segunda-feira, 30 de abril de 2012

A MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO


 A MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Claríssimas as palavras de Cristo a Pedro: “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16,18).  Depois de sua ressurreição, antes de subir ao céu e de separar-se dos seus apóstolos, após cobrar de São Pedro uma tríplice manifestação de amor, ordenou que ele apascentasse os seus cordeiros e suas ovelhas  (Jo 21,15-17). Ele seria o chefe do colégio apostólico, ou seja, do  grupo composto pelos onze aos quais Jesus deu esta ordem: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. (Mt 28, 19-20). A eles fora comunicado um poder divino: “Recebei portanto o Espírito Santo, e tudo o que perdoardes na terra será perdoado no céu, tudo o que retiverdes será retido, tudo o que condenardes será condenado”. Eis a Igreja fundada por Cristo; ela traz em seu grêmio o espírito de Deus e a imortalidade. Os apóstolos exerceriam uma tarefa sublime, pois Cristo lhe afirmou: “Quem vos ouve a mim  ouve e quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10,16). Ora, sendo a Igreja destinada a instruir todos os homens, levando-lhes a salvação, ela possui um caráter universal, ou seja, é  católica, e esta prerrogativa seria sempre um sinal evidente e positivo para conhecer a verdadeira Igreja. Esta Igreja, a  despeito da oposição de desavisadas  autoridades civis e a prevenção de tantos governos; de tantas seitas que surgem século após século, tem superado a diversidade das línguas, dos costumes, vencido os preconceitos e a rebeldia  natural dos espíritos que  não querem a Verdade. Esta universalidade não abrange somente as nações, ela abarca todas as almas. Todos são convidados a receber a mesma crença, a mesma fé. Ela é como a luz do sol, destinada, a iluminar toda a humanidade. De acordo com a ordem do Filho de Deus, os Apóstolos partiram para semear o Evangelho por toda parte. Depois dos Apóstolos viriam os seus sucessores, os Bispos e os Padres que, continuando a mesma missão, percorreriam o universo, derramando por toda a terra os ensinamentos do Cristo. Por entre a diversidade  de costumes paira sempre uma unidade admirável por ter a Igreja no Papa o sucessor de Pedro. Um único chefe para todo o Corpo Místico de Cristo. Em Roma reside, de fato,  o sucessor de Pedro cuja voz comanda e é obedecida e respeitada por todos os fiéis.  Contra a Igreja levantaram-se os cismas, as heresias, os reis e as repúblicas, mas ela está e estará sempre firme e inabalável, assistindo os funerais de todos os seus perseguidores, sendo   unicamente guardada e protegida pelo seu Fundador. Esta  Igreja aí está viva e forte no meio de nós, sempre guardada por Deus, ainda que trazendo em seu corpo as cicatrizes do martírio e as feridas das perseguições. Ela aí está firme e invencível, depois de atravessar as guerras e as revoluções de vinte séculos passados e  triunfando dos demônios deste início de milênio, sempre ensinando a verdade ao mundo e mostrando aos homens o caminho que conduz à Jerusalém celeste. Os que vivemos no século vinte e um, instruídos pelo Evangelho, devemos levantar as mãos aos céus e agradecer a Deus tão grande beneficio, porque, se temos idéias tão elevadas e certas sobre a Divindade, sobre a Providência, sobre o vicio e a virtude, sobre as recompensas e os castigos da vida futura, sobre os nossos deveres para com o Ser Supremo, para com o próximo e  sociedade, tudo devemos aos divinos ensinamentos transmitidos pela Igreja.  A verdade chega através dela a todo ser humano. A Igreja, nos dias presentes, está de pé, mais viva e mais forte como nunca esteve. A Igreja de  Cristo não tem somente a autoridade divina de ensinar a verdade às nações, ela está ainda animada pelo mesmo espírito de Deus e pelo mesmo amor. O seu coração é grande como o coração de Cristo. Ela abre os braços a todos, porque o seu ideal é reunir todas as inteligências na mesma verdade, todos as vontades no mesmo amor.  É ela que nos conforta com a graça divina, que nos consola e nos anima neste exílio terreno. Ela tem antídotos para todos os males; dispensa a sua solicitude materna segundo as necessidades de todos sejam quais forem suas condições sociais. Ela conhece todos os segredos do amor e tem carinhos até para os filhos ingratos, para os pecadores, porque a sua missão não é somente de vir em auxilio dos bons e dos justos, mas ainda de salvar os que estão fora do aprisco do Bom Pastor e de consolar todas as misérias humanas. A Igreja teve piedade dos escravos, e não julgava uma baixeza pedir esmolas para remi-los, enquanto trabalhava pacientemente para abolir radicalmente a escravidão do seio de todas as nações cristãs. Sim, o amor da Igreja  é o amor do próprio Cristo, é incomensurável, é infinito, e manifesta-se em todas as nossas necessidades, em todas as nossas penas, em todas as nossas dores. Até para a morte ela tem um sacramento que purifica e prepara a alma para apresentar-se diante de Deus; até nos cemitérios ela tem a cruz, como sinal de esperança e de confiança nessa vida eterna, que Cristo oferece a toda humanidade. Quando a terrível morte nos abater, quando já não formos do número dos vivos, essa Igreja divina ainda lembrar-se-á de nós, todos os dias, enquanto houver um sacerdote que celebre o santo sacrifício da Missa em qualquer canto da terra. Amemos, portanto, esta Igreja una, santa, católica, apostólica! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos..

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Jesus, Filho de Deus

                              JESUS, O FILHO DE DEUS
                  Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notáveis as declarações de Cristo sobre sua identidade e sua missão redentora. Revelou-se primeiramente aos seus discípulos e amigos. Um dia nas planícies de Cesárea ele os interrogou. “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem”? Responderam-lhe: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou algum dos profetas” - “E vós quem dizeis que eu sou”? Respondeu-lhe Simão Pedro: “Tu és o  Messias, o Filho de Deus vivo”. E Jesus respondeu-lhe:”Bem-aventurado és tu filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que te revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16, 13-19). Por ser a Segunda Pessoa da Trindade Santa ele tinha poder para conferir a Pedro o primado sobre sua Igreja o que fez naquele instante. A seus epígonos, portanto, Ele se apresenta como o Filho de Deus no sentido próprio, verdadeiro e integral da palavra, sem o que não teria testemunhado aos seus apóstolos, em termos tão enérgicos, a confirmação dessa  solidíssima declaração. Em outra circunstância ele  explica detalhadamente esta verdade. Foi quando um outro apóstolo, Filipe, lhe solicita, mostrai-nos o Pai  e isso nos basta”. Ele lhe respondeu: Há tanto tempo estou convosco e ainda não me conheces? Filipe, quem me vê, vê também o Pai. Como então dizeis: Mostrai-nos o Pai celeste? Acaso não acreditais que eu estou no Pai e o meu Pai está em mim” (Jo 14,8-11). Confirmou ainda sua filiação divina ao dizer a Nicodemos: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16-17). Ele é Deus, pois Ele e o Pai são um só e mesmo Ser, de sorte que aqueles que o viam contemplavam também o Pai celestial. Ele, porém, se revelou não apenas aos seus discípulos, mas também a quantos o inquiriam sobre sua missão. Assim é que “quando passeava no templo, sob o pórtico de Salomão, rodearam-no os judeus e perguntavam-lhe “Até quando nos deixas em suspenso? Se tu és o Messias, dize-nos claramente”! Respondeu-lhes Jesus: ”Já vo-lo disse, e não me credes; as obras que eu faço em nome de meu Pai, dão testemunho em meu favor”     (Jo 10, 21-26). Acrescentou depois: “Eu e o Pai somos uma só coisa” (v.30). Diante  dos Anciãos, dos Sacerdotes e dos Príncipes da Judéia usa a mesma linguagem.  Depois de interrogatórios e testemunhos inconsistentes, o Sumo Sacerdote põe a questão em seus verdadeiros termos. Ele se ergue de sua curul de juiz e dirige ao acusado esta solene adjuração: “Eu te conjuro pelo Deus vivo de nos dizer se realmente és o Cristo, o Filho de Deus”. Jesus responde calmamente, com plena consciência de sua divindade: Eu o sou”. E para confirmar esta declaração ele acrescenta: “Vereis o Filho do homem, sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu”. Então o Sumo Sacerdote rasgou as suas vestes exclamando: “Para que mais testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia. Que pensais?” E todos o julgam digno de morte (Mc 14,61-65) Ele é conduzido à presença de Pilatos que não achando motivos para condená-lo, quer dar-lhe a liberdade, mas os Príncipes do povo insistem: “Temos uma lei, e segundo a lei deve morrer, porque se diz o Filho de Deus” (João 19,7). Jesus proclama sua divindade aos seus epígonos, aos judeus,  aos magistrados e ao governo. Os que presenciaram o  seu suplicio lá no  Calvário sabem a causa de sua condenação, e o insulta ainda por ele se ter declarado Deus: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40). Quando Jesus morre e as trevas cobrem a terra, os rochedos se partem, o véu do templo se rasga e toda a natureza avisa a humanidade que alguma cousa de extraordinário se passou, os espectadores e o centurião romano descem a colina do Calvário batendo no peito e exclamando: “Este realmente era o Filho de Deus ”. (Mc 15,39) O apostolo S. João no epílogo do capítulo 20 assim se expressou: “Estas coisas foram escritas para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (Jo 20,31). Adite-se que os esplendores da divindade refulgem, realmente, em toda Sua vida, confirmada pelos seus estupendos milagres, pela sublimidade de seus ensinamentos, pelo fulgor de sua inteligência, pela grandeza de seu coração e pela retidão de sua vontade. As suas palavras e os seus atos são impregnados de uma simplicidade, de uma elevação e de uma profundidade jamais vista num ser meramente humano. Nenhuma vida neste mundo apresenta igual tecido de luz e de amor. Cada palavra de Cristo é um ato de ternura e um ensinamento divino. Sua ressurreição gloriosa seria a prova definitiva de sua divindade! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012






              DEMOCRACIA E VOTO OBRIGATÓRIO
                                 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O tema “Democracia e voto obrigatório” supõe que haja clareza absoluta na formulação destes conceitos.  Deve-se partir do princípio de que o voto é a arma por excelência da vida democrática, pois permite a cada um participar das decisões que dizem respeito à coletividade e isto já traz embutida a responsabilidade pessoal em face das decisões tomadas pelos governantes.  Numa democracia, um povo outorga mandato político a seus representantes e daí o caráter patriótico do sufrágio  com todas as suas conseqüências para o porvir de um povo. O que não se pode, porém,  é afirmar que o voto obrigatório seja anti-democrático, uma vez que a participação indireta no governo, através do voto esclarecido e consciente, é um dever imperativo a que nenhum cidadão deve furtar-se. O Estado pode tudo aquilo que é necessário para a promoção do bem comum. Assim sendo, se o Estado julga que o voto facultativo depende de um amadurecimento político do povo, pode tornar o voto obrigatório, mesmo porque a liberdade do cidadão está preservada dado que ele pode votar em branco ou anular seu voto caso julgue que os candidatos que se apresentaram não são confiáveis. Portanto, o eleitor não tem  neste caso sua liberdade de escolha cerceada pelo Estado. A obrigatoriedade incide tão somente na necessidade do comparecimento aos cartórios eleitorais. Para muitos juristas a realidade desigual do Brasil torna o voto obrigatório um instrumento necessário e, segundo alguns, o sistema facultativo tornaria o voto ainda mais vendível, transformando-se mais facilmente numa transação  condenável. Há um fator pedagógico no voto obrigatório, pois quem não se interessa pela vida política de seu país é um cidadão improfícuo e todos devem buscar o melhor para a nação em que vive e não deve jamais se omitir.  Os cidadãos  precisam se submeter ao Estado em todas as suas justas exigências tendentes à promoção do bem comum. È certo que no plano dos fins o Estado se subordina à pessoa e toda a sua razão de ser é promover o bem do ser humano, mas na questão em tela, se o Estado brasileiro julga melhor para a democracia que o voto seja obrigatório, ele está agindo democraticamente e não de maneira ditatorial. Mais do que nunca cumpre que se tenha plena consciência de que é cidadão brasileiro na plenitude do termo aquele que cumpre seus deveres para com a Pátria e que sabe fazer respeitar os direitos que ela lhes confere. Cidadão verdadeiro é aquele que se identifica de tal modo com o Brasil  que faz seus os problemas nacionais, e que,  em última análise, dá à sua vida cívica o sentido de uma colaboração ao progresso e engrandecimento de seu país.  Neste sentido, se houvesse, de fato, uma plena vivência da cidadania não surgiria a questão de se saber se voto deve ou não ser facultativo. O cidadão sempre compareceria às urnas. Seja como for, qualquer debate sobre este assunto é válido, mesmo porque cada um tem o direito de expressar suas idéias.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.








terça-feira, 24 de abril de 2012

A CRISE DA GALILÉIA

A CRISE DA GALLILÉIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Escribas e fariseus e outros elementos de diversas classes sempre mereceram de Jesus suas censuras, sobretudo porque o Filho de Deus pregava a misericórdia. Sua mão direita se ergueu vigorosa quando foram pronunciados os sete “ais”, recriminando as atitudes incoerentes daqueles, não disseminavam o amor, mas o rigorismo da lei, apresentando uma falsa idéia do Deus-amor (Mt 23,13-29). Ele pregava a observância dos mandamentos, não por temor de uma justiça implacável, mas por dileção e com total sinceridade do coração. Tudo realizado não por palavras, mas pelas ações. Desejava uma caridade abrangente sem discriminação seja qual fosse a posição social de cada um. Deu um exemplo magnífico, mostrando que Ele viera para servir e não para ser servido. Muitos o seguiam, mas também ele percebia que inúmeros O abandonavam. Ele sabia inclusive que seus apóstolos, com exceção de João, não estariam junto dele no Calvário. Alguns biblistas comentam que Cristo, sentindo-se abandonado, na antevisão inclusive de sua dolorosa Paixão e Morte, passou, enquanto homem pela chamada “crise da Galiléia”, quando chegaram ao auge as artimanhas contra Ele. Sua missão, possivelmente, caíra num conflito na Galiléia. Alguns episódios apontam que, na sua região, surgira uma mais acintosa recusa. Sua estada em Jerusalém seria, então, como o final da pregação de suas mensagens. Quando se pôs a caminho, Ele já antevia a dramaticidade do que ocorreria no Gólgota. Lá o abandono que sentiria era o ápice de uma crise que, como Redentor da humanidade, teria que sofrer. Suas palavras na Cruz são sumamente elucidativas: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” (Mt 27,46). Misterioso silêncio envolveria a colina da morte. Após o alvoroço sanguinário da turba infrene reinaria certa estupefação na praça da amargura. Nuvens negras avolumar-se-iam-se no firmamento. A natureza recriminaria o homem por tanta crueldade. O vento sibilaria e, como que, gemendo, partilhando a dor de Jesus. A máquina do universo iria como que ficar fora de seu ritmo normal. O terror apoderar-se-ia de quantos estariam em derredor da Cruz.. Enquanto homem, Ele haveria de perceber a maior angústia moral jamais vista no mundo. Um abandono espantoso o afligiria. Misteriosas palavras. que exprimem um queixume nunca que tal registrado nos anais dos povos, num timbre de pavor imenso, no auge de uma tristeza infinda, de amargor profundo, do imo de ser, do mais recôndito de sua alma, soariam, quebrando o silêncio, palavras que mais do outro mundo pareceriam ser. O Evangelista registraria o fato: “Lá pela hora nona, Jesus deu um grande grito: “Eli, Eli, lamá sabachtáni”, isto é, “Deus meu, Deus meu por que me abandonaste?” (Mt 27,46) Misteriosa reclamação de Jesus que nem os maiores teólogos, nem os mais admiráveis místicos, nem os santos mais eminentes lograram jamais decifrar.. Trágica exclamação no meio da escuridão que envolveria o Verbo de Deus ao pronunciá-la. Que frase jamais jorrou dos lábios do Redentor de tamanha veemência? Por que tanto abandono? Clamores de um Deus só podiam ter eco nele mesmo. No alto de uma Cruz os apelos de Jesus nem em Deus encontrariam ressonância. Ao contemplar a terra Cristo, entre dores agudas, veria ingratidões, desprezo, punhos cerrados e até o Céu o desampararia. Isto aconteceria exatamente no mais cerrado da tempestade! Ó paradoxo! O Filho querido iria morrer sem que o seguisse, ao menos, um leve conforto do Pai! Sombras da morte, trevas espessas, desarrimo cruel, profundamente cruel mesmo! Os poetas procuram descrever o choque forte do agitado mar do amor ao se romper o dique do afeto. Esforço baldado. Apenas quem experimentou tal desilusão é capaz de compreender o que isto significa, mas nunca sentirá o que se passou com Jesus ao manifestar o desapoio em que se encontrou no alto do Madeiro. Espinho para o coração, fel amargo, depressão mortal. Podemos reunir todas as mágoas de todas as despedidas, de todas as separações, o pranto amaro perante todos os túmulos, no dia da morte do ente amado, tudo isto é frágil vislumbre da angústia imensa que invadiria Jesus crucificado. Nada deteria a avalanche da desolação. Pavor inconcebível. Caos espantoso. Abismo insondável de pena. Trevas congeladas o envolveriam. “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?” Palavras capazes de fazer abalar toda a terra. Seria o clamor da humanidade do Salvador imerso em oceano de dor profunda. Como Jó, Jesus poderia dizer ao Pai: “Tu te tornaste meu verdugo”(Jó 30,21) e como Davi: “Puseste-me no fundo da cova, em meio a trevas nos abismos; tua cólera pesa sobre mim, tu derramas tuas vagas todas”( Sl 88 ( 87),7-8). Seria o tormento supremo. Algo de horrípilo se interporia entre sua humanidade e sua divindade. Sua amargura seria infinita, porque infinito seria o amor que lhe escaparia, infinito o bem que pareceria ter desmerecido, infinita a beatitude extinta. Jesus teria aí a sensação da pena eterna. Aliás, Cristo veria com um só olhar o desenrolar da História. Todas as faltas do gênero humano, todas as recusas das almas às solicitações de seu amor. A ausência de Deus nos corações seria então ali reparada, mas por entre angústias inenarráveis. Ali Cristo contemplaria os homens insensíveis, imersos em desgraças, porque não tomariam conhecimento de uma presença inefável de Deus, o que deveria orientá-los, mas, o que era mais doloroso, nem mesmo a consciência desta terrível ausência, o que os deveria atemorizar. Eis aí o cerne da crise da Galiléia que o aproximar de sua Paixão muito atormentou o Salvador. Antes, porém, de morrer ela se entregaria placidamente nas mãos do Pai: “Em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Belíssima lição de confiança!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 21 de abril de 2012

O DIA DO TRABALHO

O DIA DO TRABALHO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Primeiro de Maio oferece oportunidade para preciosas reflexões.
Na antiguidade os operários formavam uma classe a parte, uma categoria desprezível e execrada.
. Considerados como escravos, suas forças eram utilizadas pelas camadas aristocráticas da sociedade.
Os maiores filósofos da Grécia, Platão e Aristóteles, não hesitaram em condenar o trabalho manual e a declará-lo indigno de um homem livre. Educados nessa doutrina, os cidadãos temiam profanar as mãos ao contato dos instrumentos de trabalho considerados abjetos por pessoas ilustres.
Em Roma os trabalhadores eram tidos como bárbaros e dignos de desprezo. Cícero exprimia a opinião geral de todos, quando dizia: “Os operários são execráveis e nada de nobre se pode encontrar em uma oficina.”
Surgiu, porém, um divino trabalhador, Jesus Cristo, que veio oferecer uma nova visão do mundo do trabalho. Ele quis ser um aprendiz de carpinteiro junto de São José e demonstrou que o trabalho por mais humilde que seja é glória do gênero humano.
O fato de Deus ter sido operário deve ser um referencial contínuo para que se valorize aquele que ganha o pão de cada dia numa tarefa árdua, mas sujeita a estas desconsiderações humanas.
Quando o trabalho é separado do Cristo e privado da religião perde o seu sentido e o trabalhador se torna sempre vitima das paixões rancorosas dos ambiciosos e dos exploradores, que excitam as suas cóleras e o arrastam a todas as desventuras, pintando com negras cores a sua vida oprimida e alimentando as suas ambições com falsas promessas.
Quando o empregador vive longe de Deus, que deve ser o seu modelo, o seu guia ele torna-se anti-social, perverso, a ponto de, em plena civilização cristã, reproduzir as misérias dos séculos pagãos.
Não basta diminuir as horas de trabalho e aumentar o salário, mas, cumpre formar a quem trabalha na economia, na temperança e na moral, que só a religião pode oferecer. Do contrário nunca será supressa a pobreza e os sofrimentos.
Não é necessário muito argúcia para saber que o bem estar do povo está subordinado à sua moralidade. As dores físicas, muitíssimas vezes, são as conseqüências das misérias da alma e quantos, apesar de terem um emprego fixo e suficiente para a manutenção própria e do seu lar. se entregam aos vícios, às drogas por lhes faltarem o ideal de vida, uma a excelente formação ética.
Pois bem, para curar a alma do povo não há muitos remédios. Há um só: Jesus Cristo, o divino operário de Nazaré.
Para lutar contra as paixões, para dominar o ódio, a inveja, a cupidez, a imoralidade no mundo do trabalho é necessário o que Ele ensinou e que está compendiado nos Evangelhos.
É necessário conhecer e amar o Filho de Deus, que trabalhou, sofreu e derramou o seu sangue pelo povo e pregou a justiça social, o respeito à pessoa humana.
É preciso saber e repetir por toda parte que Jesus reabilitou e enobreceu o homem e que, sem Ele, nada de verdadeiramente sólido se fará pela classe trabalhadora que precisa ser sempre respeitada, amparada, dignificada.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

A PRESENÇA ADMIRÁVEL DE JESUS

A PRESENÇA ADMIRÁVEL DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A presença do divino Redentor nesta terra abriu todos os horizontes de claridades celestes e animadoras e fez ver, por entre as dificuldades de um exílio terreno, a beleza inenarrável de uma eternidade do outro lado da vida, para onde se dirige todo ser humano, eternidade deparada certamente na hora inexorável da morte. Diante desta realidade implacável, Jesus surge, porém, como a verdadeira luz das inteligências, o fidedigno amor dos corações, a autêntica vida das almas, a fulgente esperança de um dia se chegar vitoriosamente na Jerusalém celeste. Ele oferece a quem O ama e segue a garantia de uma caminhada gloriosa rumo à Casa do Pai. É a Ele que clamamos nos instantes encrespados de sofrimento, toldados de angústia. O seu esplendor desfaz todas as trevas, quebra todos os empecilhos, e leva a todas as almas a consolação, a imperturbabilidade. Ele, de fato, é o farol de todas as inteligências, o arrimo de todas as vontades. Desejado pelos patriarcas, pelos profetas, após sua vinda a este mundo, as gerações sentindo Sua presença, a grandeza dos seus benefícios, a bondade de sua onipotência, a generosidade de sua comiseração, só têm uma palavra, aquela mesma proferida por São Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”. Impossível é abafar na mente que O conhece o brado de adoração e de afeição que prontamente sai do intimo de quem tem fé, proclamando as grandezas divinas do Filho de Deus. Durante trinta anos nesta terra sua vida se resumiu em uns poucos acontecimentos. A sua circuncisão, a apresentação no Templo, a fuga para o Egito, o regresso à sua casa na cidade de Nazaré, a viagem a Jerusalém na idade de doze anos e a sua submissão a José e a Maria. De trinta anos de vida conhecemos apenas estes raros fatos. O silêncio envolve esses anos de sua existência na terra. Trinta anos de trabalho humilde e obscuro em uma oficina de carpinteiro. Dessa vida obscura e escondida, contudo, fluem muitos ensinamentos. Lá em Nazaré, em uma modesta e pobre habitação, preparou-se silenciosamente para o drama augusto e sanguinolento que mudaria a face da terra. Em geral a origem das coisas passa despercebida e ignorada, como as nascentes dos grandes rios que são escondidas e muitas vezes desconhecidas. Cristo, a fonte da Verdade, do Bem e da Justiça, o protagonista da redenção e da civilização, foi, em seus primeiros anos, ignorado dos homens. Sublime lição de humildade! Num casebre de Nazaré e numa oficina pobre viveu Aquele por quem todas as coisas foram feitas. Era uma perene condenação da soberba humana, sempre voltada para ostentações e pompas, riquezas e glórias efêmeras. O silêncio e a solidão envolveram Aquele no qual o Pai disse estar toda sua complacência. Jesus, entretanto, teve a graça e o encanto da infância, mas nada de pueril nem em seus traços, nem em suas palavras, nem em suas ações. Sua alma estava repleta da sabedoria divina, mas não manifestava as suas perfeições senão lentamente, como o sol que, antes de levantar-se no horizonte, envia em primeiro lugar uma doce e suave claridade. Foi um aprendiz na arte de carapina. Aquele que podia tudo criar com uma só palavra quis fazer suas ações progressivamente com o suor do rosto. Inspirador de todas as grande obras, aprendeu, enquanto homem, um oficio trivial; suas mãos se calejam como as dos filhos do pobre povo, no duro manejo da serra e outros instrumentos e, tão logo havia adquirido a experiência e a força física, trabalhou a madeira durante longas horas, a fim de ganhar o seu dia, para ajudar São José a prover o seu pão e, na verdade, com a fadiga do trabalho e o suor do sua face. A presença de Jesus durante trinta e três anos, numa vida oculta, legou lições preciosas e entre elas também o amor ao trabalho. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 17 de abril de 2012

JESUS ESTÁ VIVO

JESUS ESTÁ VIVO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Verbo Divino se fez homem e habitou entre nós foi o magno acontecimento da história humana (Jo 1,14). Ele se apresentou aos homens e lhes transmitiu mensagens maravilhosas e pôde demonstrar que era a luz do mundo; o princípio e o fim; o caminho, a verdade e a vida. Multidões ficaram seduzidas pelo encanto de sua palavra. Ele ensinou, consolou, deu saúde aos enfermos. As leis da natureza obedeceram ao seu poder e Ele fez milagres estupendos, visando mostrar que era verdadeiramente o Filho de Deus, o Messias prometido. Por ser Redentor morreu sacrificado no alto de uma Cruz e tanto poder, tantos prodígios, tanta grandeza, pareciam aniquilar-se em uma sepultura. Três dias depois de sua morte, porém, Ele ressurgiu dos mortos e reapareceu vivo e glorioso. As testemunhas às quais Ele se manifestou proclamaram: “Jesus está vivo”! Ele mesmo explica a todos que têm fé: “Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos. (Ap 1,18). É que sua cruz tornou-se um trono, o seu túmulo um altar e ele pôde se revelar como o Rei imortal dos séculos. Sua Igreja anuncia sempre: “Cristo vive, Cristo reina, Cristo impera”! Ele é a personagem mais famosa de todos os tempos. A existência desse homem extraordinário é o ponto culminante da história, onde se encontram o Antigo e o Novo Testamento e para onde convergem todos os acontecimentos. Ele é, realmente, Deus e homem verdadeiro. Isto é certamente algo de grandioso, de prodigioso e de divino, e na terra ainda não se viu outra figura mais portentosa e cercada de tanto amor. Eis porque é tão necessário se penetrar fundo no mistério da Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Santa. Nele duas naturezas, a humana e a divina, mas uma só Pessoa. Como há no homem um corpo e uma alma profundamente distintos e, entretanto, harmonicamente unidos, há em Cristo duas naturezas, a natureza divina, que possui desde toda a eternidade, e a natureza humana, tomada no seio da Virgem Maria. Ele é verdadeiramente homem, dado que Ele tem um espírito, uma imaginação, uma sensibilidade, uma vontade, um coração e um corpo semelhantes aos nossos e, após sua ressurreição, corpo glorioso, como o será, um dia, o corpo de cada um que nele crê (1 Cor 1,44-46). Ao mesmo tempo, Ele é Deus, verdadeiro Deus com o Pai e o Espírito Santo. Ele é homem, porque sofreu todas as nossas dores e misérias, mas é também Deus, porque nele aparecem todos os atributos divinos, o infinito da sabedoria, do poder e da glória. É Ele o representante mais sublime da humanidade e mais do que isso, Ele é simultaneamente o Verbo Eterno de Deus. Mais corretamente que Pilatos lá no Pretório, proclamamos: Eis o Homem Deus! Adoremo-lo, amemo-lo, sirvamo-lo, porque Ele tomou sobre si os pecados de uma humanidade prevaricadora e redimiu a todos com imensa dileção. Nele se encontra a felicidade e a salvação. Fora dele só tristeza e miséria. Cumpre acatar o seu convite divino: “Vinde a mim todos vós que padeceis e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Feliz aquele que nele depara seu único refúgio. Ele está a dizer a cada um de seus seguidores: “Eu ressuscitei e estou contigo”. A presença dele na vida de seus epígonos é a grande realidade dentro da história humana. Por ele milhares se sacrificam todos os dias e cumprem o seu dever com determinação e entusiasmo, se santificando à luz de sua ordem: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48) e a repetirem com São Paulo: “Jesus Cristo, é sempre o mesmo, hoje, amanhã e por todos os séculos” (Hb 13,8)! Ele é o sol que veio para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, para orientar os nossos passos no caminho da paz (Lc 1,78-79). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Jesus, o Bom Pastor

JESUS, O BOM PASTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus, o bom Pastor, deu a seus seguidores uma segurança extraordinária: “Conheço as minhas ovelhas” (Jo 10,14). Isto o distingue dos mercenários, mesmo porque os que são de seu redil O conhecem e reconhecem a sua voz. Trata-se de uma relação pessoal que leva a uma intimidade mútua entre o Pastor divino que “sonda os rins e os corações” (Ap 2,23). Por isto Ele vai aos poucos introduzindo quem o segue no conhecimento profundo de Deus, da Sua sabedoria. Eis aí, aliás, a grande mensagem de todo o Evangelho: o encontro entre o Ser Supremo e o ser humano em Jesus. Na Vigília Pascal o diácono canta: “Noite de verdadeira felicidade! Noite na qual o céu depara a terra. Noite na qual o homem acha Deus”! Esta é uma verdade que não é propriedade dos grandes místicos, mas deve ser a realidade de todos os cristãos: a íntima relação entre o pastor e a ovelha, um pertencendo ao outro e daí o mútuo conhecimento que disto decorre. Donde a argüição de São Gregório Magno numa de suas mais belas homilias: “Vós, irmãos caríssimos, se sois ovelhas do Senhor, vede se vós O conheceis de fato, vede se percebeis, realmente, a luz da verdade pelo amor que o Pastor vos devota”. De fato, Jesus que afirmou categoricamente:”Eu dou a minha vida pelas ovelhas” também asseverou: “Ninguém dá maior prova de amor do que aquele que entrega a vida pelos amigos” (Jo 15,13). Aí está o núcleo mesmo do mistério da redenção. Jesus pôde dar sua vida pelo povo, que é o seu rebanho, porque este povo, este rebanho lhe foi confiado pelo Pai e não será jamais abandonado. Eis aí todo o mistério da existência de Jesus no meio da humanidade, pois veio selar com sua morte a pertença total e definitiva do povo ao Deus verdadeiro. Cumpre então ao autêntico cristão se entregar nas mãos deste Pastor que, além de dizer, comprovou no alto da Cruz sua dileção sem limites. Ele repete a cada um o que se acha no profeta Isaías: “Eu gravei teu nome nas palmas de minhas mãos” (Is 49,16). É preciso, porém, crer que quem Lhe é fiel está salvo, porque envolto na Sua presença, prevenido pela Sua graça, portador de uma força vital e poderosa. É necessário então possuir uma segurança absoluta, total, sem dar entrada ao diabo como preveniu São Paulo (Ef 4,27). Se Ele é por nós, quem estará contra nós podem proclamar com o mesmo Apóstolo os autênticos seguidores deste Pastor. Se alguém, porém, se extraviar lhe resta uma consolação: este Pastor vai a seu encalço e escutarão a sua voz e poderão voltar ao redil verdadeiro. Que maravilhosas as atitudes de Jesus, o bom Pastor que deseja paz e quer conduzir, instruir, iluminar, formar os que O seguem. Se isto acontece Suas ovelhas poderão afirmar com São Paulo que nem a morte, nem a vida, nem o presente, nem o futuro, nada, nenhuma criatura as poderá separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor” (Rm 8,39). Deste modo, o relacionamento das ovelhas, do povo de Deus, com seu Pastor é inteiramente diferente do que ocorre com a ligação do cidadão com certos políticos que vivem em função do poder e, na verdade, explorando a população que se sente vexada com tantas denúncias de corrupção. Enquanto muitos homens públicos se enriquecem à custa do que a todos pertence, o bom Pastor dá sua vida pelas suas ovelhas. Ele traçou a autêntica teoria do poder que deve ser serviço, ajuda, amparo, interesse pelo bem comum. Por isto mesmo, a Igreja sempre tomou consciência de que não poderia jamais se solidarizar com qualquer poder político espúrio. Ela quer sempre respeitar a plenitude da autoridade de Deus confiada ao Bom Pastor que está a serviço do rebanho e ela não pode aprovar os desvios das verbas públicas e o desinteresse pelo bem estar do povo. Ela prega a verdadeira liberdade compreendida como uma maneira de ser consagrada no batismo no serviço um dos outros e no serviço de Deus. O bom Pastor é o servidor da liberdade de cada um que deve ser capaz de viver em comunhão com o Pai. É por tudo isto que o cristão luta para que haja políticos que imitem o bom Pastor se sacrificando pelos cidadãos e não sacrificando os cidadãos com impostos absurdos e que são tão mal aplicados. Porque, porém, todos são filhos de Deus, chamados a serem ovelhas de Jesus, o verdadeiro seguidor de Cristo pugna assim por uma sociedade mais humana, mais justa na qual todos possam ter uma vida digna. Jesus, o bom Pastor pôde afirmar que veio a este mundo para servir e não para ser servido e é aquele que multiplicou pães para alimentar no deserto a multidão, que curou a tantos doentes, sempre carinhoso com suas ovelhas pelas quais se imolou lá no Calvário. Nele se pode plenamente confiar! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 7 de abril de 2012

CONVITE

CONVITE


CENTENÁRIO DE DOM OSCAR SERÁ LEMBRADO NA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS

No dia 10 de maio deste ano o Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, na Academia Mineira de Letras à Rua da Bahia, 1466, às 17 horas, estará fazendo uma palestra sobre o CENTENÁRIO DE DOM OSCAR DE OLIVEIRA, por solicitação da Acadêmica Elisabeth Rennó, Coordenadora da Universidade Livre desta AML

V.S. está convidado para mais esta homenagem ao ínclito Arcebispo de Mariana no seu Centenário.

Domingo da Divina Misericórdia

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O bem-aventurado Papa João Paulo II no ano de 2000 instituiu o domingo depois da Páscoa como o Dia da Misericórdia, atendendo ao pedido de Cristo a Santa Faustina. O intento de Jesus é que a meditação da infinita divina seja um recurso e um refugio para todas as almas, sobretudo, para os pecadores. Para todos o divino Redentor deseja abrir as entranhas de sua comiseração, imergindo-os no oceano imenso de suas graças. O Evangelho é o da aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos e a São Tomé (Jo 20,19-31) e na sua homilia dia 30 de abril de 2000 o Papa explicou o sentido da Misericórdia a partir deste fato narrado por São João. Ressaltou que antes da significativa saudação aos seus discípulos: “A paz esteja convosco”, Jesus “mostrou suas mãos e seu lado, isto é, as chagas da Paixão, em particular a ferida do coração, fonte de onde jorrou a grande vaga de misericórdia que se derrama sobre a humanidade”. Em seguida, acentuou o Papa: “Através do coração de Cristo crucificado a misericórdia divina atinge todos os homens. Esta misericórdia Cristo a difunde sobre a humanidade por meio do envio do Espírito que, na Trindade, é a Pessoa-Amor”. Indaga então este Pontífice: “Não é a misericórdia o segundo nome do amor, tomado no seu aspecto mais profundo e mais terno, na sua aptidão de se apossar de cada necessidade, em particular na sua imensa capacidade de perdão”? Numa frase o bem-aventurado João Paulo II sintetiza então a grande mensagem deste domingo: “Cada pessoa é preciosa aos olhos de Deus, pois Cristo sacrificou sua vida para cada um”. É que, de fato, pela misericórdia o Filho de Deus foi ao limite de sua benevolência, pois se mostrou sensível à miséria humana não só se imolando por todos os homens, mas ainda lhes oferecendo como remédio para esta precariedade o seu perdão cordial. Ele foi claro: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores; é a misericórdia que eu desejo e não o sacrifício” (Mt 9,13). É por isto que a conversão é possível e obtém a anistia completa para aquele que, arrependido, se imerge no oceano da infinita compaixão divina. Cumpre, porém, não apenas se maravilhar com a ternura de Jesus, mas é preciso imitá-lo. Cada batizado é, realmente, chamado a fazer misericórdia com os outros como o Mestre divino e isto como condição de se usufruir de Sua bondade: “Bem-aventurados os misericordiosos porque obterão misericórdia”, conforme está no prólogo do Sermão da Montanha. Isto significa ter compaixão para com o próximo, ou seja, o hábito de fazer o bem aos que sofrem, vindo de encontro a suas necessidades corporais e espirituais. Viver a compaixão misericordiosa é possuir uma sensibilidade interior que se traduz em ações práticas. Ajuda oportuna dentro dos limites possíveis a cada um, mesmo porque o nosso pão nunca é tão pequenino que não possa ser partilhado com o necessitado e às carências espirituais todos podem socorrer com preces ser partilhado com o necessitado e às carências espirituais todos podem socorrer com preces ininterruptas que se traduzem no apostolado da oração. A misericórdia se traduz ainda na bondade, na benignidade, na paciência, na doçura de gestos e palavras. Trata-se de se ter o coração aberto para os que padecem os males inerentes à condição humana numa ajuda efetiva nos momentos de sofrimento. É a vibração da alma perante toda a miséria, levando a um movimento que leva a consolar, amparar, enxugar as lágrimas alheias. Em suma, é o hábito de se fazer o bem a todos. Jesus manifestou sempre esta sensibilidade profunda. Os Evangelhos narram sua ternura personalizada, repleta de comiseração ativa. Seus gestos revelaram os valores de Deus que devem esplender na existência de todos os seus discípulos. A palavra misericórdia se liga ao termo miséria cuja lista é imensa: corações feridos, espíritos alienados, almas pecadoras, falta de alimento, de remédio, de vestuário, enfim tudo que representa a dor, a amargura na existência de cada um. Todos os batizados têm necessidade do sinal oferecido a São Tomé, ou seja, contemplar o Coração aberto do divino Ressuscitado e dentro desta chaga passar a viver, imitando em tudo a benevolência deste abismo de amor. Aí o único e verdadeiro refugio mas também o exemplo de clemência a ser continuamente imitado. É deste modo que se percebe o verdadeiro sentido da Ressurreição de Jesus no qual esplendeu a misericórdia em toda sua grandeza. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A UNIÃO COM O DIVINO REDENTOR

A UNIÃO COM O REDENTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das alegorias empregadas por Jesus e que tem também comovido seus seguidores através dos tempos é a da videira e dos ramos na qual deixou este conselho admirável: “Permanecei em mim e eu em vós” (Jo 15 1-8). Deste modo ilustrou seu pensamento: “Assim como o ramo, por si mesmo, não pode produzir fruto, se não permanecer unido à vide, assim também vós, se não permanecerdes em mim”. Um dos obstáculos desta união com o Redentor é o egoísmo. Cumpre ao cristão afastar o orgulho, a presunção. para, purificado, descobrir o verdadeiro amor que o prenderá a Cristo. Quanto mais se poda meticulosamente o coração, mas se recolherá os frutos saborosos do amor do divino Salvador. Isto significa tornar o ramo florescente. Com efeito, quem se julga dono da verdade não pode se identificar com o Mestre divino, porque não se conforma com seu ensinamento, mas vive em função de suas convicções pessoais. A unidade que precisa existir entre Cristo e seu seguidor não é uma escolha, não está sujeita a uma livre elaboração, mas supõe uma adesão completa no que tange a doutrina e a moral. Aquele que se acha centrado em Cristo rejeita tudo que não se coaduna com o que Ele doutrinou. Adite-se que a união com Jesus, a Videira divina, deve se dar pela oração. A sede do Infinito, a nostalgia da eternidade, a procura da beleza suprema, o desejo de um amor ilimitado, a necessidade da luz que ultrapassa a esfera terrestre, o desejo íntimo da verdade absoluta conduzem o ser racional exatamente à permanência ininterrupta naquele que é a verdade suprema, a vida eterna. Ora isto se dá exatamente quando quem tem fé se volta para aquele que é “a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo”. Trata-se então de uma atitude interior alimentada pelos atos do culto. Permanecer na videira como ramo florescente é encontrar na oração o lugar por excelência da gratuidade, da tensão para o Invisível, para o Inefável. É um dom que resulta da constante justaposição do fiel face ao seu Senhor, a partir de Jesus, a Videira, na qual está inserido, recebendo dela a seiva vital para não se tornar ramo seco. É que no momento de uma prece autêntica a criatura humana expressa toda a consciência de sua contingência e se volta inteiramente para o Ser Necessário, orientando-se para o mistério redentor. Encontra então no divino Salvador a ajuda para superar a própria indigência. O que vive uma existência aglutinada em Cristo ultrapassa, de fato, a precariedade do que é sensível, material. A harmonia total com a pessoa do Salvador leva à plenitude da vida, a realidade de uma aliança profunda com o Verbo de Deus Encarnado ao qual o coração humano se prende na concretização plena da história da salvação pessoal. Então o cristão percebe no silencio de uma prece ardente a intimidade com Cristo indo além do seu limite para se abrir à medida mesma de seu Coração que é a fonte do amor infinito. Atinge-se desta maneira o que ocorreu com São Paulo que pôde peremptoriamente asseverar: “Já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim (Gl 2,20). Verificou-se com o Apóstolo uma experiência espiritual maravilhosa que deve ser o ideal de todo discípulo de Jesus. O único objetivo paulino era estar sempre com Cristo, sabedor desta realidade que em Cristo o Pai comunica sua caridade, sua liberdade e toda a sua força. Permanecer em Cristo não significava para Paulo simplesmente tomá-lo como modelo, como protótipo, mas permitir que Ele se converta no principal protagonista de uma existência toda voltada para Ele. Apenas assim ao Redentor, como o ramo à Videira divina, o cristão participa do amor do Pai, possui a liberdade total e a força que o torna imbatível ante as invectivas do mal. Compreende-se desta maneira o que São Paulo disse aos Coríntios: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 13,10). A seiva vem aos ramos e não o contrário. Donde a afirmativa paulina: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. Quem se une a Cristo é um só espírito com Ele. Esta vivência se torna cotidiana, lançando o cristão na realização plena de sua vocação eterna que a de se perder dentro do coração de Jesus, pois o coração humano passa a pulsar no ritmo do coração divino. Quando Jesus pediu: “Permanecei em mim e eu em vós” queria significar tudo isto e, na verdade, uma união recíproca: Ele em nós e nós nele. Por este meio a união se perpetua no Corpo Místico de Cristo e faz dos que estão cá na terra, como dos que gozam no céu, uma só família. É a mesma seiva que circula em todos os galhos para produzir os mesmos frutos; é a mesma graça, a mesma fé, a mesma esperança, o mesmo amor, que animam as almas cristãs. Cumpre, porém, viver intensamente todas estas realidades sublimes que se inicia aqui neste mundo e se prolongarão por toda a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

A vitória de Jesus Resuscitado

A vitória de Jesus resuscitado
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com júbilo se celebra a gloriosa vitória de Cristo no dia de Páscoa. Ele triunfa sobre as blasfêmias de seus gratuitos inimigos que O levaram à ignominiosa morte na Cruz e vence a própria morte. Ressoam as palavras de São Paulo : « A morte foi absorvida pela vitória. Onde está ó morte a, a tua vitória ? Onde está, ó morte, o teu aguilhão ? » (1 Cor 15,55-56). Este hino flui da convicção do Apóstolo de que « Cristo ressuscitou dos mortos » (Idem, v. 26). Mensagem bela e luminosa deste dia festivo. Desaparece para o cristão o temor da morte, porque o Salvador dela a todos libertou. O espírito do mal foi derrotado, os anjos se imergem num profundo gáudio, regozija-se toda a humanidade porque reina triunfalmente a vida. Por isto a Páscoa é um dia único e santo, o maior dia do ano, festa das festas, solenidade das solenidades. A Páscoa dá ao mistério do Natal a plenitude de seu significado e é uma condição preliminar para a vinda do Espírito Santo nos esplendores do Pentecostes. É por esta razão o coração, o centro do ano litúrgico e, historicamente, a mais antiga das festas cristãs. A mensagem de Páscoa é, em primeiro lugar, o mistério da Luz verdadeira que veio a este mundo, esta luz cuja estrela de Belém dela indicava o nascimento e que as trevas do Calvário não puderam apagar. Aí está o sentido profundamente espiritual da Páscoa. Jesus havia proclamando : «Eu sou a luz do mundo » (Jo 11,46). Depois diria a seus discípulos : « Brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus » (Mt 5,16). A ressurreição física de Jesus seria para nós sem valor se a luz divina não resplandecesse ao mesmo tempo entre os seus seguidores, lá no íntimo de todos eles. Eis porque não se pode celebrar dignamente a Ressurreição de Cristo a não ser que a luz que é Jesus tenha vencido completamente as trevas dos próprios pecados. Apenas assim se pode degustar o banquete da fé e as riquezas da bondade do Redentor triunfante. A ressurreição de Jesus proclama, deste modo, a necessidade de uma vivência nova, como aconselhava São Paulo : « Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma massa nova, do mesmo modo que sois ázimos. Pois Cristo, nosso cordeiro pascal, já foi imolado, « celebremos, pois, a festa, não com fermento velho, nem com fermento de malícia e de perversidade, mas com ázimos de pureza e de verdade » (1 Cor 5, 7-8). Explicava então este Apóstolo : « Porque quem está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram ; ei-las que novas surgiram » (2 Cor 5,17). Acentuava : « Assim como Jesus Cristo ressuscitou dos mortos mediante a gloriosa potência do Pai, assim caminhemos nós também numa nova vida » (Rm 6,4) [ ...] de modo que somos servos, sim, mas sob um novo regime espiritual » (Rm7,6). Eis o motivo pelo qual São Pedro conclamava : “Como crianças recém-nascidas , sede ávidos do genuíno leite espiritual, para crescerdes com ele na salvação, se já saboreastes quão bom é o Senhor [...] também vós, como pedras vivas, vinde formar um templo espiritual “ (1 Pd 2, 2. 8). Além disto, Páscoa traz a mensagem de paz de Cristo Ressuscitado. Ele está a dizer a cada : « Eu ressuscitei e estou contigo ». Nas suas aparições aos Apóstolos antes de sua admirável Ascensão aos Céus eles repetirá : « A paz esteja convosco ». Ele cumpre o que prometera : « Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28,20). Esta paz coincide com a totalidade dos bens. É a plenitude da salvação sonhada e esperada. É bênção, é glória, é vida. É sinônimo de bem-estar, ventura, eutimia. Jesus é, de fato, o príncipe da paz (Is 9,5 ; Sl 71). Sua presença na vida do cristão o envolve na mais completa imperturbabilidade. Esta paz, porém, deve se irradiar por toda parte. Não se trata de compromisso simplesmente ético, nem de esforço puramente humano, mas de viver este dom pascal em plenitude : paz consigo mesmo, com os irmãos e com Deus, jamais contristando o Espírito Santo. Portanto, esta paz não pode ser uma utopia, pois deve florescer no terreno do amor autêntico, aquele que afasta qualquer tipo de ódio, injustiça, malquerença, malevolência, inimizade. Realidade sublime. fruto da comunhão com o divino Ressuscitado, no qual se deve encontrar o verdadeiro repouso, aquela profunda quietude a irradiar serenidade no meio em que se vive. É deste modo que se avança mais expeditamente no caminho até a Jerusalém celeste, atingindo-se a união plena e universal no cumprimento dos desígnios salvíficos daquele que superou a morte. Luz e paz, eis aí o binômio sagrado da Páscoa. Jesus ressuscitado a repetir a cada um : «Vós sois a luz do mundo » (Mt 5,14), porque « Eu vos deixo a minha paz » (Jo 14,21).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos