DEUS É AMOR
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São João assim se expressou: “E nós conhecemos, e cremos no amor que
Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele (1Jo
4,16). A primeira encíclica do Papa Bento XVI, datada de 25 de dezembro de
2005, foi Deus charitas est – Deus é amor e neste documento foi mostrado que em Jesus Cristo, que é o
amor de Deus encarnado, o “eros” – “ágape” alcança a sua forma mais radical. Ao
morrer pregado na cruz, Jesus, sacrificando-se
para salvar o ser humano, expressou o amor na sua forma mais sublime. Cristo
assegurou a presença duradoura desse ato de oferecimento através da instituição
da Eucaristia, na qual, sob as espécies do pão e do vinho, entrega-se a nós
como um novo maná que nos une a Ele. Que maravilha é ver Deus definido como amor! Receber a revelação do amor divino é
ganhar tudo; recusá-la é tudo perder. Ele nos amou primeiro (1 Jo 4,10).
Isto, outrora pela criação, depois pela redenção e, ainda hoje, em tudo que
fazemos, em tudo que pensamos, em tudo que queremos, estamos envoltos nesta dileção admirável do
Ser Supremo. É que, como ensinou Santo
Tomás de Aquino, o Bem é de si difusivo e Deus não é diminuído quando ama suas criaturas
e lhes oferece beatitude. Sua generosidade é sem limites. A maior felicidade do
ser humano é saber que seu Criador o ama desde toda eternidade. Ele, porém,
espera o nosso reconhecimento e quer que Lhe sejamos gratos, dilatando
livremente a capacidade de nosso coração para acolher com suma gratidão todos
os seus dons. Ele não quer ser visto como um Deus longínquo e inacessível, mas
alguém que habita dentro daquele que realmente O ama. O encontro com Ele deve
ser, por isto mesmo, duradouro com fervor crescente. Daí a importância de se
viver na Sua presença e perante Ele todo
proceder precisa, em consequência, ser reto numa adaptação contínua a Ele. Eis
aí a vocação do autêntico cristão. Apenas aquele que abandona conscientemente a
lei divina não O tem mais dentro de si mesmo. De fato, tão somente quem é justo ou que se esforça por ser justo
é quem tem o direito de dizer: “Meu Deus e meu tudo”. A vigilância paterna de
Deus não constrange, mas liberta e envolve a criatura em paz, serenidade,
imperturbabilidade. Para perseverar Ele oferece, ininterruptamente, seu
auxílio, mas quer correspondência plena a tanta bondade. É certo que mesmo os
que procuram ser fiéis a Ele deparam as obscuridades deste mundo, as incoerências
da vida, as perturbações do próximo, as divagações involuntárias da imaginação,
as tentações diabólicas. Estas provações são permitidas pelo Criador,
exatamente, como ocasião de provas de fidelidade a Ele. A alma algumas vezes
parece abandonada, elanguesce em certos dias e pode até ser visitada pela
desesperança, mas quem crê no poder da graça vence todos os obstáculos próprios
do exílio terreno. O que se esquece é que “a alegria nos assegura favores de
Deus; a dor e o esforço fazem-nos merecê-los” como bem se expressou o Pe.
Sertillanges. O tempo de Deus não é o tempo dos homens e sua providência agirá
sempre no instante em que for mais útil a cada um que nele confia. Santa Tereza
de Ávila mostrou que “o caminho da cruz é o que Deus reserva aos seus
escolhidos: quanto mais os ama, mais os sobrecarrega de tribulações. A coragem
em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor”. Deixou esta
santa esse admirável conselho: “Em tempo de tristeza e de inquietação, não
abandones nem as obras de oração, nem a penitência a que estás habituado.
Antes, intensifica-as e verás com que prontidão o Senhor te sustentará”. Certa
ocasião, diante do Santíssimo Sacramento, com o coração atribulado, após
instantes tormentosos, ela ao se sentir aliviada, indagou: “Senhor, onde
estavas nesta hora de tanta aflição?” Jesus lhe respondeu: “Estava dentro do
teu coração para te sustentar”. Este episódio extraordinário revela como,
realmente, Deus prova seus eleitos, mas sempre os ampara. Eis porque se deve rezar com fervor a oração
composta por esta santa: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, só
Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só
Deus basta”. É que, verdadeiramente, Deus é amor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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