A UNIÃO COM O REDENTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das alegorias empregadas por Jesus e que tem também comovido seus seguidores através dos tempos é a da videira e dos ramos na qual deixou este conselho admirável: “Permanecei em mim e eu em vós” (Jo 15 1-8). Deste modo ilustrou seu pensamento: “Assim como o ramo, por si mesmo, não pode produzir fruto, se não permanecer unido à vide, assim também vós, se não permanecerdes em mim”. Um dos obstáculos desta união com o Redentor é o egoísmo. Cumpre ao cristão afastar o orgulho, a presunção. para, purificado, descobrir o verdadeiro amor que o prenderá a Cristo. Quanto mais se poda meticulosamente o coração, mas se recolherá os frutos saborosos do amor do divino Salvador. Isto significa tornar o ramo florescente. Com efeito, quem se julga dono da verdade não pode se identificar com o Mestre divino, porque não se conforma com seu ensinamento, mas vive em função de suas convicções pessoais. A unidade que precisa existir entre Cristo e seu seguidor não é uma escolha, não está sujeita a uma livre elaboração, mas supõe uma adesão completa no que tange a doutrina e a moral. Aquele que se acha centrado em Cristo rejeita tudo que não se coaduna com o que Ele doutrinou. Adite-se que a união com Jesus, a Videira divina, deve se dar pela oração. A sede do Infinito, a nostalgia da eternidade, a procura da beleza suprema, o desejo de um amor ilimitado, a necessidade da luz que ultrapassa a esfera terrestre, o desejo íntimo da verdade absoluta conduzem o ser racional exatamente à permanência ininterrupta naquele que é a verdade suprema, a vida eterna. Ora isto se dá exatamente quando quem tem fé se volta para aquele que é “a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo”. Trata-se então de uma atitude interior alimentada pelos atos do culto. Permanecer na videira como ramo florescente é encontrar na oração o lugar por excelência da gratuidade, da tensão para o Invisível, para o Inefável. É um dom que resulta da constante justaposição do fiel face ao seu Senhor, a partir de Jesus, a Videira, na qual está inserido, recebendo dela a seiva vital para não se tornar ramo seco. É que no momento de uma prece autêntica a criatura humana expressa toda a consciência de sua contingência e se volta inteiramente para o Ser Necessário, orientando-se para o mistério redentor. Encontra então no divino Salvador a ajuda para superar a própria indigência. O que vive uma existência aglutinada em Cristo ultrapassa, de fato, a precariedade do que é sensível, material. A harmonia total com a pessoa do Salvador leva à plenitude da vida, a realidade de uma aliança profunda com o Verbo de Deus Encarnado ao qual o coração humano se prende na concretização plena da história da salvação pessoal. Então o cristão percebe no silencio de uma prece ardente a intimidade com Cristo indo além do seu limite para se abrir à medida mesma de seu Coração que é a fonte do amor infinito. Atinge-se desta maneira o que ocorreu com São Paulo que pôde peremptoriamente asseverar: “Já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim (Gl 2,20). Verificou-se com o Apóstolo uma experiência espiritual maravilhosa que deve ser o ideal de todo discípulo de Jesus. O único objetivo paulino era estar sempre com Cristo, sabedor desta realidade que em Cristo o Pai comunica sua caridade, sua liberdade e toda a sua força. Permanecer em Cristo não significava para Paulo simplesmente tomá-lo como modelo, como protótipo, mas permitir que Ele se converta no principal protagonista de uma existência toda voltada para Ele. Apenas assim ao Redentor, como o ramo à Videira divina, o cristão participa do amor do Pai, possui a liberdade total e a força que o torna imbatível ante as invectivas do mal. Compreende-se desta maneira o que São Paulo disse aos Coríntios: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 13,10). A seiva vem aos ramos e não o contrário. Donde a afirmativa paulina: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. Quem se une a Cristo é um só espírito com Ele. Esta vivência se torna cotidiana, lançando o cristão na realização plena de sua vocação eterna que a de se perder dentro do coração de Jesus, pois o coração humano passa a pulsar no ritmo do coração divino. Quando Jesus pediu: “Permanecei em mim e eu em vós” queria significar tudo isto e, na verdade, uma união recíproca: Ele em nós e nós nele. Por este meio a união se perpetua no Corpo Místico de Cristo e faz dos que estão cá na terra, como dos que gozam no céu, uma só família. É a mesma seiva que circula em todos os galhos para produzir os mesmos frutos; é a mesma graça, a mesma fé, a mesma esperança, o mesmo amor, que animam as almas cristãs. Cumpre, porém, viver intensamente todas estas realidades sublimes que se inicia aqui neste mundo e se prolongarão por toda a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
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