quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Normas para uma conduta cristã



NORMAS PARA UMA CONDUTA CRISTÃ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitos são aqueles que almejam progredir sempre na vida espiritual, mas, tantas vezes, eles se esquecem de princípios simples, mas basilares. Ignorá-los equivaleria a por antolhos na caminhada do próprio aprimoramento, impedindo um progresso maior. Um desses meios é o desapego das preocupações mesquinhas. Essas impedem a abertura para a verdade, apoucando o espírito, obstruindo seu vigor. A procura da perfeição deve estar isenta de uma vã vaidade e complacência pessoal. O verdadeiro cristão visa se adequar aos desígnios divinos, porque, se elevando, engrandece o mundo inteiro, apesar de sua pequenez. Sabe que minúsculos êxitos na prática das virtudes obtidos, não por cálculos egoístas, têm um valor imenso diante de Deus. A personalidade egocêntrica não realiza nada de grandioso. A autêntica virtude vem da energia do Espírito Santo e os verdadeiros seguidores de Cristo se deixam possuir por ela e não se julgam a fonte do bem que precisa ser sempre praticado. Reconhecem-se como servos inúteis, porque fizeram o que deviam fazer (Lc 17,10). Este sublime desinteresse é o distintivo do humilde que tudo atribui à graça celeste. Busca em todas as suas ações unicamente a aprovação de Deus, sabendo que disto resultara o bem próprio e alheio, evitando ser escravo do orgulho. Apenas os humildes são capazes de escutar o que Deus lhe fala no íntimo do coração longe de desejos fictícios ou paixões condenáveis. Entretanto, as sendas da santificação supõem muita constância, paciência e perseverança. Eis aí exigências que mutuamente se corroboram para que haja desenvolvimento espiritual. A obstinação no exercício do bem aumenta a firmeza da vontade, a paciência vence as dificuldades e a perseverança impede o coração de se contaminar com a indolência. É que a luta contra o amor próprio, não estando esse nunca satisfeito, derrama a preguiça o tédio sobre os esforços necessários para o crescimento interior. Não é fácil vencer a negligência, mas é belo viver pelo ideal da própria santificação, não deixando a languidez imperar sobre os bons propósitos. Estes devem ser resguardados pela confiança absoluta da proteção que Deus nunca nega a quem é sincero. Ele oferece coragem através da oração, o que leva a uma visão renovada do fim em vista que é agradar em tudo o seu Senhor numa luta sem tréguas contra o desânimo. O cristão lança assim mão de todo os recursos, sem descoroçoar, conquistando a liberdade do espírito através da atração para Aquele que é três vezes santo. Cumpre forçar a potência interior, rompendo sempre para frente, para o alto, para as realidades espirituais. Trata-se de transpor as dificuldades sem desalento, cortando os obstáculos. O cristão sabe que uma dificuldade vencida ensina a vencer outros empecilhos, subjugando continuamente as insinuações diabólicas, não sendo joguete das ciladas do inimigo. Poderão ocorrer vacilos e descuidos, mas a porfia do recomeço leva a renovadas vitórias como aconteceu com tantos santos. Quando um doloroso sentimento de impotência se apossava deles sabiam invocar o socorro divino e com ele todos os esmorecimentos foram afastados. No ataque ao erro ou na resistência ao mal o principal é saber que muitas vezes ser fiel a Deus requer até heroísmo para não ceder às tentações do maligno.  O cristão, porém, não deve se sentir desarmado, vendo o caminho que se estende diante dele como uma estrada interminável, repleto de brumas espessas que desorientam. Este é o momento de orar com ardor, de se recomendar à proteção da Virgem Maria e dos santos de sua devoção, pois tudo se dissipa, se desdobrando como arco íris capaz de renovar todas as forças interiores. É a hora da persistência, de amparar os golpes das forças do mal e o êxito será uma luminosa recompensa. Ao tempo das borrascas se sucederão a paz, o sossego. Nada, portanto de pressas indiscretas, de precipitação, de arrebatamento. As reservas dos bons tempos pertence a Deus e não compete ao cristão exigi-los nem se impacientar. Ao cristão que deseja ser santo o pensamento da eternidade feliz junto de seu Criador oferece ânimo e nada o abate, pois confia na Providência de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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