domingo, 20 de novembro de 2011

VIGIAI

VIGIAI!
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com o Advento a Igreja leva os fiéis à preparação para o dia do Natal e a palavra chave do primeiro domingo do novo ano litúrgico é esta: Vigiai! O alerta de Jesus deve ressoar fundo nos corações: “Ficai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o tempo” (Mc 13,33). Esta exortação, que se encontra na parábola do homem que partiu em viagem e deixou a sua casa, delegando sua autoridade aos servos, indicando o trabalho de cada um, e que mandou o porteiro que vigiasse, é a mesma que lemos na narrativa das dez virgens que aguardavam a vinda de seu senhor (Mt 25,13). Aos Apóstolos, adormecidos no Getsêmani disse Jesus: “Vigiai e orai” (Mc 14.38). Trata-se, portanto, de uma séria advertência do Mestre divino. Este não pregou uma atitude passiva, fatalista, mas um alerta constante na presença de Deus, dado que a vida de seu seguidor deve ser uma oração contínua. Eis porque aos Efésios preceituou São Paulo:
“Por meio de toda a espécie de orações e de súplicas, orai incessantemente movidos pelo Espírito” (Ef 6,18) e aos Colossenses: “Perseverai assiduamente na oração e vigiai com ação de graças”. Como o cristão tem a reta intenção de tudo fazer para a glória de Deus ele se acha ininterruptamente em clima de união com o seu Senhor e pode repetir o que se lê no Livro Cântico dos Cânticos: “Eu durmo, mas o meu coração vigia” (Cant 5, 2). O efeito desta comunhão com o Ser Supremo se desdobra e aí está a razão pela qual o Apóstolo detalhadamente aconselhou aos Coríntios: “Vigiai, sede constantes na fé, tende ânimo viril, sede fortes. Que tudo entre vós se realize na caridade” (1 Cor 16, 13-14). Quem tem fé sabe que Deus bate à porta dos corações a todas as horas e é necessário responder prontamente à sua chamada. No Apocalipse Ele usa uma expressão bem forte: “Eis que sobrevenho à maneira de um ladrão. Feliz daquele que vigiar” (Ap 26, 15). É preciso, por isto, estar não de mãos vazias, mas repletas de boas obras, fruto da fortaleza e de um irradiante amor. Compreende-se então que a vigilância é imprescindível para a chegada de Cristo não apenas no momento de se deixar este mundo, o que é o mais certo dos fatos, embora o mais incerto no que tange à hora, o lugar, as circunstâncias. É de vital necessidade ainda para a vinda de Jesus no seu Natal. Com efeito, pela Liturgia a cada ano este fato histórico se repete envolvendo o cristão nas graças específicas daquele acontecimento tão de perto vivido por Maria e José lá no presépio, anunciado aos pastores pelos anjos, concitando-os a se envolverem num profundo júbilo. Deste modo, o apelo à vigilância neste primeiro domingo do Advento deriva da comunicação das grandezas de Deus e do desejo palpitante de receber novas luzes, novas graças. O amor-desejo mantém o cristão acordado, em estado de alerta, envolto em efusões revigorantes que produzem a certeza de uma imersão total na realidade natalina que se aproxima, tornando-o consciente de que mister se faz uma preparação condigna ao se avizinhar o mistério a ser revivido. Por tudo isto, a mística do Advento leva a um cumprimento ainda mais aprimorado dos deveres quotidianos. A caminhada até o dia 25 de dezembro move o cristão a purificar ainda mais o seu espírito, condição necessária para acolher o divino o Infante. Deste modo a comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica existencial. Cumpre a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão. É que este Jesus cujo nascimento deve ser comemorado cristamente questiona seu discípulo. A “operação natal” que dinamizará em dezembro o comércio, numa sociedade industrial e consumista, tem para o verdadeiro cristão outro sentido, pois exige uma revisão de vida que seja comprometida com valores e atitudes que estejam de acordo com a visão teológica da Encarnação do Verbo de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL - FERTILIZAÇÃO IN VITRO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Cumpre, em primeiro lugar, lembrar o que o Papa Paulo VI ensinou na encíclica Humanae Vitae: “A procriação humana está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o procriador. Na verdade, pela sua estrutura intima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher “ (n.12).
Adite-se o que a Congregação para a Doutrina da fé falou sobre o respeito que se deve à vida humana nascente e a dignidade da procriação: “O único lugar digno da procriação humana é o ato de amor conjugal”, sendo, portanto, ilícito qualquer outro processo que a ciência venha a preconizar. A fecundação artificial homóloga é imoral quando se utiliza proveta ou promove a fecundação fora do organismo feminino.
A fortiori, a fecundação heteróloga, ou seja, a técnica destinada a obter uma concepção humana, a partir de gametas provenientes de ao menos um doador diverso dos esposos unidos em matrimonio, é inteiramente ilícita, imoral. É contraria a unidade do matrimonio, a dignidade dos esposos, a vocação própria dos pais e do direito do filho ser concebido e posto no mundo no matrimônio e pelo matrimônio.
O Catecismo da Igreja Católica doutrina: “As técnicas que provocam uma dissociação do parentesco, pela intervenção de uma pessoa estranha ao casal (doação de esperma ou de óvulo, empréstimo de útero), são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificiais heterólogas) lesam o direito da criança de nascer de um pai e uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo casamento. Elas traem "o direito exclusivo de se tornar pai e mãe somente um por meio do outro". No que tange a esterilidade o Papa João Paulo II afirmou: “Desejo encorajar as pesquisas cientificas destinadas a superação natural da esterilidade nos casais, assim como desejo exortar os peritos a aperfeiçoar aquelas intervenções que podem resultar úteis para esta finalidade”.
A Igreja há de sempre salvaguardar o bem comum, ante a manipulação tecnológica das mesmas fontes de vida.
Portanto, de acordo com doutrina católica a única forma de procriação é o ato sexual praticado por pessoas casadas. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O VALOR DA AMIZADE

O VALOR DA AMIZADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A palavra amigo aparece mais de duzentas e trinta vezes na Bíblia. Sublime o que afirmou Jesus: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15). Ele, realmente, o verdadeiro amigo que deu a vida como prova de sua dileção: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15,13). Aliás, já dizia o Livro dos Provérbios: “ O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão (Pv 17). Luminosa a sentença do Eclesiástico: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou descobriu um tesouro (Ecl 6,14). Eis porque se lê no Livro Imitação de Cristo: «Ninguém pode viver sem amigo. Tomai e guardai como amigo aquele que nunca vos faltará», referindo-se ao Mestre divino. Que felicidade então ter Jesus como o amigo dos amigos. Ele é o celestial modelo e o ideal supremo da amizade. Uma mesma fé nele deve unir os amigos. Esta é a primeira cláusula do código da amizade. A fé, portanto, em Cristo e em sua Igreja deve existir em toda amizade, dado que, seguindo o Redentor e seus ensinamentos os amigos se influenciam mutuamente no caminho do bem. Associam-se por esta fé; procuram defendê-la contra o mundo, contra a indiferença e contra as blasfêmias, ou seja, contra tudo que ultraja a divindade ou a religião. Essa deve ser a eficácia da amizade cristã sobretudo num contexto como o atual, divorciado das realidades eternas, quando os dez mandamentos são impiamente desprezados. S. Paulo chama a fé um escudo. Os antigos, quando sitiavam uma cidade, no momento do ataque, uniam sobre as suas cabeças os escudos um ao lado do outro, de sorte a formar uma enorme couraça impenetrável, e assim protegidos avançavam resolutos. Imitando os antigos; unidos os escudos da mesma fé contra os ataques da descrença, os amigos se ajudam mutuamente contra as ofensivas diabólicas de um mundo hedonista, ganancioso, perverso. Unem-se por isto mesmo na esperança da chegada à Casa do Pai, na Jerusalém celeste. Modelos de amizade cristã foram dois jovens amigos no século XVI, Ignácio de Loyola e Francisco Xavier, e, deste modo, um conseguiu fazer do outro um santo, e ambos estão sobre os altares da Igreja de Deus e lá no céu já se encontraram usufruindo a felicidade perene que o Ser Supremo reserva para os justos. Marco Túlio Cícero, que não era cristão, no entanto escreveu no seu notável trabalho sobre os amigos que, “a verdadeira amizade é gerada e mantida pela virtude e sem virtude não pode haver amizade. Pois eu sinto que a amizade existe só entre os bons”. Cumpre por tudo isto servir os amigos, trabalhando para a sua santificação, corrigindo prudentemente os seus defeitos e socorrendo-os em suas necessidades. Donde ser de vital importância o bom exemplo que é um dever elementar de amizade. Feliz quem pode afirmar: “O meu amigo é a minha consciência exterior. Eu vejo o meu dever em sua existência. Se procedo bem, os seus olhos me dizem que ajo corretamente. Sei que nunca terei a coragem de fazer ou de pensar mal em sua presença.” Santo Agostinho dizia então com toda razão: “Não há melhor espelho que um bom amigo”. Aí está o motivo pelo qual a boa amizade leva à correção dos defeitos. O maior bem que se possa fazer aos amigos é torná-los melhores do que são, mais honestos, mais puros, mais virtuosos, mais santos. É preciso ainda saber que o verdadeiro amigo é como o anjo consolador que estende as mãos no momento do abandono e da dor. Célebre o dito de Demétrio I, rei da Macedônia: “Amigos são os que na prosperidade comparecem ao serem chamados e, na adversidade, sem ser chamados”. Proclamou Quinto Enneio: “O amigo certo, conhece-se na ocasião incerta”. Donde a máxima de Collins: “Na prosperidade, nossos amigos conhecem-nos; na adversidade, conhecemos os nossos verdadeiros amigos”. Sábio o conselho do poeta grego Píndaro: “Deves mostrar-te sempre o mesmo aos teus amigos, na boa ou má fortuna”. O cristão nunca deixa de orar pelos seus amigos e se interessa pela sua salvação eterna, sempre pedindo a Deus os conserve nas rotas da virtude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DESAPEGO DOS BENS TERRENOS

DESAPEGO DOS BENS TERRENOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nem sempre se compreende bem o que Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mt 5,3). O Mestre divino prega a interiorização da pobreza, ou seja, viver o dom de ser pobre, desapegado dos bens terrenos, disponível para realizar em tudo a vontade divina. Ele deu o exemplo. A condição para seguir Cristo consiste em se fazer pobre. Esta pobreza significa total confiança em Deus (Lc 12, 22-24); esperança na salvação divina longe da idolatria das riquezas; liberdade diante do supérfluo e integral desprendimento de tudo. Isto leva à consciência da prioridade e da excelência do reino de Deus. Assim sendo, os ricos também estão predestinados a essa ventura celeste, embora os pobres estejam mais perto, tenham maior facilidade de alcançá-la, porque não têm grandes obstáculos a vencer. O Evangelho ensina que as riquezas podem se tornar um fardo pesado, porque há o perigo do endeusamento daquilo que deve ser um meio e não um fim em si mesmo. Isto pode perturbar a caminhada rumo ao céu e as riquezas não devem ser espinhos que abafem a visão da eternidade, impedindo o crescimento espiritual. À luz da fé uma pessoa de posses pode se santificar, ajudando os mais necessitados, vendo neles a figura de Jesus, que sendo rico, se apresentou como pobre. Amparo às obras sociais, contribuição para uma sociedade mais justa e equânime na qual haja uma maior distribuição da riqueza. A pobreza de Jesus não significou uma falta de bens necessários à subsistência. Ele morou numa casa, na verdade modesta, mas que era propriedade de seu pai perante a lei, o carpinteiro José (Mt, 2,12). Depois o grupo de seus apóstolos recebiam subvenção dos amigos, sobretudo de senhoras abastadas da burguesia (Lc 8,1). Sua pobreza equivalia à liberdade (Mt 8,20), à mansidão e à humildade de coração, à disponibilidade diante da vontade do Pai (Jo 4,34) e foi pobre até a morte na cruz (Fl 2,8). Como mostrou São Paulo, de rico se fez pobre para enriquecer outros (2 Cor 8,9). Ele expressou solidariedade completa com os pobres a ponto de tomar sobre si os pecados do mundo (Jo 1,29). Ele curou os doentes e evangelizou os pobres (Mt 11,2-6). Ensinou que se deve amar os indigentes, honrá-los e servi-los. Do ponto de vista de Jesus é feliz o homem que tem a compreensão do necessitado e do carente de amparo. A Bíblia exalta a ajuda aos mais desprovidos de bens, pois a esmola redime os pecados e Deus tem compaixão de quem se interessa pelos marginalizados. Cristo está presente no pobre e no juízo final ele dirá aos eleitos: “Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e me hospedastes-me; andava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me; estava no cárcere e fostes ver-me” (Mt 25,31 e ss). Trata-se de uma verdadeira exaltação do pobre! Eis porque, num momento de pulcra inspiração, Bossuet assim se expressou: “Não seja desprezada a pobreza, nem tratada com desdém. O rei de glória a tomou para si, a enobreceu, a divinizou, e concedeu aos pobres todos os privilégios do seu reino”. É que se deve ter a compreensão do pobre, vendo nele a pessoa de Cristo e tratando-o como se tratássemos a majestade padecente de Deus, que honra aquele que é caridoso, recebendo o óbolo da sua esmola. Cumpre lutar sempre para que todos os cidadãos tenham condição de trabalho e vejam sua dignidade respeitada. É preciso esforço para melhorar a sorte dos que sofrem e agir em tudo com espírito de solidariedade. Como ensina o salmo 81, é necessário fazer justiça ao fraco, ao órfão e acatar o direito do indigente que padece (Sl 81,3). É belo entrar no tugúrio do mendigo, assentar-se nas suas toscas cadeiras e deixar que ele desabafe suas amarguras e, até mesmo, aprender com sua experiência de vida. Com efeito, quantas virtudes sublimes e heróicas se escondem debaixo da miséria, sobretudo num país como o Brasil onde impera tanta corrupção e os impostos são tão mal empregados e, de fato, alarmantes os desvios do dinheiro público como os jornais, as revistas, e a televisão continuamente estão a denunciar. Nem se pode esquecer que a caridade coletiva tem um enorme valor, porque ela faz auxiliar estas associações caritativas, sobretudo, a Sociedade de São Vicente de Paulo, na qual os confrades vicentinos multiplicam a assistência aos desamparados, aplicando, religiosamente, os donativos. Não é necessário ser rico para dar, basta ser bom, porque os bons sempre encontram meios para fazer o bem. A oferta, porém, adquire um duplo valor quando é o fruto de algum sacrifício. Se ela é tirada dos nossos prazeres lícitos, das nossas necessidades particulares, então não damos somente um objeto material, damos alguma coisa da nossa alma, e Deus que vê a nossa esmola não deixará de nos recompensar. Nem se deve esquecer a esmola de um bom conselho, a esmola de uma boa palavra. Instruir, dirigir, proteger os infelizes em seus negócios temporais e espirituais, é um dos mais belos atos de caridade. É honroso ser semeador do bem, dando, assim, também a esmola do coração. A caridade cristã opera realmente maravilhas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EVITAR O PECADO

EVITAR O PECADO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Pelo batismo o cristão recebe a graça santificante a qual é um dom que Deus se digna conceder à alma do justo, a fim de o tornar seu filho adotivo (1 Jo 3, 1-3). Por esse dom o ser racional vem a ser realmente participante da natureza divina (2 Pd 1,4), templo do Espírito Santo (1 Cor 3,16), morada da Santíssima. Trindade (Jo 14,23). O pecado mortal, ou seja, uma transgressão da lei divina em matéria grave, com pleno conhecimento e pleno consentimento, leva a perda desta dignidade, que, pela misericórdia divina, pode, porém, ser recuperada no Sacramento da Confissão. O pecado é a negação dos direitos de Deus, é a revolta contra a sua autoridade, é a desobediência aos seus mandamentos. É um ato de soberba horrível, pois o pecador se julga mais sábio do que a Sabedoria infinita e age de uma maneira inteiramente contrária ao que o Ser Supremo preceituou. As faltas leves, ditas veniais, não levam à perda da graça santificante e delas nem os santos ficaram inteiramente livres, conforme está no salmo: “Se observardes as nossas faltas, quem poderá subsistir”? (Sl 129,3). São João assim se expressou: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós (1 Jo 1,8). É lógico que aqueles que buscam a perfeição evitam os menores desvios como aconteceu com os que foram canonizados e colocados no altar como exemplos a serem imitados. Deus é paciente porque é eterno, mas, um dia todos devem prestar contas de sua conduta nesta terra. Como tudo que se tem vem do Pai do Céu o pecado se torna a mais detestável das ingratidões, pois, ultrajando a Majestade divina é um atentado contra a própria Divindade. É o desprezo de Deus. O pecador levanta-se contra o Criador, não quer reconhecer os seus direitos, não quer a Ele obedecer e despreza os seus preceitos compendiados no Decálogo. Por tudo isto, o pecado é também um ultraje ao amor de Deus, porque dele procede a vida e tudo que é preciso para sua subsistência. O pecador serve-se dos bens recebidos para afrontar o seu Benfeitor. Eis porque o pecado é, realmente, o maior de todos os males. É uma injúria a Deus, a sua lei, a sua justiça, a sua dileção. Gravíssimas são as iniqüidades daqueles que receberam o batismo, daqueles que foram instruídos e educados na religião de Cristo e, não obstante, não pelejam contra o pecado. Os verdugos de Jesus, os perseguidores dos cristãos, são menos culpados que os cristãos pecadores. Aqueles desconheciam o Mestre divino, não eram os seus discípulos, enquanto estes O conhecem, O adoram, mas revoltam-se contra Ele. Entretanto, para o pecador arrependido há sempre salvação. Davi, que se entregou a crimes hediondos, conheceu a anistia divina e pôde afirmar no salmo 50: “Um coração contrito e humilhado Deus não despreza”. Nada se pode comparar à luminosidade, ao encanto da alma humana, quando ela é pura e sem pecado. Se alguém pudesse ver a beleza de uma alma em estado de graça já teria a visão beatífica. A alma, ferida de morte pelo pecado, se torna, porém, inimiga de Deus, que não pode habitar o mesmo espaço ocupado pelo mal. Ele que é a luz, a verdade, a vida, não pode suportar as trevas, a mentira, a desordem, não pode tolerar a maldade. Por tudo isto, cumpre evitar a todo custo o pecado, mesmo porque sem a graça santificante ninguém entrará no céu. Lembra o Catecismo da Igreja Católica: “O Estado de Graça Santificante, é o estado exigido para se alcançar a Vida Eterna porque sem esta união a Deus cá na terra, não é possível a vida de união a Deus na Visão Beatífica. Daí o cuidado em viver permanentemente na Graça de Deus, porque ninguém sabe o dia e a hora em que pode comparecer na presença de Deus e, uma morte súbita, sem preparação, sem o estado de graça, significa uma separação eterna!” (n. 2000). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

JESUS VENCEU O MUNDO

JESUS VENCEU O MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das recomendações do Filho de Deus nem sempre aprofundada foi esta: “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo (Jo. 16, 33). Em São Lucas se encontra a expressão “os filhos deste mundo” em oposição aos “filhos da luz” (Lc 16,8). Este mundo é inferior ao mundo futuro, tanto física como moralmente. São Paulo fala no mundo mau (Gl1,4), sobre o qual impera satanás, o “deus deste mundo” (2 Cor 4,4). Deixa então uma exortação aos romanos para não se conformarem com este mundo (Rm 12,2). Jesus libertou os fiéis deste mundo perverso (Gl 1,4). É Cristo quem faz experimentar as maravilhas do mundo vindouro (Hb 6,5). Cumpre então ao discípulo do Mestre Divino, o triunfador sobre o mundo perverso, conhecer o mal para o detestar e ser vitorioso com Jesus e apreciar o bem para conhecer as delícias do reino do Redentor. Luta contínua contra o erro do qual se deve ser adversário irreconciliável e difusão ininterrupta da verdade da qual cumpre ser apóstolo e defensor. É uma realidade patente e dolorosa que o diabo apresenta aos cristãos duras e horrípilas condições para conseguirem superar o hedonismo e toda espécie de depravação. Isto observa-se especialmente na mídia que tem uma propensão irresistível para divulgar o que há de deletério, de corruptor e de imoral. Nesse assalto das potências infernais é necessário ao cristão deparar uma força poderosa, um aliado constante na sua fé inabalável em Jesus, o vencedor do demônio e seus comparsas. No contexto atual, infelizmente, a liberdade foi dada ao erro e ao mal e encontram proteção e garantia nas instituições públicas, de sorte que a crença de muitos batizados fica abalada em frente da negação emancipada e insolente. Basta que se lembrem as leis que ferem a família cristã, os absurdos das uniões entre pessoas do mesmo sexo, as tentativas de institucionalizar o aborto, enfim os maiores desatinos contra os dez sagrados mandamentos da Santa Lei do Senhor. Verifica-se que ao lado do poder público há também o poder dos formadores de opinião a serviço das multinacionais que se enriquecem com as desgraças alheias. Estas fazem uma propaganda diabólica a favor dos preservativos que não preservam de nada, patrocinam os maiores crimes e o poder econômico se torna dono das consciências dos incautos que não aprimoram o senso crítico. Trata-se de um pequeno grupo, que, nada tendo que perder, mas tudo a ganhar, despreza o Decálogo, pois não tem o senso da honra, da dignidade, da justiça, da honestidade, e se atribui o direito de tudo dizer e de tudo praticar. O amor livre é o leitmotiv das novelas e os filmes levam muitas vezes o espectador a ficar a favor do bandido, do imoral, corrupto. O próprio teor das propagandas é tantas vezes indutor de transgressões éticas. Coligam-se e se concentram as forças satânicas e procuram por todos os meios destruir o reino de Deus. O perigo da sedução é enorme e o veneno vai sendo perversamente instilado e em doses, por vezes, homeopáticas e muitos vão perdendo a sensibilidade moral. É preciso ser forte, é necessário ser verdadeiramente cristão e, portanto, herói para, vendo tantos que apressada e compactamente correndo aos seus prazeres e às suas desordens, não hesitar. Cumpre dizer: “Eu tomo um rumo oposto, serei fiel a Jesus. A verdade sempre terá em mim um estrênuo defensor”. Tal epígono de Cristo denuncia então o erro e tem coragem para diante da televisão ou em qualquer circunstância condenar o que vai contra a Religião, a Moral, o Evangelho. Nada de vacilos perante o que contraria os princípios bíblicos! A luta deve ser sem trégua, para que brilhe o arco-iris da fé sobre este dilúvio de males..A Igreja se apresenta como a grande esperança da humanidade. Daí a necessidade de se incrementar o culto da Eucaristia, do Coração de Jesus, de Maria e recordar a beleza de milhares de santos ontem e hoje fiéis à Verdade, ao Bem, a tudo que honra o ser humano. Apesar de tanta miséria para os que são do mundo, há milhões que vivem na atmosfera da graça divina e são o fermento da virtude. Cumpre ter otimismo cristão, porque Jesus venceu o mundo e o bem é mais forte do que o mal. Este é espalhafatoso e precisa, de fato, da divulgação através da imprensa falada e escrita. Hoje, mais do que nunca, é preciso, portanto, que o batizado tenha consciência desta realidade: Se ele é cristão, tem o mundo nas mãos para purificá-lo, tirando das garras de satanás os que se deixam iludir pelas ciladas do demônio e a vitória será da luz e não das trevas, porque Jesus venceu e vencerá sempre o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

MULTIPLICAR OS TALENTOS

MULTIPLICAR OS TALENTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na parábola dos talentos recebidos e restituídos se depara o magnífico elogio aos que os multiplicaram: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25, 21.23) e se encontra ao que nenhum lucro apresentou terrível reprimenda: “Servo inútil”. Os primeiros entraram para a felicidade de seu senhor, este último foi lançado nas trevas. A mensagem do Mestre divino é patente: da administração sábia e eficiente do tempo da vida presente depende a salvação eterna. O julgamento divino será justo e a recompensa perene ou será uma pena eterna. Num dos elementos do processo da gerência dos dons recebidos está incluído o zelo pela salvação do próximo, uma vez que ninguém entrará no Reino dos Céus sozinho, dado que as boas obras arrastam infalivelmente os outros para os caminhos de Deus. Para isto é necessário o cuidado contínuo, bem valorizando a comunicação verbal e a não verbal. As pessoas, com efeito, não se comunicam apenas por palavras, mas ainda através de seu modo de ser e de viver. Estudos atualizados mostram que a comunicação não verbal é tão ou até mais importante do que aquilo se diz. Esquece-se, muitas vezes, que menos da metade da boa comunicação é composta pela fala, o restante está ligado à vivência do comunicador. Isto não apenas pelo seu exemplo de vida, mas também porque o que ele fala só tocará o receptor da mensagem se esta tiver inteiramente impregnado a mente daquele que a profere. Bem disse o Pe. Antônio Vieira que “palavras sem exemplo são tiros sem balas”. Eis porque o apóstolo de Cristo na multiplicação dos carismas sagrados doados por Deus se esforça para se tornar semelhante a Cristo, o Verbo divino, que se fez modelo para todos. Não bastam as expressões orais, os conselhos oportunos, mas é preciso também a ratificação com a conduta condizente com as mesmas. Foi o que acontecia com São Paulo que pôde dizer aos Tessalonisenses: “Sabemos que a nossa pregação do Evangelho não se deu entre vós, somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a força do Espírito Santo, com plena convicção” (1 Ts 1,5). O modo como se fala é de suma importância, pois o coração e a vida passam então em borbulhar na mensagem transmitida. Os catequistas, os pais, os mestres, os cristãos em geral, enfim todos que são discípulos de Jesus devem se lembrar das palavras do mesmo Apóstolo aos Coríntios: “Somos embaixadores de Cristo” (2 Cor 5,10). É desta maneira que se frutificam os talentos outorgados por Deus a cada um. Com efeito, a palavra foi dada não apenas para cantar os louvores de Deus, para Lhe dar graças, mas ainda para instruir os irmãos e lhes passar sábias inspirações, alicerçadas com o testemunho existencial. Tudo isto, é claro, com muito discernimento, doçura, perspicácia, perseverança. Feliz aquele que pode repetir sempre: “Coloquei a minha vida a serviço do próximo e o próximo é Jesus Cristo”, o qual proclamou que veio para servir e não para ser servido. O que se esquece é que em qualquer situação sempre se está a serviço dos outros em casa, na Igreja, no trabalho, nas diversões. Pela reta intenção se pode então valorizar, e muito, os talentos. Para tanto é mister se lembrar sempre a advertência de Cristo: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. Os talentos foram concedidos exatamente para que esta missão seja cumprida e, em consequência, se possa frutificar em boas obras. O sal não é sal por si mesmo e em certos países serve até para fazer a terra dar bons frutos. É que multiplicar os talentos não é viver para si mesmo, mas para os outros através de uma espiritualidade potente, irradiante. Esta espiritualidade é que torna o cristão luz, um reflexo da grandeza de Deus, vivendo coerentemente as promessas batismais. Multiplicar os talentos é também viver o espírito das bem-aventuranças. Condoer-se com os que choram; consolar os que sofrem; perdoar os que nos injuriam; ser artesão da paz, da não violência; não procurar o próprio interesse e estar atento aos marginalizados; é ser desapegado dos bens terrenos, multiplicando dentro de si os valores morais; é ter puro o coração sem se deixar contaminar com a depravação imposta pela mídia, pelos sites pornográficos; é ter fome e sede de justiça, é ser misericordioso. É, em síntese, realizar a metáfora do sal da terra dando gosto, sabor a uma sociedade que muitas vezes se divorcia de Deus. É ser luz nas trevas, iluminando os que trilham os caminhos do erro nunca se esquecendo que não há nada tão prodigioso como o testemunho existencial e que nunca praticamos grandes bens ou grandes males sem produzirem os seus efeitos nos nossos semelhantes. As boas ações são imitadas por emulações e as más pela malícia da natureza humana e esta aprisiona, enquanto o bom exemplo liberta dos vícios e arrasta para o bem e multiplicando os talentos de cada um. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

JESUS, GLÓRIA DA HUMANIDADE

JESUS, GLÓRIA DA HUMANIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Filho de Deus feito Homem, possuindo assim duas naturezas, mas uma só pessoa, Ele a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Verbo Eterno de Deus, Jesus, tendo vindo a esta terra revolucionou a História. Tal a sua missão sublime: “Eu vim para que todos tenham vida e a vida em abundância" (Jo 10,10). Sua missão foi restabelecer o Plano de Deus, recuperar a Vida divina para a humanidade. Lembra São João: "De tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho Único" (Jo 3,16), Em Cristo o pecado de nossos primeiros pais foi reparado. Explica São Paulo: "Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. Deus nos fez conhecer o mistério da sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora de restaurar em Cristo todas as coisas, tanto as celestes como as terrestres." (Ef 1,7-10). Por Cristo, com Cristo e em Cristo os homens readquiriram o equilíbrio, a harmonia e a comunhão perdidos quando estes recusaram a vida divina no paraíso terrestre. O ser racional recebeu então uma função cultual no universo, pois como bem disse Bossuet: “O homem está à frente do mundo visível para ser o adorador da natureza invisível”. Esta tarefa é exercida, sobretudo, pelo cristão que tem uma Vida nova em Cristo, a vida da graça, a vida divina, dado que no batismo renasceu pela água e pelo Espírito Santo que o Salvador enviou de junto do Pai. A graça santificante no cristão é essencialmente comunitária, como a vida divina na Santíssima Trindade Em Cristo os homens podem dizer a Deus: "Pai Nosso”. Os homens, filhos de Deus, são desta forma "o Povo de Deus", a família de Deus, circulando em todos a mesma vida divina. Por tudo isto Cristo se tornou, de fato, a glória da humanidade. A vinda dele a este mundo foi o ponto culminante da História, onde se encontram o Antigo e o Novo Testamentos e para onde convergem todos os fatos, bem se dividindo a História em antes e depois dele. Jamais homem algum passou por um presépio e por uma cruz para subir sobre o altar, imolando-se pela humanidade e ninguém foi tão humilde e pobre para conquistar a terra. É que Ele, realmente, era o Sumo e Eterno Sacerdote. Ele quis nascer numa manjedoura, fraco e indigente como o mais carente dos renascidos. Os coros angélicos, contudo, celebraram com os seus cantos esse nascimento, os astros iluminaram a terra, reis poderosos se puseram em movimento para adorá-lo e o ouro, o incenso e a mirra lhe foram oferecidos, tudo isto patenteando uma revelação extraordinária dos céus. Ameaçado pela ambição de Herodes, ele fugiu para o Egito, ficando lá exilado. Veio depois para Nazaré, cresceu em idade e sabedoria, no trabalho e na obscuridade como as outras crianças daquela localidade. Aos doze anos foi a Jerusalém ensinou no templo aos doutores, revelando uma sabedoria até então desconhecida. Foi batizado no rio Jordão como os pecadores, mas o céu se abriu e atestou a sua filiação divina. Foi tentado no deserto como todos os homens, mas poucas palavras foram suficientes para confundir o tentador. Ele, pobre, teve fome e sede, mas alimentou multidões com cinco pães e alguns peixes. Não teve, de fato, onde descansar a cabeça, mas era o Senhor dos elementos cósmicos; tanto que repousou, mas durante o sono não permitiu que a barca dos pescadores naufragasse. Sentiu a tristeza e a fadiga, mas consolou os que padeciam em seu derredor e sanou enfermidades. Pranteou a morte de Lázaro, mas o ressuscitou, Foi, deste modo, sempre aparecendo a divindade ao lado da humanidade. No pretório de Pilatos, enquanto homem, foi vilmente julgado, mas, antes, no Tabor, fora reconhecido pelo Pai como o Filho bem-amado. Ele foi crucificado, mas a terra tremeu. Ele morreu, mas o sol se escondeu entre as nuvens e o firmamento se cobriu de luto. Foi sepultado, mas ressuscitou imortal e impassível. Durante quarenta dias, esteve ainda com os seus discípulos, mostrando a cada momento a sua humanidade, mas, no dia da Ascensão, do monte das Oliveiras, subiu aos céus, provando, mais uma vez, ser Ele o Deus glorioso e onipotente. Ele, enquanto homem, sofreu todas as nossas dores e misérias, mas enquanto Deus, nele apareceram todos os atributos divinos, o sublime da sabedoria, do poder e da glória. É Ele o representante mais ilustre da humanidade. São Paulo podia, portanto, com toda razão dizer aos Filipenses: “Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e nos infernos (Fl 2,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O NASCIMENTO DE JESUS

O NASCIMENTO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Misterioso são sempre as veredas de Deus e bem registrou o Profeta Isaias: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor (Is 55,8). O Salvador, suspirado pelos Patriarcas, predito pelos Profetas, esperado ansiosamente pela humanidade, se apresentou ao mundo humilde, pobre e abandonado, sendo colocado numa simples manjedoura. Os homens haveriam de O reconhecer pela sua indigência, pelos seus sofrimentos. Ele mesmo dirá: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. (Mt 8,20) Mistério divino! Incompreensível a sabedoria de Deus! Tudo o que é pequenino para nós é glorioso para Ele; tudo que é indigente e fraco para os homens é grandeza e virtude para o Ser Supremo. Não foi no fausto, nem no esplendor, nem na celebridade que Ele quis nascer. A salvação que viera trazer não vinha dos palácios, nem das riquezas, nem da força, nem da ciência. Procedia da pobreza e da humildade, derivava da fraqueza e da pobreza. Eis o sinal para reconhecer o Redentor da humanidade, disseram os Anjos aos pastores de Belém: “Encontrareis um menino envolto em faixas e deitado num presépio” (Lc 2,12). Foi aí, à beira de uma estrada, no mais completo abandono, na mais profunda penúria, que nasceu Jesus, o Redentor do mundo, o Messias prometido, o Desejado das nações. O Todo-poderoso para salvar a humanidade, para ser o vencedor do mundo, quis empregar meios que confundem a razão humana. Ele aparece sem pompa, sem aparato, sem glória, sem coisa alguma daquilo que os homens reverenciam ou temem, e nessa indigência completa ele inicia a realização do fato mais grandioso, mais estupendo, mais sublime que a história conhece. É que Ele veio para refrear todas as paixões humanas, a fim de corrigir todos os defeitos, purificar todos os corações e santificar todas as almas. Ele haveria de ensinar: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçosa a via que leva à perdição e são muitos os que entram por ela. Mas quão estreita a porta e apertada a passagem que leva à vida, e poucos são os que passam por ela” (Mt 7,13-14). Ele proclamaria: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Por isto quis aparecer nesta terra pobre e humilde, ensinando sacrifícios e abnegação. Se Jesus tivesse descido do céu com todo esplendor divino, com toda a auréola celeste, teria facilmente seduzido os homens, conquistado simpatias e atraído o mundo, mas suas mensagens não levariam à metamorfose espiritual que exigiria de seus epígonos. O seu berço foi um presépio, mas daí ele vai passar para o coração dos homens e para o santuário das almas puras que viveriam intensamente as oito bem-aventuranças. Estamos no século XXI, décadas e décadas já passaram depois que Jesus nasceu pobremente na gruta de Belém, mas desde esse dia Ele nunca deixou de reinar sobre aqueles que nele reconhecem o Libertador, cujas inteligências se acham iluminadas pela fé. Através da História sempre se encontram mães a ensinarem seus filhinhos a balbuciarem amorosamente o doce nome do Menino Deus; jovens que buscam no amor de Cristo um apoio sólido enfrentarem as aliciações do Inimigo; adultos fiéis aos seus deveres e aos mandamentos divinos; anciãos a murmurarem continuamente: “Jesus, eu confio em vós; dai-me a graça de chegar ao céu”. É que o nome adorável do Redentor, oferece para todas as idades um raio de esperança por entre sofrimentos, na pugna pelo bem, na prática das virtudes. Quando o pobre sucumbe sob o peso de sua penúria, ele se lembra do Deus pobre, nascido em um estábulo e essa lembrança, atravessando suas aflições, faz aflorar de novo o sorriso em seus lábios e a esperança em seu coração. Quando a força oprime a fraqueza, quando a autoridade esquece que o poder é um serviço, quando a corrupção impera, a recordação do Deus nascido em Belém, vindo ao mundo para servir e não para ser servido, trás às almas conforto e ânimo para enfrentar as situações mais penosas. Cumpre, porém, sempre corresponder ao grande amor do Filho de Deus nascido para nos salvar. Ele é o Salvador, Ele é a glória, Ele é a garantia da felicidade eterna. Ele é Deus e Homem verdadeiro que nos abriu as portas do reino celeste. Sigamo-lo, sendo leais seguidores dos seus sublimes ensinamentos, a fim de que, depois de tê-lo conhecido e amado nesta vida, Ele nos glorifique na felicidade perene do céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DA IGREJA

O ESPIRITO SANTO NA VIDA DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável promessa aquela que Cristo fez aos Apóstolos: “Digo-vos a verdade: é melhor para vós que eu vá, porque se não for, o Confortador não virá a vós; mas se eu for, enviar-vo-lo-ei. E assim que ele tiver chegado, redarguirá ao mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao julgamento” (Jo 16,7-9). No dia de Pentecostes (Atos 2,1-13), esta promessa se realizou. Poderosa e irresistível foi a ação do Espírito Santo sobre os apóstolos de Cristo, sobre os seus sucessores e sobre todos os batizados. A história mostra que se tornou uma realidade o que afirmara o Divino Mestre. As nações foram ensinadas e os povos cristianizados. A fé na pessoa do Messias submeteu as inteligências aos admiráveis ensinamentos de Sua doutrina e floriram as virtudes. Os espíritos nobres e os corações briosos de milhares de seguidores de Jesus têm através dos tempos reservado a Ele um amor desconhecido das idades antigas e jamais igualado à dileção dedicada a qualquer outro personagem. Isto não obstante as forças do mal sempre se coligarem contra a Igreja, cuja História começou no Cenáculo. Aliaram-se sempre as forças do inferno, mas nem o endeusamento da riqueza, o sensualismo, nem as políticas humanas ou os governos ateus cantaram vitória contra o célebre Galileu, pois este enviara desde o princípio o Espírito Santo com seus sete dons para sustentar os seus fiéis na pugna contra as potências diabólicas. Luta universal e sem tréguas, que ainda hoje continua em todas as regiões, mas os seus discípulos sempre impelidos e dirigidos pelo Espírito Santo saem vencedores, firmes no que disse Jesus: “No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Os apóstolos viram levantar-se contra eles todos os poderes da terra. Proibiram-lhes que falassem do Salvador e de sua doutrina; foram perseguidos, lançados nas prisões públicas, sentenciados a morte, devorados pelos animais ferozes. Depois outros mártires também derramaram o sangue e morreram nos suplícios, mas Cristo foi diuturnamente conhecido e adorado pelo mundo afora. Brilharam nesta terra os exemplos dos grandes santos de todas as idades, de todas as condições sociais mostrando o vigor e a beleza do Evangelho. Seus trabalhos, suas abnegações, suas imolações pelos semelhantes, sua fidelidade aos preceitos divinos provam claramente que o Espírito Santo enviado por Jesus nunca deixou de atuar santificando as almas, purificando os corações com seus dons e carismas. Para conseguir resultado tão grandioso como a santidade no seio da Igreja era necessária a presença do Espírito Santo, iluminando as inteligências, purificando os corações, fortificando as vontades. A verdade é que graças à ação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade o Redentor tem sido conhecido e amado em todas as nações. A cruz que um dia iluminou a colina do Calvário se acha plantada em todos os continentes. Foi graças ao Espírito Santo que a doutrina de Jesus, quebrando todos os obstáculos e vencendo todas as resistências se fez conhecida e praticada por toda parte. Não faltaram nunca semeadores das mensagens do Filho de Deus e ressoou nas mais longínquas regiões o clamor triunfante: “Cristo vive, Cristo reina, Cristo impera”! No momento de separar-se de seus discípulos Cristo indicou-lhes a missão a que estavam destinados: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações" (Mt 28,19). A história não registra em seus anais ordem mais prodigiosa, projeto mais arrojado e de mais difícil execução do que esta determinação do Filho de Deus aos seus primeiros discípulos. A ambição humana nunca exigiu tanto, e nunca pretendeu obter uma universalidade semelhante, tanto mais quanto essa universalidade gozaria de uma perpetuidade incomparável, pois o mesmo Cristo acrescentou: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos séculos” (Mt 28,20). É que Jesus sabia que a força do Espírito Santo desceria sobre seus epígonos e eles seriam suas testemunhas até as extremidades da terra. Eis porque a Igreja nunca deixou de invocar as luzes e as forças deste Espírito divino e por Ele iluminada e confortada jamais traiu sua missão e será sempre verdade o que proclamou Jesus, dizendo que a portas do inferno jamais prevaleceriam contra esta sua Igreja (Mt 16,18). Esta, porém, nunca deixou de implorar: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”. Este fogo abrasador que não se extingue nunca é a garantia da vitória dos cristãos e a certeza da prevalência do bem contra o mal e a razão de ser de toda santidade que impera lá onde Jesus é conhecido e amado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A SALVAÇÃO ETERNA

A SALVAÇÃO ETERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Leão Magno, Doutor da Igreja, reconhecido como um dos Papas mais importantes da história eclesiástica, num de seus notáveis escritos assim se expressou: “Cristãos, tende um ideal, e esse ideal deve ser para todos a salvação eterna, o céu; colocai bem alto o vosso ideal, acima dos prazeres do mundo, acima das vossas paixões e dos interesses da terra; defendei contra tudo e conservai cuidadosamente o vosso ideal, porque a única coisa necessária ao homem é a salvação, é o céu.. O ideal é a síntese de tudo a que aspiramos, de toda a perfeição que concebemos ou se pode conceber. Para o cristão é a concretização do preceito de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48). O discípulo de Cristo procura a perfeição porque crê na vida eterna e, por isto, almeja se santificar em todos os momentos de sua vida, fazendo em tudo a vontade santíssima de Deus no estado de vida no qual cada um foi colocado pela Providência. Evita então tudo que significa faltar com o dever do dia a dia e vai em busca da prática das virtudes. Tem sempre em vista o céu, pensamento que oferece forças para os árduos embates da existência. Possui sempre o entendimento envolto na Verdade suprema e para Ela volta todas as manifestações do coração, porque Deus é o amor infinito. Nele centra toda sua vontade, porque Ele é o Bem eterno. Isto porque, quem tem bom senso, sabe que só Deus faz a felicidade do homem, e só ele merece toda a dileção. Usufrui então paz, serenidade, tranquilidade, total imperturbabilidade. Entra-se desta maneira no combate da vida com ardor, entusiasmo e esperança. O vigor passa a correr nas veias e procura o cristão irradiar exteriormente o Deus que habita em sua alma em estado de graça. O sol da alegria brilha em todas as circunstâncias do autêntico seguidor de Cristo e a jornada rumo à Casa do Pai fica não só viável, mas agradável, e conta-se sempre com a vitória sobre os inimigos da salvação. A etapa é longa, a estrada é, por vezes, poeirenta. E pode sobrevir a fadiga, o cansaço, mas não se perdem de vista os pináculos refulgentes da Jerusalém celeste. Muitos, contudo, desanimam e a desesperança predomina, o entusiasmo desaparece e as armas da fé caem das suas mãos. São os que se deixam abater, se assentam à beira do caminho, deixam de lado o heroísmo, olham para a terra e perdem a vista do céu. No mundo, porém, o cumprimento exato dos deveres não é a regra, é a exceção. O espetáculo da corrupção social é patente; todos os caminhos se apresentam tomados pela devassidão; o egoísmo se cobre com o manto da sabedoria, a hipocrisia se mostra até sob a forma de piedade, a traição aparece até na amizade. Nesse meio é fácil escorregar, cair e arrastar-se, abandonando o Mestre divino. Alguns chegam a perguntar se a fé, a justiça, a virtude, a honra, valem alguma coisa, influenciados pela televisão, pelos falsos formadores de opinião que pululam na sociedade atual. Este modo de pensar é a perda do ideal, é a sua derrota completa. Muitos que foram batizados não se ocupam, deste modo, a não ser com a moda de suas vestes, não têm outras idéias senão as que vão haurir nos jornais, nas novelas, nos sites pornográficos da internet e não têm outros desejos senão os dos prazeres de um contexto hedonista, divorciado da doutrina do Evangelho. São como mariposas que, tendo queimado as asas ao contato da luz, não podem mais voar, e se arrastam por terra, comprometendo a salvação de suas almas. Acontece, por isto mesmo, que o pecado faz irrupção em suas vidas. Vem o remorso, mas o aviso da consciência vai sendo abafado e tais cristãos ficam presas do Inimigo. Esquecem-se de que “errar é humano, mas perseverar no erro é diabólico” e, deste modo, abandonam o Sacramento da Confissão, a Santa Missa e no mar da vida se transformam numa nau sem rumo. Cumpre, na verdade, reagir corajosamente. Avançar resolutamente, perseverantemente no caminho do dever, da honra e da virtude, apoiado o autêntico cristão nos ensinamentos bíblicos e armado com a cruz de Cristo. Aqueles serão a luz que jamais deixará haver as trevas do desalento e esta será a arma poderosa de vitória e, como Jesus o verdadeiro cristão vence o mundo e, um dia, fará sua entrada triunfante no céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.