredor. Isto também porque saber assim rezar conduz o orante a unir sua prece a um sacrifício pessoal para o louvor de Deus e a salvação do próximo. Recebe o dom da capacidade de poder sofrer com Jesus e por Jesus para expiação dos pecados. É o que se deu com São Paulo que asseverou: “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo" (Gl 6,14). O orante sublima então todos os sofrimentos e até se imola pela redenção dos outros porque encontra sua força na prece sempre conformada aos planos de Deus. Foi o que ocorreu com Santa Teresinha do Menino Jesus que no seu livro “História de uma alma” pode afirmar: “Ah! A oração e o sacrifício… eis aí o segredo de toda a minha força, eis aí as minhas armas invencíveis; mais eficazmente que as palavras, eu o sei por experiência, tem elas o poder de conquistar os corações”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 16 de abril de 2013

VIVER NA LÓGICA DE JESUS

VIVER NA LÓGICA DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Através dos tempos a rota dos seguidores de Cristo deve ser traçada sempre por esta mensagem: “Dou-vos um mandamento novo [...] que assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34). Entre os antigos já se ouvira falar do amor ao próximo. Com Jesus, porém, esta dileção sofre uma metamorfose completa. Ganha, em primeiro lugar, uma dimensão universal, porque o “amai-vos uns aos outros” passou a se estender a toda e qualquer pessoa. Amor que não se achava mais circunscrito a uma comunidade, nem mesmo se enclausurava dentro de um clã. Não se configurava como uma mera filantropia, uma vez que Jesus o fundamenta numa afeição inteiramente desinteressada e que devia levar às raias do sacrifício pelo outro: “Como eu vos amei”. Aí o baricentro do magno preceito. Ele, com efeito, amou a ponto de se sacrificar inteiramente pelos homens nada tendo a receber em troca. Tratou-se de um preceito que não tem conexões com as situações conjunturais, nem foi dado para modificar apenas determinadas condições sociais, mas um mandamento que envolve todas as dimensões da atuação humana, pois Ele pregou a vivência numa comunidade que ultrapassa todas as fronteiras que é o Reino de Deus. Entretanto, na prática cotidiana nem sempre se atina com a extensão da determinação do Mestre divino e por pensamentos, palavras e obras ela é atropelada por muitos a cada instante. Por vezes, não se levam em conta os juízos temerários que interiormente ofendem a honra do próximo. Além disto, exteriormente, não se presta atenção à gravidade da contumélia, da invectiva, da injúria, do insulto que se fazem presentes em tantas circunstâncias. Adite-se a inveja, fonte de vários deslizes. Pior ainda o ódio, ou de abominação ou de inimizade, que segundo São João é um homicídio (Jo 3,15). O desdobramento desta última atitude gera a ira e a vingança. Acrescentem-se a calúnia e a detração.   "A calúnia destrói a obra de Deus nas pessoas." afirmou o Papa Francisco na homilia da Missa presidida na manhã do dia 15 de abril na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, da qual participaram, entre outros, os funcionários do Serviço telefônico vaticano e do Setor internet vaticano. Além do mais, o que muitos se esquecem é que também o escândalo afronta terrivelmente o mandamento novo, ou seja, o mau exemplo. Por tudo isto, se deve então indagar: qual a causa de todos estes desvios? É que há cristãos que se esquecem de se ligar inteiramente com a novidade de Jesus e não procuram uma crescente imersão nele. Falta tantas vezes a interioridade nova que se contempla em todos os atos do Filho de Deus nesta terra. Apenas quando o agir de Jesus se torna o modo de ser de quem foi batizado é que Ele mesmo passa a atuar no seu epígono. No fundo, porém, o que falta nestes casos é uma fé profunda, dado que somente ela purifica o coração contra todas as mazelas que ferem o grande preceito do sábio Rabi da Galiléia. A fé faz evitar tudo que contamina o relacionamento com o próximo porque quem a vive intensamente se volta constantemente para o Redentor o qual não podia ser mais claro: “O que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). Daí a importância e a urgência em se aprofundar o significado abrangente do “amai-vos uns aos outros”. É que não se cuida muito do que se passa lá no interior do coração, pois dele depende o cumprimento cabal da ordem de Cristo. Cumpre se tenha um coração que leve a pensamentos caridosos, a palavras repletas de afeição e a ações pautadas por uma dileção que não visa o próprio interesse nem prejudique, em hipótese alguma, o semelhante. Tudo isto representa se colocar em estado de se mostrar capaz de ser um autêntico discípulo de Jesus. Urge, realmente, que cada um se eleve a um nível condizente com o nome que traz, pois ser cristão não é estar batizado, mas ser outro Cristo em tudo e para todos. É a busca da capacidade de imitar o Mestre divino e lhe dedicar a totalidade de tudo que se faz numa comunhão convival com Ele. A falta de caridade não deve infectar a alma, envenenando-a com ações que não condizem com o mandamento novo. Cumpre, de fato, a irrupção na esfera divina do Salvador, numa doação sem limites ao próximo. Então, sim, o amor que Jesus pregou faz de cada um “luz do mundo e sal da terra”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

JESUS AMA SUAS OVELHAS

                        JESUS AMA SUAS OVELHAS
                                   Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando Jesus diz que ele conhece suas ovelhas, segundo o Papa São Gregório Magno, isto quer dizer: “Eu as amo” (Jo 10, 27-30).  De fato, no Evangelho de São João conhecer e amar são a mesma coisa. Maravilhosas e ternas as palavras deste Bom Pastor: “Eu dou-lhes a vida eterna e jamais perecerão e ninguém as arrancará de minhas mãos”. Cada ovelha lhe é  preciosa, pois lhe é um presente do Pai. Cristo então dá a cada uma segurança e total confiança. O Pai e eu somos um, afirmou Jesus. Eles são um no Espírito de Amor.  Em outra oportunidade Cristo afirma: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Disto deve resultar uma certeza inabalável em seu amor, em sua ternura e em sua misericórdia. Entretanto, nunca se deve esquecer que o caminho do Bom Pastor  se encontra na sua Igreja na qual no dia do Batismo cada um foi acolhido. É nela que as ovelhas se reúnem para escutar Sua Palavra  para depois sair e atrair as que se acham longe do divino Redentor. O carisma das ovelhas deve se difundir por toda parte. É por meio de seus seguidores que o Bom Pastor se faz presente no mundo. Quando Ele disse que ninguém arranca Sua ovelha de suas mãos é porque há os que  tentam arrebatá-la dele. Jesus com isto deixa a todos de prontidão, ou seja, cumpre estar atento para não O abandonar, mesmo porque Ele respeita sempre a liberdade de cada um. Ele luta sempre a favor das ovelhas que lhe são fiéis, mas não força nenhuma a estar no seu redil. Quem lhe é fiel tem a garantia absoluta de que Jesus está vivo e não se aparta dos que ouvem a sua voz. Deve, em consequência,  existir uma espécie de convivência entre a ovelha e o Pastor. A voz deste Pastor é um clamor que se impõe. Quem, porém, é capaz de captar sua presença percebe sua mensagem contínua: “Eu estou contigo, te conheço, te darei a vida eterna e jamais perecerás”. Ele quer conduzir a todos para a vida, enquanto o mundo quer atrair suas ovelhas  para as levar à morte e isto com todas as seduções que a tantos enganam. Eis porque Ele conta com as ovelhas fiéis para irradiar seu amor e a dileção do Pai. O que foi dito ao Apóstolo Paulo vale para todos que lhe pertencem: “Eu fiz de ti a luz das nações, para que, graças a ti, a salvação chegue às extremidades da terra” (At 13,47). Isto porque o cristão verdadeiro é portador da mensagem deste Bom Pastor por toda parte. Não há então limites no horizonte de quem foi batizado, pois no lar, no trabalho, nos ambientes de diversão, onde quer que esteja, deve  ser o testemunho da felicidade de pertencer ao Bom Pastor. Não basta estar cristão, mas ser cristão em plenitude. Jesus conduz para as fontes das águas vivas, mas é preciso a cooperação generosa com Ele nesta tarefa sublime. Ele mesmo afirmara: “Eu tenho  ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. A elas também tenho eu de reunir e elas ouvirão a minha voz e então haverá um só rebanho e um só Pastor” (Jo 10,16). Para que isto ocorra é necessário que existam  ovelhas, autênticos epígonos de Jesus, homens e mulheres, jovens, crianças atraídos pelo verdadeiro Pastor. A ele aderidos livremente por terem percebido nele a fonte da verdadeira felicidade. Esta, porém, deve ser levada àqueles que a desconhecem. Para tanto é preciso uma fé profunda, não meramente decorativa conformista, mas viva, vibrante. É a fé  daqueles que sabem sempre escutar a voz de Jesus, não obstante o bulício do mundo. Vivência na comunhão total com Ele numa existência integralmente pautada por seu Evangelho. Com efeito, se os cristãos não têm um liame vital com Ele, mas uma mera profissão de fé conformista sem engajamento concreto, o anúncio da Boa Nova não se concretiza. As palavras do Bom Pastor podem até se tornar idéias interessantes, utópicas. Quem está convicto da veracidade da assertiva de Jesus: “Eu e o Pai somos um” tem certeza de que possui a vida eterna e esta vida eterna consiste em conhecer a Deus e aquele que enviou. Tal realidade, contudo, não depois da morte, mas agora por entre as vicissitudes da passagem por este exílio terreno até que se possa estar para sempre com Ele na Casa do Pai, tendo arrastado a muitos para junto deste Deus que quer que todos tenham a vida e a tenham em abundância. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

JESUS MESTRE ADMIRÁVEL

                                               JESUS O MESTRE POR EXCELÊNCIA
                                               Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Como bem se expressou Karl Adam, o homem e Jesus são como a pergunta e a resposta, o problema e a solução. Quem encontra a resposta  de suas indagações em Cristo e nele a solução de seus problemas estará salvo. Isto supõe um aprofundamento da cristologia através do estudo acurado do Evangelho, pois quanto mais se conhece alguém digno de ser seguido, mais se deixa guiar por ele. Conhecer Jesus transforma vida a partir de dentro. É fruto de um silêncio e de uma escuta que precisam ser perseverantemente cultivados.
 Quanto mais se percorre o Evangelho mais se percebe que Cristo: foi um mestre extraordinário, um comunicador deslumbrante. Ele falou sem ambigüidades, de um modo persuasivo, convincente. Isto através de  uma comunicação pessoal,  fundada sobre a alteridade sempre respeitada o que tocava profundamente todos os  que se encontravam com Ele.
Não se apresentou jamais como um vidente que profere profecias infundadas, nem um filósofo a ostentar uma vã sabedoria, nem um pedagogo vulgar.
Além disso, Jesus apreciou tudo o que é concreto e essencial, chamando a atenção para as maravilhas que o poder divino espalhou pelo mundo, como, por exemplo, a beleza dos lírios do campo. Falou veementemente aos escribas e fariseus e proferiu contra eles sete “ais” fulminantes, mas não se perdeu jamais  em banalidades.
Apontou para horizontes repletos de esperanças, deu instruções objetivas para as mais inquietantes situações existenciais, mostrando-se  sempre atencioso  para com os interlocutores que se dirigiam a Ele.Ofereceu diretrizes preciosas para sanar todas as inquietações humanas, para responder as interrogações últimas atinentes ao presente, ao passado e ao futuro.  Suas parábolas sempre lidas nunca esgotam a admiração de seus seguidores, sendo que a do Filho Pródigo é uma página literária insuperável. Cristo foi, além disso, um verdadeiro profeta, não um mestre arrogante  que confia apenas na capacidade intelectual. Não se apresentou jamais como um demagogo, um político inescrupuloso e hábil que explora as paixões populares para fins condenáveis.  O homem, este admirável microcosmos, precisava, realmente, de tal preceptor cujas mensagens atingem ontologicamente o ser racional em todas suas dimensões.  Não se vislumbra em suas palavras nada que seja engodo para seus epígonos, mas traçou perfeitamente o caminho rumo à felicidade perene. A verdade foi o referencial de sua doutrina e sua palavra luminosa se tornou semente de vida serena nesta terra e existência venturosa por toda a eternidade. Aprofundar seus ensinamentos é se tornar luz do mundo e fazer este Mestre inigualável sempre mais conhecido e amado por palavras e testemunho de vida. O Papa Francisco na sua homilia no domingo dia 14 de abril na Basílica de São Paulo Fora de Muros, em Roma, explicou a importância deste testemunho: “Não se pode anunciar o Evangelho sem o testemunho coerente da própria vida. O testemunho de fé acontece de maneiras muito diversas; assim como num grande fresco, há variedade de cores e tons, mas todos eles são importantes, mesmo aqueles que não se destacam. No grande plano de Deus cada detalhe é importante, até mesmo o vosso, até mesmo o meu humilde e pequeno testemunho, até mesmo o testemunho oculto daqueles que vivem a sua fé com simplicidade nas relações familiares quotidianas, relações de trabalho, amizades. São os santos de cada dia, os santos “escondidos”, uma espécie de “classe média de santidade” à qual todos nós podemos pertencer.» Não basta. De fato,  saber que Jesus é um Mestre admirável, mas cumpre anunciá-lo por comportamentos coerentes com esta sublime convicção.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

MISSÃO DO CRISTÃO

MISSÃO DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cabe ao autêntico cristão procurar compreender sempre a figura de Jesus, Sua palavra e suas ações.  Então entenderá que o Mestre divino agiu e viveu de acordo com os planos eternos da Trindade e não de acordo com programa e desejos próprios. Tal deve ser a conduta de seu discípulo que adere inteiramente à vontade divina e não se deixa levar pelos seus caprichos. Apenas assim poderá cada um anunciar o verdadeiro conteúdo do Evangelho.
Trata-se de manifestar uma existência atrelada aos desígnios do Ser Supremo. Jesus tudo realizou a partir do Pai e para o Pai. Eis por que urge a disponibilidade de se empenhar na escuta das inspirações do Alto para a elas se conformar e, deste modo, poder modificar o mundo. É necessário crer que Jesus é a presença do Deus vivo entre os homens. Nele Deus e o ser racional, o Criador e o cosmo, o Eterno e o tempo entram em contato vivificador, colocando-se em estado de redenção. Cristo depôs todo pecado do mundo no amor infinito de Deus e nele dissolveu a maldade humana.
Aceitar Cristo e O levar por toda parte é entrar no espaço de transformação e expiação universal. É por isto que se diz: “Se és cristão, tens o mundo nas mãos” Cristo crucificado e ressuscitado se tornou a Arca da viva da Nova Aliança.
 A tarefa do cristão é fazê-lo conhecido e amado e nisto consiste a essência da evangelização. Segundo a ordem expressa do Redentor o Evangelho deveria ser levado a todos os recantos da terra. Tarefa missionária imprescindível, mas que enfrentaria sempre os falsos pregadores e os devaneios dos deturpadores da mensagem do Filho de Deus, bem como o falso testemunho de tantos cristãos dentro da Igreja verdadeira. Nem todos saberiam agir continuamente sob o olhar de Deus e proceder como deveriam fazer sob a sua vista.
Além disto, muitos não compreenderiam que o anúncio do Evangelho permaneceria sempre sob o signo da cruz, ou seja, exigiria em todos os tempos muito sacrifício, disponibilidade total, despojamento pessoal.
A cruz seria o sinal do Salvador, dado que na pugna contra a falsidade e a violência das forças do mal não haveria outra arma senão o testemunho do sacrifício a favor de difusão do Reino de Deus.
O que falta, porém, tantas vezes é a fé viva na força da palavra de Deus que deve ser anunciada como merecedora de absoluta confiança. Então será possível compreender que Jesus é o verdadeiro profeta junto do qual o homem depara à paz, a tranquilidade, a imperturbabilidade por se sentir verdadeiramente salvo.
Deste modo, muitos poderão reconhecer que Ele á, de fato, a “Luz verdadeira que ilumina todo aquele que vem a este mundo” (Jo 1,9), pois o que Ele ensinou leva ao essencial, ou seja, a uma vida totalmente alicerçada em Deus que é a fonte da verdadeira felicidade.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Considerações sobe a ressurreição de Jesus

CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESSURREIÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nas narrativas dos Evangelistas as aparições do Ressuscitado, provas, aliás, de que Jesus havia vencido a morte, Ele se apresenta com seu corpo glorioso. É plenamente corpóreo como explicou o Papa emérito Bento XVI no seu livro “Jesus de Nazaré”, mas não estava mais ligado às leis do espaço e do tempo. Ele saiu do túmulo “para a vastidão de Deus e é a partir dela que Ele se manifesta aos seus”.
É lógico que, embora o fato do sepulcro vazio ter sido um indicativo claro de que Ele estava vivo, num primeiro instante era preciso ressaltar a corporeidade do Redentor glorioso e suas aparições não foram alucinações por parte das pessoas às quais Ele se manifestou.
São Lucas inclusive narrou que Ele à frente dos discípulos comeu uma porção de peixe asado (Lc 24,43). Para uma melhor compreensão deste fato, já que Jesus não estava mais numa corporeidade empírica, vale, analogicamente, considerar o que se dá na hora da Comunhão. A Hóstia consagrada é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo sob as espécies eucarísticas. Aquele que comungou não percebe isto sensivelmente, mas apenas espiritualmente. Na verdade uma presença reduplicada: Ele no fiel e o fiel nele: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Os efeitos desta união não são físicos, mas ultrapassam o que é material, sem se ligar às leis cósmicas. Trata-se da união mística com Jesus. Recebe o comungante a linfa vital da graça. Assim deve ter acontecido com Cristo resultado ao tomar o alimento o qual em nada agiria como tal em seu ser que já havia conhecido um “salto ontológico”.
Deste modo, as aparições de Jesus após sua ressurreição não significam que os evangelistas o tenham reposto numa situação inteiramente idêntica ao estado em que se achava o Verbo Encarnado antes de sua morte.
Estas considerações visam responder àqueles que levantam questões exatamente atinentes ao Ressuscitado e suas aparições aos apóstolos antes de Sua admirável Ascensão aos céus.
Entretanto, o importante em tudo isto é a fixação da realidade da presença do Salvador vitorioso junto dos que nele crêem. Ele esta a dizer a cada um de nós:”Eu ressuscitei e estou contigo” Jesus não está longe, mas perto dos que têm fé.
 Com seu poder onipotente Ele supera o espaço e o tempo. Entrou onde estavam os discípulos e as portas estavam fechadas.
Eis por que São Paulo que viveu intensamente a presença de Jesus glorioso afirmou: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 1,20).
Lembra o Papa emérito Bento XVI que “o cristianismo é presença: dom e dever; sentir-se compensado pela prox9imidade interna de Deus e, com base nisto, dar ativamente testemunho em favor de Jesus Cristo”.
Jesus está vivo e junto de cada um que O ama e nele confia.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




                               

terça-feira, 9 de abril de 2013

ORDENAÇÃO DAS MULHERES

ORDENAÇÃO DAS MULHERES
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Ao se deparar, em certas revistas, declarações de pessoas que se dizem teólogos, vem à baila o dito francês “ passer du coq à l'âne", ou seja, passar, saltitar de um assunto a outro.  Isto com uma variedade na qual se misturam agressões a princípios morais cujo desprezo inclui a afronta a mandamentos sagrados do Decálogo, menoscabo à doutrina professada pela Igreja, fatos históricos mal interpretados. Infligindo as normas da lógica filosófica tal miscelânea só serve para confundir as mentes incautas. Um dos pontos que tem sido alvo daqueles que vivem do sensacionalismo teológico é a ordenação sacerdotal das mulheres.  O Papa João Paulo II nunca deixou de mostrar que a Igreja não recebeu de Jesus a faculdade de ordenar mulheres. Cristo não ordenou mulher alguma. No Cenáculo ele deu aos Apóstolos e a seus sucessores o mandato de consagrar o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19; 1 Cor 11,24 s). Ali na última Ceia ele conferiu o sacerdócio àqueles seus discípulos por Ele especialmente reunidos No Oriente e no Ocidente esta norma foi, através dos séculos, sempre observada. João Paulo II publicou a Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, dia 22 de maio de 1994 na qual deixa claríssimo este ensinamento que promana do próprio Fundador da Igreja.  Eis suas palavras textuais: “Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”. A atitude de Jesus não implica depreciação da mulher, pois, na verdade o sacerdócio é uma função de serviço muito mais do que uma honra ou promoção.  João Paulo II escreveu uma Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher na qual ele mostra as tarefas que sobretudo as mulheres sabem e podem exercer, mormente formando os grandes santos e os mais importantes beneméritos da sociedade. Diz o papa que nunca se poderá retribuir à mulher o serviço que ela presta à sociedade civil e religiosa. Logo depois de Jesus é uma mulher a mais bendita das criaturas: Maria Santíssima. É de se notar a sábia observaão do citado Papa João Paulo II: “O modo de agir de Cristo não fora ditado por motivos sociológicos ou culturais próprios do seu tempo. Como sucessivamente precisou o Papa Paulo VI, «a verdadeira razão é que Cristo, ao dar à Igreja a Sua fundamental constituição, a sua antropologia teológica, depois sempre seguida pela Tradição da mesma Igreja, assim o estabeleceu». O Papa fala em antropologia teológica e não zoologia, como afirmam ironicamente certos escritores que contestam a tradição eclesiástica. Em suma, todo cuidado é pouco e há necessidade de muito senso crítico para não se assimilar os erros grosseiros que se difundem por toda parte, até, por vezes, infelizmente, na imprensa católica* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 



quinta-feira, 4 de abril de 2013

A PESCA MILAGROSA

                              A PESCA MILAGROSA
                              Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre as lições que a pesca milagrosa que se deu no lago de Tiberíades apresenta, cumpre, em primeiro lugar, salientar que Simão Pedro e seus companheiros simbolizam bem o apostolado no grêmio da Igreja (Jo 21, 1-19). Os pescadores, homens experientes naquela tarefa nada tinham conseguido. Jesus ressuscitado lhes aparece,  orienta-os e uma prodigiosa pesca se deu então. As redes  já não podiam ser tiradas devido à grande quantidade de peixes. Aquelas redes representavam bem  a pregação do Evangelho e os peixes a universalidade dos fiéis. Entretanto, sem a graça de Cristo nada, de fato, se consegue. Houve uma obediência à ordem recebida, pois lançaram a rede para o lado direito do barco e o sucesso foi absoluto. Por vezes, não se compreende bem o plano divino da salvação e as tarefas podem parecer impossíveis. Entretanto, todas as vezes que a voz de Cristo  é escutada e seguida, sua graça age maravilhosamente na vida do cristão e na trajetória da Igreja neste mundo. Isto significa que na obra da evangelização não se deve contar nunca com a capacidade pessoal, mas é preciso sempre a ajuda divina. Os limites da inteligência humana são inegáveis e muitos desanimam, pois não confiam inteiramente na proteção do Mestre poderoso. A colaboração de Jesus é, aliás,  indispensável quer na vida espiritual, quer na vida profissional. O ideal de todo batizado é que a vida material seja sempre uma expressão de sua vida espiritual, porque em qualquer circunstância se está sempre a serviço dos outros e quem vê no próximo a figura de Cristo cresce sempre em todo sentido.  O essencial neste episódio da pesca milagrosa  não é que os apóstolos estavam a pescar para vender peixe e se alimentar. O fundamental neste caso foi que o Senhor os reencontra no cerne mesmo de sua ação, de seu trabalho. É de se notar que Jesus quer que cada um se lance à sua tarefa cotidiana, mas Ele deseja vir igualmente se associar ao trabalho de cada um. Foi quando Ele se faz reconhecer pelos apóstolos. Felizes aqueles que captam as sugestões do sábio Rabi, se deixam guiar por elas e são capazes de reconhecer o influxo da graça nas suas ações. Esta atitude de perceber o Senhor no trabalho cotidiano faz subitamente alargar a atividade de cada um a dimensões quase infinitas. Tudo porque Jesus sempre se faz reconhecer como o servidor. Com efeito, foi Ele quem ascendeu o fogo e havia tudo preparado para aquela refeição. Que belo convite fez Jesus àqueles pescadores: “Vinde almoçar”! Uma vez que há o esforço humano, a ação da graça vai sempre operar maravilhas. Quando oferecemos qualquer coisa ao Senhor, na medida em que nós o agradamos, é Ele quem se torna o doador que retribui cem por um.Toda a vida do cristão pode ser concebida como a repetição e uma extrapolação da cena da pesca milagrosa. Participando pelo batismo do múnus sacerdotal, profético e régio do Redentor, quem é batizado vai à pesca. Trabalha com a certeza de agir por Deus e para pescar almas para o céu. Os planos humanos se tornam então realizações maravilhosas das graças de Deus que operam prodígios, afervorando os bons, iluminando os tíbios, convertendo os pecadores.  È Jesus agindo sempre através de seu epígono, multiplicando os seus carismas. A  vida do cristão se torna deste modo um dom contínuo para glória de Deus e bem das almas. Tudo isto fruto da experiência da fidelidade de Jesus que nunca abandona os que nele confiam. Felizes os que apreendem Sua influência ainda que escondida aos olhos humanos atrás das situações dolorosas e incompreensíveis. São os que podem repetir com o apóstolo João: “É o Senhor”, Ele presente em todos os momentos da existência do cristão. Então, quando as redes da palavra, dos exemplos, até mesmo das preces, parecem vazias, quando as iniciativas evangélicas enfrentam dificuldades e suscitam decepções, Jesus surge, desde que não se desanime e se continue a lançar as redes. Os aparentes fracassos humanos fazem compreender melhor que é o Mestre, o Salvador, aquele que realmente pode fazer frutificar qualquer tipo de apostolado. É ele quem transforma os corações. O que Ele deseja é que jamais não se desanime. A pesca milagrosa, o resultado de todos os esforços dependem somente dele. Por tudo isto, a cena da pesca milagrosa traz mensagem fulgurante de esperança. Cumpre perseverar, ser humildes no trabalho da evangelização e não duvidar nunca da ajuda divina. Cristo ajuda, mas nunca como se quer e quando se quer, mas no instante oportuno que Ele melhor conhece e o resultado será grandioso como aconteceu no lago de Tiberíades. Jesus transformou pescadores que pescavam peixes em pescadores de homens. Colocou mesmo Pedro à frente do barco da Igreja e esta Igreja é o espaço no qual a terra encontra o céu, para que o Redentor possa conduzir multidões à Casa do Pai. Multiplica Ele sua ação redentora através de outros Apóstolos, ministros ordenados ou leigos,  engajados num apostolado contínuo, perseverante, que se torna imensamente frutuoso. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.