quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A ORAÇÃO DO CRISTÃO


A ORAÇÃO DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Paulo aconselhou: “Por meio de toda a espécie de orações e súplicas, orai incessantemente movidos pelo Espírito” (Ef 618). O cristão, de fato, precisa sempre penetrar no maravilhoso mundo da prece para a Deus adorar e agradecer, reparar os erros e implorar contínua proteção. Isto significa ficar sem cessar nas vizinhanças do Ser Supremo e obter o seu concurso contínuo. No momento, porém, das preces é preciso saber sempre ouvir a Deus e se dispor a praticar suas inspirações o que leva ao máximo do contato com a divindade. Eis aí um efeito de valor de certo modo infinito que eleva e santifica o cristão. É que a comunicação com a divindade fortalece para a caminhada na perfeição levando a uma fuga persistente de todos os vícios. Com efeito, orar a Deus é começar a possuí-lo querendo fazer em tudo sua vontade santíssima. Como se expressou o Pe. Sertillanges, “a prece leva a um estado religioso que é uma espécie de simbiose sobrenatural, um estado humano-divino”. Ela é, deste modo, iluminadora e purificadora, construindo o homem espiritual, por se tornar a expressão máxima do desejo ardente do ser humano de estar unido ao seu Senhor, fonte de toda perfeição. É que a essência da oração é a relação íntima com Deus. É preciso, porém, conversar com Deus com simplicidade, relatando-Lhe o que está em nós, nossas preocupações, nossa vida, nossos negócios. Depois, porém, é necessário ouvir as mensagens divinas num esforço salutar. Deus fala-nos no silencio no qual nos guia por caminhos nos quais os desejos pessoais se conformam à sua vontade. Esta conformidade com o querer divino é o primeiro passo na vida de oração. Assim sabiam orar os santos. Disto resulta uma prece tranquila. Entretanto, nem se pode esquecer que a oração é uma glorificação de Deus e não mera lisonja de um escravo. Rezar para alcançar o que Deus quer para cada um. Jesus no Getsêmani, enquanto homem, suplicava: “Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. Todavia, faça-se a tua vontade e não a minha”. É assim que cada um se faz conhecido e amado por Deus. A fraqueza dos pequenos e a paciência dos humildes penetram os segredos de Deus. Além das preces pessoais, muito valor têm outras orações que possuem a aprovação eclesiástica, sobretudo a oração litúrgica. Elas contêm nossas necessidades permanentes. A principal oração publica é a Missa, a qual por si só dá uma ideia de todo o culto devido à majestade divina, do qual ela é o centro de expansão e força animadora. Deus conhece as necessidades de cada um, mas quer que rezemos para que não sejamos passivos e saibamos valorizar os seus dons. No tempo os pedidos bem feitos são atendidos porque na eternidade foram organizados segundo a sabedoria divina. A oração perfeita chega ao Deus eterno e por ela podemos tudo obter sem nada nele mudarmos por já estar ela colocada nos seus desígnios perenes. Não se deve deixar de rezar bem, pois tudo está registrado na eternidade. O cristão então reza por si e pelo mundo todo no qual está inserido. Daí o valor imenso da prece do justo e podemos rezar por meio daqueles cuja situação espiritual e mérito singular os interpõem entre nós e Deus, como acontece com aqueles que estão lá no céu como nossos intercessores. Rezar por meio deles é invocar para sermos atendidos através de nossos irmãos, já que formamos a única grande família de Deus. Sua intervenção fraterna tem valor imenso para Deus a quem serviram nesta terra com fidelidade e heroísmo. Sobretudo é valiosa a intermediação da Mãe de Jesus, a cheia de graças. A verdade é que pobres pecadores dependemos da oração dos santos, da Virgem Maria e de Jesus. Os nossos protetores diante do trono de Deus querem que nossos corações permaneçam voltados para o Bem soberano e que nossos desejos se conformem com os designíos divinos. Portanto, longe estejam os falsos desejos e temores vãos, mas subam aos céus preces feitas na esperança, num abandono total nas mãos de Deus. Muitas vezes são perturbadoras as distrações nas orações. O importante, porém, é que elas estejam apenas na imaginação e não lá dentro do coração do orante. Elas surgem do coração quando há apegos mundanos e até pecaminosos que precisam ser afastados e, aliás, vencidos pela própria oração. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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