AS ALEGRIAS DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o conselho de São
Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repíto: Alegrai-vos” (Fil. 4,4). A
existência neste exílio terreno não é só eriçada de contrariedades, de
provações. Comporta igualmente alegrias e, mesmo nos sofrimentos, lá no íntimo
coração dos que confiam em Jesus permanece a felicidade. Isto faz com que cada
um possa saborear a vida, pois lhe dá um sentido sobrenatural. É possível então
transformar os espinhos em pérolas para a eternidade. Desta maneira o cristão
não ratifica as palavras do filósofo Schopenhauer: “A verdade é que nós devemos
ser miseráveis e o somos” [...] "A vida é uma senda de carvões em brasa,
apresentando, de onde em onde, raros pontos de refrigério”. Disto resulta
evidentemente o tédio profundo da vida, a negação do querer viver, alimentando
o desespero. Entretanto, é preciso estar contente mesmo no meio das aflições e
contradições a exemplo de São Paulo: “Estou inundado de alegria no meio de
todas as nossas tribulações” (2 Cor 7,4).
Aos romanos ele dizia: “Nós nos alegramos também em
nossas amarguras, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva
a uma virtude provada e a virtude provada desabrocha em esperança” (Rm 5,3-4). Cumpre viver o que disse Maria a sua prima
santa Isabel: “Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47),
O autêntico cristão sabe que os momentos de maior aflição o enriquecem e o
fortalecem para novos embates. Tem certeza de que a fortaleza interior traz
depois a recompensa da exultação de ter espiritualmente crescido, amadurecido,
conservando-se sempre na pujança de vida de uma eterna juventude alimentada
pela alacridade. Esta perenidade do espírito em todas as circunstâncias
adversas, prerrogativa dos santos, faz a grandeza do discípulo de Cristo. É que
não há virtude sem crescimento, sem fecundidade. É preciso que haja alegria e paz no interior de si mesmo,
percebendo [ os efeitos que delas derivam. O cristão produz então na vinha do
Senhor folhas e frutos úteis nesta trajetória terrena. Pode repetir com o
Apóstolo: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades,
nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco,
então, sou forte” (2 Cor 12,10). Ele pôde então ensinar aos gálatas: “Mas o
fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei” (Gál. 5, 22-23). É
possível cultivar todos estes frutos espirituais porque não faltam nunca os
socorros celestes para quem serenamente confia em Deus e deposita nele toda sua
existência. Com os auxílios celestes o
discípulo de Cristo pode triunfar de muitas deficiências, pois lá dentro de si
há algo que o leva a superar todas as vicissitudes da vida. Percebe sempre a
veracidade do que asseverou o salmista e com ele diz a Deus: “Eu cantarei o
vosso poder, e todas as manhãs aclamarei a vossa bondade porque fostes a minha
defesa e refúgio nos dias adversos” (Sl. 59,17). Com efeito, “Os que semeavam
em lágrimas, ceifarão entre cantos de alegria” (Sl 126,5) Deste modo, a
existência do cristão se engrandece apesar das provações, dado que com a graça
divina pode vencer a desproporção de suas forças ante os embates árduos que
possam surgir. Quem tem Deus a seu lado não nunca fica acabrunhado, porque pode
sempre exclamar com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”
(Fil. 4,13). Por tudo isto, é certo que cultivar em tudo a alegria é uma
sabedoria celestial, mesmo porque diz a Bíblia que “o coração alegre é bom remédio;
um espírito abatido seca os ossos” (Prov. 17,22). É o que recomendou o rei
Salomão, alertando que a vida é uma sombra que passa rapidamente; portanto,
saibamos nos aproveitar das coisas boas que existem e não deixemos passar a
flor da primavera. Coroemo-nos de botões de rosas antes que elas murchem” (Sab
2,5-9). É feliz aquele que sofre, mas sabe por que sofre. Com efeito, a
passagem do Livro Atos dos Apóstolos registra que Pedro e João foram açoitados,
mas eles saíram da sala do Grande Conselho cheios de alegria (grifo nosso)
por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (Atos
5,40-41). Este júbilo, o seguidor de Cristo pode desfrutá-lo sempre, dado que
no momento da dor física ou moral, Ele ora a seu Senhor com grande sinceridade:
“Vossa graça me basta, é ela que vos imploro”. Com essa assistência divina
jamais a alegria se esvai e acaba sendo fonte de grandes merecimentos para o
tempo e a eternidade. Este júbilo não depende das circunstâncias existenciais,
uma fez que sua fonte é o Espírito Santo cuja presença comunica a plenitude da
alegria. O discípulo de Cristo é espiritualmente alegre por estar imerso no seu
Deus e a alegria do Senhor é em tudo sua força. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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