sábado, 7 de abril de 2012

Domingo da Divina Misericórdia

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O bem-aventurado Papa João Paulo II no ano de 2000 instituiu o domingo depois da Páscoa como o Dia da Misericórdia, atendendo ao pedido de Cristo a Santa Faustina. O intento de Jesus é que a meditação da infinita divina seja um recurso e um refugio para todas as almas, sobretudo, para os pecadores. Para todos o divino Redentor deseja abrir as entranhas de sua comiseração, imergindo-os no oceano imenso de suas graças. O Evangelho é o da aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos e a São Tomé (Jo 20,19-31) e na sua homilia dia 30 de abril de 2000 o Papa explicou o sentido da Misericórdia a partir deste fato narrado por São João. Ressaltou que antes da significativa saudação aos seus discípulos: “A paz esteja convosco”, Jesus “mostrou suas mãos e seu lado, isto é, as chagas da Paixão, em particular a ferida do coração, fonte de onde jorrou a grande vaga de misericórdia que se derrama sobre a humanidade”. Em seguida, acentuou o Papa: “Através do coração de Cristo crucificado a misericórdia divina atinge todos os homens. Esta misericórdia Cristo a difunde sobre a humanidade por meio do envio do Espírito que, na Trindade, é a Pessoa-Amor”. Indaga então este Pontífice: “Não é a misericórdia o segundo nome do amor, tomado no seu aspecto mais profundo e mais terno, na sua aptidão de se apossar de cada necessidade, em particular na sua imensa capacidade de perdão”? Numa frase o bem-aventurado João Paulo II sintetiza então a grande mensagem deste domingo: “Cada pessoa é preciosa aos olhos de Deus, pois Cristo sacrificou sua vida para cada um”. É que, de fato, pela misericórdia o Filho de Deus foi ao limite de sua benevolência, pois se mostrou sensível à miséria humana não só se imolando por todos os homens, mas ainda lhes oferecendo como remédio para esta precariedade o seu perdão cordial. Ele foi claro: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores; é a misericórdia que eu desejo e não o sacrifício” (Mt 9,13). É por isto que a conversão é possível e obtém a anistia completa para aquele que, arrependido, se imerge no oceano da infinita compaixão divina. Cumpre, porém, não apenas se maravilhar com a ternura de Jesus, mas é preciso imitá-lo. Cada batizado é, realmente, chamado a fazer misericórdia com os outros como o Mestre divino e isto como condição de se usufruir de Sua bondade: “Bem-aventurados os misericordiosos porque obterão misericórdia”, conforme está no prólogo do Sermão da Montanha. Isto significa ter compaixão para com o próximo, ou seja, o hábito de fazer o bem aos que sofrem, vindo de encontro a suas necessidades corporais e espirituais. Viver a compaixão misericordiosa é possuir uma sensibilidade interior que se traduz em ações práticas. Ajuda oportuna dentro dos limites possíveis a cada um, mesmo porque o nosso pão nunca é tão pequenino que não possa ser partilhado com o necessitado e às carências espirituais todos podem socorrer com preces ser partilhado com o necessitado e às carências espirituais todos podem socorrer com preces ininterruptas que se traduzem no apostolado da oração. A misericórdia se traduz ainda na bondade, na benignidade, na paciência, na doçura de gestos e palavras. Trata-se de se ter o coração aberto para os que padecem os males inerentes à condição humana numa ajuda efetiva nos momentos de sofrimento. É a vibração da alma perante toda a miséria, levando a um movimento que leva a consolar, amparar, enxugar as lágrimas alheias. Em suma, é o hábito de se fazer o bem a todos. Jesus manifestou sempre esta sensibilidade profunda. Os Evangelhos narram sua ternura personalizada, repleta de comiseração ativa. Seus gestos revelaram os valores de Deus que devem esplender na existência de todos os seus discípulos. A palavra misericórdia se liga ao termo miséria cuja lista é imensa: corações feridos, espíritos alienados, almas pecadoras, falta de alimento, de remédio, de vestuário, enfim tudo que representa a dor, a amargura na existência de cada um. Todos os batizados têm necessidade do sinal oferecido a São Tomé, ou seja, contemplar o Coração aberto do divino Ressuscitado e dentro desta chaga passar a viver, imitando em tudo a benevolência deste abismo de amor. Aí o único e verdadeiro refugio mas também o exemplo de clemência a ser continuamente imitado. É deste modo que se percebe o verdadeiro sentido da Ressurreição de Jesus no qual esplendeu a misericórdia em toda sua grandeza. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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