quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A CORREÇÃO FRATERNA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Entre as normas sobre a correção fraterna (Mt 18, 15-20) Jesus assim se expressou: “Se teu irmão cometer alguma falta contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele. Se te ouvir, terás ganho o teu irmão”. Fez uma promessa admirável: “Ademais em verdade vos digo que se dois de vós sobre a terra concordarem acerca de qualquer coisa que tiverem a pedir, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Como bem se expressou São João “Deus é amor” (1 Jo 4,8). São Paulo mostrou que o cumprimento perfeito da lei é este amor”. Eis porque se deve corrigir os que erram e rezar sempre também comunitariamente. Trata-se de procurar o cumprimento perfeito da vida espiritual, da participação total no mistério de Deus imergido na sua dileção divina. Quando se percorre o Antigo e o Novo Testamentos se percebe que o Senhor se revela sempre como o amor, desejando fazer aliança com os homens para os envolver na sua ternura. Tudo isto porque a afeição divina se concretiza no seu desejo de oferecer a todos a salvação, abrindo-lhes as portas do paraíso. Cumpre corresponder aos desígnios divinos, amando-O e aos outros, entrando assim no seu projeto de salvação e comunhão na vida divina. Muito frequentemente se entende o amor exclusivamente no domínio da afetividade, mas é preciso ultrapassar os sentimentos e o manifestar concretamente em obras de conversão do próximo, visando sempre sua salvação eterna e a observância dos sagrados mandamentos de sua Lei. Amar para Deus significa querer e agir no interesse dos irmãos, porque Deus quer o bem de todos, sua felicidade e a conquista de um lugar lá no céu. Amar para Deus é salvar! Crescer sempre no amor a Deus e no amor fraternal, tomando consciência de seu apelo à vida divina e de seu desejo de que todos dela participem. Eis porque o verdadeiro amor pelos nossos irmãos nos leva a uma corresponsabilidade para seu bem, o que se manifesta pelo interesse pelos outros e pela prece em comum que nos conduz ao cerne do amor verdadeiro que é Deus. Assim sendo, amar à maneira de Deus não se dá certamente no fato de não ter sentimentos por tal ou tal pessoa. O amor se verifica numa vontade traduzida em obra para o bem, a felicidade, o interesse vital do próximo. Trata-se do que São João da Cruz chama união das vontades, para que Deus esteja, de fato, junto de nós no momento de nossas preces comunitárias. Nós nos amamos não para partilhar narcisamente belos sentimentos, mas para crescermos juntos no amor verdadeiro. Portanto, a nossa corresponsabilidade e nossa solidariedade na marcha para nossa salvação e na do próximo necessita de uma profunda atitude teológica que vai acima de qualquer sentimento humano. Ter sempre em mente o bem de nossos irmãos, empenhando-nos para seu bem, sua salvação sem querer manipular os outros. É assim que se deve viver a correção fraterna. Nunca se deve esquecer que as faltas alheias dependem da natureza do ato cometido, da consciência e da intenção daquele que as comete. Eis porque é preciso entrar em diálogo com quem erra para saber suas intenções, a maneira como viveu os acontecimentos, antes e o acusar. Não se deve julgar os outros com base na própria subjetividade. Ninguém deve se julgar proprietário da verdade. Deve-se, portanto, por isto mesmo, se pedir as luzes divinas. Tudo isto se aplica no relacionamento dos irmãos da mesma fé, nos diversos grupos paroquiais, nas comunidades nas quais se exerce alguma atividade de apostolado, nos locais de trabalho, tendo sempre em vista que cada um de seus membros são filhos de Deus, capazes de acolher a luz divina e de entender suas inspirações. Em tudo se deve ser um caminho para o amor a Deus. A correção fraterna é uma prática que não é fácil e demanda discrição, paciência, para que se evitem julgamentos apressados, mas que se impeça sempre comportamentos errôneos que podem escandalizar. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 19 de agosto de 2023

FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho Duas mulheres se saúdam no limiar da Nova A:liança: uma já idosa, a outra ainda muito jovem. Elas resumem toda a história santa. Com efeito, em Isabel se perfilam longos anos de preparação e Maria, fulgurante, sem mancha, anuncia a Igreja de Jesus (Lc 1,39-56). Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas sobretudo o fato que sua maternidade as introduzem no plano de Deus e que seus filhos são filhos do impossível, pois Isabel era estéril e Maria havia decidido ficar virgem. Ambas testemunham em sua carne que nada é impossível para Deus, mas que diferença entre as duas crianças que elas trazem no seu ventre! Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também miraculosamente, é o próprio Filho de Deus. É entretanto Maria que saúda, primeiramente, ela a serva que trazia em si o Servidor. Entretanto desde que o som de sua voz chegou a Isabel, ela sente seu menino estremecer no seu seio. Não há em si nada de extraordinário para uma mãe que está no seu sexto mês de gravidez, mas o Espírito Santo que faz irrupção nela lhe revela o simbolismo deste movimento do menino no momento mesmo da chegada de Maria. Isabel, num grande brado, anuncia que o Espírito vem de lhe revelar e sua exclamação é uma dupla bênção: “Bendita és tu entre as mulheres. Bendito é o fruto de teu ventre!” Ela compreendeu numa revelação repentina, o tempo de um brado. Imediatamente ela se situa no seu verdadeiro lugar, a mais velha, se apequena diante da jovem mãe do Messias: “Como me é dado que venha mim a Mãe de meu Senhor?” Ela ajunta em seguida:” Meu Filho compreendeu antes de mim, pois que em mim, ele exultou de alegria quando tu te aproximaste portadora do Messias”. Assim o face a face das duas mães não mencionou senão o encontro invisível das duas crianças. Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha e João desperta sua mãe para o acolhimento do mistério das obras de Deus. Para anunciar ao mundo que a desgraça de Eva estava para sempre riscada da memória, o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo a esperança do mundo fosse aquele de duas mães grávidas, imagens perfeitas da espera da felicidade. É sobre esta nota de felicidade que acaba a saudação de Isabel:” Bem-aventurada aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”. A beatitude de Maria se enraíza na fé em Jesus, ele mesmo, a proclamará solenemente no dia em que uma mulher na multidão, elevará a voz para lhe dizer: “Ditosa a mulher que te trouxe e alimentou”. Jesus responderá apresentando a nuança essencial: “Tu queres dizer: a mulher que acolhe a palavra e que a guarda”! É a felicidade de todos aqueles que edificaram sua vida sobre a promessa de Deus. Todos nós temos necessidade que a Igreja nos traga esta certeza: haverá um cumprimento daquilo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente, está em vias de crescer no mundo, na nossa comunidade. Tudo se cumprirá segundo a promessa: Cristo veio, Ele vem e Ele virá. Veio na humildade, vem na intimidade e pela Eucaristia, Ele virá na imensa claridade de sua glória. Mas porquê a fé é difícil, porque a esperança ecoa mui rapidamente em nosso coração, Maria hoje vem nos visitar da parte de Deus para nos redizer: “Tu não sabes como o Senhor está próximo?” Cabe a nós saber captar o que Deus faz. A nós cabe redizer a surpresa de Isabel: “Donde me vem esta felicidade que venha a mim a Mãe de meu Senhor”! Também cumpre compreender quantos mistérios Maria trouxe em seu coração. Nenhum porém, a revoltou nem a afastou de Deus. Cumpre então a cada um de nós meditar, orar, se abandonar nas mão de seu Senhor. Avida de Maria é uma vida de fé e de confiança na Palavra de Deus, uma vida de esperança na vitória do Amor sobre o mal, uma vida de caridade na qual o amor comandava todas as suas ações como no dia de sua visita a Isabel. Foi assim que os “sim” sucessivos de Maria mudaram o curso da humanidade. Maria soube sabiamente responder aos mistérios do Reino de Deus. Acolhendo sem reserva a vontade do Pai, Ela refletiu a glória de Deus, mas de maneira tão discreta que podíamos passar sem captar isto. A glória de Deus se manifestava de maneira extraordinária nela, em sua alma e em seu corpo. Devemos pedir sempre a ela que nos ajude a perceber os mistérios do Reino celeste. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

A Transfiguração de Jesus

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Esta pagina do Evangelho é rica de alegorias (Mt 17,1-9). Jesus toma consigo três dos quatro primeiros apóstolos que Ele havia chamado. Com Ele transfigurado estavam Moisés e Elias dois personagens do Antigo Testamento, que haviam a bastante tempo morrido e se pode então bem compreender o espanto dos discípulos ao vê-los. Moisés representa a Lei que recebeu de Deus na montanha e Elias, o Profeta, estava ali figurando todos os profetas que Deus havia suscitado. Era um momento de silêncio, pois estavam no alto de um monte longe de qualquer tumulto. Por isto, Jesus havia tomado à parte aqueles três discípulos. Quantas vezes gostaríamos de estar num lugar silencioso, longe do bulício dos homens para entrar numa intimidade amorosa com Jesus, divino e eterno amor! Entretanto Jesus quer sempre se revelar a cada um de nós numa verdadeira identidade, pura e longe de falsas imagens apresentadas pelo mundo trepidante de ilusões. Entretanato, o que é preciso é deixar que Ele conduza cada um de nós para estes momentos de tertúlia celestial, isentos da agitação que nos cerca. Cumpre, porém, se dispor a escutar também Moisés a lembrar que se deve seguir sempre os dez sagrados mandamentos, para viver através deles a freternidade, assimilando os designios divinos.Pedro extasiado ante a maravilhosa visão pede para que se prolongue sua duração e solicita ao Mestre que lhe pemita erguer aí três tnedas, como era costume fazer para a festa dos Tabernáclos, com ramos de árvores. Os discípulos deveriam fixar a ordem do Pai: “Este é o meu Filho amado, no qual ponho minhas complacências. Ouvi-o.”. É deste modo que se deve viver o mistério da transfiguração. Não é só ver Jesus, mas fazer decorrer a vida com Ele. Vê-lo no cotidiano em cada um dos irmãos e nos providencias acontecimentos do dia a dia, deixando Cristo trnafigurar nossas vidas. Ele deve ser sempre nosso refúgio, nosso libertador, nossa fortaleza, nosso escudo, nele sermpre confiando. A transfiguração foi um momento inefável repleto de preciosas mensagens. Jesus deu esta ordem aos três apóstolos: “Não faleis a ninguém desta visão”. Por que Jesus impôs o silêcio a seus discípulos? É daí que vem a questão do segredo messiânico. A fé é bem aquela concernente a Cristo morto e ressuscitado, não apaenas aquela naquele que fazia coisas extraordinárias, milagres ou discursos atraentes. Jesus desejou firmar bem a fé daqueles discípulos já que depois Elle estaria morto no alto de uma cruz. A transfiguracião é uma profecia, uma antecipação do corpo glorioso de Jesus e também da esperança do que vai ocorrer com nosso corpo, se formos fiéis a Deus. Os três discípulos são os mesmo que estarão presentes no Horto das Oliveiras. Lá também se entregarão ao sono. Sono diante do espetáculo da glória final como diante do espetáculo da agonia de Cristo. Pobre humanidade. No Tabor eles são testemunhas da glorificação do Mestre divino. Esta transfiguração é para nós fanal de esperança. Nós sairemos um dia do combate dos males para contemplarmos eternamente Jesus em sua glória. Pedro já queria se instalar ante Jesus glorificado, encontrando nisto uma grande alegria. Cumpria, porém, descer da montanha e se colocar na rota para Jerusalém a cidade que veria Jesus crucificado, morto e sepultado. Grande ensinamento para nós, porque é preciso passar pelas agruras terrenas num combate espiritual constante até se chegar à glória eterna. A ordem do Pai foi clara, ou seja, é preciso sempre escutar Jesus No meio das incertezas da vida nesse mundo é preciso nos inebriarmos da expectativa que se irradia na cena da transfiguração. Até o dia de sua ressurreição Jesus pediu silêncio aos três apóstolos o que se chamou de segredo messiânico. Trata-se de fe concernente a Cristo morto e ressuscitado e não apenas a fé que provinha de fatos extraordinários, dos discurso atrativos. O Pai proclama solenemente que Jesus era o Filho bem amado e isto deve estar bem fixado no íntimo de nosso ser, no espírito do seu Seguidor. Jesus é o Senhor. É a âncora, a luz, o farol de todo cristâo. Nossa confiança em Jesus é combatida obstinadamente pelo demônio, porque ela é a vida, a salvação. À obstinação de Satã saibamos opor sempre a obstinação de nossa ilimitada confiançe em Cristo. .Assim seremos salvos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

28 O JOIO E O TRIGO Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Há joio no campo do Senhor. Não foi Jesus que o semeou, porque Ele, o Filho de Deus, veio para unicamente semear a Palavra do Reino de divino e Ele explicou que foi um inimigo que fez isto. Isto foi obra do maligno que é astucioso, insidioso. É que os trabalhadores dormiam. Eles tinham motivo para repousar, mas deveriam ter estabelecido um sábio revezamento, para uma vigilância possível. Esta precaução era necessária dado que o mal é rápido quando se trata de o semear. Jesus sublinhou igualmente que o inimigo semeou o joio no meio do trigo e desapareceu, sabendo bem que seu mau grão cresceria sem ele, graças à boa terra preparada para o bom grão. O inconveniente com a má erva era que com o passar dos dias ela semelharia com o bom trigo e era impossível reconhecer o joio com certeza absoluta. Do mesmo modo na terra de nosso coração, quando nós deixamos o inimigo semear seus grãos de desgraça, como a desunião, o egoísmo ou a tristeza e outros males. É após um certo tempo que se constata o desastre e se lamenta que “meu campo está cheio de joio; meu coração que quer ser fiel a Jesus, se encontra dividido e apresenta simultaneamente frutos para a vida e germes de morte”. Então qual é o remédio? Os servidores na parábola vão então até o mestre do campo, com toda sua boa vontade, mas também com ilusões, e dizem “Quereis que nós vamos arrancar o joio”? É que este joio já havia produzido seus espinhos e já se podia reconhecê-lo. Diz o proprietário: “isto não, porque arrancando o joio se poderia arrancar o trigo com ele”. É lamentável que se encontre joio no nosso coração, nos grupos cristãos, nas nossas comunidades, mas o que é preciso é salvar antes de tudo e sobretudo o trigo que vai alimentar os homens, o crescimento do Evangelho em nossa vida, a expansão missionária da Igreja onde todos os povos encontrarão a salvação. Se para eliminar o joio é preciso arrancar o bom grão, melhor é ter paciência até a colheita; se para extirpar o mal é necessário comprometer os frutos do bem, melhor é deixar Deus fazer a triagem na Sua hora, Ele eu tudo conhece. “Deixai uma e outra semente crescer até a colheita”, diz Jesus. Poderia isto ser julgado uma atitude incoerente, tal o desejo de se viver num mundo puro, numa Igreja unida, numa comunidade ardente e unanime, Entretanto, é Jesus que tem razão. Isto porque Deus, sendo paciente até o julgamento, paciente com cada um de nós, sem destruir em nós as forças de vida para arrancar imediatamente o mal de nosso coração, Ele nos concede o tempo da conversão. Deus se reserva o julgamento, que Jesus descreve frequentemente no Evangelho como um momento da verdade, quando será revelado o íntimo dos corações e o valor real de cada existência. Deixemos a Deus a última palavra e guardemos a paz. O mal não ganhará nunca, nem no nosso coração, nem no mundo, se nós entregamos tudo a Deus. Jesus disse: “Tende confiança eu venci o mundo”” (Jo 16,33). O joio cresce e é frequentemente um escândalo, mas nós não temos para o combater em nós e em redor de nós, senão as armas do Evangelho, os instrumentos do grande Semeador. Jesus se estregou por causa de nossos pecados. Para impedir a expansão do joio no campo do mundo, Ele ofereceu a Deus sua vida dada aos homens e sua obediência. Ele semeia para o seu celeiro eterno a Palavra que salva, ilumina e é perene A semente boa é a palavra de Deus transmitida pelo sacerdote quando fala em nome de Cristo na cátedra sagrada, no confessionário ou nos instantes de aconselhamento espiritual. Nestes momentos Cristo se torna a luz para as inteligências, Ele que na Eucaristia é o alimento das almas. Esta palavra está contida na Bíblia Sagrada, a carta magna do Criador aos homens. Aí Deus diz ao ser racional quem Ele é e o que espera de cada um. É o grande dom divino de valor inestimável. A leitura assídua da Bíblia orienta, modifica o coração, esclarece a inteligência, sustenta toda vida do cristão. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
AÇÕES ADMIRÁVEIS DE JESUS (MC 1, 29-39 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Uma atividade admirável de Jesus no serviço dos doentes e possuídos do demônio, depois uma longa e ardente prece individual, Eis aí o ritmo do Filho de Deus. É assim que Ele vive intensamente sua união com o Pai que o enviou e sua solidariedade com os homens que Ele veio salvar, Autenticamente homem quando está só diante de Deus, realmente Filho de Deus quando se mistura na multidão dos homens. Em tudo semelhante a seus irmãos e, ao mesmo tempo, acreditado junto de Deus” (Hb2,1). É o mesmo Jesus de Nazaré que se retira muito cedo bem e pela manhã num lugar deserto ao despertar da aurora, para acolher voltado para Deus, a luz de um novo dia, e que amplia cada dia o campo de sua missão e de seu testemunho: “Vamos a outros lugares para que lá também se dê o anúncio da mensagem!”. É porque se entrega totalmente ao Pai na sua prece silenciosa que Jesus se deixa levar por todos aqueles e aquelas que O procuram. É porque Ele vive no Pai que Ele pode sem interrupção ir a outros lugares cada dia. Na medida em que cresce nossa união com Cristo vivo é que Ele remodela nossa vida e nosso coração. segundo esta dupla comunhão que Ele possui, a expressão espontânea de seu ser de mediador com o Pai e a comunhão com os irmãos. Cada dia Ele nos mostra o Pai e nos manifesta seu Nome e seguindo-O entramos numa verdadeira prece filial, mãos abertas e o coração livre. Cada dia também ele nos desperta para o bem universal, segundo seu próprio cuidado da salvação dos homens. Na paz de Deus, no rumor do mundo nossa solidão como aquela de Cristo é solidão sonora, tudo em eco do silêncio de Deus, tudo isto em ressonância do mundo a salvar, É o mesmo Espírito que nos faz, a todo instante, que nos lancemos em prece e que reanima a chama dos carismas de nossa crisma, nos dando crescer como filhos e filhas da Igreja. Ligeiro, secreto, discreto é o apelo do Espírito. que nos identifica com Cristo orante e missionário. É a voz de um silencio mantido como aquele que percebeu Elias no Horeb, antes que Deus o enviasse à história dos homens, história da salvação, no trabalho da redenção, “Vamos a outros lugares” diz Jesus. É isto que cada um ouve cada dia no fundo de sua fé em Cristo. Vamos a outros lugares não sozinhos, pelo caminho do sonho, porque outros lugares são frequentemente uma tentação, mas outros lugares com Jesus, por toda parte onde Jesus vai para salvar numa missão universal que tem lugar por uma vida toda entregue ao Amor, nada apenas só para hoje. A cena começa na casa de sogra de Simão que está prisioneira por uma febre, A cena se estende a toda a cidade, ao deserto, às aldeias vizinhas e, finalmente a toda a Galileia. Jesus é aquele que sai, sai da sinagoga de Cafarnaum, depois sai da cidade para ir ao deserto, faz sair a febre da sogra de Simão, faz sair os doentes de suas casas e os espíritos maus desta humanidade da qual Ele revestiu a carne. Jesus que saiu de Deus nos convida a nos levantar e sair para irmos a outros lugares, a sairmos de nossas pequenas enfermidades, da doença de nossas ideias preconcebidas, de nosso pequeno mundo tão fechado. É por listo que Ele saiu para ir aos povoados vizinhos, para outras pessoas, para aqueles que estão longe, que se fecham, que estão na periferia de nossas cidades, de nossa sociedade, de nossa comunidade Tratasse da expansão espiritual, vamos com Ele, saímos de nossos círculos estreitos, levantemo-nos e partamos daqui para testemunhar ao mundo a imensa ternura de nosso Deus e sua compaixão por todos. Deus é maior do que nossas misérias, do que nossas fraquezas Com Ele tudo se pode. Jesus afirmará que sem Ele nada podemos fazer, o que significa que com Ele tudo é possível. A doença, o sofrimento e a alienação são males que entravam nossa humanidade, como acontecia com a sogra de Simão. Jesus nos convida a vencermos os males corporais e a entrar na alegria do bem que Ele nos pode fazer. A partir dos sinais que Ele nos oferece com sua presença, com sua sabedoria, com a onipotência de sua salvação Ele nos quer como mensageiros de sua redenção. Ele quer nos cobrir com seus dons para recebermos suas graças salvíficas, sendo por toda parte testemunhas das Boa Nova que Ele veio trazer a este mundo. Portanto, repleto de ensinamentos esta passagem de São Marcos, inoculando-nos tão preciosas mensagens que cumpre sejam vividas intensamente na nossa vida diária. Estendendo, assim, por toda parte os benefícios de Deus. Apalavra divina pregada onde estamos, mas também por toda parte tanto quanto nos é possível. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

O SEMEADOR SAIU A SEMEAR Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* O semeador saiu para lançar a semente. O semeador é Jesus, a semente é sua palavra, seu Evangelho e a terra que recebe esta semente é coração do homem, o coração de cada um de nós. (Mt 13,1-23). Jesus nos mostra que não é suficiente lançar a semente para que ela dê fruto. É imprescindível que esta semente caia em uma boa terra. O Senhor patenteia nesta parábola três obstáculos ao crescimento da palavra: a ausência do acolhimento desta palavra que permite ao inimigo roubar a semente e as preocupações mundanas e as seduções da riqueza que sufocam esta semente. Quando a fé é anunciada aos homens de coração fechado, a palavra escapa em sua vida. O tesouro da fé fica exterior à vida das pessoas que não souberam ou não puderam se abrir à dimensão espiritual de sua humanidade. Elas ficam alheias às realidades espirituais. Os pássaros do céu não têm então nenhuma dificuldade em vir comer esta semente da qual eles não souberam se alimentar eles mesmos. O homem não É, antes de todo um mamífero, nem somente um mamífero espiritual. É um ser espiritual criado à imagem e semelhança de Deus e cuja vocação fundamental é de se abrir à esta relação espiritual. Nós sabemos ter uma justa compaixão para com as pessoas que sofrem de um handicap, de uma desvantagem física ou intelectual, mas sabemos nós também medir a maneira com a qual nossa sociedade fabrica numerosas desvantagens espirituais para a ruina dos valores humanos, o materialismo. Quando o coração da pessoa que escuta a Palavra não está fechada, ela pode então acolher com alegria esta palavra. Isto, porém, não é suficiente, é preciso que esta palavra se enraíze por um trabalho de lavoura profunda, do solo retirar as más pedra que impedem o desenvolvimento das raízes. Ter fé, receber a palavra e isso nos exige lhe oferecer as melhores condições de crescimento. A primeira etapa desse trabalho é de reconhecer que nosso coração pede uma conversão, retirada de pedras, para permitir à palavra tomar raiz nos nossos corações. O pior é, além disto, para um cristão não ter consciência deste trabalho de conversão a se efetuar na sua vida, de não perceber o que lhe resulta da má terra e das pedras a serem tiradas. O importante é um bom exame de consciência, sincero, completo, exato. Enfim, sua fé é ela ainda viva e isto deve ser bem explorado. Nenhum de nós sabe amar com a profundeza necessária do Amor mesmo de Deus e, por isto, cumpre sempre progredir espiritualmente. Ao lado deste trabalho e de esforço para melhorar a terra de acolhimento da Palavra, do Evangelho, é preciso prestar atenção àquilo que pode do exterior impedir o crescimento da semente. Atenção às más ervas que podem predominar sobre a boa planta. Este trabalho de limpeza é um esforço de vigilância e de fidelidade como o sabem os bons jardineiros. É um trabalho contínuo, semanal, persistente. O cristão se torna cada dia mais perfeito pelas escolhas e pelos atos que são postos de acordo com a fé de cada um. A parábola deste dia sublinha, portanto, que ser discípulo de Jesus é entrar em uma relação de vida com o senhor que tem suas exigências. Exigência que exige um trabalho de abertura de si para acolher a Palavra, num aprimoramento de nossa vida, para permitir à Palavra tomar raiz. Vigilância e fidelidade para não deixar que a más ervas prejudiquem a boa semente. Nós devemos nos libertar daquilo que há de mal em nós, do orgulho, para que possa surgir em nós o homem novo criado à imagem e à semelhança de Deus. Este trabalho tem uma dimensão dolorosa porque é um trabalho de purificação do pecado que está enraizado em nós. É de se notar que a Palavra poderosa do Senhor age em nossas vidas e a transforma na medida em que temos disponibilidade à ação do Espírito Santo. Cumpre então saber que não é Deus que tarda em estabelecer seu reino no mundo e em nós. É antes de tudo nós que somos dispostos a uma abertura às graças do Espírito Santo em nossos corações. Entretanto cumpre estar ciente que Deus é nosso Pai, um Deus paciente e generoso que não cessa de nos cumular das graças das quais temos necessidade e Ele nos acompanha em nosso ritmo neste trabalho espiritual. O Senhor sabe bem que o coração do homem é complicado, mas Ele é também o melhor médico para cada um de nós. A lentidão com a qual a Palavra de Deus se enraíza e se desenvolve em nosso coração não deve nos transtornar, mas ser também ação de graças pela paciência de Deus para cada um de nós. Depois do dia de nosso batismo a Palavra semeada em nossos corações deve mover nossa vida espiritual, nosso jardim interior e que nós nos entreguemos a um trabalho perseverante para que um dia possamos oferecer a Deus belos frutos. Tudo depende da escuta existencial da Palavra do Pai, do dom de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

O JUGO DE JESUS É SUAVE Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho Jesus deixou claro que a boa-nova por Ele comunicada era recebida sobretudo pelos humildes, oferecendo-lhes uma mensagem de esperança. Ouvimos então um clamor de júbilo de Cristo e um louvor ao Pai, expresso na linguagem dos salmistas: “Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra”. A razão deste gaudio era porque, embora os sábios e sagazes não tivessem captado o cerne de sua pregação, os simples a receberam com grande proveito e perceberam que seu jugo é suave. Para os simples a pedagogia do Pai para a salvação dos homens produzira um notável efeito. Durante seu ministério público Jesus havia encontrado a recusa de uma parte de seu povo. Os menos abertos à sua mensagem eram os escribas, os especialistas, os doutores que imaginavam possuir definitivamente a verdade e não tinham mais necessidade de a encontrar no contato com os outros. Os pequenos, ao contrário, os pobres em espírito, aceitavam de bom grado abrir-se à esperança que Jesus lhes oferecia. É certo que Cristo não se rejubilava com esta atitude das pessoas instruídas, dado que Ele as queria também para o Reino, rejubilava-se, porém, por ver os humildes se deixarem facilmente perceber os desígnios de Deus e seu desejo de amor. Esta simplicidade do coração não era fruto de uma cultura que seria o apanágio dos ricos. Era uma riqueza do espírito e uma clareza do olhar que nenhuma ciência pode transmitir, mas tão somente a “ciência do amor”. O caminho autêntico, a vereda segundo o Evangelho é à base da fidelidade e da grandeza da alma e ela não se encontra imediatamente no final das pesquisas dos homens, mas supõe uma vitória de cada um que supera suas falsidades. Verifica-se entre os cristãos diversos níveis de cultura e isto é normal, mas não há senão uma salvação, e esta salvação vem unicamente pela fé em Cristo e não depende daquilo que um homem encontrou nos livros, mas do que ele escreveu, dia a dia, no livro de sua vida, este livro que somente Deus pode abrir e fechar. No fundo, qualquer que seja o grau de nossa cultura, seja ou não brilhantes ou obscuras a nossa situação, seja qual for nossa profissão, a vida real é feita de pequenas coisas e uma existência cristã pesa, definitivamente, sob os influxos do amor, unicamente sob os influxos da caridade. Tal foi e tal é ainda o bom querer do Pai: que os mais humildes guardem todas as suas possibilidades face ao Reino de Deus que vem a este mundo. Jesus não deprecia a ciência e Ele soube discutir sem complicação com os homens o destino de Jerusalém e outras verdades. Jesus não aprova a preguiça intelectual nem a estreiteza do espírito e depois de sua ressureição suscitou como Apóstolo um São Paulo, que falava perfeitamente duas línguas, teólogo profundo, um homem preparado por uma longa tentativa de unir a cultura judaica com a cultura grega, mas aos olhos de Cristo a técnica e o saber humano devem se colocar ao serviço de uma resposta de fé, deve se tornar o serviço de um crente que ama como acontece com São Paulo. Em cada época, especialmente a nossa, a comunidade de Jesus deve se defender dos novos escribas. Nunca a pesquisa foi tão urgente na Igreja, pesquisa bíblica, teológica, pastoral e missionária, porque é preciso proclamar hoje a nossa fé e dar a razão da esperança que está em nós. Não somos proprietários da Revelação, nós não somos dela os mestres e não podemos repartir a zero a partir de nossas evidências de hoje, apagando a obra de Deus, a iniciativa e a Palavra de Deus, o direito de Deus a ser adorado e servido em silêncio. Este Jesus mesmo nos á necessário humildemente conhecê-lo porque ninguém conhece o Filho senão o Pai e é o Pai que revela seu Filho em nós. Na verdade, Ele no-lo revela como o Servidor que sofre, como um Messias crucificado e depois glorificado. Eis aí o Evangelho que ninguém jamais poderá reescrever. Nós não podemos olhar o Pai senão com os olhos do Filho, nem podemos falar ao Pai senão com as palavras reveladas pelo Filho. Esse olhar que toca Deus, estas palavras que agradam a Deus, Jesus, Ele também não os ensina senão aos humildes, aos homens de boa vontade, àqueles que aceitarem se colocar em sua escola. O jugo do Jesus é suave, porque ele liberta progressivamente do peso de nosso egoísmo e de nossas agressividades. Passamos a nossa vida lutando, mas procurando depois o repouso. A estabilidade vem depois das circunstâncias favoráveis nas quais podemos enfim servir e enfim amar. Portanto cumpre entrar no repouso de Jesus, no paradoxo da humildade, da doçura e da cruz. Jesus é o mestre, saibamos estar sempre na sua escola. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

 

CRISTO, O FILHO DO DEUS VIVO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A profissão de fé de Simão, assinala    uma mudança radical na vida pública de Jesus. Agora Ele vai privilegiar a formação de seus discípulos mais próximos e vai anunciar-lhes sua paixão e sua ressurreição. A questão: “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?”, resume um pouco como que o balanço de seu ministério na Galileia. Depois de tantas horas de pregação, de tantas jornadas de curas e de milagres, as opiniões sobre Sua pessoa eram diferentes. O máximo era a ideia de comparar Jesus a personagens já conhecidas, como Jeremias ou João Batista, ou ainda a um profeta como Elias, cujo retorno era esperado como sinal dos tempos messiânicos. A resposta de Simão vai muito mais longe: ‘’ Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”, porque ele ultrapassa o nível da carne e do sangue, ou seja, um julgamento puramente humano. A “carne e o sangue” é o homem deixado a seus limites, a suas contingências, inapto às novidades de Deus. Perante Jesus, o Enviado do Pai, é tudo isto que é preciso ultrapassar para poder Lhe dizer: “Tu és o Cristo”. Não somente tu nos lembras os grandes crentes do passado, as forças proféticas deste passado, mas tu és, tu mesmo, o Messias esperado que nos abre o futuro. “Tu és o Filho do Deus vivo”, acrescenta Simão, e assim ele tenta expressar o mistério que já o fascina na pessoa de Jesus: Ele age, Ele fala, Ele vive por aquele que Ele crê ser o Filho de Deus. Simão é inspirado por Deus e deixa Deus por ele revelar quem é Jesus. Imediatamente, após esta resposta de fé, que é um engajamento diante de todos em seu amigo Jesus, Simão vai viver um momento de graça extraordinária. De início Jesus faz dele um portador de uma beatitude: “Bem-aventurado es tu Simão, Filho de Jonas”. É a beatitude. É isto é a felicidade anunciada, daqueles e daquelas que sabem fazer e refazer o passo da fé e que ousam um nome novo que será programa de vida. Jesus diz: “Tu és Pedro, tu és a Rocha”.  É uma palavra criadora e recriadora. Agora Simão o pescador será o rochedo de fundação da Igreja de Jesus. A experiência de Simão Pedro¸ de Simão o Rochedo, tem muito a nos dizer. É certo que é seu o privilégio de ser pedra de fundação, o segundo Pastor, após Cristo. Nós somos, por nossa parte, pedras vivas, inseridas na construção. Mas nós nos tornamos pedras de fundação seja para a família, seja para a mensagem que nos é confiada, tendo em vista a transmissão de uma vida santa como aqueles que nos precederam, fascinados por Ele. Para isso é preciso então seguir o caminho aberto por Simão Pedro. Cumpre ultrapassar a carne e o sangue, cessar de tudo fazer nas proporções de nossa inteligência e de nosso coração, cessar de fazer esperar o Mestre divino, nele, porém, depositando toda nossa fé e nossa confiança e ousar dizer enfim a nosso amigo Jesus a palavra para nós decisiva: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus: a Ti eu entrego todas as minhas forças, hoje e para sempre”. É preciso se tornar maleável à graça divina numa entrega absoluta, uma vez que   esta graça nos atrai para Jesus, para a comunidade de Jesus, reunida fraternalmente em torno de Pedro, o Pastor Supremo depois de Jesus, guiados por Deus, guiados por Ele à luz de Jesus Cristo. É preciso que entremos na beatitude de Simão, o Rochedo, na felicidade dos que confessam Cristo, que não se afastam de Jesus e que aceitam uma vez por todas ter os olhos sempre voltados para o Salvador. Fiéis sempre ao Papa sucessor de Pedro, o qual proporciona através dos tempos a mesma felicidade e obediência a Cristo. Porque Pedro reconheceu Jesus como o Filho de Deus ele recebeu as chaves do Reino dos céus. São Pedro juntamente com São Paulo foi o fundamento da Igreja primitiva e por conseguinte de nossa fé cristã. Por isto são celebrados neste dia por serem estes Apóstolos do Senhor, testemunhas que na primeira hora   viveram os primeiros momentos da expansão da Igreja e selaram com seu sangue a fidelidade a Jesus. Eles nos concitam a uma fidelidade absoluta à Igreja de Cristo. Nós cristãos do século vinte e um possamos ser testemunhas fidedignas do amor de Deus aos homens como o foram estes dois Apóstolos que hoje festejamos No dizer do Papa Francisco, gloriosamente reinante, nós devemos marchar, edificar e confessar que Jesus é o Filho de Deus. Estaremos as recebendo toda a beatitude que recebeu Pedro e estaremos imitando também Paulo que sempre foi fiel discípulo de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 14 de junho de 2023

 

RETIRA A TRAVE DO TEU OLHO;

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Claro o preceito de Jesus com relação ao julgamento do próximo (Mt 7,1-5). Somente Deus é o juiz  (Sl 75,8). Ele é, de fato, o julgador supremo de todas as criaturas e nenhum ser humano  tem o direito de julgar seja quem for.  Mesmo que nós escutemos as palavras de Jesus, mas não a observamos, não é  Jesus que, nos julgará, porque  Ele veio ao mundo não para julgar o mundo, mas para o salvar (Jo12,47). Nós mesmos é quem nos julgamos, pois, como bem mostra a psicologia, transferimos muitas vezes para os outros nossos próprios defeitos. Eis porque é de bom alvitre pedir ao Mestre divino que seu amor misericordioso habite em nosso coração para que saibamos dar graças a Deus por tudo de positivo que  se acha em nossos irmãos. Isto nos impedirá querer tirar a trave do olho dos outros. Além disto, com a medida com que julgamos os outros é com ela que nós mesmos somos julgados. Pelo exemplo da trave  e do argueiro Jesus quer nos dizer que nós devemos melhorar a nós mesmos antes de procurar melhorar os outros. De uma parte nosso amor próprio nos impede de ter uma visão objetiva de nossos atos em relação aos dos outros.  Como diz Rupert de Deuz, talvez  o que tu vês  ou crês ver no olho de teu irmão, não seja mesmo uma trave, mas a sombra de uma trave e tu vês mal e tu discernes mal, porque  tu não vês a trave de teu olho. De outra parte não se trata de ter a falsa humildade de me purificar de minhas pequenas faltas para mostrar o exemplo a meus vizinhos que devem se corrigir de enormes pecados. Não se trata da verdadeira humildade que consiste de ser convencido desta verdade que sou, tantas vezes, bem pior que os outros. Além disto, se eu vejo os outros cometer os pecados mais horríveis, que sei eu de suas intenções ou das circunstâncias  daquela ação? E quem me diz  eu não cairei na mesma tentação um dia? Era a convicção de Santa Teresinha do Menino  Jesus: “ Eu reconhecia que sem Ele eu teria podido cair  tão baixo que santa Madalena e  a profunda palavra de Nosso Senhor a Simão repercutia com uma grande doçura  em minha alma (Eu o sei: ”Aquele a quem se perdoa menos, menos ama” (Lc 7,40-47) , mas eu sei também que Jesus me remiu mais que a santa Madalena pois que Ele me remiu preventivamente impedindo-me de cair”.  Esta Santa compreendeu perfeitamente o que o Mestre divino ensinou sobre a relação de seus seguidores uns com os outros. Ele foi  taxativo “Não julgueis os outros para que não sejais vós mesmos julgados!”. É de se notar que  a palavra julgar  pode ser interpretada  de vários modos, ou seja, condenar, discernir entre o que o bem e o mal  ou ainda disciplinar o próximo. Quando, porém se examina  outras declarações de Jesus  e do Novo Testamento, fica claro que Cristo interdiz é uma condenação que não  é de acordo com a justiça.  Pelo contrário, trata-se da capacidade de discernir entre o que é bem e mal, ilusão e realidade, o verdadeiro e o falso, o que é direito e injusto. Cumpre ter cuidado de não criticar a torto e a direito sem conhecer os verdadeiros motivos que levara àquela ação. Julgar é delicado e exige muita humildade. Deus quer que saibamos discernir o que é conforme a sua vontade e o que é uma violação de sua santidade e  de sua justiça.  O que Jesus interdiz é um julgamento que provém de um espírito amargo e crítico, que quer se vingar, que se exalta simplesmente rebaixando o outro. Condena os hipócritas que  condenam o próximo ficando cegos sobre seu  próprio modo de ser. Antes de levantar  uma acusação contra o próximo, devo me assegurar que eu sou  Isento daquela culpa por dois motivos. Primeiramente porque eu serei medido da mesma maneira  pela qual eu avaliei o meu próximo e, depois, porque é fácil de me enganar, se meus valores  são motivações egoístas. Portanto antes de julgar e condenar alguém, convém prudência e um sério exame de si mesmo. Preciosíssimas lições que fluem das palavras de Jesus, as quais devem orientar nosso modo de tratar os outros. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

segunda-feira, 5 de junho de 2023

 

VINDE A MIM, DISSE Jesus

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho nos diz que Jesus “Vendo as multidões, teve compaixão delas porque estavam fatigadas e abatidas como ovelhas sem pastor/” (Mt, 9,36-10.8). Percorrendo nosso mundo deparamos, de fato, esta triste realidade descrita pelo Filho de Deus. Os dirigentes muitas   vezes mais se preocupam com o poder e dinheiro próprio e não têm olhos para ver a miséria em seu derredor. Muitos os desesperados, torturados, esfaimados, É a eles que se dirige Jesus, Aquele que pode trazer esperanças de uma vida melhor através de seus ministros dedicados  que, com generosidade, podem dulcificar tantos  sofrimentos  por meio da luz de sua doutrina, desanuviando  as trevas do sofrimento e fazendo degustar  a alegria perdida, mas tão desejada O povo de  Israel podia melhor que nós   captar  a ideia do papel de um bom pastor e sabia exatamente a importância de sua missão na assistência a suas ovelhas. Jesus por meio de seus ministros, bons pastores, desejava e deseja sempre através dos tempos que haja bons pastores que possam direcionar os desorientados que almejam bem conceituar o sentido da vida. Eis porque Jesus escolheu os doze apóstolos que teriam seus sucessores séculos afora para virem de encontro aos sofredores, pregando a solução de seus problemas, expulsando os demônios, valorizando seus sofrimentos oferecidos em reparação dos pecados que são a fonte de tantos males. A mensagem de Jesus condoído pelos moléstias que tantos padecem é uma mensagem de paz, de amor que pode sanar as enfermidades, curar suas feridas, oferecendo a certeza de uma felicidade perene junto dele numa eternidade feliz, esperança esta que ampara sempre nas tormentas da vida. Jesus veio a este mundo como o Messias salvador e nele se pode inteiramente confiar e com Ele vencer nas procelas que surgem na existência humana neste vale de lágrimas. É a verdadeira fé que leva cada um a poder afirmar: “Jesus é o meu salvador”. Então se compreende o valor da prece confiante a sustentar o cristão nos momentos mais tenebrosos. Hoje mais do que nunca cumpre se peça a Jesus que envie operários para sua messe que possam continuar sua obra redentora. Entretanto, se é verdade que cabe aos  sucessores dos Apóstolos estarem na primeira linha de amparo aos sofredores, cabe a cada cristão, seja onde ele estiver; ser também a guarida corajosa a seus irmãos. O batizado não pode ser um mero usufruidor do amor de Jesus. Deve ajudar o Mestre divino na sua obra de consolação dos aflitos nas mais diversas circunstâncias. São Vicente de Paulo, que afirmou que “o estado de sofrimento é uma felicidade porque   ele santifica as almas”, declarou que “o amor não pode ficar ocioso, é preciso socorrer o doente e o assistir tanto quanto se pode em suas necessidades e em suas misérias, cuidando de o livrar das mesmas em tudo ou em parte”. Nunca o cristão pode se esquecer das palavras de Jesus “o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Socorrer o irmão doente é socorrer o próprio Cristo. À sombra da Cruz de Jesus ir ao encontro dos que padecem males físicos ou morais, os que sofrem violências familiares, que padecem nas ruas, os alcoolizados, os drogados. Trata-se da caridade redentora, de toda forma de generosidade e de amor para com os que sofrem e que jazem numa necessidade de amparo fraternal. Isto significa viver o espírito de Cristo, fixando nele nossa fé e a dedicação ao próximo que sofre.  Segundo o Profeta Isaias Jesus na sua Paixão se tornou “familiar do sofrimento” e assim durante seu ministério mostrou sua compaixão, reflexo da compaixão do Pai. Cristo bebeu o cálice do absoluto despojamento do amor próprio, e se fez nosso modelo. Como escreveu São Paulo aos Filipenses Ele “subsistindo na natureza de Deus, não julgou o ser igual a Deus um bem a que não devesse nunca renuciar, mas despoujou-se a si mesmo, tomndo a natureza  de servo , tornando-se  semelhante aos homens e reconhecido como homem por todo o seu exterior, humilhou-se a si memso fazendo-se obediente até a morte  e à morte de cruz (Fil  2,6). Tornou-se assim     para nós um modelo  de total abnegação. Ele dissse aos peregrinos de Emaus  que era preciso que  Ele sofresse para entrar na sua glória (Lc 24,26). É sobretudo no serviço aos sofredores que o cristão pode, de fato, imitar o Mestre divino, fazendo-se tudo para todos. Seus sofrimentos foram o fruto maduro de sua  imensa caridade e seu amor o levou até a dar sua vida por todos os homens. Ele se fez o Cordeiro que tira os pecados do mundo na sua grandiosa dileção pelos que padecem os males nessta terra. O autêntico cristão imita a Jesus e vai de encontro a todos as dores do próximo, aliviando-lhe seus padecimentos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

quarta-feira, 31 de maio de 2023

 

  

ACOMPANHAR SEMPRE JESUS

     Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho fala de um chamado especial de Jesus, a vocação do publicano Mateus (Mt 9.9-13). O Mestre divino preparou um pequeno grupo de discípulos que deveriam continuar sua missão de salvação. Ele toma aqueles que Ele quer: pecadores ou pessoas de uma tarefa humilde. Assim sendo. Ele chama inclusive um publicano, quem exercia uma profissão que era mal vista pelos judeus, dado que os publicanos recebiam impostos em nome do governador romano ao qual eles não queriam se submeter. O apelo de Jesus foi claro: “Segue-me”. Mateus então abandona sua profissão e envolto numa profunda alegria oferece a Cristo um festim para expressar seu agradecimento. Muitos publicanos e pecadores se puseram à mesa com Jesus. Os fariseus não se calaram e abordaram os discípulos: “Porque vosso Mestre come com os publicanos e pecadores”? Tendo escutado isto, Jesus imediatamente dá a resposta em nome dos seus discípulos: “Não precisam de médico os que têm boa saúde, mas os doentes “. A analogia era perfeita: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Atualíssimas estas palavras de Cristo, pois Ele continua a nos chamar para segui-lo, cada um segundo o sua condição e sua profissão. Seguir Jesus quer dizer muito frequentemente abandonar paixões desordenadas, maus comportamentos familiares, a perda do tempo que deveria ser consagrado à oração, ao banquete eucarístico, à evangelização. Enfim, tudo isto quer dizer que um verdadeiro cristão, conforme ensinou Santo Inácio de Antioquia, não é seu próprio mestre, mas se oferece sempre ao serviços de Deus. É certo que Jesus exige mudanças na vida de quem acatou seu chamado, tanto mais que o ser humano pode e deve aprimorar-se continuamente. O que passou entre Jesus e Mateus nós não o sabemos, mas pelo texto do Evangelho sabemos que houve um chamado bem correspondido. Sob o olhar de Jesus aquele que Ele chamou e outros que constituiriam o Colégio apostólico, cada um pôde se conhecer, reconhecer sua fraqueza   e o caminho pessoal de cada um lhe permitia reconhecer os outros para os atrair para o Mestre divino. A Boa Nova não era para indivíduos   isolados, era para um grupo de pessoas e Jesus deixou claro que Ele viera chamar não os justos, mas os pecadores arrependidos. Esses então atrairiam outros para o ideal pregado por Cristo.  Eis aí o valor da palavra e do bom exemplo pelos quais se pode evangelizar num acolhimento que não exclui, mas salva.  Ser salvo é ser acolhido por Jesus no seu reino de Justiça e de Paz. Além disto, de numa maneira espiritual, há também a salvação na participação na vida trinitária, pois nos tornamos filhos adotivos do Pai. Trata-se, portanto de viver numa comunhão pessoal e íntima com Deus nosso Pai. Deve-se então compreender a salvação como a expressão do amor de Deus que nos estabelece numa nova relação com Deus e, assim sendo, devemos entender a salvação como um dom e acatar em tudo a santíssima vontade divina.  Ao seguir os planos divinos o homem não pode se tornar Deus, mas Deus pode fazer do homem seu filho. Ao seguir em tudo a vontade de Deus o homem se estabelece numa relação nova com Deus. Seguindo o desígnios divinos cada um pode e deve participar do amor infinito que existe entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Significa, portanto, ser amado e participar do amor de Deus. Foi o que aconteceu com Mateus e fez dele um admirável seguidor de Cristo. Mais tarde Mateus, tornando-se um notável evangelista registrará estas palavras de Jesus: “Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que entrará no reino dos céus, mas sim, aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. (Mt 7,21). Portanto, seguir em tudo o chamado de Deus representa viver o dom deste chamamento A questão que se põe não é saber o cristão o que ele deve fazer para merecer o céu, mas saber como se obedece ao apelo de Deus e isto tão prontamente como ocorreu com Mateus. Note-se que a infidelidade mata o dom recebido, pois não seguir logo o apelo de Deus se mata o dom precioso de seu chamado. Está no Apocalipse: Eis que estou à porta e batose alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo.” (Ap 3,20). Foi o que fez Mateus e nos deixou tão valioso exemplo. Ele abandona imediatamente o seu serviço e segue Jesus! Isto significou uma conversão total. Jesus chamou um pecador que se converte plenamente   Vemos que Jesus nos mostra duas verdades: Deus olha o coração do homem que Ele chama quando quer e como Ele quer. Deus vem a cada um não importa sua situação espiritual. Ele o santificará. Em segundo lugar o importante é nunca fechar a porta ao chamado divino. Cumpre atendê-lo e se colocar ao serviço dos outros e da palavra com fez Mateus. Abrir-se sempre a porta do coração e se esteja atento aos desígnios divinos. O que disto resultará está nãos mãos de Deus * Professor no seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 23 de maio de 2023

 

SANTÍSSIMA TRINDADE

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A Fé de todos os cristãos se concentra na Santíssima Trindade. O amor de Deus alcança seu mais alto grau ao sacrificar o seu Filho unigênito, isto é, Jesus, o Verbo encarnado, por todos e cada um dos homens. Deus quer, portanto, a salvação de todos e não sua condenação e todos os homens ao crerem nele, isto é, em Jesus Redentor, podem ter a vida eterna. (João 3, 16-18). Deus salvou o mundo através de Jesus, porque Ele é amor e se Ele é amor é Trindade e esta revelação está no centro da mensagem cristã. Com efeito, se entende que Deus é amor neste sentido que Deus age a nosso respeito com misericórdia, solicitude e ternura, e isto o povo de Israel o sabia e o Corão não o rejeita também. Neste caso se pode dizer somente que Deus nos ama, mas não que Deus   é amor. Como nós podemos dizer de cada um de nós que nós amamos tal ou tal pessoa ou coisa, mas isto não nos permite de dizer que nós somos amor. Ora a revelação do Novo Testamento vai até dizer que Deus é Amor. A revelação cristã chega à vida íntima de Deus, sobre seu ser e não sobre o seu simples agir ou sentimento. O Senhor se revelou junto dos homens pela sua solicitude por nós, por intenções benevolentes junto dos homens. Com Jesus Cristo, porém, vamos além da simples compreensão da manifestação do amor de Deus. Nós podemos compreender que não somente Deus age com amor e por amor, mas que Ele e é o amor mesmo. Com Jesus Deus se revelou como comunhão de amor entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Se podemos dizer que Deus é por essência amor, é porque   nós cremos que Ele não é solitário. Com efeito, não há amor senão se há uma pessoa que ama e uma pessoa amada. Se eu não amo nada nem pessoa alguma, a rigor eu posso ter um desejo de amor, mas eu não posso dizer que eu amo. Eu não posso dizer que eu amo senão se há uma pessoa ou um objeto para o qual meu amor se orienta. Ao dizer que Deus é amor significa que nele mesmo e independentemente da criação há nele uma possibilidade de relações. Dizer que Deus é amor é dizer que   há nele mesmo uma pessoa que ama e uma pessoa amada.  Isso porque o amor não existe em teoria, nem de maneira abstrata, ele não existe senão na realidade de uma relação.  Eis porque a revelação da Trindade vai de par com a revelação da essência de Deus como amor. É o mistério mesmo do amor que está no princípio e no fim de nossa existência. Cada uma das três pessoas não existe por ela mesma, ela não existe senão sendo pelas duas outras pessoas. O Pai não existe como Pai distinto do Filho ao qual se dá inteiramente. O Filho não existe como Filho distinto do Pai senão sendo todo inteiro um elã de amor para com o Pai. O Pai não existe como uma pessoa constituída nela mesma e por ela mesma, mas é o ato de engendrar o Filho que O constitui como pessoa. O Espírito Santo é por sua vez o dom do Pai ao Filho e a resposta do Filho ao Pai. O que é assim revelado é que a relação de amor é a forma original de ser, isto é que o fundo do ser divino é esta comunhão de amor. Deus nos ama porque o amor está nele. Esta realidade do amor de Deus, como uma característica de seu ser, nos assegura também a realidade de seu amor. Ele não pode deixar de nos amar, ou Ele não o seria o que Ele é.  Seu amor para conosco é abertura da comunicação do amor que constitui o seu ser. Nós não fazemos senão partilhar o que constitui a relação do Pai com o Filho no Espírito Santo.  Deus me ama porque Ele é amor (1 Jo 4, 7-10).  No lugar de uma força obscura, de uma energia prodigiosa, mas sem visão, nós descobrimos na criação e na origem desta a visão de um Amor que é Deus. Estas revelação de Deus Trindade é capital porque ela permite ao ser humano se compreender a si mesmo. Criado à imagem e semelhança de Deus o homem se compreende como fruto do amor divino.  Criado à imagem e semelhança de Deus o homem se descobre fundamentalmente como um ser de relações e comunhão. Todo homem possui este desejo de amar e de ser amado, anelo que não se realiza plenamente senão entrando em si mesmo e no acolhimento do outro. Nossa vocação fundamental ao amor e à felicidade é, portanto, uma vocação, o dom e o acolhimento do outro.  O mistério da Santíssima Trindade é portanto também essencial para aclarar nossa vida. Este mistério nos revela que nos dispomos ao trabalho de uma conversão permanente que consiste em ultrapassar nossa maneira equívoca de amar. Por tudo isto podemos compreender que o mistério da Santíssima Trindade é o mistério do amor de Deus que é amor. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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quinta-feira, 18 de maio de 2023

 

RECEBEI O ESPIRITO SANTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho de hoje Jesus nos mostra que seus seguidores, após Pentecostes, entram plenamente de corpo de alma no movimento dinâmico, na nova maneira de ser: “Assim como o Pai me enviou, também eu envio a vós [...] Recebei o Espírito Santo” (Jo  20, 19-23). Cristo nos envia a falar e a fazer as maravilhas de Deus. Maravilhas, de fato, da misericórdia que é preciso anunciar de verdade. Ele nos envia como Ele mesmo foi enviado, não somente a comparação vale para a evangelização, mas também vale para a maneira de a fazer, porque nós evangelizamos pela e com nossa humanidade, nossas palavras e nossos gestos, mas uma humanidade renovada dado que num liame direto e muito íntimo com a sua santa humanidade que depois da Ascensão está junto do  Pai. Esta relação é tão intima que com São Paulo é preciso falar de uma real unidade, ou seja, aquela de um só corpo cuja Cabeça está no céu. Entretanto os membros deste corpo ficariam sem vida se o Sopro de Deus que repousava outrora sobre as águas não viesse a soprar com uma respiração divina neles mesmos. Jesus foi claro: “Do mesmo modo que o Pai me enviou, eu também vos envio”. Tendo assim falado, Ele soprou sobre eles e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”. Os discípulos já estavam repletos de uma alegria inteiramente humana, ou seja, aquela de ter encontrado seu Mestre e Amigo. Júbilo, outrossim, santo de reencontrar Jesus que veio até eles estando as portas fechadas, com uma humanidade ressuscitada, mas verdadeiramente humana dado que eles reconheceram os traços da efusão do sangue. Nova efusão nesta manhã, ou seja aquela do Espírito Santo. O Verbo a eles se dirige e os convida a ´receber, a acolher neles não algo que teriam que descobrir ou reconhecer com suas forças, mas um Dom infinitamente além de tudo o que lhes era capaz de conceber e esperar, dado que se tratava de Deus em pessoa, o Espírito Santo e é de se notar que é Jesus que nos ordena de O receber: “Recebei o Espírito Santo”. Neste final do Evangelho segundo São João, neste fim do tempo de Páscoa, escutamos ressoar no fundo de nosso coração a voz da santa humanidade de Jesus cujas palavras o Evangelista maravilhosamente gravou. Escutamos esta voz que nos pede receber o Espírito Santo. São Paulo então emprega um termo bem forte: “Todos fostes embebidos em um só Espírito” (I cor 12,13), Ora não se pode ser embebido se antes não tenha provado e, na verdades, com uma sede que faz intensamente desejar beber, tomar desta água. Isto conforme está no Salmo: “Senhor meu Deus, de vós tem sede a minha alma, por vós anela o meu corpo languente como terra árida sem água” (Sol 62,2). Abramos então a medida de nosso coração para desejar um Dom tão precioso. Pentecostes é assim uma solenidade extraordinária, pois nela inclusive a Igreja começou a existir, neste sentido em que ela começou a se manifestar. Sua formação real e concreta é bem mais antiga. Certos primeiros teólogos fazem remontar esta formação   no começo da Encarnação do Verbo na Virgem Maria no dia da Anunciação. A Igreja não pode se desenvolver exteriormente com justeza no mundo senão na medida em que   ela não cessa de retornar aos fatos de sua formação. Há um duplo movimento a viver neste dia para nós. Um movimento retrospectivo e um movimento prospectivo. Este mostra a Igreja que sai de si mesma quando Jesus envia ao mundo os Apóstolos. Cumpria vencer os temores ao experimentar a paz e a alegria pela presença do Ressuscitado que imprime confiança ao degustar seu amor misericordioso. Receber o Espírito Santo é fundamentalmente para a libertação nossa e dos outros. A maravilha de Pentecostes deve nos levar a sermos os arautos desta libertação prometida. Devemos fazer de nossos dias um Pentecostes contínuo onde quer que estejamos. Como é então que anunciamos estas verdades? Trata-se de levar o Evangelho onde quer que agimos. Cumpre partilhar com os irmãos a Boa Nova. Nossa fé não pode ser uma doce ilusão, mas deve ser real e concreta nos levando às últimas consequências de nossa adesão completa ao divino Ressuscitado. É por isto que Ele está a nos mandar: “Recebei o Espírito Santo”. Saibamos cultivar e colher seus sete dons vivendo sempre na sua presença santíssima. Peçamos sempre a Ele seus doze frutos e Ele nos santificará e iluminará em todas as circunstâncias de nossa vida.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

 

ESTAREI SEMPRE CONVOSCO

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Clara a promessa de Jesus: “Eu estarei convosco todos os dias até fim dos tempos” (Mt  28,16-20). Depois destas palavras os discípulos O viram se elevar e desaparecer a seus olhos em uma nuvem. Cristo havia terminado seu percurso nesta terra ao lado de seus apóstolos e sua preleção acabara neste mundo e se dá então  sua admirável ascensão aos céus onde está assentado à direita de Deus. Jesus era bem o Messias prometido por todos os profetas. Entretanto, sua partida para o céu não significou que tudo estava terminado e que não seríamos órfãos do Mestre divino. A palavra de Jesus não terminara aqui em baixo na terra. Ela vai continuar mais do que nunca, dado que os onze apóstolos receberam a missão de ir pelo mundo inteiro para  proclamar a Boa Nova. A palavra de Jesus que durante sua vida terrestre tinha se confinado em Jerusalém e na Galileia, não tendo ultrapassado a não ser excepcionalmente as fronteiras do pais, agora ela iria se expandir em todo o império romano. O Livro dos Atos dos Apóstolos que nos relatam o trabalho das primeiras comunidades cristãs nos revela que não somente a Palavra de Deus vai atingir o mundo inteiro, mas ela contudo não perderá nada de sua eficácia. Sobretudo   os apóstolos Pedro e Paulo não somente anunciam a mensagem de Jesus, mas eles também fazem milagres tão admiráveis como aqueles do divino Mestre. Com efeito, eles curam os cegos, os coxos e mesmo até ressuscitam mortos. Os corações deveriam se abrir à sua luz para fazer compreender a esperança que traz consigo seu apelo, a glória sem preço da herança que deviam partilhar com os fiéis e o poder infinito que tocaria os que acreditassem.

A misericórdia e o poder do Senhor não haviam terminado para os homens, porque Jesus se fora para junto do Pai. Bem, ao contrário, mais que nunca, embora ausente, Jesus continuaria sua obra entre seus discípulos, ou mais precisamente pelos seus apóstolos. Se as maravilhas e os milagres divinos continuavam a se manifestar aos homens é que os discípulos com toda a sua Igreja seriam os continuadores da obra de Jesus e, mesmo melhor, a Igreja que é o corpo de Cristo e por ela é Cristo que continuaria sua obra. É certo que Jesus foi elevado corporalmente diante de seus discípulo, mas continuaria a lhes falar e agir com eles e por eles de uma maneira inteiramente nova. Eis porque o Evangelho de hoje coloca em seus lábios estas palavras: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Mesmo assentado à direita do Pai, Cristo continuaria a agir, estando Ele no coração de sua Igreja. De uma certa maneira Ele está muito menos ausente do que se possa imaginar. Eis porque Ele deu a entender a seus discípulos que seria mais vantajoso que Ele se fosse. Ele estaria, porém, com eles até o fim dos temos, até o seu retorno em sua glória. Cumpre, pois, compreender o mistério da Ascensão tendo em vista duas realidades que parecem opostas. De uma parte, nos era proveitoso que Jesus fosse para junto do Pai e de outra parte também sua ausência aparente, que esconderia sua presença, era útil, pois se Ele nos deixava fisicamente era para nos estar presente espiritualmente de uma maneira mais eficaz. Toda narrativa dos Atos dos Apóstolos tende a demonstrar a veracidade desta dupla afirmação que parece contraditória. No início dos Atos dos Apóstolos, a narrativa que nos é feita da primeira comunidade cristã nos mostra que os discípulos não compreendiam ainda plenamente esta realidade da presença espiritual e ativa de Jesus na sua Igreja. Até o dia de Pentecostes os apóstolos ficavam fechados em casa, tinham medo. Seria preciso que a promessa de Jesus se realizasse, promessa de lhes enviar o Espírito Santo. Esse lhes daria então não somente a lembrança de Jesus e de suas palavras para anunciarem a Boa Nova aos homens, mas seria em seu coração e na sua vida a força e o poder do Mestre divino. Isto fará mais do que cobrir o vazio deixado pela sua partida, pois é isto que fará da Igreja o Corpo Místico de Cristo e cobriria espiritualmente a distância criada pela partida física de Jesus. Espiritualmentev a partida de Cristo e a vinda do Espírito Santo fazem que Jesus esteja hoje mais presente em sua Igreja e em cada um de nós, porque na Igreja nós somos o Corpo de Cristo. Deus Pai lhe a tudo submetido e O colocando no mais alto que tudo Ele fez dele a cabeça da Igreja que é seu corpo e a Ele Deus O cumula totalmente de sua plenitude. Tornar-se cristão será pois para nós, antes de tudo crer, que Cristo Jesus não está ausente de nossas vidas.   * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

 

OUTRO DEFENSOR ESTARÁ SEMPRE CONVOSCO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A liturgia deste domingo já orienta nosso olhar para a festa de Pentecostes, dado que acentua a obra do Espírito Santo

na comunidade dos cristãos.  Jesus promete claramente a vinda do Espírito divino para estar conosco para sempre

(Jo 14, 5-21). Cristo com sua partida, ou pelo menos com sua ausência sensível, poderia, de fato, nos fazer sentir

abandonados, órfãos   como que entregues a nós mesmo e distantes   ante   palavras e gestos colocados no passado.

Jesus, porém, nos convida a acolher o dom do Pai, isto é, o Espírito Santo derramado em nossos corações como o

grande defensor, o protetor de nossa fé e o pedagogo para nossa vida espiritual. Deste modo, de uma certa maneira, o

que não nos deixa jamais sozinhos e de outra parte em nos guarda nele como nosso defensor e enfim a nos ampara nele

como nosso mestre espiritual.  É desta maneira de estar conosco que o Espírito Santo poderá derramar seus sete dons

para acabar a obra do Pai realizada por Jesus: dom da sabedoria, do conselho e da fortaleza, dom da inteligência e da

ciência, dom da piedade e do temor do Senhor. Através dos tempos vivemos na Igreja toda uma renovação espiritual

em torno do  Espírito Santo para lhe dar o lugar na vida da Igreja e da vida espiritual dos cristãos. Note-se em 1938

a obra do jesuíta Pe. Victor Billard, que escreveu sobre o Espírito Santo, obra  intitulada “Ao Deus desconhecido”.

Depois toda uma preparação da celebração do concílio Vaticano II e a renovação carismática. Tudo isto nos levou

a uma profunda relação com o Espírito divino como o autor central de nossa vida espiritual, como  hospede interior,

nosso  mestre espiritual, que incrementa nossa fé, esperança e caridade. Em uma relação pessoal e íntima com Aquele

que já quando na preces nós temos o tempo da escuta, nós criamos o espaço que O permite agir em nós. Entramos assim

num diálogo com aquele que faz de nosso corpo seu Templo, ou seja, o lugar do encontro e da celebração, aquele que

habita no mais íntimo de nós mesmos e deseja  nos transformar inteiramente. O batismo e a confirmação nos dispõem

de maneira permanente a esta escuta e a um diálogo com o Espírito para nos deixar agir por Ele. É assim por esta obra

do Espírito em nós que a vida das palavras de Jesus se tornam atuais e sempre novas para cada um de nós e para toda

sua Igreja. Sem Ele nossa vida religiosa e espiritual não seria senão uma mera comemoração de um passado que se foi,

mas com Ele tudo se faz atual e novo e Ele nos orienta para a plena realização das promessas das quais a ressurreição de

Jesus constitui a garantia. Eis porque Jesus nos diz: “Dentro em breve o mundo não me verá mais (porque não recebeu

o  Espírito Santo), mas vós (que O haveis recebido) vós me vereis vivo e vivereis também”.  Eis, portanto, bem o cerne

da relação com Deus, da vida com Deus, vivendo sua palavra, portanto, não somente O conhecendo mas nele vivendo.

Peçamos então ao Espírito Santo que venha nos iluminar, nos ensinar a assim bem viver no amor do Senhor.

Trata-se, porttanto, da participação da plenitude divina.  Incorporados em Deus, sob o influxo do Espírito divino, nós

Estaremos imersos na fonte da vida de Deus que habita em nos. Eis porque nós não obstantes nossas misérias,

podemos e devemos estar em tertúlia contínua com o Senhor. Eis a maravilha que opera em nós o estado da graça

santificante.  Jesus foi claro: “Aquele que recebeu os meus mandamentos e lhes resta fiel, é aquele que me ama; e

Aquele que me ama meu Pai o amará, eu também o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14,21). Deste modo o cristão

vive na presença de Deus. Não há, deste modo, lugar para outros desejos ou pensamentos que nos façam perder

tempo e nos impeçam de fazer a vontade divina. A presença de Deus em nossa vida nos ajudará a descobrir e a

realizar neste mundo os planos que a Providência nos destinou. O Espiritado Senhor suscitará em nossos corações

iniciativas que colocaremos no princípio de todas as atividade humanas. Seremos assim verdadeiros filhos de Deus

e nos sentiremos seus amigos em todo o lugar e instante, em todas as circunstâncias de nossa vida. Toda a luz e

todo o fogo da vida divina se expandirá sobre o cristão que está assim disposto a receber o dom da habitação divina.

Trata-se de penetrar na frequentação contínua da Trindade Santa, pois o Divino Espírito Santo está em nós. O cristão traz em em si mesmo esta grandeza infinita conforme mostra a religião verdadeira. Uma vida cristã é estar conectada no

Espírito divino. Vê-se bem então forças sobrenaturais entro de nós. Além disto, é este Espírito que nos defende de

todas as formas de realidades terrestres. Eis ´porque se vê na História da Igreja o número de perseguições que têm por fim fim impedir a vida espiritual. A própria interdição dos cultos públicos é uma maneira de destruir a vida

espiritual. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

 23 Quem me viu, viu o Pai

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus disse aos apóstolos: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,1-1-12. Assim sendo, que nosso o coração se deixe de agitar, isto é, nossa inteligência e afetividade. Antes de tudo,  o temor pela partida de Jesus para junto do Pai. Um novo isolamento tomava conta dos amigos de Cristo, em um mundo hostil que vai se voltar contra eles e lhes fará pagar sua amizade pelo Messias. A solidão do coração é a tentação de viver como órfãos, a tentação da tristeza, como dirá ainda Jesus. Em resposta a este receio, Jesus dirá :”Crede  em Deus, crede também em mim”, de fato quem O viu, viu também o Pai. Trata-se, portanto da fé especificamente cristã, pois a fé implica uma real união viva com Deus, o Pai, e com Jesus seu Filho, como Ele  afirmou, com razão,  que ninguém vai ao Pai senão por Ele. O antídoto para a agitação do coração, no limite da esperança, o medo de morrer ou de viver, é   ir ao Pai por Jesus e a propósito desta grande passagem ao Pai, Jesus declara sucessivamente seu papel pessoal e a parte que nos cabe. Jesus passa além, através da morte e, uma vez na glória, na casa do Pai, Ele prepara um lugar para nós. O lugar não faltará para ninguém, Ele o garante, pois Ele voltará para nos levar consigo, se estivermos sempre com Ele lá onde Ele está, na mansão da glória. Quando Ele voltará? Aqui é o conjunto do Evangelho de São João que nos responde, lembrando-nos as três vindas do Ressuscitado, a saber, suas aparições nas aparições dos primeiros dias depois de sua ida gloriosa,  e entre as duas, sua vinda cada dia para fazer em nós sua morada. Cada dia, com efeito, Cristo vem a  nós para nos tomar com Ele, e nós nos aproximarmos, pouco a pouco, do lugar para onde Ele foi, Deste modo temos nossa parte neste glorioso caminhar, restando sempre a caminho e nunca perdendo a rota, pois Ele disse que o lugar para onde Ele foi, nós sabemos a passagem. O único caminho o que  conduz para a casa da glória,  para o Pai da glória é Jesus, Ele mesmo que é de uma só vez o caminho que guia e a rota que conduz Ele mesmo.  Ele é mesmo paradoxalmente de uma só vez o caminho que orienta e que fortifica o caminheiro, porque é no mistério    de sua Pessoa, que está toda a verdade oferecida por Deus e toda a vida que Ele oferece em partilha. Ele é sempre o “Caminho, a Verdade e a Vida”. Assim sendo, no caminho que é Cristo e por Cristo, nosso caminho, é que nós vivemos já dos bens da casa da glória que nos é preparada, pois, Jesus e o Pai veem a nós para nos fazer em nós suas moradas. É o mistério da dupla morada, a morada em Deus e a morada em nós que fascinou por, exemplo Elisabeth Leseur, no que dizia respeito sobre seu caminho tão curto, a ponto dela dizer à Santíssimo Trindade: “Pacificai minha alma fazei nela vosso céu, vossa mansão amada e o lugar de vosso repouso] ...] Escondei vós em mim, para que eu me esconda em Vós, aguardando ir contemplar em vossa luz o abismo de vossas grandezas”. Crer, pois em Jesus é crer que Ele está morto e ressuscitado, é crer que Ele tem uma vida além mundo e crer que Ele nos aguarda para junto dele e do Pai nos acolher. Portanto, a vida eterna existe e nós devemos tomar a rota desde agora. Este caminho é o do amor incondicional a Deus e ao próximo, dado que Jesus deixou este mandamento. Examinemo-nos sempre se trilhamos esta vereda sagrada.  Aí encontraremos a serenidade e o júbilo ao longo de um rio de paz junto de seu Coração ressuscitado, lá no nosso coração tantas vezes agitado e inquieto, tantas vezes tomado por também por uma atividade febril e vã. Temos que lutar contra a agitação, o enervamento, o constrangimento. Paira a mentira que infecta a mente dos homens, fazendo-os confundir o mal e o bem, levando-os a perder a luz pela obscuridade e obscuridade pela luz e semeando em suas almas a dúvida e o ceticismo que apagam a manifestação da esperança em um horizonte de plenitude que nosso mundo, com seus atrativos não sabe nem pode lhes dar. Os frutos desta diabólica situação são bem evidentes. Esquecidos de que apenas Jesus é o caminho e verdade e a vida. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 17 de abril de 2023

 AS OVELHAS CONHCEM SUA VOZ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

De domingo a domingo, especialmente neste tempo pascal, a liturgia da Igreja vem até nós com a mesma mensagem de esperança. Embora os tempos sejam difíceis e os anos passem com seu conjunto de provas pessoais, familiares, eclesiais. O que faz viver o seguidor de Cristo é a certeza absoluta de que Jesus está vivo, Ele é o Bom Pastor que cuida com amor suas ovelhas e que estas O conhecem, pois escutam a sua voz. Ele está presente na sua Igreja. Não nos é dado vermos a Cristo, que nós não tocamos cada dia, nem voluntariamente os sinais de sua ação, mas nós temos um meio maravilhoso de estarmos unidos a Ele, pois onde nós estamos nos basta abrirmos os ouvidos para escutar a voz do Pastor: “Minhas ovelhas escutam a minha voz e eu as conheço e elas me seguem”. É que Jesus é a porta e se alguém entrar por Ele será salvo, porque entrará e sairá e encontrará pastagem. Existe uma espécie de conivência entre as ovelhas e o pastor e a voz do pastor não é sempre uma voz que se impõe. Simplesmente de um tempo a outro o pastor fala, como que para dizer: “Eu estou lá e as ovelhas escutam minha voz e a seguem”. É bem isto que nos leva a reagir e difundir esta voz de Cristo que rediz: “Eu estou lá contigo. Eu estou lá por vós e te conheço. Eu te darei a vida eterna e jamais tu me perderás”. Nós não nos perderemos porque seremos defendidos pelo Bom Pastor. Este para nós é não somente uma voz que se faz ouvir, pois é uma mão que nos sustem e que nos protege. Jamais nada nem ninguém não poderão nos arrancar da mão de Cristo, porque o Bom Pastor nos guarda e nos protege como um presente que o Pai lhe fez: “Eles eram teus e tu os destes a mim e eu não perderei nenhum deles” (Jo 17, 6.12). Nós somos de Cristo e de Deus Pai, Ele que é maior que tudo. Ele faz e nós escutamos a voz deste Pastor, porque o Pai quer salvar o homem e assim nos deu um tal pastor para nos conduzir à vida eterna. Este Pastor, realmente, nos assegura sua presença, nos segura pela mão, a ovelha O escuta e O acompanha. Admitidos na intimidade do Pai com Cristo, por Cristo e em Cristo somos como o Bom Pastor enviados cada dia, cada hora a marchar até o final de nossa caminhada terrestre, até o dom de nós mesmos, de acordo com o que afirmou ao Apóstolo Paulo no ocurso de sua missão: “Eu fiz de ti a luz das nações, para a graças a ti a salvação chegue até as extremidades da terra” (Ac 13,47). Assim a ovelha é portadora da mensagem do Bom Pastor no horizonte de sua vida, ou seja, no seu lar, no seu trabalho, nas relações sociais, no diálogo com os amigos, em todo movimento de solidariedade e até mesmo nos instantes de solidão através da prece intensa.  Extenso, portanto, o horizonte de quem escuta a voz do Bom Pastor e a segue.  Uma multidão imensa de todas as nações, multidão em marcha na qual se aprende a se conhecer como ovelha arauto da mensagem sublime do Mestre divino.  Muitas vezes a ovelha é provada e a prova se faz mais pesada, a fidelidade mais difícil, o desvio da rota se torna possível e a esperança se afasta de nós mesmos ou daqueles que nós amamos.  O Bom Pastor, porém, é maior que tudo e não nos deixa transviar. É a ternura dele que tem a última palavras e nos dirá: “Eu estou aqui, não desanimes”!     O Bom Pastor é o senhor e o salvador. Hoje em dia há numerosos falsos profetas a nos chamando a segui-os, a viver segundo suas diretrizes. Eles impõem sua concepção da vida, sua ideologia.  São os mercenários que assaltam as ovelhas de Cristo para viver a custa delas. Cumpre estar atentos, refletir antes de ceder às artimanhas do maus, dos visionários e fabricantes de milagres. Jesus, o Bom Pastor fala a nosso coração para que nós vivamos de sua vida, de seu amor na plena liberdade de nosso coração. Entre as palavras de Jesus insistamos nestas: “As ovelhas reconhecem minha voz e a seguem”. Isto significa que elas O seguem porque reconhecem sua voz e, assim O amam, Lhe são gratas como devem ser. O convite de Jesus nos leva a agir como Ele e consiste a entrar na salvação e cura do mundo que tem necessidade de nossa colaboração. Agir como Cristo, estar com Cristo, ser todo dele e trabalhar para glória do Pai como Ele. Escolher caminhar nas vias do Bom Pastor e o seguir, escutar e reconhecer sua voz. Ele estará sempre conosco. Não tenhamos medo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.