quinta-feira, 31 de agosto de 2023
A CORREÇÃO FRATERNA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Entre as normas sobre a correção fraterna (Mt 18, 15-20) Jesus assim se expressou: “Se teu irmão cometer alguma falta contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele. Se te ouvir, terás ganho o teu irmão”. Fez uma promessa admirável: “Ademais em verdade vos digo que se dois de vós sobre a terra concordarem acerca de qualquer coisa que tiverem a pedir, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Como bem se expressou São João “Deus é amor” (1 Jo 4,8). São Paulo mostrou que o cumprimento perfeito da lei é este amor”. Eis porque se deve corrigir os que erram e rezar sempre também comunitariamente. Trata-se de procurar o cumprimento perfeito da vida espiritual, da participação total no mistério de Deus imergido na sua dileção divina. Quando se percorre o Antigo e o Novo Testamentos se percebe que o Senhor se revela sempre como o amor, desejando fazer aliança com os homens para os envolver na sua ternura. Tudo isto porque a afeição divina se concretiza no seu desejo de oferecer a todos a salvação, abrindo-lhes as portas do paraíso. Cumpre corresponder aos desígnios divinos, amando-O e aos outros, entrando assim no seu projeto de salvação e comunhão na vida divina. Muito frequentemente se entende o amor exclusivamente no domínio da afetividade, mas é preciso ultrapassar os sentimentos e o manifestar concretamente em obras de conversão do próximo, visando sempre sua salvação eterna e a observância dos sagrados mandamentos de sua Lei. Amar para Deus significa querer e agir no interesse dos irmãos, porque Deus quer o bem de todos, sua felicidade e a conquista de um lugar lá no céu. Amar para Deus é salvar! Crescer sempre no amor a Deus e no amor fraternal, tomando consciência de seu apelo à vida divina e de seu desejo de que todos dela participem. Eis porque o verdadeiro amor pelos nossos irmãos nos leva a uma corresponsabilidade para seu bem, o que se manifesta pelo interesse pelos outros e pela prece em comum que nos conduz ao cerne do amor verdadeiro que é Deus. Assim sendo, amar à maneira de Deus não se dá certamente no fato de não ter sentimentos por tal ou tal pessoa. O amor se verifica numa vontade traduzida em obra para o bem, a felicidade, o interesse vital do próximo. Trata-se do que São João da Cruz chama união das vontades, para que Deus esteja, de fato, junto de nós no momento de nossas preces comunitárias. Nós nos amamos não para partilhar narcisamente belos sentimentos, mas para crescermos juntos no amor verdadeiro. Portanto, a nossa corresponsabilidade e nossa solidariedade na marcha para nossa salvação e na do próximo necessita de uma profunda atitude teológica que vai acima de qualquer sentimento humano. Ter sempre em mente o bem de nossos irmãos, empenhando-nos para seu bem, sua salvação sem querer manipular os outros. É assim que se deve viver a correção fraterna. Nunca se deve esquecer que as faltas alheias dependem da natureza do ato cometido, da consciência e da intenção daquele que as comete. Eis porque é preciso entrar em diálogo com quem erra para saber suas intenções, a maneira como viveu os acontecimentos, antes e o acusar. Não se deve julgar os outros com base na própria subjetividade. Ninguém deve se julgar proprietário da verdade. Deve-se, portanto, por isto mesmo, se pedir as luzes divinas. Tudo isto se aplica no relacionamento dos irmãos da mesma fé, nos diversos grupos paroquiais, nas comunidades nas quais se exerce alguma atividade de apostolado, nos locais de trabalho, tendo sempre em vista que cada um de seus membros são filhos de Deus, capazes de acolher a luz divina e de entender suas inspirações. Em tudo se deve ser um caminho para o amor a Deus. A correção fraterna é uma prática que não é fácil e demanda discrição, paciência, para que se evitem julgamentos apressados, mas que se impeça sempre comportamentos errôneos que podem escandalizar. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 19 de agosto de 2023
quinta-feira, 3 de agosto de 2023
A Transfiguração de Jesus
quinta-feira, 20 de julho de 2023
segunda-feira, 3 de julho de 2023
quinta-feira, 29 de junho de 2023
quinta-feira, 22 de junho de 2023
CRISTO,
O FILHO DO DEUS VIVO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A profissão de fé de Simão, assinala uma mudança radical na vida pública de Jesus.
Agora Ele vai privilegiar a formação de seus discípulos mais próximos e vai anunciar-lhes
sua paixão e sua ressurreição. A questão: “Quem dizem os homens que é o Filho
do homem?”, resume um pouco como que o balanço de seu ministério na Galileia.
Depois de tantas horas de pregação, de tantas jornadas de curas e de milagres,
as opiniões sobre Sua pessoa eram diferentes. O máximo era a ideia de comparar
Jesus a personagens já conhecidas, como Jeremias ou João Batista, ou ainda a um
profeta como Elias, cujo retorno era esperado como sinal dos tempos messiânicos.
A resposta de Simão vai muito mais longe: ‘’ Tu és o Messias, o Filho do Deus
vivo”, porque ele ultrapassa o nível da carne e do sangue, ou seja, um
julgamento puramente humano. A “carne e o sangue” é o homem deixado a seus
limites, a suas contingências, inapto às novidades de Deus. Perante Jesus, o
Enviado do Pai, é tudo isto que é preciso ultrapassar para poder Lhe dizer: “Tu
és o Cristo”. Não somente tu nos lembras os grandes crentes do passado, as
forças proféticas deste passado, mas tu és, tu mesmo, o Messias esperado que
nos abre o futuro. “Tu és o Filho do Deus vivo”, acrescenta Simão, e assim ele
tenta expressar o mistério que já o fascina na pessoa de Jesus: Ele age, Ele fala,
Ele vive por aquele que Ele crê ser o Filho de Deus. Simão é inspirado por Deus
e deixa Deus por ele revelar quem é Jesus. Imediatamente, após esta resposta de
fé, que é um engajamento diante de todos em seu amigo Jesus, Simão vai viver um
momento de graça extraordinária. De início Jesus faz dele um portador de uma
beatitude: “Bem-aventurado es tu Simão, Filho de Jonas”. É a beatitude. É isto
é a felicidade anunciada, daqueles e daquelas que sabem fazer e refazer o passo
da fé e que ousam um nome novo que será programa de vida. Jesus diz: “Tu és
Pedro, tu és a Rocha”. É uma palavra
criadora e recriadora. Agora Simão o pescador será o rochedo de fundação da
Igreja de Jesus. A experiência de Simão Pedro¸ de Simão o Rochedo, tem muito a
nos dizer. É certo que é seu o privilégio de ser pedra de fundação, o segundo
Pastor, após Cristo. Nós somos, por nossa parte, pedras vivas, inseridas na construção.
Mas nós nos tornamos pedras de fundação seja para a família, seja para a
mensagem que nos é confiada, tendo em vista a transmissão de uma vida santa
como aqueles que nos precederam, fascinados por Ele. Para isso é preciso então
seguir o caminho aberto por Simão Pedro. Cumpre ultrapassar a carne e o sangue,
cessar de tudo fazer nas proporções de nossa inteligência e de nosso coração,
cessar de fazer esperar o Mestre divino, nele, porém, depositando toda nossa fé
e nossa confiança e ousar dizer enfim a nosso amigo Jesus a palavra para nós
decisiva: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus: a Ti eu entrego todas as minhas forças,
hoje e para sempre”. É preciso se tornar maleável à graça divina numa entrega absoluta,
uma vez que esta graça nos atrai para
Jesus, para a comunidade de Jesus, reunida fraternalmente em torno de Pedro, o Pastor
Supremo depois de Jesus, guiados por Deus, guiados por Ele à luz de Jesus
Cristo. É preciso que entremos na beatitude de Simão, o Rochedo, na felicidade
dos que confessam Cristo, que não se afastam de Jesus e que aceitam uma vez por
todas ter os olhos sempre voltados para o Salvador. Fiéis sempre ao Papa
sucessor de Pedro, o qual proporciona através dos tempos a mesma felicidade e
obediência a Cristo. Porque Pedro reconheceu Jesus como o Filho de Deus ele
recebeu as chaves do Reino dos céus. São Pedro juntamente com São Paulo foi o
fundamento da Igreja primitiva e por conseguinte de nossa fé cristã. Por isto são
celebrados neste dia por serem estes Apóstolos do Senhor, testemunhas que na
primeira hora viveram os primeiros momentos da expansão da
Igreja e selaram com seu sangue a fidelidade a Jesus. Eles nos concitam a uma
fidelidade absoluta à Igreja de Cristo. Nós cristãos do século vinte e um
possamos ser testemunhas fidedignas do amor de Deus aos homens como o foram
estes dois Apóstolos que hoje festejamos No dizer do Papa Francisco,
gloriosamente reinante, nós devemos marchar, edificar e confessar que Jesus é o
Filho de Deus. Estaremos as recebendo toda a beatitude que recebeu Pedro e estaremos
imitando também Paulo que sempre foi fiel discípulo de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
quarta-feira, 14 de junho de 2023
RETIRA A
TRAVE DO TEU OLHO;
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Claro o preceito de Jesus com relação
ao julgamento do próximo (Mt 7,1-5). Somente Deus é o juiz (Sl 75,8). Ele é, de fato, o julgador supremo
de todas as criaturas e nenhum ser humano
tem o direito de julgar seja quem for. Mesmo que nós escutemos as palavras de Jesus,
mas não a observamos, não é Jesus que,
nos julgará, porque Ele veio ao mundo
não para julgar o mundo, mas para o salvar (Jo12,47). Nós mesmos é quem nos
julgamos, pois, como bem mostra a psicologia, transferimos muitas vezes para os
outros nossos próprios defeitos. Eis porque é de bom alvitre pedir ao Mestre
divino que seu amor misericordioso habite em nosso coração para que saibamos
dar graças a Deus por tudo de positivo que
se acha em nossos irmãos. Isto nos impedirá querer tirar a trave do olho
dos outros. Além disto, com a medida com que julgamos os outros é com ela que
nós mesmos somos julgados. Pelo exemplo da trave e do argueiro Jesus quer nos dizer que nós
devemos melhorar a nós mesmos antes de procurar melhorar os outros. De uma
parte nosso amor próprio nos impede de ter uma visão objetiva de nossos atos em
relação aos dos outros. Como diz Rupert
de Deuz, talvez o que tu vês ou crês ver no olho de teu irmão, não seja
mesmo uma trave, mas a sombra de uma trave e tu vês mal e tu discernes mal,
porque tu não vês a trave de teu olho.
De outra parte não se trata de ter a falsa humildade de me purificar de minhas
pequenas faltas para mostrar o exemplo a meus vizinhos que devem se corrigir de
enormes pecados. Não se trata da verdadeira humildade que consiste de ser
convencido desta verdade que sou, tantas vezes, bem pior que os outros. Além
disto, se eu vejo os outros cometer os pecados mais horríveis, que sei eu de
suas intenções ou das circunstâncias
daquela ação? E quem me diz eu
não cairei na mesma tentação um dia? Era a convicção de Santa Teresinha do
Menino Jesus: “ Eu reconhecia que sem
Ele eu teria podido cair tão baixo que
santa Madalena e a profunda palavra de
Nosso Senhor a Simão repercutia com uma grande doçura em minha alma (Eu o sei: ”Aquele a quem se
perdoa menos, menos ama” (Lc 7,40-47) , mas eu sei também que Jesus me remiu
mais que a santa Madalena pois que Ele me remiu preventivamente impedindo-me de
cair”. Esta Santa compreendeu
perfeitamente o que o Mestre divino ensinou sobre a relação de seus seguidores
uns com os outros. Ele foi taxativo “Não
julgueis os outros para que não sejais vós mesmos julgados!”. É de se notar
que a palavra julgar pode ser interpretada de vários modos, ou seja, condenar, discernir
entre o que o bem e o mal ou ainda
disciplinar o próximo. Quando, porém se examina
outras declarações de Jesus e do
Novo Testamento, fica claro que Cristo interdiz é uma condenação que não é de acordo com a justiça. Pelo contrário, trata-se da capacidade de
discernir entre o que é bem e mal, ilusão e realidade, o verdadeiro e o falso,
o que é direito e injusto. Cumpre ter cuidado de não criticar a torto e a
direito sem conhecer os verdadeiros motivos que levara àquela ação. Julgar é
delicado e exige muita humildade. Deus quer que saibamos discernir o que é
conforme a sua vontade e o que é uma violação de sua santidade e de sua justiça. O que Jesus interdiz é um julgamento que
provém de um espírito amargo e crítico, que quer se vingar, que se exalta
simplesmente rebaixando o outro. Condena os hipócritas que condenam o próximo ficando cegos sobre
seu próprio modo de ser. Antes de
levantar uma acusação contra o próximo,
devo me assegurar que eu sou Isento daquela culpa por dois motivos.
Primeiramente porque eu serei medido da mesma maneira pela qual eu avaliei o meu próximo e, depois,
porque é fácil de me enganar, se meus valores
são motivações egoístas. Portanto antes de julgar e condenar alguém,
convém prudência e um sério exame de si mesmo. Preciosíssimas lições que fluem das
palavras de Jesus, as quais devem orientar nosso modo de tratar os outros. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
VINDE
A MIM, DISSE Jesus
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O
Evangelho nos diz que Jesus “Vendo as multidões, teve compaixão delas porque
estavam fatigadas e abatidas como ovelhas sem pastor/” (Mt, 9,36-10.8).
Percorrendo nosso mundo deparamos, de fato, esta triste realidade descrita pelo
Filho de Deus. Os dirigentes muitas
vezes mais se preocupam com o poder e dinheiro próprio e não têm olhos
para ver a miséria em seu derredor. Muitos os desesperados, torturados,
esfaimados, É a eles que se dirige Jesus, Aquele que pode trazer esperanças de
uma vida melhor através de seus ministros dedicados que, com generosidade, podem dulcificar
tantos sofrimentos por meio da luz de sua doutrina, desanuviando as trevas do sofrimento e fazendo
degustar a alegria perdida, mas tão
desejada O povo de Israel podia melhor
que nós captar a ideia do papel de um bom pastor e sabia
exatamente a importância de sua missão na assistência a suas ovelhas. Jesus por
meio de seus ministros, bons pastores, desejava e deseja sempre através dos
tempos que haja bons pastores que possam direcionar os desorientados que
almejam bem conceituar o sentido da vida. Eis porque Jesus escolheu os doze
apóstolos que teriam seus sucessores séculos afora para virem de encontro aos
sofredores, pregando a solução de seus problemas, expulsando os demônios, valorizando
seus sofrimentos oferecidos em reparação dos pecados que são a fonte de tantos
males. A mensagem de Jesus condoído pelos moléstias que tantos padecem é uma
mensagem de paz, de amor que pode sanar as enfermidades, curar suas feridas,
oferecendo a certeza de uma felicidade perene junto dele numa eternidade feliz,
esperança esta que ampara sempre nas tormentas da vida. Jesus veio a este mundo
como o Messias salvador e nele se pode inteiramente confiar e com Ele vencer
nas procelas que surgem na existência humana neste vale de lágrimas. É a
verdadeira fé que leva cada um a poder afirmar: “Jesus é o meu salvador”. Então
se compreende o valor da prece confiante a sustentar o cristão nos momentos
mais tenebrosos. Hoje mais do que nunca cumpre se peça a Jesus que envie
operários para sua messe que possam continuar sua obra redentora. Entretanto,
se é verdade que cabe aos sucessores dos
Apóstolos estarem na primeira linha de amparo aos sofredores, cabe a cada
cristão, seja onde ele estiver; ser também a guarida corajosa a seus irmãos. O
batizado não pode ser um mero usufruidor do amor de Jesus. Deve ajudar o Mestre
divino na sua obra de consolação dos aflitos nas mais diversas circunstâncias.
São Vicente de Paulo, que afirmou que “o estado de sofrimento é uma felicidade
porque ele santifica as almas”,
declarou que “o amor não pode ficar ocioso, é preciso socorrer o doente e o
assistir tanto quanto se pode em suas necessidades e em suas misérias, cuidando
de o livrar das mesmas em tudo ou em parte”. Nunca o cristão pode se esquecer
das palavras de Jesus “o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a mim que o
fizestes”. Socorrer o irmão doente é socorrer o próprio Cristo. À sombra da
Cruz de Jesus ir ao encontro dos que padecem males físicos ou morais, os que sofrem
violências familiares, que padecem nas ruas, os alcoolizados, os drogados.
Trata-se da caridade redentora, de toda forma de generosidade e de amor para
com os que sofrem e que jazem numa necessidade de amparo fraternal. Isto
significa viver o espírito de Cristo, fixando nele nossa fé e a dedicação ao
próximo que sofre. Segundo o Profeta
Isaias Jesus na sua Paixão se tornou “familiar do sofrimento” e assim durante
seu ministério mostrou sua compaixão, reflexo da compaixão do Pai. Cristo bebeu
o cálice do absoluto despojamento do amor próprio, e se fez nosso modelo. Como
escreveu São Paulo aos Filipenses Ele “subsistindo na natureza de Deus, não
julgou o ser igual a Deus um bem a que não devesse nunca renuciar, mas
despoujou-se a si mesmo, tomndo a natureza
de servo , tornando-se semelhante
aos homens e reconhecido como homem por todo o seu exterior, humilhou-se a si
memso fazendo-se obediente até a morte e
à morte de cruz (Fil 2,6). Tornou-se
assim para nós um modelo de total abnegação. Ele dissse aos peregrinos
de Emaus que era preciso que Ele sofresse para entrar na sua glória (Lc
24,26). É sobretudo no serviço aos sofredores que o cristão pode, de fato,
imitar o Mestre divino, fazendo-se tudo para todos. Seus sofrimentos foram o
fruto maduro de sua imensa caridade e
seu amor o levou até a dar sua vida por todos os homens. Ele se fez o Cordeiro
que tira os pecados do mundo na sua grandiosa dileção pelos que padecem os
males nessta terra. O autêntico cristão imita a Jesus e vai de encontro a todos
as dores do próximo, aliviando-lhe seus padecimentos. * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 31 de maio de 2023
ACOMPANHAR SEMPRE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Evangelho fala de um chamado especial de Jesus, a vocação do publicano
Mateus (Mt 9.9-13). O Mestre divino preparou um pequeno grupo de discípulos que
deveriam continuar sua missão de salvação. Ele toma aqueles que Ele quer:
pecadores ou pessoas de uma tarefa humilde. Assim sendo. Ele chama inclusive um
publicano, quem exercia uma profissão que era mal vista pelos judeus, dado que os
publicanos recebiam impostos em nome do governador romano ao qual eles não
queriam se submeter. O apelo de Jesus foi claro: “Segue-me”. Mateus então
abandona sua profissão e envolto numa profunda alegria oferece a Cristo um
festim para expressar seu agradecimento. Muitos publicanos e pecadores se
puseram à mesa com Jesus. Os fariseus não se calaram e abordaram os discípulos:
“Porque vosso Mestre come com os publicanos e pecadores”? Tendo escutado isto,
Jesus imediatamente dá a resposta em nome dos seus discípulos: “Não precisam de
médico os que têm boa saúde, mas os doentes “. A analogia era perfeita: “Eu não
vim chamar os justos, mas os pecadores”. Atualíssimas estas palavras de Cristo,
pois Ele continua a nos chamar para segui-lo, cada um segundo o sua condição e
sua profissão. Seguir Jesus quer dizer muito frequentemente abandonar paixões desordenadas,
maus comportamentos familiares, a perda do tempo que deveria ser consagrado à
oração, ao banquete eucarístico, à evangelização. Enfim, tudo isto quer dizer
que um verdadeiro cristão, conforme ensinou Santo Inácio de Antioquia, não é
seu próprio mestre, mas se oferece sempre ao serviços de Deus. É certo que
Jesus exige mudanças na vida de quem acatou seu chamado, tanto mais que o ser
humano pode e deve aprimorar-se continuamente. O que passou entre Jesus e Mateus
nós não o sabemos, mas pelo texto do Evangelho sabemos que houve um chamado bem
correspondido. Sob o olhar de Jesus aquele que Ele chamou e outros que
constituiriam o Colégio apostólico, cada um pôde se conhecer, reconhecer sua fraqueza e o
caminho pessoal de cada um lhe permitia reconhecer os outros para os atrair
para o Mestre divino. A Boa Nova não era para indivíduos isolados, era para um grupo de pessoas e
Jesus deixou claro que Ele viera chamar não os justos, mas os pecadores
arrependidos. Esses então atrairiam outros para o ideal pregado por Cristo. Eis aí o valor da palavra e do bom exemplo
pelos quais se pode evangelizar num acolhimento que não exclui, mas salva. Ser salvo é ser acolhido por Jesus no seu
reino de Justiça e de Paz. Além disto, de numa maneira espiritual, há também a
salvação na participação na vida trinitária, pois nos tornamos filhos adotivos
do Pai. Trata-se, portanto de viver numa comunhão pessoal e íntima com Deus
nosso Pai. Deve-se então compreender a salvação como a expressão do amor de Deus
que nos estabelece numa nova relação com Deus e, assim sendo, devemos entender
a salvação como um dom e acatar em tudo a santíssima vontade divina. Ao seguir os planos divinos o homem não pode
se tornar Deus, mas Deus pode fazer do homem seu filho. Ao seguir em tudo a
vontade de Deus o homem se estabelece numa relação nova com Deus. Seguindo o
desígnios divinos cada um pode e deve participar do amor infinito que existe
entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Significa, portanto, ser amado e
participar do amor de Deus. Foi o que aconteceu com Mateus e fez dele um
admirável seguidor de Cristo. Mais tarde Mateus, tornando-se um notável
evangelista registrará estas palavras de Jesus: “Não é aquele que diz Senhor, Senhor,
que entrará no reino dos céus, mas sim, aquele que faz a vontade de meu Pai que
está nos céus. (Mt 7,21). Portanto, seguir em tudo o chamado de Deus representa
viver o dom deste chamamento A questão que se põe não é saber o cristão o que
ele deve fazer para merecer o céu, mas saber como se obedece ao apelo de Deus e
isto tão prontamente como ocorreu com Mateus. Note-se que a infidelidade mata o
dom recebido, pois não seguir logo o apelo de Deus se mata o dom precioso de
seu chamado. Está no Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo.” (Ap 3,20). Foi
o que fez Mateus e nos deixou tão valioso exemplo. Ele abandona imediatamente o
seu serviço e segue Jesus! Isto significou uma conversão total. Jesus chamou um
pecador que se converte plenamente Vemos
que Jesus nos mostra duas verdades: Deus olha o coração do homem que Ele chama quando
quer e como Ele quer. Deus vem a cada um não importa sua situação espiritual.
Ele o santificará. Em segundo lugar o importante é nunca fechar a porta ao
chamado divino. Cumpre atendê-lo e se colocar ao serviço dos outros e da palavra
com fez Mateus. Abrir-se sempre a porta do coração e se esteja atento aos
desígnios divinos. O que disto resultará está nãos mãos de Deus * Professor no seminário de Mariana durante 40
anos.
terça-feira, 23 de maio de 2023
SANTÍSSIMA TRINDADE
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
Fé de todos os cristãos se concentra na Santíssima Trindade. O amor de Deus
alcança seu mais alto grau ao sacrificar o seu Filho unigênito, isto é, Jesus,
o Verbo encarnado, por todos e cada um dos homens. Deus quer, portanto, a
salvação de todos e não sua condenação e todos os homens ao crerem nele, isto
é, em Jesus Redentor, podem ter a vida eterna. (João 3, 16-18). Deus salvou o
mundo através de Jesus, porque Ele é amor e se Ele é amor é Trindade e esta revelação
está no centro da mensagem cristã. Com efeito, se entende que Deus é amor neste
sentido que Deus age a nosso respeito com misericórdia, solicitude e ternura, e
isto o povo de Israel o sabia e o Corão não o rejeita também. Neste caso se
pode dizer somente que Deus nos ama, mas não que Deus é amor. Como nós podemos dizer de cada um de
nós que nós amamos tal ou tal pessoa ou coisa, mas isto não nos permite de
dizer que nós somos amor. Ora a revelação do Novo Testamento vai até dizer que
Deus é Amor. A revelação cristã chega à vida íntima de Deus, sobre seu ser e
não sobre o seu simples agir ou sentimento. O Senhor se revelou junto dos homens
pela sua solicitude por nós, por intenções benevolentes junto dos homens. Com
Jesus Cristo, porém, vamos além da simples compreensão da manifestação do amor
de Deus. Nós podemos compreender que não somente Deus age com amor e por amor,
mas que Ele e é o amor mesmo. Com Jesus Deus se revelou como comunhão de amor
entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Se podemos dizer que Deus é por
essência amor, é porque nós cremos que
Ele não é solitário. Com efeito, não há amor senão se há uma pessoa que ama e
uma pessoa amada. Se eu não amo nada nem pessoa alguma, a rigor eu posso ter um
desejo de amor, mas eu não posso dizer que eu amo. Eu não posso dizer que eu
amo senão se há uma pessoa ou um objeto para o qual meu amor se orienta. Ao
dizer que Deus é amor significa que nele mesmo e independentemente da criação
há nele uma possibilidade de relações. Dizer que Deus é amor é dizer que há nele
mesmo uma pessoa que ama e uma pessoa amada.
Isso porque o amor não existe em teoria, nem de maneira abstrata, ele
não existe senão na realidade de uma relação.
Eis porque a revelação da Trindade vai de par com a revelação da
essência de Deus como amor. É o mistério mesmo do amor que está no princípio e
no fim de nossa existência. Cada uma das três pessoas não existe por ela mesma,
ela não existe senão sendo pelas duas outras pessoas. O Pai não existe como Pai
distinto do Filho ao qual se dá inteiramente. O Filho não existe como Filho distinto
do Pai senão sendo todo inteiro um elã de amor para com o Pai. O Pai não existe
como uma pessoa constituída nela mesma e por ela mesma, mas é o ato de engendrar
o Filho que O constitui como pessoa. O Espírito Santo é por sua vez o dom do
Pai ao Filho e a resposta do Filho ao Pai. O que é assim revelado é que a relação
de amor é a forma original de ser, isto é que o fundo do ser divino é esta comunhão
de amor. Deus nos ama porque o amor está nele. Esta realidade do amor de Deus, como
uma característica de seu ser, nos assegura também a realidade de seu amor. Ele
não pode deixar de nos amar, ou Ele não o seria o que Ele é. Seu amor para conosco é abertura da
comunicação do amor que constitui o seu ser. Nós não fazemos senão partilhar o
que constitui a relação do Pai com o Filho no Espírito Santo. Deus me ama porque Ele é amor (1 Jo 4, 7-10).
No lugar de uma força obscura, de uma
energia prodigiosa, mas sem visão, nós descobrimos na criação e na origem desta
a visão de um Amor que é Deus. Estas revelação de Deus Trindade é capital
porque ela permite ao ser humano se compreender a si mesmo. Criado à imagem e
semelhança de Deus o homem se compreende como fruto do amor divino. Criado à imagem e semelhança de Deus o homem
se descobre fundamentalmente como um ser de relações e comunhão. Todo homem
possui este desejo de amar e de ser amado, anelo que não se realiza plenamente
senão entrando em si mesmo e no acolhimento do outro. Nossa vocação fundamental
ao amor e à felicidade é, portanto, uma vocação, o dom e o acolhimento do
outro. O mistério da Santíssima Trindade
é portanto também essencial para aclarar nossa vida. Este mistério nos revela que
nos dispomos ao trabalho de uma conversão permanente que consiste em
ultrapassar nossa maneira equívoca de amar. Por tudo isto podemos compreender
que o mistério da Santíssima Trindade é o mistério do amor de Deus que é amor. Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos
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quinta-feira, 18 de maio de 2023
RECEBEI
O ESPIRITO SANTO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No
Evangelho de hoje Jesus nos mostra que seus seguidores, após Pentecostes, entram
plenamente de corpo de alma no movimento dinâmico, na nova maneira de ser:
“Assim como o Pai me enviou, também eu envio a vós [...] Recebei o Espírito
Santo” (Jo 20, 19-23). Cristo nos envia a
falar e a fazer as maravilhas de Deus. Maravilhas, de fato, da misericórdia que
é preciso anunciar de verdade. Ele nos envia como Ele mesmo foi enviado, não
somente a comparação vale para a evangelização, mas também vale para a maneira
de a fazer, porque nós evangelizamos pela e com nossa humanidade, nossas
palavras e nossos gestos, mas uma humanidade renovada dado que num liame direto
e muito íntimo com a sua santa humanidade que depois da Ascensão está junto
do Pai. Esta relação é tão intima que
com São Paulo é preciso falar de uma real unidade, ou seja, aquela de um só
corpo cuja Cabeça está no céu. Entretanto os membros deste corpo ficariam sem
vida se o Sopro de Deus que repousava outrora sobre as águas não viesse a soprar
com uma respiração divina neles mesmos. Jesus foi claro: “Do mesmo modo que o
Pai me enviou, eu também vos envio”. Tendo assim falado, Ele soprou sobre eles
e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”. Os discípulos já estavam repletos de
uma alegria inteiramente humana, ou seja, aquela de ter encontrado seu Mestre e
Amigo. Júbilo, outrossim, santo de reencontrar Jesus que veio até eles estando
as portas fechadas, com uma humanidade ressuscitada, mas verdadeiramente humana
dado que eles reconheceram os traços da efusão do sangue. Nova efusão nesta
manhã, ou seja aquela do Espírito Santo. O Verbo a eles se dirige e os convida
a ´receber, a acolher neles não algo que teriam que descobrir ou reconhecer com
suas forças, mas um Dom infinitamente além de tudo o que lhes era capaz de
conceber e esperar, dado que se tratava de Deus em pessoa, o Espírito Santo e é
de se notar que é Jesus que nos ordena de O receber: “Recebei o Espírito
Santo”. Neste final do Evangelho segundo São João, neste fim do tempo de
Páscoa, escutamos ressoar no fundo de nosso coração a voz da santa humanidade
de Jesus cujas palavras o Evangelista maravilhosamente gravou. Escutamos esta
voz que nos pede receber o Espírito Santo. São Paulo então emprega um termo bem
forte: “Todos fostes embebidos em um só Espírito” (I cor 12,13), Ora não se
pode ser embebido se antes não tenha provado e, na verdades, com uma sede que
faz intensamente desejar beber, tomar desta água. Isto conforme está no Salmo:
“Senhor meu Deus, de vós tem sede a minha alma, por vós anela o meu corpo languente
como terra árida sem água” (Sol 62,2). Abramos então a medida de nosso coração
para desejar um Dom tão precioso. Pentecostes é assim uma solenidade extraordinária,
pois nela inclusive a Igreja começou a existir, neste sentido em que ela
começou a se manifestar. Sua formação real e concreta é bem mais antiga. Certos
primeiros teólogos fazem remontar esta formação no começo da Encarnação do Verbo na Virgem Maria
no dia da Anunciação. A Igreja não pode se desenvolver exteriormente com
justeza no mundo senão na medida em que
ela não cessa de retornar aos fatos de sua formação. Há um duplo movimento
a viver neste dia para nós. Um movimento retrospectivo e um movimento
prospectivo. Este mostra a Igreja que sai de si mesma quando Jesus envia ao
mundo os Apóstolos. Cumpria vencer os temores ao experimentar a paz e a alegria
pela presença do Ressuscitado que imprime confiança ao degustar seu amor
misericordioso. Receber o Espírito Santo é fundamentalmente para a libertação
nossa e dos outros. A maravilha de Pentecostes deve nos levar a sermos os
arautos desta libertação prometida. Devemos fazer de nossos dias um Pentecostes
contínuo onde quer que estejamos. Como é então que anunciamos estas verdades? Trata-se
de levar o Evangelho onde quer que agimos. Cumpre partilhar com os irmãos a Boa
Nova. Nossa fé não pode ser uma doce ilusão, mas deve ser real e concreta nos
levando às últimas consequências de nossa adesão completa ao divino
Ressuscitado. É por isto que Ele está a nos mandar: “Recebei o Espírito Santo”.
Saibamos cultivar e colher seus sete dons vivendo sempre na sua presença
santíssima. Peçamos sempre a Ele seus doze frutos e Ele nos santificará e
iluminará em todas as circunstâncias de nossa vida.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 11 de maio de 2023
ESTAREI SEMPRE CONVOSCO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Clara a promessa de Jesus: “Eu
estarei convosco todos os dias até fim dos tempos” (Mt 28,16-20). Depois destas palavras os
discípulos O viram se elevar e desaparecer a seus olhos em uma nuvem. Cristo
havia terminado seu percurso nesta terra ao lado de seus apóstolos e sua preleção
acabara neste mundo e se dá então sua
admirável ascensão aos céus onde está assentado à direita de Deus. Jesus era
bem o Messias prometido por todos os profetas. Entretanto, sua partida para o
céu não significou que tudo estava terminado e que não seríamos órfãos do
Mestre divino. A palavra de Jesus não terminara aqui em baixo na terra. Ela vai
continuar mais do que nunca, dado que os onze apóstolos receberam a missão de
ir pelo mundo inteiro para proclamar a
Boa Nova. A palavra de Jesus que durante sua vida terrestre tinha se confinado
em Jerusalém e na Galileia, não tendo ultrapassado a não ser excepcionalmente
as fronteiras do pais, agora ela iria se expandir em todo o império romano. O
Livro dos Atos dos Apóstolos que nos relatam o trabalho das primeiras
comunidades cristãs nos revela que não somente a Palavra de Deus vai atingir o mundo
inteiro, mas ela contudo não perderá nada de sua eficácia. Sobretudo os apóstolos Pedro e Paulo não somente
anunciam a mensagem de Jesus, mas eles também fazem milagres tão admiráveis
como aqueles do divino Mestre. Com efeito, eles curam os cegos, os coxos e
mesmo até ressuscitam mortos. Os corações deveriam se abrir à sua luz para
fazer compreender a esperança que traz consigo seu apelo, a glória sem preço da
herança que deviam partilhar com os fiéis e o poder infinito que tocaria os que
acreditassem.
A misericórdia e o poder do Senhor
não haviam terminado para os homens, porque Jesus se fora para junto do Pai.
Bem, ao contrário, mais que nunca, embora ausente, Jesus continuaria sua obra
entre seus discípulos, ou mais precisamente pelos seus apóstolos. Se as
maravilhas e os milagres divinos continuavam a se manifestar aos homens é que
os discípulos com toda a sua Igreja seriam os continuadores da obra de Jesus e,
mesmo melhor, a Igreja que é o corpo de Cristo e por ela é Cristo que continuaria
sua obra. É certo que Jesus foi elevado corporalmente diante de seus discípulo,
mas continuaria a lhes falar e agir com eles e por eles de uma maneira
inteiramente nova. Eis porque o Evangelho de hoje coloca em seus lábios estas
palavras: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Mesmo
assentado à direita do Pai, Cristo continuaria a agir, estando Ele no coração
de sua Igreja. De uma certa maneira Ele está muito menos ausente do que se
possa imaginar. Eis porque Ele deu a entender a seus discípulos que seria mais
vantajoso que Ele se fosse. Ele estaria, porém, com eles até o fim dos temos,
até o seu retorno em sua glória. Cumpre, pois, compreender o mistério da Ascensão
tendo em vista duas realidades que parecem opostas. De uma parte, nos era
proveitoso que Jesus fosse para junto do Pai e de outra parte também sua
ausência aparente, que esconderia sua presença, era útil, pois se Ele nos
deixava fisicamente era para nos estar presente espiritualmente de uma maneira
mais eficaz. Toda narrativa dos Atos dos Apóstolos tende a demonstrar a
veracidade desta dupla afirmação que parece contraditória. No início dos Atos
dos Apóstolos, a narrativa que nos é feita da primeira comunidade cristã nos
mostra que os discípulos não compreendiam ainda plenamente esta realidade da
presença espiritual e ativa de Jesus na sua Igreja. Até o dia de Pentecostes os
apóstolos ficavam fechados em casa, tinham medo. Seria preciso que a promessa
de Jesus se realizasse, promessa de lhes enviar o Espírito Santo. Esse lhes
daria então não somente a lembrança de Jesus e de suas palavras para anunciarem
a Boa Nova aos homens, mas seria em seu coração e na sua vida a força e o poder
do Mestre divino. Isto fará mais do que cobrir o vazio deixado pela sua partida,
pois é isto que fará da Igreja o Corpo Místico de Cristo e cobriria
espiritualmente a distância criada pela partida física de Jesus. Espiritualmentev
a partida de Cristo e a vinda do Espírito Santo fazem que Jesus esteja hoje
mais presente em sua Igreja e em cada um de nós, porque na Igreja nós somos o
Corpo de Cristo. Deus Pai lhe a tudo submetido e O colocando no mais alto que
tudo Ele fez dele a cabeça da Igreja que é seu corpo e a Ele Deus O cumula
totalmente de sua plenitude. Tornar-se cristão será pois para nós, antes de
tudo crer, que Cristo Jesus não está ausente de nossas vidas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
segunda-feira, 1 de maio de 2023
OUTRO DEFENSOR
ESTARÁ SEMPRE CONVOSCO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
liturgia deste domingo já orienta nosso olhar para a festa de Pentecostes, dado
que acentua a obra do Espírito Santo
na
comunidade dos cristãos. Jesus promete claramente
a vinda do Espírito divino para estar conosco para sempre
(Jo
14, 5-21). Cristo com sua partida, ou pelo menos com sua ausência sensível,
poderia, de fato, nos fazer sentir
abandonados,
órfãos como que entregues a nós mesmo e
distantes ante palavras e gestos colocados no passado.
Jesus,
porém, nos convida a acolher o dom do Pai, isto é, o Espírito Santo derramado
em nossos corações como o
grande
defensor, o protetor de nossa fé e o pedagogo para nossa vida espiritual. Deste
modo, de uma certa maneira, o
que
não nos deixa jamais sozinhos e de outra parte em nos guarda nele como nosso
defensor e enfim a nos ampara nele
como
nosso mestre espiritual. É desta maneira
de estar conosco que o Espírito Santo poderá derramar seus sete dons
para
acabar a obra do Pai realizada por Jesus: dom da sabedoria, do conselho e da
fortaleza, dom da inteligência e da
ciência,
dom da piedade e do temor do Senhor. Através dos tempos vivemos na Igreja toda
uma renovação espiritual
em
torno do Espírito Santo para lhe dar o
lugar na vida da Igreja e da vida espiritual dos cristãos. Note-se em 1938
a
obra do jesuíta Pe. Victor Billard, que escreveu sobre o Espírito Santo, obra intitulada “Ao Deus desconhecido”.
Depois
toda uma preparação da celebração do concílio Vaticano II e a renovação
carismática. Tudo isto nos levou
a
uma profunda relação com o Espírito divino como o autor central de nossa vida
espiritual, como hospede interior,
nosso
mestre espiritual, que incrementa nossa
fé, esperança e caridade. Em uma relação pessoal e íntima com Aquele
que
já quando na preces nós temos o tempo da escuta, nós criamos o espaço que O
permite agir em nós. Entramos assim
num
diálogo com aquele que faz de nosso corpo seu Templo, ou seja, o lugar do encontro
e da celebração, aquele que
habita
no mais íntimo de nós mesmos e deseja nos transformar inteiramente. O batismo e a
confirmação nos dispõem
de
maneira permanente a esta escuta e a um diálogo com o Espírito para nos deixar
agir por Ele. É assim por esta obra
do
Espírito em nós que a vida das palavras de Jesus se tornam atuais e sempre
novas para cada um de nós e para toda
sua
Igreja. Sem Ele nossa vida religiosa e espiritual não seria senão uma mera
comemoração de um passado que se foi,
mas
com Ele tudo se faz atual e novo e Ele nos orienta para a plena realização das promessas
das quais a ressurreição de
Jesus
constitui a garantia. Eis porque Jesus nos diz: “Dentro em breve o mundo não me
verá mais (porque não recebeu
o
Espírito Santo), mas vós (que O haveis
recebido) vós me vereis vivo e vivereis também”. Eis, portanto, bem o cerne
da
relação com Deus, da vida com Deus, vivendo sua palavra, portanto, não somente
O conhecendo mas nele vivendo.
Peçamos
então ao Espírito Santo que venha nos iluminar, nos ensinar a assim bem viver
no amor do Senhor.
Trata-se,
porttanto, da participação da plenitude divina.
Incorporados em Deus, sob o influxo do Espírito divino, nós
Estaremos
imersos na fonte da vida de Deus que habita em nos. Eis porque nós não obstantes
nossas misérias,
podemos
e devemos estar em tertúlia contínua com o Senhor. Eis a maravilha que opera em
nós o estado da graça
santificante.
Jesus foi claro: “Aquele que recebeu os
meus mandamentos e lhes resta fiel, é aquele que me ama; e
Aquele
que me ama meu Pai o amará, eu também o amarei e me manifestarei a ele (Jo
14,21). Deste modo o cristão
vive
na presença de Deus. Não há, deste modo, lugar para outros desejos ou
pensamentos que nos façam perder
tempo
e nos impeçam de fazer a vontade divina. A presença de Deus em nossa vida nos
ajudará a descobrir e a
realizar
neste mundo os planos que a Providência nos destinou. O Espiritado Senhor suscitará
em nossos corações
iniciativas
que colocaremos no princípio de todas as atividade humanas. Seremos assim verdadeiros
filhos de Deus
e
nos sentiremos seus amigos em todo o lugar e instante, em todas as circunstâncias
de nossa vida. Toda a luz e
todo
o fogo da vida divina se expandirá sobre o cristão que está assim disposto a
receber o dom da habitação divina.
Trata-se
de penetrar na frequentação contínua da Trindade Santa, pois o Divino Espírito
Santo está em nós. O cristão traz em em si mesmo esta grandeza infinita
conforme mostra a religião verdadeira. Uma vida cristã é estar conectada no
Espírito
divino. Vê-se bem então forças sobrenaturais entro de nós. Além disto, é este Espírito
que nos defende de
todas as formas de realidades terrestres. Eis ´porque se
vê na História da Igreja o número de perseguições que têm por fim fim impedir
a vida espiritual. A própria interdição dos cultos públicos é uma maneira de destruir a vida
espiritual. *Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 27 de abril de 2023
23 Quem me viu, viu o Pai
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
segunda-feira, 17 de abril de 2023
AS OVELHAS CONHCEM SUA VOZ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
De domingo a domingo, especialmente neste tempo pascal, a liturgia da Igreja vem até nós com a mesma mensagem de esperança. Embora os tempos sejam difíceis e os anos passem com seu conjunto de provas pessoais, familiares, eclesiais. O que faz viver o seguidor de Cristo é a certeza absoluta de que Jesus está vivo, Ele é o Bom Pastor que cuida com amor suas ovelhas e que estas O conhecem, pois escutam a sua voz. Ele está presente na sua Igreja. Não nos é dado vermos a Cristo, que nós não tocamos cada dia, nem voluntariamente os sinais de sua ação, mas nós temos um meio maravilhoso de estarmos unidos a Ele, pois onde nós estamos nos basta abrirmos os ouvidos para escutar a voz do Pastor: “Minhas ovelhas escutam a minha voz e eu as conheço e elas me seguem”. É que Jesus é a porta e se alguém entrar por Ele será salvo, porque entrará e sairá e encontrará pastagem. Existe uma espécie de conivência entre as ovelhas e o pastor e a voz do pastor não é sempre uma voz que se impõe. Simplesmente de um tempo a outro o pastor fala, como que para dizer: “Eu estou lá e as ovelhas escutam minha voz e a seguem”. É bem isto que nos leva a reagir e difundir esta voz de Cristo que rediz: “Eu estou lá contigo. Eu estou lá por vós e te conheço. Eu te darei a vida eterna e jamais tu me perderás”. Nós não nos perderemos porque seremos defendidos pelo Bom Pastor. Este para nós é não somente uma voz que se faz ouvir, pois é uma mão que nos sustem e que nos protege. Jamais nada nem ninguém não poderão nos arrancar da mão de Cristo, porque o Bom Pastor nos guarda e nos protege como um presente que o Pai lhe fez: “Eles eram teus e tu os destes a mim e eu não perderei nenhum deles” (Jo 17, 6.12). Nós somos de Cristo e de Deus Pai, Ele que é maior que tudo. Ele faz e nós escutamos a voz deste Pastor, porque o Pai quer salvar o homem e assim nos deu um tal pastor para nos conduzir à vida eterna. Este Pastor, realmente, nos assegura sua presença, nos segura pela mão, a ovelha O escuta e O acompanha. Admitidos na intimidade do Pai com Cristo, por Cristo e em Cristo somos como o Bom Pastor enviados cada dia, cada hora a marchar até o final de nossa caminhada terrestre, até o dom de nós mesmos, de acordo com o que afirmou ao Apóstolo Paulo no ocurso de sua missão: “Eu fiz de ti a luz das nações, para a graças a ti a salvação chegue até as extremidades da terra” (Ac 13,47). Assim a ovelha é portadora da mensagem do Bom Pastor no horizonte de sua vida, ou seja, no seu lar, no seu trabalho, nas relações sociais, no diálogo com os amigos, em todo movimento de solidariedade e até mesmo nos instantes de solidão através da prece intensa. Extenso, portanto, o horizonte de quem escuta a voz do Bom Pastor e a segue. Uma multidão imensa de todas as nações, multidão em marcha na qual se aprende a se conhecer como ovelha arauto da mensagem sublime do Mestre divino. Muitas vezes a ovelha é provada e a prova se faz mais pesada, a fidelidade mais difícil, o desvio da rota se torna possível e a esperança se afasta de nós mesmos ou daqueles que nós amamos. O Bom Pastor, porém, é maior que tudo e não nos deixa transviar. É a ternura dele que tem a última palavras e nos dirá: “Eu estou aqui, não desanimes”! O Bom Pastor é o senhor e o salvador. Hoje em dia há numerosos falsos profetas a nos chamando a segui-os, a viver segundo suas diretrizes. Eles impõem sua concepção da vida, sua ideologia. São os mercenários que assaltam as ovelhas de Cristo para viver a custa delas. Cumpre estar atentos, refletir antes de ceder às artimanhas do maus, dos visionários e fabricantes de milagres. Jesus, o Bom Pastor fala a nosso coração para que nós vivamos de sua vida, de seu amor na plena liberdade de nosso coração. Entre as palavras de Jesus insistamos nestas: “As ovelhas reconhecem minha voz e a seguem”. Isto significa que elas O seguem porque reconhecem sua voz e, assim O amam, Lhe são gratas como devem ser. O convite de Jesus nos leva a agir como Ele e consiste a entrar na salvação e cura do mundo que tem necessidade de nossa colaboração. Agir como Cristo, estar com Cristo, ser todo dele e trabalhar para glória do Pai como Ele. Escolher caminhar nas vias do Bom Pastor e o seguir, escutar e reconhecer sua voz. Ele estará sempre conosco. Não tenhamos medo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.