A MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Claríssimas as palavras de Cristo a Pedro: “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16,18). Depois de sua ressurreição, antes de subir ao céu e de separar-se dos seus apóstolos, após cobrar de São Pedro uma tríplice manifestação de amor, ordenou que ele apascentasse os seus cordeiros e suas ovelhas (Jo 21,15-17). Ele seria o chefe do colégio apostólico, ou seja, do grupo composto pelos onze aos quais Jesus deu esta ordem: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. (Mt 28, 19-20). A eles fora comunicado um poder divino: “Recebei portanto o Espírito Santo, e tudo o que perdoardes na terra será perdoado no céu, tudo o que retiverdes será retido, tudo o que condenardes será condenado”. Eis a Igreja fundada por Cristo; ela traz em seu grêmio o espírito de Deus e a imortalidade. Os apóstolos exerceriam uma tarefa sublime, pois Cristo lhe afirmou: “Quem vos ouve a mim ouve e quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10,16). Ora, sendo a Igreja destinada a instruir todos os homens, levando-lhes a salvação, ela possui um caráter universal, ou seja, é católica, e esta prerrogativa seria sempre um sinal evidente e positivo para conhecer a verdadeira Igreja. Esta Igreja, a despeito da oposição de desavisadas autoridades civis e a prevenção de tantos governos; de tantas seitas que surgem século após século, tem superado a diversidade das línguas, dos costumes, vencido os preconceitos e a rebeldia natural dos espíritos que não querem a Verdade. Esta universalidade não abrange somente as nações, ela abarca todas as almas. Todos são convidados a receber a mesma crença, a mesma fé. Ela é como a luz do sol, destinada, a iluminar toda a humanidade. De acordo com a ordem do Filho de Deus, os Apóstolos partiram para semear o Evangelho por toda parte. Depois dos Apóstolos viriam os seus sucessores, os Bispos e os Padres que, continuando a mesma missão, percorreriam o universo, derramando por toda a terra os ensinamentos do Cristo. Por entre a diversidade de costumes paira sempre uma unidade admirável por ter a Igreja no Papa o sucessor de Pedro. Um único chefe para todo o Corpo Místico de Cristo. Em Roma reside, de fato, o sucessor de Pedro cuja voz comanda e é obedecida e respeitada por todos os fiéis. Contra a Igreja levantaram-se os cismas, as heresias, os reis e as repúblicas, mas ela está e estará sempre firme e inabalável, assistindo os funerais de todos os seus perseguidores, sendo unicamente guardada e protegida pelo seu Fundador. Esta Igreja aí está viva e forte no meio de nós, sempre guardada por Deus, ainda que trazendo em seu corpo as cicatrizes do martírio e as feridas das perseguições. Ela aí está firme e invencível, depois de atravessar as guerras e as revoluções de vinte séculos passados e triunfando dos demônios deste início de milênio, sempre ensinando a verdade ao mundo e mostrando aos homens o caminho que conduz à Jerusalém celeste. Os que vivemos no século vinte e um, instruídos pelo Evangelho, devemos levantar as mãos aos céus e agradecer a Deus tão grande beneficio, porque, se temos idéias tão elevadas e certas sobre a Divindade, sobre a Providência, sobre o vicio e a virtude, sobre as recompensas e os castigos da vida futura, sobre os nossos deveres para com o Ser Supremo, para com o próximo e sociedade, tudo devemos aos divinos ensinamentos transmitidos pela Igreja. A verdade chega através dela a todo ser humano. A Igreja, nos dias presentes, está de pé, mais viva e mais forte como nunca esteve. A Igreja de Cristo não tem somente a autoridade divina de ensinar a verdade às nações, ela está ainda animada pelo mesmo espírito de Deus e pelo mesmo amor. O seu coração é grande como o coração de Cristo. Ela abre os braços a todos, porque o seu ideal é reunir todas as inteligências na mesma verdade, todos as vontades no mesmo amor. É ela que nos conforta com a graça divina, que nos consola e nos anima neste exílio terreno. Ela tem antídotos para todos os males; dispensa a sua solicitude materna segundo as necessidades de todos sejam quais forem suas condições sociais. Ela conhece todos os segredos do amor e tem carinhos até para os filhos ingratos, para os pecadores, porque a sua missão não é somente de vir em auxilio dos bons e dos justos, mas ainda de salvar os que estão fora do aprisco do Bom Pastor e de consolar todas as misérias humanas. A Igreja teve piedade dos escravos, e não julgava uma baixeza pedir esmolas para remi-los, enquanto trabalhava pacientemente para abolir radicalmente a escravidão do seio de todas as nações cristãs. Sim, o amor da Igreja é o amor do próprio Cristo, é incomensurável, é infinito, e manifesta-se em todas as nossas necessidades, em todas as nossas penas, em todas as nossas dores. Até para a morte ela tem um sacramento que purifica e prepara a alma para apresentar-se diante de Deus; até nos cemitérios ela tem a cruz, como sinal de esperança e de confiança nessa vida eterna, que Cristo oferece a toda humanidade. Quando a terrível morte nos abater, quando já não formos do número dos vivos, essa Igreja divina ainda lembrar-se-á de nós, todos os dias, enquanto houver um sacerdote que celebre o santo sacrifício da Missa em qualquer canto da terra. Amemos, portanto, esta Igreja una, santa, católica, apostólica! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos..