sábado, 29 de setembro de 2018

VOTO, ARMA DA DEMOCRACIA


VOTO, ARMA DA DEMOCRACIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aproximam-se as eleições e, nem sempre, alguns eleitores se conscientizam da grandeza do exercício da escolha criteriosa  de candidatados competentes, devotados a sua tarefa. Trata-se do desempenho de uma verdadeira função pública. Com efeito, o eleitor fica investido de uma ação superior que visa o bem comum.  Portanto, enorme a responsabilidade de quem vai confiar mandato àqueles dos quais dependerão medidas salutares para os males que afligem a sociedade e das quais resultarão o progresso socioeconômico da população. Por isto mesmo o voto é um dever político que muito interessa à vida coletiva. Esta obrigação pode inclusive variar de intensidade conforme as circunstâncias de cada contexto histórico. Será tanto mais grave quanto mais imediatamente estiverem em causa valores morais essenciais como ocorre no Brasil de hoje.  Os partidos agrupam os cidadãos segundo suas maneiras de conceber e realizar um programa de ação frutífera para todos os cidadãos. Estes partidos devem existir não para si mesmos, mas para uma ação política que beneficie a todos.  Entretanto, pode haver desvios e o espírito partidário, afastado de sua nobre missão, leva ao detrimento de seu fim lógico para desgraça geral. É quando os indivíduos procuram só o seu bem próprio, impedindo o desenvolvimento da Nação, dos Estados e dos Municípios. Daí decorre a corrupção, mal a ser combatido sem tréguas.  Eis por que é preciso analisar com cautela e discernimento o valor pessoal dos candidatos, suas qualidades, sua mentalidade, sua lealdade, suas declarações.  Preconceitos tenazes, discussões estéreis, rivalidades pessoais podem deturpar o processo eleitoral e todo cuidado é pouco. Nada, portanto, mais necessário do que a maturidade política do eleitor que deve ter o tino para  colocar a felicidade de todos acima de tudo. A participação popular no poder redunda assim num ato democrático de importância capital. Há, felizmente, formadores de opinião pública que sabem orientar com sabedoria os eleitores. São os comunicadores honestos, mas há também aqueles que disseminam notícias falsas, ataques injustos, denegrindo os que são contrários a suas ideias endeusando incompetentes e aventureiros. O cristão ao dar o seu voto tem como critério supremo os mandamentos da Lei de Deus, não sufraga jamais aqueles que são contrários aos mesmos e aos ensinamentos  da Bíblia. É que o voto é um direito, mas também é um dever moral que leva a excluir os que não respeitam os princípios éticos. As eleições despertam senso das responsabilidades políticas  na escolha de  líderes que autenticamente representem os interesses da população Estar conscientizado de tudo isto leva a  criar condições  compatíveis  para o combate às situações de miséria, elegendo pessoas incorruptíveis, dotadas do saber político. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

AS ALEGRIAS DO CRISTÃO


AS ALEGRIAS DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o conselho de São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repíto: Alegrai-vos” (Fil. 4,4). A existência neste exílio terreno não é só eriçada de contrariedades, de provações. Comporta igualmente alegrias e, mesmo nos sofrimentos, lá no íntimo coração dos que confiam em Jesus permanece a felicidade. Isto faz com que cada um possa saborear a vida, pois lhe dá um sentido sobrenatural. É possível então transformar os espinhos em pérolas para a eternidade. Desta maneira o cristão não ratifica as palavras do filósofo Schopenhauer: “A verdade é que nós devemos ser miseráveis e o somos” [...] "A vida é uma senda de carvões em brasa, apresentando, de onde em onde, raros pontos de refrigério”. Disto resulta evidentemente o tédio profundo da vida, a negação do querer viver, alimentando o desespero. Entretanto, é preciso estar contente mesmo no meio das aflições e contradições a exemplo de São Paulo: “Estou inundado de alegria no meio de todas as nossas tribulações” (2 Cor 7,4).  Aos romanos ele dizia: “Nós nos alegramos também em nossas amarguras, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada e a virtude provada desabrocha em esperança” (Rm 5,3-4). Cumpre viver o que disse Maria a sua prima santa Isabel: “Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47), O autêntico cristão sabe que os momentos de maior aflição o enriquecem e o fortalecem para novos embates. Tem certeza de que a fortaleza interior traz depois a recompensa da exultação de ter espiritualmente crescido, amadurecido, conservando-se sempre na pujança de vida de uma eterna juventude alimentada pela alacridade. Esta perenidade do espírito em todas as circunstâncias adversas, prerrogativa dos santos, faz a grandeza do discípulo de Cristo. É que não há virtude sem crescimento, sem fecundidade. É preciso que  haja alegria e paz no interior de si mesmo, percebendo [ os efeitos que delas derivam. O cristão produz então na vinha do Senhor folhas e frutos úteis nesta trajetória terrena. Pode repetir com o Apóstolo: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então, sou forte” (2 Cor 12,10). Ele pôde então ensinar aos gálatas: “Mas o fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei” (Gál. 5, 22-23). É possível cultivar todos estes frutos espirituais porque não faltam nunca os socorros celestes para quem serenamente confia em Deus e deposita nele toda sua existência. Com os  auxílios celestes o discípulo de Cristo pode triunfar de muitas deficiências, pois lá dentro de si há algo que o leva a superar todas as vicissitudes da vida. Percebe sempre a veracidade do que asseverou o salmista e com ele diz a Deus: “Eu cantarei o vosso poder, e todas as manhãs aclamarei a vossa bondade porque fostes a minha defesa e refúgio nos dias adversos” (Sl. 59,17). Com efeito, “Os que semeavam em lágrimas, ceifarão entre cantos de alegria” (Sl 126,5) Deste modo, a existência do cristão se engrandece apesar das provações, dado que com a graça divina pode vencer a desproporção de suas forças ante os embates árduos que possam surgir. Quem tem Deus a seu lado não nunca fica acabrunhado, porque pode sempre exclamar com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fil. 4,13). Por tudo isto, é certo que cultivar em tudo a alegria é uma sabedoria celestial, mesmo porque diz a Bíblia que “o coração alegre é bom remédio; um espírito abatido seca os ossos” (Prov. 17,22). É o que recomendou o rei Salomão, alertando que a vida é uma sombra que passa rapidamente; portanto, saibamos nos aproveitar das coisas boas que existem e não deixemos passar a flor da primavera. Coroemo-nos de botões de rosas antes que elas murchem” (Sab 2,5-9). É feliz aquele que sofre, mas sabe por que sofre. Com efeito, a passagem do Livro Atos dos Apóstolos registra que Pedro e João foram açoitados, mas eles saíram da sala do Grande Conselho cheios de alegria (grifo nosso) por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (Atos 5,40-41). Este júbilo, o seguidor de Cristo pode desfrutá-lo sempre, dado que no momento da dor física ou moral, Ele ora a seu Senhor com grande sinceridade: “Vossa graça me basta, é ela que vos imploro”. Com essa assistência divina jamais a alegria se esvai e acaba sendo fonte de grandes merecimentos para o tempo e a eternidade. Este júbilo não depende das circunstâncias existenciais, uma fez que sua fonte é o Espírito Santo cuja presença comunica a plenitude da alegria. O discípulo de Cristo é espiritualmente alegre por estar imerso no seu Deus e a alegria do Senhor é em tudo sua força. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PRECIOSOS ENSINAMENTOS DE JESUS


02 PRECIOSOS ENSINAMENTOS DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto atual o trecho do Evangelho de São Marcos, que oferece preciosos ensinamentos do Mestre divino, pode ser melhor ainda compreendido (Mc 9,38-48). Igualmente o que se lê no Livro dos Números  (Nm 11,25-29). Com efeito, com o crescimento populacional não apenas nas Metrópoles, mas nas cidades em geral, numerosas são as Paróquias e nelas surgem diversas comunidades com suas particularidades. A grande mensagem é então que nunca se deve invejar o bem espiritual dos irmãos na fé, mas se rejubilar com isto fazendo crescer o Reino de Deus. Há, é certo, diretrizes pastorais, arquidiocesanas e paroquiais. que devem ser sempre observadas, mas as comunidades têm características próprias advindas de diversos fatores sociais e também das lideranças corretas que vão surgindo. Não se pode impedir que o Espírito Santo atue onde e como Ele quer. O Bispo ou o Pároco têm o discernimento suficiente, a graça específica que lhes é concedida do Alto, para verificar se é, de fato, ação de Deus ou do espírito das trevas o que se passa nestas comunidades. No tempo de Moisés surgiu o caso de Eldad e Médad.  João foi reclamar com Jesus a atuação de alguns que agiam em nome do Mestre divino e não eram seguidores deste Apóstolo. A resposta de Cristo mostrou que ninguém tem o monopólio dos dons divinos e afirmou: “Quem não é contra nós é por nós”. Magnífico apostolado operam aqueles que rezam.  Os Grupos de Oração, por exemplo, atraem graças admiráveis para conversão dos pecadores, para consolação dos tristes, dos desanimados. Curas são obtidas pela fé com que preces são feitas pelos doentes. O Arcebispo de Mariana Dom Oscar de Oliveira, ao voltar de suas fatigosas Visitas Pastorais, costumava dizer que Ele ficava encantado com almas simples, que nunca tinham estudado teologia, mas que falavam maravilhas sobre Deus e a religião em geral. Em todas as comunidades há fiéis generosos em acolher, partilhar e catequizar. Nunca se deve esquecer que todo  ato de bondade, mesmo o mais simples, abre a porta do céu e atrai bênçãos para toda a terra. O grande desejo de Deus é que todos estejam unidos, solidários uns com os outros sem qualquer laivo de invídia. Condenável seria se aparecessem aqueles que não obedecessem às orientações da Igreja ou que quisessem dominar os irmãos na fé, impondo seu modo de ver e de ser, o que, por vezes, pode ocorrer. Além de tudo isto, Jesus mostra para todos os seus seguidores o caminho da conversão. Condena todo e qualquer escândalo, sobretudo os maus exemplos que tanto mal espiritual podem causar ás crianças. Acrescentou uma norma de conduta para os que lhe são fiéis: cortar e arrancar. Não se trata de mutilação física, mas ética. Condena então as mãos do avarento que quer tudo para si e nada para os outros como bem explicou a carta de São Tiago (Tg 5,1-6). Os pés jamais devem conduzir um fiel para os caminhos do pecado, eles representam a liberdade humana, mas esta não pode ser confundida com a libertinagem. Andar, isto sim, nos caminhos de Jesus. Ninguém deve arrancar os olhos, mas pode, muito bem, desligar a televisão, a internet, diante de programas depravados e evitar olhares pecaminosos atinentes ao sexto e ao nono mandamentos. Eva ficou olhando o fruto proibido do Paraíso e desgraçou toda a humanidade. Foi o olhar impudico de Davi  ao contemplar  Bethsabé que o tornou assassino e adúltero. As seduções mais perniciosas veem exatamente dos olhares incautos. Estes suscitam os mais perniciosos desejos e levam à pratica dos maiores desvarios. Enfim, o que Jesus está a ensinar é a supressão corajosa, destemida, perseverante de toda ocasião de pecado. Fuga de tudo que pode afastar alguém de seu Senhor e levar para a geena onde o fogo não se extingue num castigo eterno. É preciso não recusar a radicalidade da mudança de vida, da metanoia, que é a transformação de uma mentalidade mundana para uma visão espiritual. Mãos erguidas para louvar a Deus, pés sempre nas veredas do bem, olhos voltados para as coisas do alto e não para as coisas da terra. Quem deseja a glória da Ressureição e quer escapar do castigo perene, necessita viver este programa estabelecido por Jesus. Todos concordes, unidos na mesma fé, caminhando alegres para a eternidade feliz junto de Deus. Com a graça divina é possível a todos viabilizar sua salvação eterna vivendo de acordo com os preciosos ensinamentos de Cristo, hoje recordados. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

O CRISTÃO NO MUNDO



O CRISTÃO NO MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Enquanto está neste mundo, o cristão, que caminha para a eternidade bem-aventurada do gozo da visão beatífica de Deus, deve estar convencido da importância da ciência de bem viver. Ele não é um alienado, mas deve valorizar o contato com a realidade terrena. Tudo que ele faz precisa leva-lo a um aprimoramento interior à luz de uma religiosidade profunda. O cumprimento do dever específico de cada um, segundo a vocação recebida de seu Senhor, necessita visar a harmonia humana na relação com a natureza e o próximo quer na família, no local de trabalho, nos lazeres, quer enfim em todos os contatos que se multiplicam a todo instante. Isto levado pela força divina da graça e percebendo assim por toda parte a presença daquele no qual “vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17,28). Então, impregnado de espiritualidade, o cristão pode povoar de Deus o meio em que vive numa ação afetiva e efetiva. Deste modo, se une tudo num concerto divino-humano, combinação sublime a proclamar sempre a glória do Criador. É que os pensamentos e as atividades, as realidades e seus reflexos possuem todos eles uma única fonte que é o Ser Supremo, mas nem todos têm disto total percepção que deve sobrenaturalizar todas as ações, inclusive o descanso. De fato, saber recrear-se alternando, criteriosamente, as atividades laborais e religiosas é uma questão de bom senso e condição de eficiência prática. Para o autêntico discípulo de Cristo não há modos secundários de vida, pois tudo se transforma em louvor a Deus conformando tudo à sua vontade santíssima. O grande problema é encontrar o meio termo para que se evitem os excessos condenáveis que impedem os efeitos salutares que engrandecem aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Todos temos a obrigação de viver poupando a vida das intemperanças que a arruínam. Aí entra o valor inestimável da prudência no agir cotidiano. É sabedoria saber usar através do exílio terreno uma marcha equilibrada, freando entusiasmos deletérios, dosando todas as atuações. É o louvável equilíbrio entre o tempo reservado às diversas ações e o lazer sem nunca dar lugar à indolência, seja ela        qual for. Além disto, é de se notar que a constância no trabalho diário supõe uma judiciosa distribuição das tarefas numa organização tal que impeça qualquer dispersão que pode também levar a uma situação esgotante e inútil. Ordem nas ocupações diárias é sinal de sensatez que tudo clarifica. A desordem deve ser banida da existência do cristão para que haja um progresso espiritual ininterrupto, do qual resulta uma profunda alegria que torna tudo deleitável. Desse modo o amor de Deus fundamenta a hierarquia dos valores, realizando a subordinação das forças de quem possui um corpo animado por uma alma espiritual. Evita-se assim o império de qualquer paixão e fraqueza que degradam e aviltam o homem. A todas estas considerações se acrescente a importância da convivência com os erros pessoais. Não se pode esquecer a veracidade do brocardo “errar é humano, perseverar no erro é diabólico”. É preciso sempre uma correção imediata e não desistir. Deve-se fazer dos equívocos uma impulsão para novas vitórias. Pueril e condenável seria desanimar na árdua marcha de uma existência virtuosa. Trata-se de repetir com o salmista: “Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito; um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar” (Sl 51,17). Então o cristão permanece firme como o rochedo batido pelas vagas. Percebe-se uma renovada força espiritual na busca constante das virtudes.  As almas nobres vivem uma vida bela e jamais desanimam na escalada da própria perfeição rumo à eternidade. Buscam uma vida pura, reta e corajosa guiadas por Jesus com quem tudo de bom se pode realizar. O Mestre divino nunca decepciona quem nele confia. A fé e a esperança de sólidas raízes conforta o autêntico cristão. Este combate o bom combate do bem e não descoroçoa nunca e se alegra porque o amor de Cristo o sustenta. Luta sob seu olhar e progride sempre sem nunca desfalecer.  Vive com destemor o conselho de São Paulo aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.” (Rm 12,2) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ASPECTOS DA VIDA DE UM CRISTÃO


ASPECTOS DA VIDA DE UM CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O autêntico seguidor de Cristo procura fazer suas obrigações cotidianas envolto no amor a Deus, visando
sempre o bem do próximo. Robustece sua vontade e a confia a seu Senhor para que Ele a abençoe. A necessidade do dever cotidiano bem feito, e isto com a perseverança, leva o cristão às regiões luminosas da santidade.  Assim se expressou São Pedro: “Como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver. Porquanto está escrito: Sede santos porque eu sou santo” (1 Pd 1,15-16). Daí ser necessária a fuga da mediocridade. A perfeição cristã tem um valor intrínseco em todas as circunstâncias da vida. Aquele que se instala em Deus tranquilamente vê o andar do tempo, pois trabalha por Deus e como Ele quer. Tudo, porém, nesta existência terrena exige perseverança e paciência, pois perfeito é apenas o Ser Supremo e cada um tem que conviver com suas falhas humanas sem se deixar escravizar por elas. Quem não persevera não quer progredir. Cumpre fugir de toda fraqueza e do hábito de ceder ante os esforços necessários para caminhar seguindo os passos do Mestre divino. Este foi claro: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Quem desanima é um fracassado, pois a vocação de todo batizado é procurar ser perfeito, dado que tal é a ordem de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Eis aí o ideal altíssimo que Ele apresentou aos seus discípulos, ideal ao qual esses devem aspirar sem cessar numa luta contínua contra a concupiscência. Esta aparece no rol de vícios reprováveis segundo São Pedro, ou seja, gozar  “a vida em lascívias, em voluptuosidades, em depravações, em badernas, em excessos no beber e no culto ilícito de  todos  os ídolos” (1 Pd 4,3|). O mesmo Apóstolo aconselhou que se deve abster das concupiscências carnais que combatem contra a alma (1 Pd 2,11). O homem sensual não pode compreender a razão e a força moral da renúncia a tudo isto. São Paulo foi taxativo: “O homem animal não acolhe as coisas que são do Espírito de Deus; para ele não passam de estultícia e não pode entendê-las porque  é  somente por meio do espírito que devem ser julgadas” (1 Cor 2, 14). Portanto, o cristão trilha outros caminhos dado que não está privado das luzes de Deus  e pode alcançar as verdades superiores à razão humana.  O Espírito de Deus o guia no seu agir.  É a esta classe superior que os batizados são chamados, em busca da santidade  numa batalha sem tréguas  para vencer as paixões vis e pecaminosas. Os bons cristãos  compreendem  isto e   alcançam uma admirável culminância  espiritual e se tornam modelos a serem seguidos. Percebem continuamente o apelo para tentar fazer o perfeito, apesar das fraquezas inerentes a seres contingentes, mas  sabem que tudo podem com a graça de Deus, repetindo com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fil 4, 13). Um esforço vigoroso é a exigência de Cristo para que se receba auxílio tão precioso. Sabe que a covardia de hoje é má garantia para o heroísmo de amanhã perante as ciladas do demônio. Tudo isto supõe um cuidado destemido  para evitar as ocasiões perigosas, pois diz a Bíblia: “Quem ama o perigo nele perecerá”  (Ecl 3,28). Assim sendo, as condições do êxito no progresso da espiritualização própria são viáveis. É necessário proceder metodicamente, envidando todos os esforços para não retroceder. Abre-se então diante de quem assim age um caminho na amplidão de uma existência que busca continuamente as coisas do alto e não as da terra. Tudo dentro das possibilidades de cada um. Necessário se faz  em todas as ocasiões o discernimento  do empenho que convém empregar a cada instante. Isto engloba os sacrifícios que devem enfrentados, pedindo sem cessar as iluminações celestes. Desta maneira é possível se fixar no melhor que está ao seu alcance, sem querer ultrapassar os próprios limites. É sabedoria  tudo empreender de acordo com a própria capacidade, evitando o perigo de se iludir. Então se poderá repetir com o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 108, 13) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.