quinta-feira, 18 de maio de 2023

 

RECEBEI O ESPIRITO SANTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho de hoje Jesus nos mostra que seus seguidores, após Pentecostes, entram plenamente de corpo de alma no movimento dinâmico, na nova maneira de ser: “Assim como o Pai me enviou, também eu envio a vós [...] Recebei o Espírito Santo” (Jo  20, 19-23). Cristo nos envia a falar e a fazer as maravilhas de Deus. Maravilhas, de fato, da misericórdia que é preciso anunciar de verdade. Ele nos envia como Ele mesmo foi enviado, não somente a comparação vale para a evangelização, mas também vale para a maneira de a fazer, porque nós evangelizamos pela e com nossa humanidade, nossas palavras e nossos gestos, mas uma humanidade renovada dado que num liame direto e muito íntimo com a sua santa humanidade que depois da Ascensão está junto do  Pai. Esta relação é tão intima que com São Paulo é preciso falar de uma real unidade, ou seja, aquela de um só corpo cuja Cabeça está no céu. Entretanto os membros deste corpo ficariam sem vida se o Sopro de Deus que repousava outrora sobre as águas não viesse a soprar com uma respiração divina neles mesmos. Jesus foi claro: “Do mesmo modo que o Pai me enviou, eu também vos envio”. Tendo assim falado, Ele soprou sobre eles e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”. Os discípulos já estavam repletos de uma alegria inteiramente humana, ou seja, aquela de ter encontrado seu Mestre e Amigo. Júbilo, outrossim, santo de reencontrar Jesus que veio até eles estando as portas fechadas, com uma humanidade ressuscitada, mas verdadeiramente humana dado que eles reconheceram os traços da efusão do sangue. Nova efusão nesta manhã, ou seja aquela do Espírito Santo. O Verbo a eles se dirige e os convida a ´receber, a acolher neles não algo que teriam que descobrir ou reconhecer com suas forças, mas um Dom infinitamente além de tudo o que lhes era capaz de conceber e esperar, dado que se tratava de Deus em pessoa, o Espírito Santo e é de se notar que é Jesus que nos ordena de O receber: “Recebei o Espírito Santo”. Neste final do Evangelho segundo São João, neste fim do tempo de Páscoa, escutamos ressoar no fundo de nosso coração a voz da santa humanidade de Jesus cujas palavras o Evangelista maravilhosamente gravou. Escutamos esta voz que nos pede receber o Espírito Santo. São Paulo então emprega um termo bem forte: “Todos fostes embebidos em um só Espírito” (I cor 12,13), Ora não se pode ser embebido se antes não tenha provado e, na verdades, com uma sede que faz intensamente desejar beber, tomar desta água. Isto conforme está no Salmo: “Senhor meu Deus, de vós tem sede a minha alma, por vós anela o meu corpo languente como terra árida sem água” (Sol 62,2). Abramos então a medida de nosso coração para desejar um Dom tão precioso. Pentecostes é assim uma solenidade extraordinária, pois nela inclusive a Igreja começou a existir, neste sentido em que ela começou a se manifestar. Sua formação real e concreta é bem mais antiga. Certos primeiros teólogos fazem remontar esta formação   no começo da Encarnação do Verbo na Virgem Maria no dia da Anunciação. A Igreja não pode se desenvolver exteriormente com justeza no mundo senão na medida em que   ela não cessa de retornar aos fatos de sua formação. Há um duplo movimento a viver neste dia para nós. Um movimento retrospectivo e um movimento prospectivo. Este mostra a Igreja que sai de si mesma quando Jesus envia ao mundo os Apóstolos. Cumpria vencer os temores ao experimentar a paz e a alegria pela presença do Ressuscitado que imprime confiança ao degustar seu amor misericordioso. Receber o Espírito Santo é fundamentalmente para a libertação nossa e dos outros. A maravilha de Pentecostes deve nos levar a sermos os arautos desta libertação prometida. Devemos fazer de nossos dias um Pentecostes contínuo onde quer que estejamos. Como é então que anunciamos estas verdades? Trata-se de levar o Evangelho onde quer que agimos. Cumpre partilhar com os irmãos a Boa Nova. Nossa fé não pode ser uma doce ilusão, mas deve ser real e concreta nos levando às últimas consequências de nossa adesão completa ao divino Ressuscitado. É por isto que Ele está a nos mandar: “Recebei o Espírito Santo”. Saibamos cultivar e colher seus sete dons vivendo sempre na sua presença santíssima. Peçamos sempre a Ele seus doze frutos e Ele nos santificará e iluminará em todas as circunstâncias de nossa vida.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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