IMPORTÂNCIA DA CONVERSÃO
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
O cerne da mensagem do Evangelho de
hoje são as contundentes palavras de Cristo: “Se não vos converterdes,
perecereis todos igualmente” (Lucas 13,5).
Estamos vivendo o Ano da Misericórdia, iniciado dia 8 de dezembro. A
misericórdia é dada por Deus como um ato generoso da parte daquele que é o
Senhor de tudo. É preciso, porém, da parte de cada um não colocar empecilho à
ação da comiseração divina. Daí a necessidade da conversão, ou seja, da volta
total, sincera do ser humano para o Criador, abominando os pecados cometidos.
Eis as duas realidades que englobam doçura, ou seja, a clemência do Pai celeste
e a radicalidade na vida cristão, isto é, a disposição interior de repulsa aos
erros. De um lado, o Todo Poderoso que perdoa sempre, de outro o homem se
penitencia para se purificar, recebendo a anistia de seus desacertos. Paciente,
porque eterno, Deus aguarda a atitude que leva a dar frutos. Na parábola da
figueira infrutuosa, Cristo deixou esta mensagem. O vinhateiro disse ao dono do
terreno que esperasse um ano antes de cortar a árvore inútil. Ele empregaria
todos os meios para fazê-la frutífera. O tempo da quaresma é exatamente para
que, após um exame cuidadoso, se possa verificar se a existência pessoal está
dando frutos para a eternidade. Tempo favorável de uma metanóia completa mudança
de uma mentalidade mundana, para uma adequação total à vontade do Ser Supremo.
Trata-se de um salto de vigor, de renovação, de fecundidade espiritual. Para isto
cumpre muita humildade, simplicidade, coragem, sinceridade para o trabalho da
verdadeira conversão. Este é o caminho da própria redenção a fim de se poder
viver plenamente as graças da Páscoa do Senhor. Cristo ressuscitado deseja um
espírito inteiramente voltado para Ele. Cumpre um autoexame para que se possa
verificar como se acha a própria consciência diante daquele que perscruta o
íntimo do coração. Nossa maneira de viver fazendo abstração da conduta do
próximo, menos preocupados com a vida alheia, para se concentrar naquilo que
Deus quer de cada um. O Evangelho de hoje precisa provocar uma sadia
inquietação para reconhecer que há muito que corrigir até o dia da Páscoa.
Afastamento de todo torpor espiritual que permita a possibilidade de um
completo arrependimento que conduza a uma purificação radical. Precisão de um
enriquecimento espiritual será a conclusão daquele que dispuser um pouco de tempo
para refletir sobre a importância da penitência quaresmal. Jesus misericordioso
está a estender a mão para ajudar o seu seguidor a chegar luminoso ao maior dia
do ano que é a data de sua grande vitória sobre a morte. Esta invectiva de
Cristo não é para condenar, mas para deixar um rastro de consolação e de luz.
Ele quer a libertação de tudo que entrava o progresso nos caminhos da
perfeição, incentivando o desejo da verdade do autêntico destino de cada um.
Quando hoje Jesus esta a dizer: “Se não vos converterdes, todos vós
perecereis”, é porque há um liame profundo entre a desgraça e o pecado. Quando
este é afastado, a sentença se modifica: “Se fizerdes penitência todos vós
estareis salvos”. Deus não um juiz inexorável que pune e condena e que quer um
arrependimento eivado de medo ou de interesses pessoais. Ele deseja uma
conversão responsável fruindo da liberdade de cada um que reconhece ser uma
catástrofe estar longe j dele. Ele nos criou por amor e para o seu amor.
Penitência, conversão, significa então abrir o coração a este seu amor, vivendo
inteiramente sua vida. Porque grande é sua dileção Ele urge este processo de
revisão espiritual, oferecendo o tempo quaresmal como propício a esta atitude
salutar. Converter-se na língua dos judeus que Jesus empregava significa, de
fato, “mudar de direção”, como observam os bons intérpretes da Bíblia. Isto
significa que todos devemos chegar ao dia da Páscoa tendo traçado novos rumos
para nossa vida. Jesus assim se expressou: “Sede perfeitos como o Pai celeste é
perfeito” Não colocou assim limite nos esforços nesta caminhada e há sempre de
se direcionar a existência dentro deste ideal. Do contrário, se assemelharia à
videira estéril. Deus, porém, dá sempre oportunidade para com a correspondência
a suas inspirações se tornar uma árvore frutífera. Apenas assim, teremos
compreendido o alcance da penitência, da conversão salvadora.*
Professor no Seminário de Mariana 40 anos.
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