segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O CRISTÃO NO MUNDO



O CRISTÃO NO MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Enquanto está neste mundo, o cristão, que caminha para a eternidade bem-aventurada do gozo da visão beatífica de Deus, deve estar convencido da importância da ciência de bem viver. Ele não é um alienado, mas deve valorizar o contato com a realidade terrena. Tudo que ele faz precisa leva-lo a um aprimoramento interior à luz de uma religiosidade profunda. O cumprimento do dever específico de cada um, segundo a vocação recebida de seu Senhor, necessita visar a harmonia humana na relação com a natureza e o próximo quer na família, no local de trabalho, nos lazeres, quer enfim em todos os contatos que se multiplicam a todo instante. Isto levado pela força divina da graça e percebendo assim por toda parte a presença daquele no qual “vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17,28). Então, impregnado de espiritualidade, o cristão pode povoar de Deus o meio em que vive numa ação afetiva e efetiva. Deste modo, se une tudo num concerto divino-humano, combinação sublime a proclamar sempre a glória do Criador. É que os pensamentos e as atividades, as realidades e seus reflexos possuem todos eles uma única fonte que é o Ser Supremo, mas nem todos têm disto total percepção que deve sobrenaturalizar todas as ações, inclusive o descanso. De fato, saber recrear-se alternando, criteriosamente, as atividades laborais e religiosas é uma questão de bom senso e condição de eficiência prática. Para o autêntico discípulo de Cristo não há modos secundários de vida, pois tudo se transforma em louvor a Deus conformando tudo à sua vontade santíssima. O grande problema é encontrar o meio termo para que se evitem os excessos condenáveis que impedem os efeitos salutares que engrandecem aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Todos temos a obrigação de viver poupando a vida das intemperanças que a arruínam. Aí entra o valor inestimável da prudência no agir cotidiano. É sabedoria saber usar através do exílio terreno uma marcha equilibrada, freando entusiasmos deletérios, dosando todas as atuações. É o louvável equilíbrio entre o tempo reservado às diversas ações e o lazer sem nunca dar lugar à indolência, seja ela        qual for. Além disto, é de se notar que a constância no trabalho diário supõe uma judiciosa distribuição das tarefas numa organização tal que impeça qualquer dispersão que pode também levar a uma situação esgotante e inútil. Ordem nas ocupações diárias é sinal de sensatez que tudo clarifica. A desordem deve ser banida da existência do cristão para que haja um progresso espiritual ininterrupto, do qual resulta uma profunda alegria que torna tudo deleitável. Desse modo o amor de Deus fundamenta a hierarquia dos valores, realizando a subordinação das forças de quem possui um corpo animado por uma alma espiritual. Evita-se assim o império de qualquer paixão e fraqueza que degradam e aviltam o homem. A todas estas considerações se acrescente a importância da convivência com os erros pessoais. Não se pode esquecer a veracidade do brocardo “errar é humano, perseverar no erro é diabólico”. É preciso sempre uma correção imediata e não desistir. Deve-se fazer dos equívocos uma impulsão para novas vitórias. Pueril e condenável seria desanimar na árdua marcha de uma existência virtuosa. Trata-se de repetir com o salmista: “Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito; um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar” (Sl 51,17). Então o cristão permanece firme como o rochedo batido pelas vagas. Percebe-se uma renovada força espiritual na busca constante das virtudes.  As almas nobres vivem uma vida bela e jamais desanimam na escalada da própria perfeição rumo à eternidade. Buscam uma vida pura, reta e corajosa guiadas por Jesus com quem tudo de bom se pode realizar. O Mestre divino nunca decepciona quem nele confia. A fé e a esperança de sólidas raízes conforta o autêntico cristão. Este combate o bom combate do bem e não descoroçoa nunca e se alegra porque o amor de Cristo o sustenta. Luta sob seu olhar e progride sempre sem nunca desfalecer.  Vive com destemor o conselho de São Paulo aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.” (Rm 12,2) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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