terça-feira, 23 de maio de 2023

 

SANTÍSSIMA TRINDADE

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A Fé de todos os cristãos se concentra na Santíssima Trindade. O amor de Deus alcança seu mais alto grau ao sacrificar o seu Filho unigênito, isto é, Jesus, o Verbo encarnado, por todos e cada um dos homens. Deus quer, portanto, a salvação de todos e não sua condenação e todos os homens ao crerem nele, isto é, em Jesus Redentor, podem ter a vida eterna. (João 3, 16-18). Deus salvou o mundo através de Jesus, porque Ele é amor e se Ele é amor é Trindade e esta revelação está no centro da mensagem cristã. Com efeito, se entende que Deus é amor neste sentido que Deus age a nosso respeito com misericórdia, solicitude e ternura, e isto o povo de Israel o sabia e o Corão não o rejeita também. Neste caso se pode dizer somente que Deus nos ama, mas não que Deus   é amor. Como nós podemos dizer de cada um de nós que nós amamos tal ou tal pessoa ou coisa, mas isto não nos permite de dizer que nós somos amor. Ora a revelação do Novo Testamento vai até dizer que Deus é Amor. A revelação cristã chega à vida íntima de Deus, sobre seu ser e não sobre o seu simples agir ou sentimento. O Senhor se revelou junto dos homens pela sua solicitude por nós, por intenções benevolentes junto dos homens. Com Jesus Cristo, porém, vamos além da simples compreensão da manifestação do amor de Deus. Nós podemos compreender que não somente Deus age com amor e por amor, mas que Ele e é o amor mesmo. Com Jesus Deus se revelou como comunhão de amor entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Se podemos dizer que Deus é por essência amor, é porque   nós cremos que Ele não é solitário. Com efeito, não há amor senão se há uma pessoa que ama e uma pessoa amada. Se eu não amo nada nem pessoa alguma, a rigor eu posso ter um desejo de amor, mas eu não posso dizer que eu amo. Eu não posso dizer que eu amo senão se há uma pessoa ou um objeto para o qual meu amor se orienta. Ao dizer que Deus é amor significa que nele mesmo e independentemente da criação há nele uma possibilidade de relações. Dizer que Deus é amor é dizer que   há nele mesmo uma pessoa que ama e uma pessoa amada.  Isso porque o amor não existe em teoria, nem de maneira abstrata, ele não existe senão na realidade de uma relação.  Eis porque a revelação da Trindade vai de par com a revelação da essência de Deus como amor. É o mistério mesmo do amor que está no princípio e no fim de nossa existência. Cada uma das três pessoas não existe por ela mesma, ela não existe senão sendo pelas duas outras pessoas. O Pai não existe como Pai distinto do Filho ao qual se dá inteiramente. O Filho não existe como Filho distinto do Pai senão sendo todo inteiro um elã de amor para com o Pai. O Pai não existe como uma pessoa constituída nela mesma e por ela mesma, mas é o ato de engendrar o Filho que O constitui como pessoa. O Espírito Santo é por sua vez o dom do Pai ao Filho e a resposta do Filho ao Pai. O que é assim revelado é que a relação de amor é a forma original de ser, isto é que o fundo do ser divino é esta comunhão de amor. Deus nos ama porque o amor está nele. Esta realidade do amor de Deus, como uma característica de seu ser, nos assegura também a realidade de seu amor. Ele não pode deixar de nos amar, ou Ele não o seria o que Ele é.  Seu amor para conosco é abertura da comunicação do amor que constitui o seu ser. Nós não fazemos senão partilhar o que constitui a relação do Pai com o Filho no Espírito Santo.  Deus me ama porque Ele é amor (1 Jo 4, 7-10).  No lugar de uma força obscura, de uma energia prodigiosa, mas sem visão, nós descobrimos na criação e na origem desta a visão de um Amor que é Deus. Estas revelação de Deus Trindade é capital porque ela permite ao ser humano se compreender a si mesmo. Criado à imagem e semelhança de Deus o homem se compreende como fruto do amor divino.  Criado à imagem e semelhança de Deus o homem se descobre fundamentalmente como um ser de relações e comunhão. Todo homem possui este desejo de amar e de ser amado, anelo que não se realiza plenamente senão entrando em si mesmo e no acolhimento do outro. Nossa vocação fundamental ao amor e à felicidade é, portanto, uma vocação, o dom e o acolhimento do outro.  O mistério da Santíssima Trindade é portanto também essencial para aclarar nossa vida. Este mistério nos revela que nos dispomos ao trabalho de uma conversão permanente que consiste em ultrapassar nossa maneira equívoca de amar. Por tudo isto podemos compreender que o mistério da Santíssima Trindade é o mistério do amor de Deus que é amor. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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