A ORAÇÃO DO CRISTÃO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São
Paulo aconselhou: “Por meio de toda a espécie de orações e súplicas, orai
incessantemente movidos pelo Espírito” (Ef 618). O cristão, de fato, precisa
sempre penetrar no maravilhoso mundo da prece para a Deus adorar e agradecer,
reparar os erros e implorar contínua proteção. Isto significa ficar sem cessar
nas vizinhanças do Ser Supremo e obter o seu concurso contínuo. No momento,
porém, das preces é preciso saber sempre ouvir a Deus e se dispor a praticar
suas inspirações o que leva ao máximo do contato com a divindade. Eis aí um
efeito de valor de certo modo infinito que eleva e santifica o cristão. É que a
comunicação com a divindade fortalece para a caminhada na perfeição levando a uma
fuga persistente de todos os vícios. Com efeito, orar a Deus é começar a
possuí-lo querendo fazer em tudo sua vontade santíssima. Como se expressou o
Pe. Sertillanges, “a prece leva a um estado religioso que é uma espécie de
simbiose sobrenatural, um estado humano-divino”. Ela é, deste modo, iluminadora e purificadora, construindo o
homem espiritual, por se tornar a expressão máxima do desejo ardente do ser
humano de estar unido ao seu Senhor, fonte de toda perfeição. É que a essência
da oração é a relação íntima com Deus. É preciso, porém, conversar com Deus com
simplicidade, relatando-Lhe o que está em nós, nossas preocupações, nossa vida,
nossos negócios. Depois, porém, é necessário ouvir as mensagens divinas num
esforço salutar. Deus fala-nos no silencio no qual nos guia por caminhos nos quais
os desejos pessoais se conformam à sua vontade. Esta conformidade com o querer
divino é o primeiro passo na vida de oração. Assim sabiam orar os santos. Disto
resulta uma prece tranquila. Entretanto, nem se pode esquecer que a oração é
uma glorificação de Deus e não mera lisonja de um escravo. Rezar para alcançar
o que Deus quer para cada um. Jesus no Getsêmani, enquanto homem, suplicava: “Pai,
se é possível, afaste-se de mim este cálice. Todavia, faça-se a tua vontade e
não a minha”. É assim que cada um se faz conhecido e amado por Deus. A fraqueza
dos pequenos e a paciência dos humildes penetram os segredos de Deus. Além das
preces pessoais, muito valor têm outras orações que possuem a aprovação
eclesiástica, sobretudo a oração litúrgica. Elas contêm nossas necessidades
permanentes. A principal oração publica é a Missa, a qual por si só dá uma
ideia de todo o culto devido à majestade divina, do qual ela é o centro de
expansão e força animadora. Deus conhece as necessidades de cada um, mas quer
que rezemos para que não sejamos passivos e saibamos valorizar os seus dons. No
tempo os pedidos bem feitos são atendidos porque na eternidade foram
organizados segundo a sabedoria divina. A oração perfeita chega ao Deus eterno e
por ela podemos tudo obter sem nada nele mudarmos por já estar ela colocada nos
seus desígnios perenes. Não se deve deixar de rezar bem, pois tudo está
registrado na eternidade. O cristão então reza por si e pelo mundo todo no qual
está inserido. Daí o valor imenso da prece do justo e podemos rezar por meio
daqueles cuja situação espiritual e mérito singular os interpõem entre nós e Deus,
como acontece com aqueles que estão lá no céu como nossos intercessores. Rezar
por meio deles é invocar para sermos atendidos através de nossos irmãos, já que
formamos a única grande família de Deus. Sua intervenção fraterna tem valor
imenso para Deus a quem serviram nesta terra com fidelidade e heroísmo.
Sobretudo é valiosa a intermediação da Mãe de Jesus, a cheia de graças. A
verdade é que pobres pecadores dependemos da oração dos santos, da Virgem Maria
e de Jesus. Os nossos protetores diante do trono de Deus querem que nossos
corações permaneçam voltados para o Bem soberano e que nossos desejos se
conformem com os designíos divinos. Portanto, longe estejam os falsos desejos e
temores vãos, mas subam aos céus preces feitas na esperança, num abandono total
nas mãos de Deus. Muitas vezes são perturbadoras as distrações nas orações. O
importante, porém, é que elas estejam apenas na imaginação e não lá dentro do
coração do orante. Elas surgem do coração quando há apegos mundanos e até
pecaminosos que precisam ser afastados e, aliás, vencidos pela própria oração. *Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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