quarta-feira, 26 de setembro de 2018

AS ALEGRIAS DO CRISTÃO


AS ALEGRIAS DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o conselho de São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repíto: Alegrai-vos” (Fil. 4,4). A existência neste exílio terreno não é só eriçada de contrariedades, de provações. Comporta igualmente alegrias e, mesmo nos sofrimentos, lá no íntimo coração dos que confiam em Jesus permanece a felicidade. Isto faz com que cada um possa saborear a vida, pois lhe dá um sentido sobrenatural. É possível então transformar os espinhos em pérolas para a eternidade. Desta maneira o cristão não ratifica as palavras do filósofo Schopenhauer: “A verdade é que nós devemos ser miseráveis e o somos” [...] "A vida é uma senda de carvões em brasa, apresentando, de onde em onde, raros pontos de refrigério”. Disto resulta evidentemente o tédio profundo da vida, a negação do querer viver, alimentando o desespero. Entretanto, é preciso estar contente mesmo no meio das aflições e contradições a exemplo de São Paulo: “Estou inundado de alegria no meio de todas as nossas tribulações” (2 Cor 7,4).  Aos romanos ele dizia: “Nós nos alegramos também em nossas amarguras, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada e a virtude provada desabrocha em esperança” (Rm 5,3-4). Cumpre viver o que disse Maria a sua prima santa Isabel: “Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47), O autêntico cristão sabe que os momentos de maior aflição o enriquecem e o fortalecem para novos embates. Tem certeza de que a fortaleza interior traz depois a recompensa da exultação de ter espiritualmente crescido, amadurecido, conservando-se sempre na pujança de vida de uma eterna juventude alimentada pela alacridade. Esta perenidade do espírito em todas as circunstâncias adversas, prerrogativa dos santos, faz a grandeza do discípulo de Cristo. É que não há virtude sem crescimento, sem fecundidade. É preciso que  haja alegria e paz no interior de si mesmo, percebendo [ os efeitos que delas derivam. O cristão produz então na vinha do Senhor folhas e frutos úteis nesta trajetória terrena. Pode repetir com o Apóstolo: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então, sou forte” (2 Cor 12,10). Ele pôde então ensinar aos gálatas: “Mas o fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei” (Gál. 5, 22-23). É possível cultivar todos estes frutos espirituais porque não faltam nunca os socorros celestes para quem serenamente confia em Deus e deposita nele toda sua existência. Com os  auxílios celestes o discípulo de Cristo pode triunfar de muitas deficiências, pois lá dentro de si há algo que o leva a superar todas as vicissitudes da vida. Percebe sempre a veracidade do que asseverou o salmista e com ele diz a Deus: “Eu cantarei o vosso poder, e todas as manhãs aclamarei a vossa bondade porque fostes a minha defesa e refúgio nos dias adversos” (Sl. 59,17). Com efeito, “Os que semeavam em lágrimas, ceifarão entre cantos de alegria” (Sl 126,5) Deste modo, a existência do cristão se engrandece apesar das provações, dado que com a graça divina pode vencer a desproporção de suas forças ante os embates árduos que possam surgir. Quem tem Deus a seu lado não nunca fica acabrunhado, porque pode sempre exclamar com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fil. 4,13). Por tudo isto, é certo que cultivar em tudo a alegria é uma sabedoria celestial, mesmo porque diz a Bíblia que “o coração alegre é bom remédio; um espírito abatido seca os ossos” (Prov. 17,22). É o que recomendou o rei Salomão, alertando que a vida é uma sombra que passa rapidamente; portanto, saibamos nos aproveitar das coisas boas que existem e não deixemos passar a flor da primavera. Coroemo-nos de botões de rosas antes que elas murchem” (Sab 2,5-9). É feliz aquele que sofre, mas sabe por que sofre. Com efeito, a passagem do Livro Atos dos Apóstolos registra que Pedro e João foram açoitados, mas eles saíram da sala do Grande Conselho cheios de alegria (grifo nosso) por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (Atos 5,40-41). Este júbilo, o seguidor de Cristo pode desfrutá-lo sempre, dado que no momento da dor física ou moral, Ele ora a seu Senhor com grande sinceridade: “Vossa graça me basta, é ela que vos imploro”. Com essa assistência divina jamais a alegria se esvai e acaba sendo fonte de grandes merecimentos para o tempo e a eternidade. Este júbilo não depende das circunstâncias existenciais, uma fez que sua fonte é o Espírito Santo cuja presença comunica a plenitude da alegria. O discípulo de Cristo é espiritualmente alegre por estar imerso no seu Deus e a alegria do Senhor é em tudo sua força. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário