segunda-feira, 3 de setembro de 2018

DEUS É AMOR


DEUS É AMOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 São João assim se expressou: “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele (1Jo 4,16). A primeira encíclica do Papa Bento XVI, datada de 25 de dezembro de 2005, foi  Deus charitas est – Deus é amor e neste documento  foi mostrado que em Jesus Cristo, que é o amor de Deus encarnado, o “eros” – “ágape” alcança a sua forma mais radical. Ao morrer  pregado na cruz, Jesus, sacrificando-se para salvar o ser humano, expressou o amor na sua forma mais sublime. Cristo assegurou a presença duradoura desse ato de oferecimento através da instituição da Eucaristia, na qual, sob as espécies do pão e do vinho, entrega-se a nós como um novo maná que nos une a Ele. Que maravilha  é ver Deus definido como amor!  Receber a revelação do amor divino  é  ganhar tudo; recusá-la é tudo perder. Ele nos amou primeiro (1 Jo 4,10). Isto, outrora pela criação, depois pela redenção e, ainda hoje, em tudo que fazemos, em tudo que pensamos, em tudo que queremos,  estamos envoltos nesta dileção admirável do Ser  Supremo. É que, como ensinou Santo Tomás de Aquino, o Bem é de si difusivo e Deus não é diminuído quando ama suas criaturas e lhes oferece beatitude. Sua generosidade é sem limites. A maior felicidade do ser humano é saber que seu Criador o ama desde toda eternidade. Ele, porém, espera o nosso reconhecimento e quer que Lhe sejamos gratos, dilatando livremente a capacidade de nosso coração para acolher com suma gratidão todos os seus dons. Ele não quer ser visto como um Deus longínquo e inacessível, mas alguém que habita dentro daquele que realmente O ama. O encontro com Ele deve ser, por isto mesmo, duradouro com fervor crescente. Daí a importância de se viver na Sua presença  e perante Ele todo proceder precisa, em consequência, ser reto numa adaptação contínua a Ele. Eis aí a vocação do autêntico cristão. Apenas aquele que abandona conscientemente a lei divina não O tem mais dentro de si mesmo. De fato, tão somente  quem é justo ou que se esforça por ser justo é quem tem o direito de dizer: “Meu Deus e meu tudo”. A vigilância paterna de Deus não constrange, mas liberta e envolve a criatura em paz, serenidade, imperturbabilidade. Para perseverar Ele oferece, ininterruptamente, seu auxílio, mas quer correspondência plena a tanta bondade. É certo que mesmo os que procuram ser fiéis a Ele deparam as obscuridades deste mundo, as incoerências da vida, as perturbações do próximo, as divagações involuntárias da imaginação, as tentações diabólicas. Estas provações são permitidas pelo Criador, exatamente, como ocasião de provas de fidelidade a Ele. A alma algumas vezes parece abandonada, elanguesce em certos dias e pode até ser visitada pela desesperança, mas quem crê no poder da graça vence todos os obstáculos próprios do exílio terreno. O que se esquece é que “a alegria nos assegura favores de Deus; a dor e o esforço fazem-nos merecê-los” como bem se expressou o Pe. Sertillanges. O tempo de Deus não é o tempo dos homens e sua providência agirá sempre no instante em que for mais útil a cada um que nele confia. Santa Tereza de Ávila mostrou que “o caminho da cruz é o que Deus reserva aos seus escolhidos: quanto mais os ama, mais os sobrecarrega de tribulações. A coragem em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor”. Deixou esta santa esse admirável conselho: “Em tempo de tristeza e de inquietação, não abandones nem as obras de oração, nem a penitência a que estás habituado. Antes, intensifica-as e verás com que prontidão o Senhor te sustentará”. Certa ocasião, diante do Santíssimo Sacramento, com o coração atribulado, após instantes tormentosos, ela ao se sentir aliviada, indagou: “Senhor, onde estavas nesta hora de tanta aflição?” Jesus lhe respondeu: “Estava dentro do teu coração para te sustentar”. Este episódio extraordinário revela como, realmente, Deus prova seus eleitos, mas sempre os ampara.  Eis porque se deve rezar com fervor a oração composta por esta santa: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta”. É que, verdadeiramente, Deus é amor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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