ASPECTOS DA VIDA DE UM CRISTÃO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O
autêntico seguidor de Cristo procura fazer suas obrigações cotidianas envolto
no amor a Deus, visando
sempre
o bem do próximo. Robustece sua vontade e a confia a seu Senhor para que Ele a
abençoe. A necessidade do dever cotidiano bem feito, e isto com a perseverança,
leva o cristão às regiões luminosas da santidade. Assim se expressou São Pedro: “Como é santo aquele
que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver.
Porquanto está escrito: Sede santos porque eu sou santo” (1 Pd 1,15-16). Daí
ser necessária a fuga da mediocridade. A perfeição cristã tem um valor
intrínseco em todas as circunstâncias da vida. Aquele que se instala em Deus
tranquilamente vê o andar do tempo, pois trabalha por Deus e como Ele quer.
Tudo, porém, nesta existência terrena exige perseverança e paciência, pois
perfeito é apenas o Ser Supremo e cada um tem que conviver com suas falhas
humanas sem se deixar escravizar por elas. Quem não persevera não quer
progredir. Cumpre fugir de toda fraqueza e do hábito de ceder ante os esforços
necessários para caminhar seguindo os passos do Mestre divino. Este foi claro:
“Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc
9,62). Quem desanima é um fracassado, pois a vocação de todo batizado é
procurar ser perfeito, dado que tal é a ordem de Jesus: “Sede perfeitos como o
Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Eis aí o ideal altíssimo que Ele apresentou
aos seus discípulos, ideal ao qual esses devem aspirar sem cessar numa luta
contínua contra a concupiscência. Esta aparece no rol de vícios reprováveis
segundo São Pedro, ou seja, gozar “a
vida em lascívias, em voluptuosidades, em depravações, em badernas, em excessos
no beber e no culto ilícito de todos os ídolos” (1 Pd 4,3|). O mesmo Apóstolo aconselhou
que se deve abster das concupiscências carnais que combatem contra a alma (1 Pd
2,11). O homem sensual não pode compreender a razão e a força moral da renúncia
a tudo isto. São Paulo foi taxativo: “O homem animal não acolhe as coisas que
são do Espírito de Deus; para ele não passam de estultícia e não pode
entendê-las porque é somente por meio do espírito que devem ser
julgadas” (1 Cor 2, 14). Portanto, o cristão trilha outros caminhos dado que não
está privado das luzes de Deus e pode
alcançar as verdades superiores à razão humana. O Espírito de Deus o guia no seu agir. É a esta classe superior que os batizados são
chamados, em busca da santidade numa
batalha sem tréguas para vencer as
paixões vis e pecaminosas. Os bons cristãos
compreendem isto e alcançam uma admirável culminância espiritual e se tornam modelos a serem
seguidos. Percebem continuamente o apelo para tentar fazer o perfeito, apesar
das fraquezas inerentes a seres contingentes, mas sabem que tudo podem com a graça de Deus,
repetindo com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fil
4, 13). Um esforço vigoroso é a exigência de Cristo para que se receba auxílio
tão precioso. Sabe que a covardia de hoje é má garantia para o heroísmo de
amanhã perante as ciladas do demônio. Tudo isto supõe um cuidado destemido para evitar as ocasiões perigosas, pois diz a
Bíblia: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,28). Assim sendo, as condições do êxito
no progresso da espiritualização própria são viáveis. É necessário proceder
metodicamente, envidando todos os esforços para não retroceder. Abre-se então
diante de quem assim age um caminho na amplidão de uma existência que busca
continuamente as coisas do alto e não as da terra. Tudo dentro das
possibilidades de cada um. Necessário se faz
em todas as ocasiões o discernimento
do empenho que convém empregar a cada instante. Isto engloba os
sacrifícios que devem enfrentados, pedindo sem cessar as iluminações celestes.
Desta maneira é possível se fixar no melhor que está ao seu alcance, sem querer
ultrapassar os próprios limites. É sabedoria
tudo empreender de acordo com a própria capacidade, evitando o perigo de
se iludir. Então se poderá repetir com o salmista: “Com Deus faremos proezas”
(Sl 108, 13) * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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