RETIRA A
TRAVE DO TEU OLHO;
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Claro o preceito de Jesus com relação
ao julgamento do próximo (Mt 7,1-5). Somente Deus é o juiz (Sl 75,8). Ele é, de fato, o julgador supremo
de todas as criaturas e nenhum ser humano
tem o direito de julgar seja quem for. Mesmo que nós escutemos as palavras de Jesus,
mas não a observamos, não é Jesus que,
nos julgará, porque Ele veio ao mundo
não para julgar o mundo, mas para o salvar (Jo12,47). Nós mesmos é quem nos
julgamos, pois, como bem mostra a psicologia, transferimos muitas vezes para os
outros nossos próprios defeitos. Eis porque é de bom alvitre pedir ao Mestre
divino que seu amor misericordioso habite em nosso coração para que saibamos
dar graças a Deus por tudo de positivo que
se acha em nossos irmãos. Isto nos impedirá querer tirar a trave do olho
dos outros. Além disto, com a medida com que julgamos os outros é com ela que
nós mesmos somos julgados. Pelo exemplo da trave e do argueiro Jesus quer nos dizer que nós
devemos melhorar a nós mesmos antes de procurar melhorar os outros. De uma
parte nosso amor próprio nos impede de ter uma visão objetiva de nossos atos em
relação aos dos outros. Como diz Rupert
de Deuz, talvez o que tu vês ou crês ver no olho de teu irmão, não seja
mesmo uma trave, mas a sombra de uma trave e tu vês mal e tu discernes mal,
porque tu não vês a trave de teu olho.
De outra parte não se trata de ter a falsa humildade de me purificar de minhas
pequenas faltas para mostrar o exemplo a meus vizinhos que devem se corrigir de
enormes pecados. Não se trata da verdadeira humildade que consiste de ser
convencido desta verdade que sou, tantas vezes, bem pior que os outros. Além
disto, se eu vejo os outros cometer os pecados mais horríveis, que sei eu de
suas intenções ou das circunstâncias
daquela ação? E quem me diz eu
não cairei na mesma tentação um dia? Era a convicção de Santa Teresinha do
Menino Jesus: “ Eu reconhecia que sem
Ele eu teria podido cair tão baixo que
santa Madalena e a profunda palavra de
Nosso Senhor a Simão repercutia com uma grande doçura em minha alma (Eu o sei: ”Aquele a quem se
perdoa menos, menos ama” (Lc 7,40-47) , mas eu sei também que Jesus me remiu
mais que a santa Madalena pois que Ele me remiu preventivamente impedindo-me de
cair”. Esta Santa compreendeu
perfeitamente o que o Mestre divino ensinou sobre a relação de seus seguidores
uns com os outros. Ele foi taxativo “Não
julgueis os outros para que não sejais vós mesmos julgados!”. É de se notar
que a palavra julgar pode ser interpretada de vários modos, ou seja, condenar, discernir
entre o que o bem e o mal ou ainda
disciplinar o próximo. Quando, porém se examina
outras declarações de Jesus e do
Novo Testamento, fica claro que Cristo interdiz é uma condenação que não é de acordo com a justiça. Pelo contrário, trata-se da capacidade de
discernir entre o que é bem e mal, ilusão e realidade, o verdadeiro e o falso,
o que é direito e injusto. Cumpre ter cuidado de não criticar a torto e a
direito sem conhecer os verdadeiros motivos que levara àquela ação. Julgar é
delicado e exige muita humildade. Deus quer que saibamos discernir o que é
conforme a sua vontade e o que é uma violação de sua santidade e de sua justiça. O que Jesus interdiz é um julgamento que
provém de um espírito amargo e crítico, que quer se vingar, que se exalta
simplesmente rebaixando o outro. Condena os hipócritas que condenam o próximo ficando cegos sobre
seu próprio modo de ser. Antes de
levantar uma acusação contra o próximo,
devo me assegurar que eu sou Isento daquela culpa por dois motivos.
Primeiramente porque eu serei medido da mesma maneira pela qual eu avaliei o meu próximo e, depois,
porque é fácil de me enganar, se meus valores
são motivações egoístas. Portanto antes de julgar e condenar alguém,
convém prudência e um sério exame de si mesmo. Preciosíssimas lições que fluem das
palavras de Jesus, as quais devem orientar nosso modo de tratar os outros. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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